--> Terminologia seguidamente empregada: "sobrevivência da consciência após a morte do corpo"
--> Critérios empíricos de identidade (memórias, traços físicos, hábitos, gostos, opiniões, caligrafia) e de sobrevivência do corpo (batimentos cardíacos, respiração, reflexos nas córneas, atividade cerebral etc.)
1. Experiências de quase morte
- Experiência fora do corpo [Exemplo: “Tinha dezessete anos. Meu irmão e eu estávamos trabalhando num parque de diversões. Certa tarde, decidimos nadar e alguns outros jovens decidiram ir conosco. Alguém disse: ‘vamos cruzar o lago’. Eu já tinha feito isso em numerosas ocasiões, mas naquele dia, por algum motivo, afundei quase no meio do lago... Continuei me debatendo e, de repente, senti como se estivesse distante do meu corpo, distante de todos, no espaço, sozinho. Embora estivesse firme e permanecesse no mesmo nível, vi meu corpo na água a um metro de distância, debatendo-se. Via meu corpo por trás, um pouquinho para a direita. Ainda sentia como se tivesse uma forma corporal inteira, mesmo enquanto estava fora do meu corpo. Era uma sensação de leveza quase indescritível. Sentia-me como uma pluma.”]
- Sensação de paz e tranquilidade [Exemplo: "“Comecei a experimentar os sentimentos mais maravilhosos. Não conseguia sentir nada, exceto paz, conforto, calma – apenas tranquilidade. Sentia que todos os meus problemas haviam desaparecido, e pensei comigo mesma: ‘Nossa, que paz e tranquilidade! E não sinto mais dor’”.]
- Sons, música [Exemplos: “Comecei a ouvir um tipo de música realmente linda e majestosa.” “Eu ouvia o que pareciam ser sinos tocando, bem distante, enquanto flutuava ao vento. Pareciam sinos de vento japoneses... Esse era o único som que podia ouvir às vezes.” Ouvia “um ruído realmente ruim vindo de dentro da cabeça. E isso me irritou muito... Nunca vou me esquecer daquele ruído”.
- Revisão da própria vida (só em adultos)
- Percepção de uma luz através de um túnel [“Tive uma reação alérgica muito séria com uma anestesia local e parei de respirar – sofri uma parada respiratória. A primeira coisa que aconteceu – muito rapidamente – foi atravessar um vácuo escuro, negro, numa velocidade surpreendente. Acho que daria para comparar a um túnel. Parecia que eu estava andando no carrinho de uma montanha russa num parque de diversões, atravessando o túnel numa velocidade absurda.”]
- Encontro com “seres espirituais”
- Experiência inefável [Exemplo: "Eu estava no hospital, mas não sabiam o que havia de errado comigo. Então o doutor James, meu médico, mandou-me para o andar de baixo, na radiologia, para fazer uma tomografia do fígado a fim de que pudessem ter um diagnóstico. Primeiro, testaram no meu braço a droga que usariam, já que eu tinha alergia a muitos medicamentos. Mas, como não houve nenhuma reação, seguiram em frente. Quando a usaram novamente, apaguei. Ouvi o radiologista que cuidava de mim ir até o telefone e discar. Ele disse: ‘doutor James, matei sua paciente, a senhora Martin’. E eu sabia que não estava morta. Tentei me mover e avisá-lo, mas não consegui. Entanto tentavam me ressuscitar, podia ouvi-los dizer quantos centímetros cúbicos de sei lá o que precisavam me aplicar, mas não sentia a agulha da injeção. Não sentia nada quando me tocavam.”]
- Efeitos posteriores: maior preocupação com os outros, perda do medo da morte, espiritualização
- Profundidade da experiência mensurável com escalas (Ring 1980; Greyson 1983)
- O caso Reine Pasarow: [Crise anafilática] "Estava inconsciente na calçada em frente à nossa residência, embora estive ciente de estar fazendo um tremendo esforço para continuar respirando. Vários bombeiros estavam me atendendo quando o esforço (…) tornou-se demais. Parei de respirar e senti um grande alívio por estar livre do peso de tentar continuar viva. Passei à escuridão de um reino escuro totalmente inconsciente mas tranquilo. Subitamente, encontrei-me a alguns metros de meu corpo, vendo com grande curiosidade os bombeiros tentando ressuscitar-me com respiração boca a boca e batendo violentamente em minhas pernas. Lembro ter pensado que se eles conseguissem fazer com que eu ficasse suficientemente braba, eu voltaria. Minha mãe estava jogando um pouco d’água em meu rosto já acinzentado, enquanto o bombeiro mais velho ficava mentalmente rogando para que eu não o abandonasse, enquanto via sua própria filha em sua mente. De modo igualmente súbito, encontrei-me diante dessa cena cósmica cômica desde um pouco acima dos fios de telefone. Vi um jovem vizinho sair de sua casa depois de acordar de uma sesta, e tentei gritar para sua mãe, para que ela o buscasse antes que ele visse tudo isso. Justo quando gritei, ela olhou para frente e o viu, e minha mãe disse que não havia nada que ela pudesse fazer e por isso era melhor que pegasse o filho da vizinha. Um dos bombeiros comentou com um grande suspiro de fracasso que eu já estava sem pulso há três minutos. Senti um pouco de culpa por esse pobre bombeiro sentir-se fracassado por minha morte. Ele estava especialmente tocado porque eu parecia com sua própria filha. Minha mãe estava tonta, desesperançosamente sem nenhum controle sobre a situação e seu choque amortecia o início do luto. Lembro-me ter feito uma oração por ela, na esperança de que isso a ajudaria a passar pela dor, mas então eu me dei conta de que ela teria de lidar com a situação. Queria gritar para todos eles, minha mãe, amigos e bombeiros, que tudo estava como deveria estar, que eu estava bem. Eu estava telepaticamente ciente dos sentimentos e pensamentos de cada um, e isso parecia-me um fardo, uma vez que sua dor era como deveria ser. Encantada com minha nova liberdade, comecei a voar. Tinha-me tornado o fênix, solto das limitações do mundo físico. Estava exultante. Em toda parte ao meu redor havia música; o éter do meu novo universo era amor; um amor tão puro e desprendido pelo qual eu há muito ansiava. Tornei-me ciente da presença de meu tio favorito: alegremente nos reconhecemos, embora estivéssemos agora ambos em uma forma energética e não física. Ele viajou comigo por algum tempo, manifestando ainda mais amor e aceitação. Mas à medida que uma luz ampla tornou-se visível nesse mar de luz, eu fui magneticamente levada a ela. Quanto mais perto eu chegava dessa luz (proximidade, no entanto, não no sentido físico), mais amor e êxtase eu conseguia experienciar. Por fim, fui sugada pela fonte da luz, mais ou menos como se é sugada por um redemoinho. Uni-me à luz. À medida que me unia a essa luz onipresente, seu conhecimento tornava-se meu conhecimento. (…) Os aspectos superficiais de minha vida, o que eu tinha conquistado, possuído e conhecido, foram consumidos naquele mesmo instante pela energia da luz. (…) Subitamente, fui ejetada da luz para o outro lado desse novo universo, onde me dei conta de que teria que seguir meu curso. Lembro-me (…) que me foi revelado que meu momento na dança cósmica não estava completo, que havia algo (…) que eu deveria conseguir no plano físico. …" (R. Almeder, Death and personal survival. 1992, pp. 170-173)
[Kelly et al. (2000), Can Experiences Near Death Furnish Evidence of Life after Death? Omega
Lommel et al. (2001), Near-death experience in survivors of cardiac arrest. Lancet
- 344 casos consecutivos de paradas cardíacas em 10 hospitais na Holanda
- 62 pacientes (18%) tiveram EQMs
- Achados: a ocorrência de EQMs não esteve associada à duração da parada cardíaca ou da inconsciência, medicação ou medo da morte antes do episódio, credo religioso...
- Interpretação: “não sabemos por que tão poucos pacientes relatam EQMs depois de ressuscitação cardiopulmonar (...).” Se a explicação fosse puramente fisiológica, a maioria dos pacientes deveria relatar alguma EQM.
- Experiências similares podem ser induzidas (por estímulos elétricos no lobo temporal ou drogas), mas estas geram apenas memórias fragmentadas e desconexas, diferentemente das EQMs que frequentemente contêm uma revisão panorâmica da vida.
- “Na falta de indícios em favor de quaisquer outras teorias para as EQMs, o conceito até aqui assumido mas nunca provado de que consciência e memórias estão localizadas no cérebro deveria ser discutido.” (p. 2044)
Explicações fisicalistas:
- Susan Blackmore, (1991) “Near-death experiences: in or out of the body?”, Skeptical Inquirer 16: 34-45.
- Experiências fora do corpo: bastante comuns e fabricadas pela memória
- Visão "tunelizada": produzida pela redução dos mecanismos de inibição da atividade cerebral (Cowan 1982)
- Revisão da vida: estímulos no lobo temporal
Discussão:
i. Hipóteses psico-fisiológicas (experiências produzidas pela imaginação em situações físicas extremas) parecem incompatíveis com relatos que contradizem as crenças ou expectativas pessoais e culturais das pessoas que têm EQMs
ii. Lembranças do nascimento são incompatível com o que se sabe sobre a formação de memórias em recém-nascidos.
iii. Hipótese de que EQMs são causadas pela falta de oxigênio: Pilotos de aviões militares às vezes têm experiências fora do corpo, memórias fragmentadas e alterações visuais, mas isso não explica os aspectos mais profundos das EQMs (revisão da vida, experiências transcendentes etc.). [Exemplo: "...tenho um problema verdadeiro ao tentar lhe contar isso, porque todas as palavras que conheço são tridimensionais. Enquanto passava pela experiência, não parava de pensar: ‘Bem quando estava aprendendo geometria sempre me disseram que existiam apenas três dimensões, e simplesmente aceitei o fato. Mas os professores estavam errados. Existem mais.’ Claro que nosso mundo – aquele em que vivemos agora – é tridimensional, mas o próximo definitivamente não é. E é por isso que é tão difícil falar sobre ele. Tenho de descrevê-lo com suas palavras, que são tridimensionais. É o mais próximo que posso chegar disso, mas não é realmente adequado. Não posso lhe dar um panorama adequado.” (In: R. Moody, A vida depois da vida)]
- O caso Pamela Reynolds: Aneurisma. Ouvidos obstruídos. Redução da temperatura do corpo para 15,5 C. Sangue desviado do cérebro. Parada cardíaca induzida. EEG zerado. Lembranças verificadas de eventos ocorridos durante a operação: descrição de um diálogo entre o médico-chefe e uma das enfermeiras, descrição dos instrumentos cirúrgicos. Experiência transcendente (túnel, luz, conversa com espíritos); respiração de Deus. Volta difícil ao corpo (pesado, dolorido, confuso). (Michael Sabom 1998)
Kenneth Ring 1998: cegos;
Melvin Morse 1986: crianças (EQMs sem retrospectiva)
Journal of Near Death Studies
Sam Parnia: estudo prospectivo em andamento (Univ. Southampton)
2. Memórias espontâneas de vidas passadas
- Ian Stevenson (Univ. Virginia)
Caso do tipo Stevenson: (i) Criança (3-9 anos) espontaneamente alega ter sido outra pessoa em uma vida passada, e descreve alguns detalhes de eventos, objetos e pessoas que permitem identificar a pessoa descrita, sua família e local de residência; (ii) parte dessa descrição é verificada de modo independente por terceiros (pesquisadores); (iii) manifestação de habilidades não aprendidas nesta vida (línguas, instrumentos musicais etc.); (iv) marcas ou defeitos de nascença correspondentes a episódios da vida da alegada personalidade anterior; (iv) não há indícios de fraude
Stevenson, I. (1983). American Children Who Claim to Remember Previous Lives.
Stevenson, I. (1977), Research into the evidence of man's survival after death: A historical and critical survey with a summary of recent developments. Journal of Nervous and Mental Disease, 165(3), 152-170.
- O caso Gopal Gupta: Nasceu em agosto 1956, em Delhi, Índia. Logo após começar a falar (idade entre 2 e 2½ anos), quando “a família recebia uma visita em sua casa, e o pai de Gopal pediu-lhe que removesse um copo d’água usado pelo visitante, Gopal chamou a atenção de todos dizendo: ‘Não vou pegá-lo. Sou um Sharma.’ (Sharmas são membros da casta mais alta na Índia, os brâmanes.) Ele então ficou bravo e quebrou alguns copos. O pai de Gopal pediu-lhe que explicasse seu comportamento rude e sua afirmação surpreendente. Gopal então relatou muitos detalhes de uma vida pretérita da qual dizia lembrar-se na cidade de Mathura, que fica a aproximadamente 160 km ao sul de Delhi. Gopal disse que em Mathura ele fora proprietário de uma companhia que se ocupava de remédios, que se chamaria Sukh Shancharak. Disse que tinha uma casa grande com muitos empregados, que tinha uma esposa e dois irmãos, que teve uma discussão com um dos irmãos, e que posteriormente este veio a matá-lo com um tiro. A família de Gopal pertencia à casta dos negociantes, inferior à dos brâmanes, e por isso ele teria se recusado a pegar o copo do visitante. Os pais de Gopal não tinham conexões na cidade de Mathura, e as afirmações de Gopal não fez aflorar neles nenhuma memória. Sua mãe não queria encorajá-lo a falar sobre o assunto, e seu pai no começo ficou indiferente. Mas de tempos em tempos ele relatava a história a algum amigo. Um desses amigos lembrava-se vagamente ter ouvido de um assassinato em Mathura que correspondia ao relato de Gopal, mas isso não estimulou o pai a ir a Mathura para verificar. Mas ele foi a Mathura em 1964 para um festival religioso, e enquanto estava lá encontrou a Companhia Sukh Shancharak e perguntou a um dos gerentes sobre a veracidade do que Gopal dissera. O que ele disse impressionou o gerente, pois um dos proprietários havia matado seu irmão com um tiro alguns anos antes. O homem morto, Shaktipal Sharma, morreu alguns dias após levar o tiro, em 27/05/1948. O gerente compreensivelmente relatou à família Sharma a visita do pai de Gopal. Alguns deles então visitaram Gopal em Delhi e, depois de falar com ele, o convidaram para ir a Mathura, o que ele fez. Nesses encontros em Delhi e Mathura, Gopal reconheceu várias pessoas e lugares conhecidos de Shaktipal Sharma e fez declarações adicionais indicando conhecimento considerável de seus negócios. A família Sharma ficou particularmente impressionada com a menção por parte de Gopal de uma tentativa de Shaktipal Sharma de pegar dinheiro emprestado de sua esposa; ele queria dar o dinheiro a seu irmão, que era parceiro na companhia mas briguento e esbanjador. Sharma esperava apaziguar seu irmão dando-lhe mais dinheiro, mas sua esposa não aprovou (...). O irmão ficou cada vez mais brabo e acabou dando um tiro em Shaktipal. Os detalhes dessas brigas domésticas nunca haviam sido publicadas e provavelmente nunca foram conhecidas senão pelos familiares envolvidos. Junto com essas declarações sobre a vida passada, Gopal mostrou comportamento condizente com o de um brâmane rico, mas que não era apropriado à sua família atual. Ele não hesitava em dizer aos outros membros da família que ele pertencia a uma casta superior à deles. Relutava em fazer quaisquer tarefas domésticas e dizia que tinha empregados para isso. Não bebia leite de uma xícara que outra pessoa tivesse usado.” (Stevenson, Children who remember previous lives. McFarland, 2001. pp. 56-58)
- O caso Bischen Chand: Nasceu em 1921 em Bareilly (Índia), e com 18 meses começou a fazer perguntas sobre a cidade de Pilibhit (distante 80 km). Ninguém na família tinha conhecidos em Pilibhit. Aos cinco anos, Bischen alegava ter memórias claras de uma vida passada em Bareilly (seu nome teria sido Laxmi Narain, sua casa tinha um santuário e em dias de festas era frequentada por dançarinas etc.). Foi levado a Pilbhit e reconheceu corretamente o local; foi capaz de tocar com destreza os instrumentos musicais de Laxmi Narain...
- O caso Shanti Devi: Nasceu em Delhi (1926); aos três anos começou a contar histórias de sua vida passada, na qual teria sido casada com Kedar Nath, morado perto de Muttra, tido dois filhos, e morrido ao dar à luz um terceiro filho em 1925. Forneceu uma descrição detalhada da casa e da família. Ao visitar Muttra, falou em um dialeto que sua família atual desconhecia.
- O caso Erin Jackson: Nascida em 1969, em cidade pequena do estado de Indiana (EUA). Entre três e quatro anos, falava com frequência de uma vida pretérita. Dizia coisas do tipo: “quando eu era um menino, tinha um cachorro preto e um gato branco” ou “quando eu me chamava John, fomos a um lago e flutuei no meu barco inflável”. Alegava lembrar ter uma madrasta que a amava e um irmão chamado James, que gostava de usar roupas pretas e até mesmo roupa de baixo preta. Não indicou a época de suas memórias, mas pode-se inferir que foi anterior à produção em massa de automóveis.
3. Percepção extrassensorial
Paraná et al. (2019), An Empirical Investigation of Alleged Mediumistic Writing.
Achtenberg et al. (2005). Evidence for Correlations Between Distant Intentionality and Brain Function in Recipients: A Functional Magnetic Resonance Imaging Analysis.
Masters et al. (2006). Are There Demonstrable Effects of Distant Intercessory Prayer? A Meta-Analytic Review