Consciência Cristalizada e Espiritismo

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. Consciência Mítica e Racional: 4.1. Dialética e Consciência; 4.2. Consciência Mítica; 4.3. Consciência Racional. 5. Cristalização da Consciência: 5.1. O Pensamento; 5.2. Monoideísmo e Obsessão; 5.3. Uma Conversa com Sócrates. 6. Três Mensagens para Desanuviar a nossa Mente: 6.1. Destruição e Miséria; 6.2. Auto-Libertação; 6.3. Nunca Desfalecer. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O que se entende por consciência? O que significa cristalizar uma consciência? Qual o grau de cristalização de nossa consciência? Que subsídios o Espiritismo nos oferece para descristalizar nossa consciência?

2. CONCEITO

Consciência. Em seu sentido amplo, é a capacidade de perceber as realidades internas e externas. A consciência moral, por sua vez, é a capacidade de o ser humano avaliar interiormente o que há de bom ou de ruim em uma dada ação. Quando falamos em consciência moral, devemos fazer uma diferença substancial entre a lei, que são normas gerais, e a consciência, que avalia o “hic et nunc” de cada ação. 

Cristalizar. Figuradamente, podemos dizer que cristalizar é a ação de concentrar-se, de fixar-se em torno de um sentimento, de uma idéia, de um assunto etc.: a cristalização da atenção. Segundo Stendhal, fenômeno psicológico que, no início de uma paixão, todos os acontecimentos, mesmo os mais insignificantes, são mentalmente relacionados pelo amante ao objeto de sua paixão, que resulta engrandecido e transfigurado dessa operação do espírito.

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A consciência é o elemento-chave de todo o indivíduo. É por ela que ele se comunica com o mundo e com os seus semelhantes.

Na pergunta 621 de O Livro dos Espíritos, os Espíritos orientam-nos que a lei de Deus está escrita na consciência do ser. Contudo, a lei de Deus precisa ser atualizada, lembrada e esclarecida, para que se torne algo natural em cada uma de nossas ações.

Na Bíblia, a consciência é designada de “coração”, tendo uma dimensão interior e exterior. No mito do paraíso, Adão e Eva, por exemplo, passam pelo drama da consciência humana: de um lado a ordem divina; do outro, a serpente, que lhe sugere o mal.

Ao longo do tempo, porém, a lei escrita teve mais peso do que a lei moral. Os fariseus, por exemplo, quiseram aplicar a lei de forma objetiva e calculada. Jesus Cristo, ao contrário, procurou combater a moral exterior.

Paulo, em suas epístolas, desenvolveu a doutrina da consciência. Para ele, a moralidade não pode estar atrelada à Lei, que é exterior, mas ao coração, que é interior.

4. CONSCIÊNCIA MÍTICA E RACIONAL

4.1. DIALÉTICA E CONSCIÊNCIA

O ser humano é um ser consciente em que o sujeito se opõe ao objeto. Há, assim, uma posição dialética com relação ao objeto de conhecimento e assim faz-se a sua história. Num primeiro instante, há uma abertura para a realidade. Em virtude da relação dialética, ao mesmo tempo em que o sujeito afirma a consciência-de-algo, afirma também a consciência de si. Como na dialética, pressupõe-se uma síntese, esta é obtida pela confluência das duas posições: a do sujeito e a do objeto. (Perine, 2007, cap. 2) 

4.2. CONSCIÊNCIA MÍTICA 

O ser humano, como indivíduo em face do mundo, começou o seu grau evolutivo pelo conhecimento do mito. A filosofia, desde o seu aparecimento, estabeleceu uma relação de amizade e de confronto com o mito. O mito, antes de tudo, é uma palavra, ou melhor, uma das formas do discurso humano. O mito assumia a palavra com caráter de sagrado. No mito, temos a metáfora, que é a transferência de sentido. O logos filosófico não punha por terra o mito, mas tentava dar-lhe uma forma demonstrativa, um fundamento baseado na razão, daí a consciência racional. (Perine, 2007, cap. 2) 

4.3. CONSCIÊNCIA RACIONAL 

A consciência racional caracteriza-se pelo uso da razão na obtenção de conhecimento e da oposição do sujeito ao universal. Na consciência mítica, há uma oposição do sujeito com relação ao mundo; aqui, uma oposição com o universal. A abstração dos conhecimentos está calcada no princípio da liberdade, em que a luz do bem unifica a consciência. O bem dá liberdade ao individuo de fazer as suas escolhas. Ao fazer as escolhas, torna-se, também, responsável pelos seus próprios atos. (Perine, 2007, cap. 2)

5. CRISTALIZAÇÃO DA CONSCIÊNCIA

5.1. O PENSAMENTO

Tudo se origina e se desenvolve em nosso pensamento. Se mantivermos por longo tempo o mesmo teor de pensamentos, eles acabarão fazendo parte de nosso caráter e de nossa personalidade.

Em se tratando dos pensamentos, podemos incluir os nossos condicionamentos, as nossas idiossincrasias, o dar mais importância ao juízo do outro do que o nosso próprio, o tipo de educação que tivemos, os nossos professores etc.

Se não dermos abertura ao novo, podemos atrofiar o nosso pensamento.

5.2. MONOIDEÍSMO E OBSESSÃO

A fixação do pensamento num mesmo teor de ideias caracteriza o monoideísmo, ou seja, uma única ideia a orientar a nossa vida e a nossa relação com o próximo. Observe que essa postura pode provocar a obsessão, que é a influência persistente que um espírito mal exerce sobre um dado individuo, chegando, em alguns casos, à fascinação e à possessão.

Quando o sujeito se deixou dominar por completo, a sua cura não é tão fácil. O mesmo podemos falar de uma consciência que se cristalizou, que se circundou em cima do orgulho, da vaidade e do interesse pessoal.

5.3. UMA CONVERSA COM SÓCRATES

O Espírito Irmão X, no capítulo 25 ("Sócrates"), de Crônicas Além-Túmulo, por Francisco Cândido Xavier, oferece-nos alguns dados para a nossa reflexão. Percebemos que a tônica do pensamento de Sócrates, mesmo depois de todos esses séculos, ainda funda-se na consciência de si. Em todas as suas respostas, vale-se da comparação entre o estado atual da humanidade e a distância para com o perfeito conhecimento de si mesmo.  

Para Sócrates, os homens da Terra ainda não se reconheceram a si mesmos; ainda são cidadãos da pátria, sem serem irmãos entre si. Por isso, acha inútil enviar ao mundo suas mensagens benevolentes e sábias. Acrescenta que, mesmo entre os filósofos,  as suas verdades não seriam reconhecidas, pois eles mantêm o pensamento cristalizado no ataúde das escolas.

Em suas explicações, faz uma indagação: não crucificaram, por lá, o Filho de Deus, que lhes oferecia a própria vida para que conhecessem e praticassem a verdade? 

6. TRÊS MENSAGENS PARA DESANUVIAR A NOSSA MENTE

6.1. DESTRUIÇÃO E MISÉRIA

“Se cristaliza a mente na ociosidade, elimina o bom ânimo no coração dos trabalhadores que o cercam e estrangula as suas próprias oportunidades de servir. Se desce ao desfiladeiro da negação, destrói as esperanças tenras no sentimento de quantos se abeiram da fé e tece vasta rede de sombras para si mesmo. Se transfere a alma para a residência escura do vício, sufoca as virtudes nascentes nos companheiros de jornada e adquire débitos pesados para o futuro”. (Xavier, s.d.p., cap. 27)

Lembremo-nos de que estacionar é imobilizar os outros; fugir ao bem é desorientar os semelhantes e aniquilar-se.

6.2. AUTO-LIBERTAÇÃO

“Se desejas emancipar a alma das grilhetas escuras do ‘eu’, começa o teu curso de auto-libertação, aprendendo a viver “como possuindo tudo e nada tendo”, “com todos e sem ninguém. Se chegastes à Terra na condição de um peregrino necessitado de aconchego e socorro e se sabes que te retirarás dela sozinho, resigna-te a viver contigo mesmo, servindo a todos, em favor do teu crescimento espiritual para a imortalidade”. (Xavier, s.d.p., cap. 47)

Não importa o problema pela qual estivermos passando: importa, sim, é desanuviar o pensamento cada manhã e seguir adiante “na certeza de que acertaremos as nossas contas com Quem nos emprestou a vida e não com os homens que a malbaratam”.

6.3. NUNCA DESFALECER

“Foste colocado entre obstáculos mil de natureza estranha, para que, vencendo inibições fora de ti, aprendas a superar as tuas limitações. Enquanto a comunidade terrestre não se adaptar à nova luz, respirarás cercado de lágrimas inquietantes, de gestos impensados e de sentimentos escuros. Dispõe-te a desculpar e auxiliar sempre, a fim de que não percas a gloriosa oportunidade de crescimento espiritual”. (Xavier, s.d.p., cap. 61)

Onde estão as trevas da Idade Média? Onde andam os verdugos da boa-nova? Onde se encontra o Sinédrio que condenou o mestre Jesus? todos arrojados aos despenhadeiros de cinza. Façamos o mesmo com a nossa consciência cristalizada.  

7. CONCLUSÃO

É lastimável a disseminação do medo, da culpa e do individualismo no mundo moderno. Para desviarmos os seres humanos desse matiz, aceleremos, desde a infância, a reta formação da consciência.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo: Paulinas, 1983.

PERINE, Marcelo. Ensaio de Iniciação ao Filosofar. São Paulo: Loyola, 2007.

XAVIER, F. C. Crônicas de Além-Túmulo, pelo Espírito Irmão X. 8.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.

XAVIER, F. C. Fonte Viva, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, [s.d.p.]

São Paulo, fevereiro de 2012.