Ontologia Espírita

SUMÁRIO: 1. O Ser Histórico. 2. Revelação e Cogitação. 3. O Ser Humano. 4. Essência e Existência. 5. Visão Dialética das Coisas e dos Seres. 6. Escala Espírita. 7. Bibliografia Consultada. 8. Texto Sintético. 9. Questões. 10. Temas para Debate.

1. O SER HISTÓRICO

O problema do ser empolga toda a História da Filosofia e podemos considerá-lo como o elo que mantém a união do pensamento religioso com o filosófico.

O início da cogitação filosófica encontra-se em Pitágoras, quando o representa pelo número um.

Para Sartre, criador do Existencialismo Ateu, o Ser é uma espécie desses ovóides de que nos falam os livros de André Luiz.

No marxismo e no neopositivismo, é o ser humano o que importa.

E o que é o ser humano, senão a projeção pitagórica do Ser único e a projeção sartreana do mistério limboso? Assim, o Ser é sempre, em qualquer sistema ou concepção, o mistério do Um e do Múltiplo (1).

2. REVELAÇÃO E COGITAÇÃO

Na Filosofia Espírita esse mistério se aclara através da revelação e da cogitação.

A revelação, como vimos, pode ser humana e divina. No caso, é divina, pois reservamos para o campo humano a expressão clássica da técnica filosófica: a cogitação.

Os Espíritos revelaram a existência do Ser pela comunicação mediúnica (e a provaram pela fenomenologia mediúnica), mas os homens confirmaram essa existência pela cogitação, pela pesquisa mental do problema.

Kardec não repetiu Descartes - cogito ergo sum - mas ampliou o conceito da presença de Deus no homem. Podemos interpretar assim a posição de Kardec: sinto Deus em mim, logo existo (1).

3. O SER HUMANO

Para Aristóteles, o Ser é “aquilo que é”.

Na Bíblia é Deus quem fala, embora figuradamente, e se explica: “Eu sou o que é”.

Deus é e se afirma na intuição cartesiana de Um Ser supremo, como se afirma no sentimento intuitivo kardeciano.

Na Filosofia Espírita o conceito de Ser abrange todas as categorias daquilo que é, concordando portanto com o pensamento filosófico antigo e moderno.

A definição do Ser supremo, por exemplo, nos é dada no item 1º de O Livro dos Espíritos da seguinte forma: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” ( 1).

4. ESSÊNCIA E EXISTÊNCIA

Os seres têm essência e essa essência se desenvolve através da evolução: é o princípio inteligente. Essa essência se reveste de formas diversas no processo evolutivo, isto é, toma determinada forma e se reveste de matéria.

No ser humano, essa realidade se apresenta no complexo Espírito, Perispírito e Matéria. Entre os dois últimos existe ainda o fluido vital.

Toda essa complexidade, entretanto, é simplesmente a expressão  pluralista de um monismo fundamental. A essência é que tudo domina. Ela é a realidade última. Mas só através da existência conseguimos atingi-la.

Temos de penetrar as capas existenciais do Ser para encontrá-lo na sua realidade essencial (1).

5. VISÃO DIALÉTICA DAS COISAS E DOS SERES

Aprendemos que a realidade aparente é ilusória mas que também é necessária para chegarmos à realidade verdadeira.

O ser humano está no ápice da escala evolutiva existencial. Acima dele, os que superaram o domínio da matéria e que as religiões chamam anjos, devas, arcanjos e assim por diante.

Esses Espíritos conservam sua individualidade após a morte do corpo e a conservam através da evolução nos mundos superiores. Só a parte formal é perecível: o corpo e o perispírito.

A essência do Espírito é indestrutível, pois representa a atualização das potencialidades do princípio inteligente, uma criação de Deus para fins que ainda desconhecemos (1).

6. ESCALA ESPÍRITA

O Livro dos Espíritos, a partir do n.º 100, oferece-nos um esquema ontológico da evolução do homem. Não é um esquema rígido, mas uma orientação aos estudiosos (1).

7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

(1) PIRES, J. H.  Introdução à Filosofia Espírita.

São Paulo, dezembro de 1996.

8. TEXTO SINTÉTICO

Ontologia - do grego onto mais logia significa parte da Filosofia que  trata do ser enquanto ser, ou seja, do ser concebido na sua totalidade e na sua universalidade. A Ontologia seria, então, a ciência do noumeno. A ela caberia o papel especial de estudar o que permanece atrás dos fenômenos, de explicá-los, enquanto os fenômenos, propriamente ditos,  caberiam às ciências particulares. 

Essência e existência são os elementos básicos do ser. À pergunta: que é o ser, temos uma infinidade de respostas, dependendo, é claro, do ponto de vista considerado. Se materialista, a essência estaria na matéria; se idealista, no espírito; se religioso dogmático, em Deus. Essa aparente contradição de pontos de vista é aclarada pelo Espiritismo, que faz a síntese de todas as correntes filosóficas.

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, define o Ser, com s maiúsculo, como sendo Deus, a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. A prova da existência de Deus não se dá Nele mesmo, mas nos efeitos que Dele provém. Dessa forma, se o efeito é inteligente deduz-se que a causa também o seja. Embora ainda nos falte um sentido para compreender o mistério da Divindade, chegará um dia que o compreenderemos, principalmente quando os nossos espíritos não estiverem mais obscurecidos pela matéria.

O Ser maiúsculo é Deus, o ser minúsculo é o homem. O ser minúsculo provém do Ser maiúsculo, ou seja, no ser minúsculo existe uma essência criada pelo Ser maiúsculo, cujo processo de criação ainda nos é infenso. Sabemos apenas que fomos criados simples e ignorantes, o que já é suficiente para entendermos o ser no seu tríplice aspecto: Espírito, Perispírito e Corpo Vital. Essa é a grande diferença que o Espiritismo nos proporciona com relação às diversas filosofias existentes. É por esse conhecimento que fazemos a síntese dessas filosofias.

O Espiritismo é uma doutrina com recursos extraordinários para desvendarmos os mistérios que se ocultam atrás do ser. Mas, mesmo assim, há muitos conhecimentos que não nos são revelados, porque não temos condições de absorvê-los. À medida, porém, que evoluímos através do nosso esforço e da nossa perseverança, vamos adentrando, também,  em níveis mais elevados do conhecimento superior.

Estejamos sempre alertas a fim de sermos dignos de captar o conteúdo da revelação que os Espíritos superiores nos proporcionam. Os bons Espíritos desejam apenas a constância do nosso progresso espiritual.

9. QUESTÕES

1)  Qual o conceito de Ontologia?

2)  Como o Ser é visto no processo histórico?

3)  Como o mistério do Um e do Múltiplo se aclara no Espiritismo?

4)  O que é o Ser supremo para o Espiritismo?

5)  O que distingue a essência da existência?

10. TEMAS PARA DEBATE

1)  O homem, no processo evolutivo, é o último estádio de evolução do Espírito?

2)  No que se transforma o ser após a morte física?

3)  Essência, existência e Espiritismo. Comente.