“E o povo estava olhando.” (Lucas 23:35)
De entre os rituais de morte usados pelos romanos, a cruz era um instrumento que permitia atingir esse objetivo com uma agonia mais prolongada. A utilização desta forma de condenação era expressamente proibida aos cidadãos romanos, destinado aos escravos, como condenação da prática de atos manifestamente vis e execráveis. Este método era o ideal para ser levado a efeito em locais de grande visibilidade, com o objetivo de causar horror e grande impacto em quem observava, fonte de poder, com o fim de mostrar as consequências da desobediência ao imperador César Augusto.
A crucificação não fazia parte dos costumes tradicionais judaicos de exercer o dever judicial da pena de morte. Provavelmente, esta forma de execução, dadas as suas potencialidades, foi sugerida à multidão pelos chefes judeus, cujo objetivo era tornar pública, ao maior número de pessoas possível (daí a escolha do lugar denominado “a Caveira”, para sentenciar à morte os condenados, visível dos mais distantes pontos da cidade, sobranceiro ao caminho do norte, não muito distante da porta do norte da cidade de Jerusalém) a morte ignominiosa e humilhante daquela figura pública que era tida, por muitos, como Rei dos Judeus (acusação que, ali, na cruz, foi devidamente identificada e criativamente coroada) e Filho de Deus. Para ajudar no intento dos chefes judeus, havia, ainda, dois criminosos que, juntamente com Jesus, formavam o trio ideal. Porque tudo tinha corrido a jeito para que Jesus fosse desacreditado, humilhado e magistralmente derrotado, os chefes judeus poderiam, ainda, fazer com que a admiração popular de Jesus acabasse por se esbater ou, preferencialmente, desaparecer.
Dado o simbolismo da cruz e os objetivos pretendidos pelas autoridades judiciais e políticas, não nos é difícil encontrar as mais diversas motivações, sentimentos e atitudes, que acompanhavam quem olhava para a cruz. Era impossível evitar olhar para qualquer cruz, ali erigida, facto já de per si notável, muito mais tratando-se da execução de Jesus – daí o comentário feito a Jesus pelos discípulos que seguiam para Emaús (Lucas 24:18). Os quatro evangelhos apresentam-nos as motivações, sentimentos e reações de todos os que olhavam para a cruz, uns declarados no texto, outros inferidos, com base no impacto desta personalidade pública tão especial e controversa.
Nos olhares que convergiam na cruz de Jesus encontramos, predominantemente entre os chefes religiosos e seus seguidores, inveja, vingança, alívio, satisfação, orgulho, vanglória, hipocrisia, humilhação, sentido de obrigação moral e religiosa cumprida, que se traduziam em atitudes de arrogância, escárnio, maledicência e zombaria. Da parte dos soldados, habituados a lidar com esta situação e conhecedores do tipo de pessoas a quem estava destinada, encontramos, naturalmente, humilhação, escárnio e zombaria. Ao olhar do povo que apreciava o desenrolar da situação, onde incluímos os discípulos e os que Lhe eram mais próximos, podemos somar amor, tristeza, revolta, incredulidade, compaixão, dó, desolação, frustração, incredulidade. Muitas destas formas de olhar caraterizam, ainda hoje, o olhar de milhões de pessoas. Esse Deus que se entregou por nós, o dono e criador de tudo o que existe, não está à espera de compaixão, dó ou pena! Ele fez tudo isso de forma voluntária e deliberada.
Deus, na Sua Palavra, aconselha-nos a olharmos para a cruz, segundo a Sua perspetiva, para proveito da nossa vida: Ele próprio, antes da criação do universo, na eternidade, elaborou o plano para a tua salvação. No tempo determinado, Deus, no Seu poder, tomou a forma humana, para, com a Sua morte naquela cruz, com o valor da Sua própria vida, pagar totalmente a tua dívida perante o Pai, garantindo, assim, a tua entrada na vida eterna. Porque a tua salvação e consequente entrada na vida eterna custa a vida do próprio Deus que, na cruz, se entregou, nada há que possas acrescentar, pois tudo iria provar a tua desconfiança no valor que o próprio Deus quis pagar pela salvação da tua alma.
Deus aguarda que, antes de tudo, olhes bem para dentro de ti, tenhas perceção do pecado que mancha a tua vida e reconheças que, pela tua miserável situação, estás debaixo da Sua ira. Ele aguarda o teu arrependimento sincero, decorrente do reconhecimento e confissão dos teus pecados.
Deus aguarda que olhes para a cruz vendo, ali, a prova suprema do Seu amor por ti. A presença do próprio Deus, na Pessoa do Seu Filho, naquela cruz, como pagamento da totalidade da tua dívida perante Deus, é um convite à fé, à confiança total quanto ao futuro feliz para a tua vida presente e futura.
É urgente que olhes para a cruz com o olhar da fé. Pela fé, vai à cruz. Ajoelha-te perante ela. Chora os teus pecados. Pede o perdão que Jesus não te nega. Recebe-O como teu salvador, como resposta perfeita de Deus à necessidade do teu coração. Confia no valor da Sua vida, como preço que pagou para a tua salvação. É esse o olhar que Deus requer de ti! É essa a resposta que Ele aguarda, como resposta à Sua entrega, por ti!
“Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos corações.” (Hebreus 4:7).
(Pt. Joaquim Emanuel Martins Pinto)