Curso Básico de Espiritismo [Apostila]

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Introdução

O objetivo destes  textos é apresentar os temas do Curso Básico de Espiritismo [1.º e 2.º semestre] (1.º Ano do Curso de Educação Mediúnica) em forma de breves ensaios, no sentido de enriquecer o conteúdo das aulas ministradas.

 1.º Semestre

Resumo Histórico do Espiritismo

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Os Fatos Espíritas Sempre Existiram. 3. Descrição dos Horizontes: 3.1. Horizonte Tribal; 3.2. Horizonte Agrícola; 3.3. Horizonte Civilizado; 3.4. Horizonte Profético; 3.5. Horizonte Espiritual. 4. Os Dois Grandes Marcos do Espiritismo. 5. A Invasão Organizada. 6. Declaração de Alguns Sábios que se Renderam aos Fatos. 7. O Período 1848-1857. 8. O Espiritismo. 9. Conclusão. 10. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é mostrar que a ideia espírita sempre existiu. Embora Allan Kardec tenha criado os termos Espiritismo e Espírita, no sentido de estabelecer uma terminologia própria, ele nada inventou. Quem consultar os livros básicos da Doutrina Espírita verá que ele apenas organizou, com o auxílio dos Espíritos e dos médiuns, os princípios fundamentais que consubstanciam o relacionamento entre os encarnados e os desencarnados.

2. OS FATOS ESPÍRITAS SEMPRE EXISTIRAM

Desde que o homem veio à Terra o seu relacionamento com os Espíritos jamais cessou. No começo de sua evolução, as comunicações davam-se pelo sono, através dos sonhos.  O homem da caverna já assistia às materializações dos seus antepassados. J. H. Pires, no livro O Espírito e o Tempo, traça-nos um roteiro histórico da evolução do Espírito. Começa no horizonte tribal (mediunismo primitivo), passa pelo horizonte agrícola (animismo e culto dos ancestrais), pelo horizonte civilizado (mediunismo oracular), pelo horizonte profético (mediunismo bíblico) e termina no horizonte espiritual (mediunidade positiva).

3. DESCRIÇÃO DOS HORIZONTES

3.1. HORIZONTE TRIBAL

— O antropomorfismo (maneira rudimentar de interpretação da Natureza do homem), em seus estudos, mostra que, nessa fase, há um mediunismo primitivo; adoração rudimentar; evocação sem base; força misteriosa e inexplicável. Nessa fase, e ainda durante muito tempo, verifica-se a LITOLATRIA (adoração de pedras e rochas); FITOLATRIA (adoração dos vegetais, da folhas); ZOOLATRIA (adoração dos animais); POLITEÍSMO (adoração de vários deuses) etc.

3.2. HORIZONTE AGRÍCOLA

— Nessa fase, o homem tem a idéia de que o CÉU é o DEUS-PAI, e a TERRA é a DEUSA-MÃE, uma vez que, vindos de cima o calor e a chuva, o primeiro (CÉU) fecundava a segunda (TERRA), sendo esta, na posição de Mãe, a geradora ou produtora de tudo. Essa crença, de certo modo, ainda existe em alguns lugares da China e da Índia, hoje. Isso, porque, com raríssimas exceções, o homem ainda não despertou para o seu interior, mesmo em civilizações milenares.

3.3. HORIZONTE CIVILIZADO

— Aqui, tem-se, ainda, o conceito de “civilização” pelo poderio dos impérios: Egito, Assíria, Babilônia, China, Pérsia, e os reinos de Israel, da Índia etc. Há, nessa fase, como que um “endeusamento” dos chefes políticos (imperadores e reis). O monarca, senhor absoluto do povo, deve ser respeitado como um deus. Sua palavra é a verdade absoluta. É o culto e a crença no indivíduo que encarna o poder. Fase ainda muito materializada, de muito atraso, mas de pompas.

3.4. HORIZONTE PROFÉTICO

— A fase dos profetas ou do mediunismo bíblico, quando os homens descobrem o seu poder e se individualizam; aprendem a pensar, libertando-se dos instintos e passando a formular juízos éticos, jurídicos e religiosos,. Brilha a filosofia grega. Vem o misticismo hindu e o moralismo chinês. Nasce o conceito de um Ser Supremo, Deus Único

3.5. HORIZONTE ESPIRITUAL

— Pondo por terra idéias errôneas, o indivíduo descobre que Deus e o Homem se assemelham, pois a caminhada evolutiva do ser humano vai até a divindade. O homem, como Espírito, pode chegar à condição de anjo, pelo seu esforço no bem. A codificação do Espiritismo, por Allan Kardec, dá base para esse entendimento. 

4. OS DOIS GRANDES MARCOS DO ESPIRITISMO

1) O FENÔMENO DE HYDESVILLE — Estado de Nova Iorque, USA, 31.03.1848: família Fox, protestante, composta de pai, mãe e duas filhas (Kate, 11 anos, e Margareth, 14 anos). Por uma brincadeira (bater na parede), a filha menor comunicou-se com o Espírito de um mascate, Charles Hosma, fato comprovado por mais de 200 pessoas.

2) LANÇAMENTO DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS (18 DE ABRIL DE 1857).

5. A INVASÃO ORGANIZADA

Arthur Conan Doyle, em a História do Espiritismo diz "é impossível fixar uma data para as primeiras aparições de uma força inteligente exterior, de maior ou menor elevação, influindo nas relações humanas. Os espíritas tomaram oficialmente a data de 31 de março de 1848 como o começo das coisas psíquicas, porque o movimento foi iniciado naquela data. Entretanto não há época na história do mundo em que não se encontrem traços de interferências preternaturais e seu tardio reconhecimento pela humanidade. A única diferença entre esses dois episódios e o moderno movimento é que aqueles podem ser apresentados como casos esporádicos de extraviados de uma esfera qualquer, enquanto os últimos têm as características de uma invasão organizada... Uma data deve ser fixada para início da narrativa e, talvez, nenhuma melhor que a história do grande vidente sueco Emmanuel Swedenborg, a partir de 1744, que possui bons títulos para ser considerado o pai do nosso novo conhecimento dos fenômenos supranormais". (s.d.p., p. 33). O autor, neste livro, vai analisando em ordem crescente toda a fenomelogia mediúnica. Relata as experiências de Edward Irving (1830 a 1833), as de Andrew Jackson Davis (a partir de 1844), as das irmãs Fox (fenômeno de Hydesville, em 31.03.1848), e assim por diante.

Desta forma, os principais estudos metódicos do Espiritismo são: As investigações experimentais levadas a efeito com os instrumentos de precisão pelo professor Robert Hare, de Filadélfia, de 1851 a 1854; as experiências do conde de Gasparin em 1854; os trabalhos da Sociedade Dialética de Londres, em 1869; os estudos de William Crookes, acerca da força psíquica, dos movimentos sem contato e das materializações, de 1870 a 1874; as misteriosas investigações de R. Wallace; os estudos do astrônomo Zoellner, que o levaram a descobrir a quarta dimensão da matéria; as diversas experiências feitas com a médium Eusápia Paladino, por numerosos grupos de sábios de Nápoles, de Milão, Roma, Varsóvia e França etc. 

6. DECLARAÇÃO DE ALGUNS SÁBIOS QUE SE RENDERAM AOS FATOS

Gustave Geley, no seu livro Resumo da Doutrina Espírita, anota algumas observações de pensadores e homens ligados à pesquisa científica. Assim: 

"Pouco sábios tem havido no mundo tão incrédulos como eu nas doutrinas chamadas espíritas. Para se convencerem disso, basta consultar a minha obra Os Loucos e os Anormais, bem como os meus estudos Sobre o Hipnotismo, nos quais cheguei mesmo, a insultar os espíritas..." (Lombroso — Anais da Ciências Psíquicas)

"Mas agora estou confundido e lamento ter combatido com tanta insistência os fatos chamados espíritas. E digo os fatos, porque ainda continuo oposto à teoria..."(Lombroso — Carta a Siolfi)

"Depois de ter assistido em pessoa a diversas experiências feitas com a médium Eusápia Paladino, posso afirmar sem reticências a inteira veracidade dos fenômenos observados". (Professor De Amices, da Universidade de Nápoles)

"Não tive outro remédio senão demolir todo o edifício das minhas convicções filosóficas, às quais havia consagrado grande parte de minha vida". (Doutor Masucci)

"Até o dia em que, pela primeira vez, presenciei os fatos do Espiritismo, eu era um materialista refinado... Era um céptico, um materialista tão completo, que nem sequer podia conceber a existência espiritual... Mas os fatos acabaram por me convencer. Obrigaram-me a aceitá-los como fatos, muito antes de eu poder admitir a explicação espírita. Nessa altura, ainda não havia no meu pensamento lugar para semelhante ordem de idéias. Mas, pouco a pouco, a evidência dos fatos criou um lugar no meu pensamento..." (R. Wallace — O Moderno Espiritualismo)

7. O PERÍODO 1848-1857

Depois do fenômeno de Hydesville, em 1848, tivemos a febre das experiências das mesas girantes, que se alastrou pelo mundo todo. Foi justamente através desse fenômeno de efeitos físicos que o Espiritismo se ergueu. Allan Kardec, sendo adepto do magnetismo, tinha um amigo, que era magnetizador, o Sr. Fortier. Este freqüentava as sessões em que as mesas giravam. O Sr. Fortier lhe disse um dia: "Eis aqui uma coisa que é bem mais extraordinária: não somente se faz girar uma mesa, magnetizando-a, mas também se pode fazê-la falar. Interroga-se, e ela responde." — Isso, replicou o Sr. Rivail, é uma outra questão: eu acreditarei quando vir e quando me tiverem provado que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir, e que pode tornar sonâmbula. Até lá, permita-me que não veja nisso senão uma fábula para provocar sono. (Kardec, 1981, p.14). Passou, depois, a estudar o fenômeno até a publicação de O Livro dos Espíritos, em 1857.

8. O ESPIRITISMO

O Espiritismo é uma doutrina fundada sobre a crença de existência de Espíritos e nas suas manifestações. A doutrina pressupõe um conjunto de princípios. Os princípios são as molas propulsoras de qualquer Filosofia, Ciência ou Religião. Os princípios espíritas diferem sobremaneira de outros princípios, principalmente das doutrinas espiritualistas. Nesse sentido, o Espiritismo difere das religiões pela ausência total de misticismo, não invocando revelações nem o sobrenatural. O espiritismo só admite fatos experimentais, com as deduções que deles se desprendem. Também se distingue da Metafísica ao repelir todo o raciocínio a priori e toda a solução puramente imaginativa.

9. CONCLUSÃO

O Espiritismo é a síntese de todo o processo cognitivo. Fornecendo-nos uma dimensão mais acurada do mundo espiritual e do seu relacionamento com o mundo físico, renova-nos a visão do "eu", do "nós" e do "mundo" que nos rodeia. Baseando-se nos fatos experimentais, os Espíritas têm mais facilidade de estabelecer um vínculo racional entre o materialismo e o espiritualismo.

10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

DOYLE, A. C. História do Espiritismo. São Paulo, Pensamento, s.d.p.

PIRES, J. H. O Espírito e o Tempo - Introdução Antropológica do Espiritismo. 3. Ed., São Paulo, Edicel, 1979.

GELEY, G. Resumo da Doutrina Espírita. 3. ed., São Paulo, Lake, 1975.

KARDEC, A. O Que é o Espiritismo. 23. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1981.

 

Allan Kardec 

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Dados Biográficos. 3. As Circunstâncias Históricas. 4. Causas do Aparecimento do Espiritismo em França. 5. Pestalozzi. 6. Kardec, Aluno de Pestalozzi. 7. Escritos sobre Educação. 8. Começo da Codificação Espírita. 9. As Suas Duas Encarnações Passadas. 10. Obras Básicas. 11. Universalidade dos Princípios. 12. Conclusão. 13. Bibliografia Consultada. 14. Livros que Tratam da Vida e Obra de Allan Kardec.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é refletir sobre a vida e obra de Allan Kardec e as razões pelas quais ele organizou o conteúdo doutrinário do Espiritismo. Tencionamos, assim, formar uma linha psicológica do Codificador, no sentido de melhor entender a sua  nobre missão.

2. DADOS BIOGRÁFICOS

Hippolyte-Léon Denizard Rivail —  Allan Kardec — nasceu no dia 03 de outubro de 1804, às 19 horas, na Cidade de Lyon, na França. Seu pai, Jean-Baptiste-Antoine Rivail, era magistrado, juiz de direito; sua mãe, Jeanne Duhamel, era professora; sua esposa, Amélie Grabielle Boudet, também, era professora. Como homem podemos dizer que foi professor, escritor, filósofo e cientista. Faleceu no dia 31 de março de 1869, com 64 anos de idade. 

3. AS CIRCUNSTÂNCIAS HISTÓRICAS

Depois da Idade Média, em que se atrofiou o espírito crítico, vimos, em todo o globo,  o aparecimento de novas idéias, quer seja na ciência, na filosofia, na religião etc. As ciências tornaram-se teóricas-experimentais, ou seja, toda a hipótese levantada deveria ser comprovada pelos fatos. A Filosofia foi sensivelmente influenciada pelo racionalismo de Descartes, pelo positivismo de Comte e pelo realismo crítico de Kant. Em outros campos de conhecimento, lembramo-nos de Franz Anton Mesmer (1734-1815) e da sua descoberta da teoria do magnetismo animal (1779). Afirmava existir um fluido que interpenetrava tudo, dando, às pessoas, propriedades análogas àquelas do ímã. Em 1787, o marquês de Puysegur descobre o sonambulismo. Em 1841, Braid descobre o hipnotismo. Charcot o estuda metodicamente; Liebault o aplica à clínica; Freud o utiliza ao criar a Psicanálise. No campo político, o advento do Parlamentarismo na Inglaterra, em 1688, a Independência dos Estados Unidos, em 1776 e a Revolução Francesa, em 1789 consolidaram os preceitos de liberdade que o mundo necessitava. Contudo, de acordo com o Espírito Emmanuel, em A Caminho da Luz, alguns Espíritos incumbidos de implantar a liberdade em nosso planeta não conseguiram levar avante as suas missões. Marat e Robespierre pelos excessos de violência durante o período revolucionário e Napoleão Bonaparte pela escravidão de outros povos, por exemplo, criaram uma espécie de provação coletiva para o povo francês.  

4. CAUSAS DO APARECIMENTO DO ESPIRITISMO EM FRANÇA

Podemos apontar pelo menos três causas para o surgimento do Espiritismo na França:

1.ª) sendo o Espiritismo o Consolador Prometido, os seus princípios codificados, já serviriam para mitigar as provações coletivas da França;

2.ª) a França havia se tornado o centro cultural do mundo ocidental, e tudo o que ali fosse feito, teria uma repercussão mundial;

3.ª) Allan Kardec, na época de Júlio César, vivera nas Gálias, região que representa a França atual.

5. PESTALOZZI

João Henrique Pestalozzi (1746-1827) é talvez a personagem mais importante da história da pedagogia. Desenvolveu suas idéias em conexão com experiências pedagógicas práticas, nas Suíça, seu país de origem. Dedicou-se especialmente à educação de crianças órfãs e abandonadas. Desejava que se chegasse a um desenvolvimento harmônico da mente, do coração e da mão. A leitura de Emílio, de Rousseau, romance sobre educação, levou-o a divulgar e aplicar as idéias pedagógicas expostas nesta obra, considerando que a solução para os problemas sociais deveria ser procurada na reforma do ensino. Empregou o método indutivo. Dizia que as atividades dos alunos deveriam partir do simples para o complexo, do conhecido para o desconhecido, do particular para o geral, do concreto para o abstrato.

6. KARDEC, ALUNO DE PESTALOZZI

De acordo com Henri Sausse, em seu discurso sobre a Biografia de Allan Kardec,  Rivail Denizard fez em Lião os seus primeiros estudos e completou em seguida a sua bagagem escolar, em Yverdun (Suíça), com o célebre professor Pestalozzi, de quem cedo se tornou um dos mais eminentes discípulos, colaborador inteligente e dedicado. Aplicou-se, de todo o coração, à propaganda do sistema de educação que exerceu tão grande influência sobre a reforma dos estudos na França e na Alemanha. Muitíssimas vezes, quando Pestalozzi era chamado pelos governos, um pouco de todos os lados, para fundar institutos semelhantes ao de Yverdun, confiava a Denizard Rivail o encargo de o substituir na direção da sua escola. O discípulo tornado mestre tinha, além de tudo, com os mais legítimos direitos, a capacidade requerida para dar boa conta da tarefa que lhe era confiada. Era bacharel em letras e em ciências e doutor em medicina, tendo feito todos os estudos médicos e defendido brilhantemente sua tese. Lingüista insigne, conhecia a fundo e falava corretamente o alemão, o inglês, o italiano e o espanhol; conhecia também o holandês, e podia facilmente exprimir-se nesta língua.

7. ESCRITOS SOBRE EDUCAÇÃO

Allan Kardec, membro de várias sociedades sábias, notadamente da Academia Real d’Arras, foi premiado, por concurso, em 1831, pela apresentação da sua notável memória: Qual o sistema de estudo mais em harmonia com as necessidades da época?

Dentre as suas numerosas obras convém citar, por ordem cronológica:

Plano apresentado para o melhoramento da instrução pública, em 1828;

Curso prático e teórico de aritmética, em 1829;

Gramática francesa clássica, em 1831

Manual dos exames para obtenção dos diplomas de capacidade, em 1846;

Catecismo gramatical da língua francesa, em 1848;

Ditados normais dos exames na Municipalidade e na Sorbona; Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas, em 1849.

8. COMEÇO DA CODIFICAÇÃO ESPÍRITA

Foi em 1854 que o Sr. Rivail ouviu pela primeira vez falar nas mesas girantes, a princípio do Sr. Fortier, magnetizador, com o qual mantinha relações, em razão dos seus estudos sobre o Magnetismo. O Sr. Fortier lhe disse um dia: “Eis aqui uma coisa que é bem mais extraordinária: não somente se faz girar uma mesa, magnetizando-a, mas também se pode fazê-la falar. Interroga-se, e ela responde.”

- Isso, replicou o Sr. Rivail, é uma outra questão; eu acreditarei quando vir e quando me tiverem provado que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir, e que se pode tornar sonâmbula. Até lá, permita-me que não veja nisso senão uma fábula para provocar o sono.

Tal era a princípio o estado de espírito do Sr. Rivail, tal o encontraremos muitas vezes, não negando coisa alguma por parti pris, mas pedindo provas e querendo ver e observar para crer; tais nos devemos mostrar sempre no estudo tão atraente das manifestações do Além.

9. AS SUAS DUAS ENCARNAÇÕES PASSADAS

1.ª) COMO SACERDOTE DRUIDA

Segundo os historiadores, o pseudônimo Allan Kardec decorre do fato de que, no início do seu trabalho de pesquisa sobre o Espiritismo, estando Denizard Rivail consciente de que tudo acontecia em relação aos indivíduos, quando ainda parecia mistério, baseava-se na Reencarnação (princípio das vidas sucessivas e interdependentes), um Espírito lhe revelou que, desde remotas existências, já o conhecia, pois o mesmo fora, em vida física passada no solo francês, um DRUÍDA com o nome de ALLAN KARDEC.

Como observação, esclarecem os historiadores que o Druidismo é a religião dos druidas, sacerdotes pagãos dos povos celtas que habitavam a Gália e a Bretanha no período anterior ao Cristianismo, mais especificamente entre o século II a.C. e o século II, d.C. O Druida, por sua vez, era o nome pelo qual era identificado, entre os Celtas, importante grupo social que desempenhava variadas funções, sendo os responsáveis por manutenção e guarda dos valores da civilização céltica. Acrescentam ainda que os sacerdotes druidas se posicionavam contrários “à construção de templos e à representação dos Deuses ou Espíritos”.

2.ª) COMO JOÃO HUSS

João Huss nasceu em Hussinet, perto de Fichtelgebirge, na Boêmia, cerca da fronteira bávara e do limite lingüístico entre o alemão e o checo, em 1373, e morreu queimado na fogueira em 1415. Huss foi influenciado pelas idéias de Wiclef (1333-1384), teólogo e reformador inglês. Wiclef desenvolveu alguns tratados sobre o dominiun, ou seja, a idéia de que o poder vem de Deus e apenas é legítimo naqueles que se encontram em estado de graça. As suas teses contrariavam os interesses da Igreja católica: expressava-se contra o poderio papal, os votos religiosos, os benefícios e riquezas do clero, as indulgências e a concepção tradicional acerca do sacerdócio.

Huss, como professor da Universidade de Praga, distinguiu-se nas discussões mais abstratas e no conhecimento de Aristóteles, da Bíblia e dos Santos Padres. Como tradutor das obras de Wiclef, propagou várias teses antidogmáticas. Baseando-se nos escritos de Wiclef, negou a necessidade de confissão auricular, atacou como idolátrico o culto de imagens, da Virgem Maria e dos Santos e a infalibilidade papal. Com isso, teve a ira do clero contra a sua pessoa, que após várias admoestações acabou sendo queimado no dia 06/07/1415. Ao seu lado morreu Jerônimo de Praga. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura)

10. OBRAS BÁSICAS

As Obras Básicas, também, cognominadas de Pentauteco Espírita, compõem-se dos seguintes livros :

O Livro dos Espíritos (1857);

O Livro dos Médiuns - ou Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores (1861);

O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864);

O Céu e o Inferno - ou Justiça Divina Segundo o Espiritismo (1865);

A Gênese - os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (1868).

Porém, além destes livros, Kardec escreveu também:

O que é o Espiritismo (1859);

O Espiritismo em sua Expressão Mais Simples (1862);

Viagem Espírita (1862);

Obras Póstumas (1.ª edição — 1890);

Revista Espírita, periódico mensal (1.ª edição — 1.º de janeiro de 1858)

11. UNIVERSALIDADE DOS PRINCÍPIOS

A característica fundamental do Espiritismo é a UNIVERSALIDADE  dos seus princípios.

Para que o conteúdo doutrinário não ficasse restrito à autoridade de um único Espírito ou de um único médium, Kardec submetia toda a manifestação mediúnica ao crivo da razão. Apoiando-se no método teórico-experimental da ciências naturais, cruzava as diversas respostas dadas por diversos Espíritos a diversos médiuns espalhados pelo mundo inteiro. Assim sendo, dizia que "a única garantia séria do ensinamento dos Espíritos está na concordância que existe entre as revelações feitas espontaneamente, por intermédio de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares". (Kardec, 1984, p. 11 a 18)

12. CONCLUSÃO

O Espiritismo está penetrando no rádio, na televisão e nos demais meios de comunicação social. Sendo assim, é imperioso conhecermos alguns fatos da vida do seu Codificador. Sem esse esforço de nos inteiramos da sua obra, da sua abnegação, do seu estado de espírito, jamais alcançaremos a plena compreensão da Doutrina dos Espíritos. 

13. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Lisboa, Verbo, s. d. p.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.

KARDEC, A. O Que é o Espiritismo. 23. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1981.

XAVIER, F. C. A Caminho da Luz - História da Civilização à Luz do Espiritismo, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro, FEB, 1972.

14. LIVROS QUE TRATAM DA VIDA E OBRA DE ALLAN KARDEC

AMORIM, D. Allan Kardec. 2. ed., Minas Gerais, Instituto Maria, 1976.

IMBASSAHY, C. A Missão de Allan Kardec. 2. ed., Curitiba, FEP, 1988.

MOREIL, A. Vida e Obra de Allan Kardec. 4. ed., São Paulo, Edicel, 1977.

SAUSSE, H. Biografia de Allan Kardec. São Paulo, Lake, 1972.

WANTUIL, Z. (Org.) Grandes Espíritas do Brasil. Rio de Janeiro, FEB, 1968.

WANTUIL, Z. e THIESEN, F. Allan Kardec: Meticulosa Pesquisa Biobibliográfica. Rio de Janeiro, FEB.

 

Consolador Prometido

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. As Três Revelações. 3. O Texto Evangélico. 4. O Espírito de Verdade. 5. O Cristianismo: 5.1. Visão Geral; 5.2. Ambiente Político-Religioso; 5.3. Alteração do Cristianismo: os Dogmas. 6. Espiritismo. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é mostrar que a doutrina codificada por Allan Kardec ajusta-se perfeitamente ao texto do evangelista João sobre o Consolador Prometido. Para que possamos entender o alcance daquelas palavras, convém refletirmos sobre os ensinamentos trazidos por Jesus e o que os homens fizeram deles ao longo do tempo. 

2. AS TRÊS REVELAÇÕES

Até o advento do Espiritismo, tínhamos duas revelações:

1.ª) Moisés e o Decálogo;

2.ª) Jesus Cristo e a Lei do Amor.

Estas duas primeiras revelações foram pessoais e locais. Há, por exemplo, duas partes distintas na lei mosaica: a lei de Deus, promulgada sobre o Monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, estabelecida por Moisés; uma invariável; a outra, apropriada aos costumes e ao caráter do povo, que se modifica com o tempo.  Jesus não veio destruir a lei de Deus; ele veio cumpri-la, que dizer, desenvolvê-la, dar-lhe o seu verdadeiro sentido, e apropriá-la ao grau de adiantamento dos homens. Em realidade, os seus ensinamentos constituem o 11.º mandamento, expresso nos seguintes dizeres: "Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo".

A 3.ª revelação, que é o Espiritismo, não foi nem local e nem pessoal. Foram os Espíritos que a ditaram. Allan Kardec foi apenas o Codificador, o organizador.

3. O TEXTO EVANGÉLICO

"Se vós me amais, guardai meus mandamentos; e eu pedirei a meu Pai, e ele vos enviará um outro Consolador, a fim de que permaneça eternamente convosco: o Espírito de Verdade que o mundo não pode receber, porque não o vê e não o reconhece. Mas quanto a vós, vós o conhecereis porque permanecerá convosco e estará em vós. Mas o Consolador, que é o Santo-Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará relembrar de tudo aquilo que eu vos tenha dito". (São João, cap. XIV, v. 15 a 17 e 26)

Se, pois, o Espírito de verdade deve vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não disse tudo; se ele vem fazer recordar aquilo que o Cristo disse, é porque isso foi esquecido ou mal compreendido. 

4. O ESPÍRITO DE VERDADE

O Espírito de Verdade diz: "Espírita! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades se encontram no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram são de origem humana".

Mas o que se deve entender como Espírito de verdade?

De acordo com J. H. Pires, em Revisão do Cristianismo, "O Espírito da verdade não é uma entidade definida, uma criatura humana ou espiritual, mas simplesmente a essência do ensino de Jesus, que se restabeleceria através dos homens que mais rapidamente se aproximassem da sua verdadeira compreensão". (1983, p. 9) A breve síntese do texto, que se expressa em "ensinar e relembrar", mostra que a visão do Mestre abrangia todo o panorama das transformações históricas de um longo futuro.

5. O CRISTIANISMO

5.1. VISÃO GERAL

O Cristianismo surge na confluência do misticismo oriental, do messianismo judeu, do pensamento grego e do Universalismo romano. O núcleo da doutrina cristã é a fé num Deus revelado como Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, crença comum a todas as igrejas. É uma religião monoteísta que coloca em primeiro plano a comunhão com Deus, o Pai, por intermédio de seu filho Jesus Cristo, o Salvador da Humanidade.

O Cristianismo, religião dos cristãos, está centrado na vida e obra de Jesus Cristo. À semelhança de Sócrates, Cristo não nos deixou nada escrito. Seus ensinamentos são anotados pelos apóstolos e passam, mais tarde, a constituir os Evangelhos. A palavra Evangelho, no singular, representa a unidade do pensamento de Jesus, ou seja, o alegre anúncio; no plural, a diversidade de interpretação dos evangelistas. Por isso, dizemos o Evangelho segundo Mateus, o Evangelho segundo Lucas, o Evangelho segundo Marcos e o Evangelho segundo João.

5.2. AMBIENTE POLÍTICO-RELIGIOSO

O povo judeu, ao qual Jesus e os apóstolos pertenciam, fazia parte do grande império romano que estendia as asas das suas águias do Atlântico ao Índico. O jugo romano, porém, pesava de modo especial sobre a Palestina ao contrário dos outros povos.

O ambiente histórico-religioso em que o Evangelho nasceu é o do judaísmo formado e alimentado pelos livros sacros do Antigo Testamento, condicionado pelos acontecimentos históricos, pelas instituições nas quais se encontrou inserido e pelas correntes religiosas que o especificaram.

Embora o cristianismo seja uma religião revelada, diferente da judaica, apareceu historicamente como continuação e aperfeiçoamento da revelação dada por Deus ao povo de Israel. Jesus era um judeu, que nasceu e viveu na Palestina. Os apóstolos eram todos da sua gente e da sua religião.

Por isso, nos Evangelhos encontramos descrições, alusões e referências a pessoas, instituições, idéias e práticas religiosas do ambiente judaico, frente às quais Jesus e os apóstolos tomaram posição, aceitando-as ou rejeitando-as. (Battaglia, 1984, p. 118)

5.3 ALTERAÇÃO DO CRISTIANISMO: OS DOGMAS

A divulgação do Evangelho, desde as suas primeiras manifestações, não foi tarefa fácil. A começar pela construção desses conhecimentos — realizada sob um clima de opressão —, pois o jugo romano, como vimos anteriormente, pesava de maneira especial sobre a Palestina. As mortes dos primeiros cristãos, nos circos romanos, ainda ecoa de maneira indelével em nossos ouvidos. Além disso, tivemos que assistir à ingerência política em muitas questões de conteúdo estritamente religioso. Fomos desfigurando o Cristianismo do Cristo para aceitarmos o Cristianismo dos vigários, como disse o Padre Alta. A fé, o principal alimento da alma, torna-se dogmática nas mãos de políticos e religiosos inescrupulosos. Para ganhar os céus, tínhamos que confessar as nossas culpas, pagar as indulgências e obedecermos aos inúmeros dogmas criados pela Igreja: o dogma do pecado original, o dogma da infalibilidade papal, o dogma da Santíssima Trindade etc. Este desvirtuamento da pureza religiosa que o Cristo nos trouxe, retirou da religião quase tudo o que ela tinha de divino, sobrando apenas as injunções humanas, limitadas e repletas de interesses pessoais. 

6. ESPIRITISMO

"O Espiritismo vem, no tempo marcado, cumprir a promessa do Cristo: o Espírito de Verdade preside a sua instituição, chama os homens à observância da lei e ensina todas as coisas em fazendo compreender o que o Cristo não disse senão por parábolas. O Cristo disse: "Que ouçam os que têm ouvidos de ouvir"; o Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porque fala sem figuras e sem alegorias; ele ergue o véu deixado propositadamente sobre certos mistérios, vem, enfim, trazer uma suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos aqueles que sofrem, dando uma causa justa e um fim útil a todas as dores".(Kardec, 1984, p. 97)

Debruçando-nos sobre o princípio da reencarnação, encontramos explicações para todos os nossos sofrimentos: se nos falta uma perna, podemos supor que numa encarnação passada a usamos de modo indevido; se sofremos a prova da pobreza, podemos imaginar que já fomos ricos em outras oportunidades e não soubemos usar o dinheiro a favor do próximo. 

7. CONCLUSÃO

O Espiritismo tem resposta para todas as nossas dúvidas e consolo para todos os nossos dissabores. É preciso, pois, penetrar nele com um sentimento de humildade e de agradecimento a Deus.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BATTAGLIA,  0. Introdução aos Evangelhos — Um Estudo Histórico-crítico. Rio de Janeiro, Vozes, 1984.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.

PIRES, J. H. Revisão do Cristianismo. 2. ed., São Paulo, Paidéia, 1983.

 

Deus

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito: 2.1. A Origem da Ideia de Deus; 2.2. Etimologia; 2.3. Significado de Deus. 3. Deus e a Divindade: Monoteísmo e Politeísmo. 4. A Revelação de Deus. 5. Provas da Existência de Deus. 6. Deus da Fé e Deus da Razão. 7. Atributos da Divindade. 8. Imagem de Deus. 9. Conclusão. 10. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é buscar uma compreensão mais abrangente da idéia de Deus. Embora seja difícil não só definir Deus como também provar a sua existência, temos condições de senti-Lo e de intui-Lo em nossa mente e em nossos corações. É o que faremos neste ensaio sintético.

2. CONCEITO DE DEUS

2.1.  A ORIGEM DA IDÉIA DE DEUS

A origem da idéia de Deus pode ser concebida:

1) através da antiga doutrina cristã, que afirma que Deus se revelou aos antepassados do povo de Israel por meio das comunicações pessoais que lhes deram uma noção verdadeira, porém incompleta do Deus único, infinito e eterno; depois, no decurso de sua história, foi o povo alcançando gradualmente uma idéia mais adequada e estável acerca da natureza e dos atributos de Deus;

2) como resultado de um desenvolvimento puramente natural. Enquanto o homem se manteve no nível meramente animal não houve nele a idéia de Deus, se bem que existisse uma tendência para a religião. As suas necessidades e aspirações não encontravam satisfação no Mundo ambiente; conheceu as dificuldades e a dor. Em tais circunstâncias, surgiram no seu espírito "por necessidade psicológica" a idéia de encontrar auxílio que de algures lhe viesse, bem como a de algum poder ou poderes capazes de lho ministrar. Uma vez introduzida a idéia de Deus, observa-se a tendência para a multiplicação dos deuses ( e daí o politeísmo). Com o alargamento  da família para a nação, a esfera de deus também ia se ampliando, e as vitórias sobre outras nações, assim como um mais largo entendimento no que concerne ao Mundo, teriam produzido enfim a idéia de um deus único além do qual todos os outros deuses seriam somente pretensos deuses, sem existência real. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

2. 2. ETIMOLOGIA

Deus é um dos conceitos  mais antigos e fecundos do patrimônio cultural da humanidade. Deriva do indo-europeu deiwos (resplandecente, luminoso), que designava originariamente os celestes (Sol, Lua, estrelas etc.) por oposição aos humanos, terrestre por natureza. Psicologicamente corresponde ao objeto supremo da experiência religiosa, no qual se concentram todos os caracteres do numinoso ou sagrado. (Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado).

2.3. SIGNIFICADO DE DEUS

Tomou esta palavra a significação de princípio de explicação de todas as coisas, da entidade superior, imanente ou transcendente ao mundo (cosmos), ou princípio ou fim, ou princípio e fim, ser simplicíssimo, potentíssimo, único ou não, pessoal ou impessoal, consciente ou inconsciente, fonte e origem de tudo, venerado, adorado, respeitado, amado nas religiões e nas diversas ciências. Deste modo, em toda a parte onde está o homem, em seu pensamento e em suas especulações, a idéia de Deus aflora e exige explicações. É objeto de fé ou de razão, de temor ou de amor, mas para ele se dirigem as atenções humanas, não só para afirmar a sua existência, como para negá-la. (Santos, 1965)

Para o Espiritismo, Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.

3. DEUS E A DIVINDADE: MONOTEÍSMO E POLITEÍSMO

Os termos monoteísmo e politeísmo surgem no processo de identificação ou de distinção entre Deus e a divindade.

No politeísmo há uma hierarquia de deuses, de modo que não há uma identidade entre Deus e Divindade. A não observância dessa distinção acaba por confundir muitas mentes. Platão, Aristóteles e Bergson, por exemplo, são qualificados como monoteístas, quando na realidade não o são. No Timeu de Platão, o Demiurgo delega a outros deuses, criados por ele próprio, parte de suas funções criadoras; o Motor de Aristóteles, pressupõe a existência de outros motores menores. Em outros termos, a substância divina é participada por muitas divindades. Convém, assim, não confundir a unidade de Deus com um reconhecimento da unicidade de Deus. A unidade pressupõe a multiplicidade. Quer dizer, Deus sendo uno, ele pode multiplicar-se em vários deuses, formando uma hierarquia. Mas justamente por isso não é único: a unidade não elimina a multiplicidade, mas a recolhe em si mesma. Obviamente a multiplicidade de deuses em se multiplica e se expande a divindade, não exclui a hierarquia e a função preemintente de um deles (o Demiurgo de Platão, o Primeiro Motor de Aristóteles, o Bem de Plotino); mas o reconhecimento de uma hierarquia e de um chefe da hierarquia não significa absolutamente a coincidência de Divindade e Deus e não é, portanto, monoteísmo.

O monoteísmo é caracterizado não pela presença de uma hierarquia, mas pelo reconhecimento de que a divindade é possuída só por Deus e que Deus e divindade coincidem. Nas discussões Trinitárias da Idade Patrística e da Escolástica, a identidade de Deus e da divindade foi o critério dirimente para reconhecer e combater aquelas interpretações que se inclinavam para o Triteísmo. Certamente, a Trindade é apresentada constantemente como um mistério que a razão mal pode roçar. Mas o que importa relevar é que a unidade divina só é considerada abalada quando, com a distinção entre Deus e a divindade, se admite, implícita ou explicitamente, a participação da mesma divindade por dois ou mais seres individualmente distintos. (Abbagnano, 1970)

Para o Espiritismo, Deus é o Criador do Universo. Portanto, admite a tese monoteísta. Contudo, os Espíritos por Ele criado, conforme o grau de evolução alcançado, podem ser classificados como Espíritos Co-Criadores em plano maior e Espíritos Co-Criadores em plano menor. De acordo com o Espírito André Luiz, em Evolução em Dois Mundos, os Espíritos Co-Criadores em plano maior "tomam o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes e obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas, quais moradias que perduram por milênios e milênios, mas que se desgastam e se transformam, por fim, de vez que o Espírito Criado pode formar ou co-criar, mas só Deus é o Criador de Toda a Eternidade"..."Em análogo alicerce, as Inteligências humanas que ombreiam conosco utilizam o mesmo fluido cósmico, em permanente circulação no Universo, para a Co-Criação em plano menor, assimilando os corpúsculos da matéria com a energia espiritual que lhes é própria, formando assim o veículo fisiopsicossomático em que se exprimem ou cunhando as civilizações que abrangem no mundo a Humanidade Encarnada e a Humanidade Desencarnada". (Xavier, 1977, p.20 a 23).  

4. A REVELAÇÃO DE DEUS

A revelação de Deus aos homens pode ocorrer de três modos:

1) a que atribui à iniciativa do homem e ao uso das capacidades naturais de que dispõe, o conhecimento que o homem tem de Deus;

2) a que atribui à iniciativa de Deus e à sua revelação o conhecimento que o homem tem de Deus;

3) a que atribui à mescla das duas anteriores: a revelação não faz senão por concluir e levar à plenitude o esforço natural do homem de conhecer a Deus.

Desses três pontos de vista, o primeiro é o mais estritamente filosófico, os outros dois são predominantemente religiosos. O segundo ponto de vista pode ser visto em Pascal, quando afirma que "É o coração que sente a Deus, não a razão". O terceiro ponto de vista foi encarnado pela Patrística, que considerou a revelação cristã como complemento da filosofia grega. (Abbagnano, 1970)

De acordo com o Espiritismo, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo sua elaboração fruto do trabalho do homem. E como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental: formula hipóteses, testa-as e tira conclusões. (Kardec, 1975, p. 19 e 20)

5. PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

A prova da existência pode ser encontrada no axioma que aplicamos à ciência: não há efeito sem causa. Se o efeito é inteligente, a causa também o é. Diante deste fato, surge a questão: sendo o homem finito, pode ele perscrutar o infinito? Santo Tomas de Aquino dá-nos uma explicação, que é aceita com muita propriedade. A desproporcionalidade entre causa e efeito não tira o mérito da causa. Se só percebemos parte de uma causa, nem por isso ela deixa de ser verdadeira. Allan Kardec, nas perguntas 4 a 9 de O Livro dos Espíritos,

diz-nos que para crer em Deus é suficiente lançar os olhos às obras da Criação. O Universo existe; ele tem, portanto, uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo o efeito tem uma causa, e avançar que o nada pode fazer alguma coisa. A harmonia que regula as forças do Universo revela combinações e fins determinados, e por isso mesmo um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso seria uma falta de senso, porque o acaso é cego e não pode produzir efeitos inteligentes. Um acaso inteligente já não seria acaso.  

6. DEUS DA FÉ E DEUS DA RAZÃO

Descartes, no âmago da sua lucubração racionalista, descobre Deus através da razão. Pascal, por outro lado, fala-nos que só podemos conhecer Deus através da Fé. A dicotomia entre fé e razão sempre existiu ao longo do processo histórico. Aceitar Deus pela razão é um atitude eminentemente filosófica; enquanto aceitar Deus pela fé é uma atitude preponderantemente religiosa.

De acordo com o Espiritismo, a fé é inata no ser humano, ou seja, ela é um sentimento natural, que precisa, contudo, ser raciocinado. Não adianta apenas crer; é preciso saber porque se crê. É nesse sentido que Allan Kardec elaborou a codificação. Observe que junto ao título de O Evangelho Segundo o Espiritismo, o Codificador colocou uma frase lapidar: "Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade". Quer dizer, nunca aceitar nada sem o crivo da razão.

7. ATRIBUTOS DA DIVINDADE

Allan Kardec, nas perguntas 10 a 13 de O Livro dos Espíritos, explica-nos que se ainda não compreendemos a natureza íntima de Deus, é porque nos falta um sentido. Esclarece-nos, contudo, que Deus deve ter todas as perfeições em grau supremo, pois se tivesse uma de menos, ou que não fosse de grau infinito, não seria superior a tudo, e por conseguinte não seria Deus. Assim:

DEUS É ETERNO. Se Ele tivesse tido um começo, teria saído do nada, ou, então, teria sido criado por um ser anterior. É assim que, pouco a pouco, remontamos ao infinito e à eternidade.

É IMUTÁVEL. Se Ele estivesse sujeito a mudanças as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade.

É IMATERIAL. Quer dizer, sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria, pois de outra forma Ele não seria imutável, estando sujeito às transformações da matéria.

É ÚNICO. Se houvesse muitos Deuses, não haveria unidade de vistas nem de poder na organização da matéria.

É TODO-PODEROSO. Porque é único. Se não tivesse o poder-soberano, haveria alguma coisa mais poderosa ou tão poderosa quanto Ele, que assim não teria feito todas as coisas. E aquelas que ele não tivesse feito seriam obra de um outro Deus.

É SOBERANAMENTE JUSTO E BOM. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nos menores como nas maiores coisas, e esta sabedoria não nos permite duvidar da sua justiça nem da sua bondade.

8. IMAGEM DE DEUS

Imaginar Deus como um velhinho de barbas brancas, sentado em um trono, é tomá-Lo  como um Deus antropomórfico. Damo-Lhe a extensão de nossa visão. Quer dizer, quanto mais primitivos formos, mais associamo- Lo às coisas palpáveis, como trovão, tempestade, bosque etc. À medida que progredimos no campo da espiritualidade, damo-Lhe a conotação de energia, de criação, de infinito, de coisa indefinível etc. O homem cria Deus à sua imagem e semelhança. Não se trata de criar Deus, mas sim uma imagem de Deus à nossa imagem e semelhança. Observe que a imagem oriental é uma imagem de aniquilação. No Espiritismo, devemos lembrar sempre que Deus não tem forma, pois difere de tudo o que é material. Devemos, sim, intuí-Lo, simplesmente, como a causa primária de todas as coisas. 

9. CONCLUSÃO

Lembremo-nos de que encontramos Deus em nossa experiência mais íntima. Quer sejamos crentes ou ateus — estamos sempre procurando transcender-nos rumo a metas cada vez mais novas e nunca completamente realizáveis. Nesse sentido, a experiência superficial é alienante. Somente num constante esforço de aprofundamento de tudo o que nos rodeia é que podemos alcançar a riqueza da vida. Desse modo, convém sempre nos dirigirmos a Deus alicerçados na humildade e simplicidade de coração, com o bom ânimo de atender primeiramente à Sua vontade e não à nossa.

10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Mestre Jou, 1970.

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p.

KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.

XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz, 4. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.

 

 

Espírito

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Origem e Natureza dos Espíritos. 4. Espírito e Matéria. 5. Alma e Espírito.  6. Independência do Espírito. 7. O Alcance do Espírito. 8. Manifestações dos Espíritos. 9. Escala Evolutiva. 10. Conclusão. 11. Bibliografia consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é mostrar que o Espírito é um ser real, circunscrito que, em certos casos, torna-se apreciável pela vista, pelo ouvido e pelo tato. Para uma melhor compreensão deste tema, busquemos o conceito de Espírito, a sua origem e natureza e as suas relações com o meio ambiente.

2. CONCEITO

Espírito  - do lat. spiritus - significa "sopro",  "respiro".  Há muitos  sentidos  relacionados a esse termo: figurado, em  que  o espírito  opõe-se  à  letra; impessoal, em que  o  espírito  é  a realidade  pensante;  particular,  em  que  o  espírito  torna-se sinônimo de inteligência. No sentido especial da Doutrina Espírita , os Espíritos são os seres inteligentes da criação, que povoam o Universo, fora do mundo material, e constituem o mundo invisível. Não são seres oriundos de uma criação especial, porém, as almas dos que viveram na Terra, ou nas outras esferas, e que deixaram o invólucro corporal. Assim, o  Espírito é a substância subtilíssima por essência e que constitui no homem uma das substâncias do seu composto ternário: Corpo,  Perispírito e Espírito. Em suma, é o princípio inteligente do Universo.

3. ORIGEM E NATUREZA DOS ESPÍRITOS

O que são os Espíritos? Qual é a sua origem? Eles são criados por Deus? Se são, como Deus os cria?      

De acordo com as instruções dos Espíritos, os Espíritos foram criados por Deus. A sua origem ainda nos é desconhecida. Sabemos apenas que foram criados simples e ignorantes, porém sujeitos ao progresso. A sua essência difere de tudo o que conhecemos por matéria. Nesse sentido dizemos que são imateriais. Mas o termo ainda é incompleto. Allan Kardec na pergunta 82 de O Livro dos Espíritos explica o fato da seguinte maneira: "Imaterial não é o termo apropriado; incorpóreo, seria mais exato; pois deve ser alguma coisa. É uma matéria quintenssenciada, para a qual não dispondes de analogia, e tão eterizada, que não pode ser percebida pelos vossos sentidos... Um povo de cegos não teria palavras para exprimir a luz e os seus efeitos. O cego de nascença julga ter todas as percepções pelo ouvido, o olfato, o paladar e o tato; não compreende as idéias que lhe seriam dadas pelo sentido que lhe falta. Da mesma maneira, no tocante à essência dos seres super-humanos, somos como verdadeiros cegos. Não podemos defini-los, a não ser por meio de comparações sempre imperfeitas, ou por um esforço de imaginação". (1995, p. 80)

Observação: os Espíritos tiveram um começo, mas não terão fim. Por isso, devemos dizer que eles são imortais e não eternos. O termo eterno deve ser aplicado a Deus, pois ele é o único que não tem começo e nem fim. 

4. ESPÍRITO E MATÉRIA

Sabemos que  Deus é a causa primária de todas as coisas. Dele vertem-se  dois princípios:  o  princípio  espiritual e  o  princípio  material. Individualizados,   denominam-se   respectivamente   Espírito   e Matéria.  Assim, o ser pensante, o logos grego é o Espírito. A Matéria é apenas um veículo, o corpo que o Espírito  utiliza para a sua evolução. A  cada  nova  encarnação,   novas experiências e novas oportunidades de aprendizado. Mas, ao elemento material é necessário ajuntar o fluido universal, que exerce o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, demasiado grosseira para que o Espírito possa exercer qualquer ação sobre ela. 

5. ALMA E ESPÍRITO

A  alma é o Espírito encarnado. Embora muitas pessoas usem  esses dois   termos  como  sinônimos,  há  substancial   diferença   de concepção. O Espírito é o ser inteligente da criação que povoa  o Universo e engloba todas as encarnações. A alma é o ser  parcial, limitado e circunscrito a uma encarnação específica. No primeiro, a  amplitude;  no  segundo,  a  redutibilidade.  É,  pois,  nesse processo dialético que o Espírito evolui até atingir a perfeição.

6. INDEPENDÊNCIA DO ESPÍRITO

Muitas pessoas riem com a incoerência dos que ora afirmam a correlação entre o cérebro e o espírito, ou proclamam a independência do ser espiritual, isto é, a manifestação do espírito fora do cérebro, sem o acondicionamento sem a necessidade absoluta das células cerebrais. É que ainda não compreenderam a diferença entre paralelismo absoluto e paralelismo relativo. O Espírito está ligado ao corpo, mas não está confinado a este. O Espírito pode ser comparado a um prisioneiro: este burla o guarda, sai da prisão, vai aonde quer, e depois volta novamente à cela. Quer dizer, o Espírito manifesta-se, pode tornar-se visível em outros lugares (bicorporeidade), enquanto o cérebro fica jungido ao corpo físico. (Imbassahy, 1946, p. 59 a 61)

7. O ALCANCE DO ESPÍRITO

J. B. Rhine, psicólogo da Universidade de Duke, quer provar cientificamente a existência dos fatores não físicos do espírito. Para tanto, classifica a telepatia, a clarividência e a pré e pos-cognição como função "psi-gama", e a telecinesia, a teleplastia e a psicocinesia como função "psi-kapa". O sistema escolhido pelo professor J. B. Rhine, para a avaliação quantitativa da “função PSI” é baseado na estatística combinada com o cálculo das probabilidades. Na pesquisa da “função Psi-Gama”, Rhine elegeu como principal instrumento as cartas Zener. Para verificação da “função Psi-Kapa”, escolheu os dados de jogar.

A precognição, a profecia ou o conhecimengo do futuro pode ser entendido através de uma exemplo: a luz mostra o que vemos. Este é o efeito da causa. Como inverter. Como ver o efeito antes da causa. Como sentir que a luz está lá antes de se manifestar? Aceitar que o Espírito pode prever o futuro, é aceitar que ele tem uma dimensão muito mais vasta do que podemos imaginar. (Rhine, 1965)

8. MANIFESTAÇÕES DOS ESPÍRITOS

Os Espíritos se manifestam: 1) por Efeitos Físicos  (movimentos, ruídos, sons, transportes de objetos etc.); 2) por Efeitos Inteligentes (permuta de pensamentos, sinais ou palavras).

As manifestações podem ser classificadas: 1) Ocultas (sugerindo idéias); 2) Patentes (registrando efeitos para os sentidos); 3) Espontâneas (de improviso); 4) Provocadas (por influência dos médiuns, que são pessoas com faculdades especiais e devidamente preparadas).

9. ESCALA EVOLUTIVA

O Espírito se classifica em razão do desenvolvimento, da qualidades ou imperfeições que possuem. São de Três Ordens: 3.ª Ordem (Imperfeitos) — c/orgulho, egoísmo, ódio; (impuros) — leviano, pseudo-sábios, neutros; (e perturbadores); 2.ª Ordem (bons) — benévolos, sábios, prudentes, superiores; 1.ª Ordem (puros) — sem nenhuma influência da matéria, com superioridade moral e intelectual ante os outros; não sujeitos a reencarnação, por serem perfeitos. (Kardec, 1995, p. 84 a 90)

10. CONCLUSÃO

O Espírito é uma realidade. Não o podemos negar. Cabe-nos, sim, penetrar mais profundamente nas relações entre o mundo encarnado e o mundo desencarnado, a fim de não sermos surpreendidos quando fizermos a nossa passagem para o verdadeiro mundo, ou seja, o mundo dos Espíritos.

11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

IMBASSAHY, C. Corpo e Espírito. São Paulo, Lake, 1946.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

RHINE, J. B. O Alcance do Espírito. São Paulo, Bestseller, 1965.

 

Perispírito

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Denominações do Perispírito. 4. Origem do Perispírito. 5. Natureza e Constituição do Perispírito. 6. Propriedades do Perispírito. 7. Funções do Perispírito: 7.1. Organizador Biológico; 7.2. Sede da Memória; 7.3. Intermediário entre o Corpo e o Espírito; 7.4. Atuação nas Comunicações Mediúnicas. 8. Conclusão. 9. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é buscar uma melhor compreensão do Perispírito, esse laboratório onde se processam mil trabalhos simultâneos, e onde está a chave para uma porção de problemas até agora insolúveis.

2. CONCEITO

1) Perispírito — Invólucro semi-material do Espírito. Nos encarnados, serve de laço intermediário entre o Espírito e a matéria; nos Espíritos errantes, constitui o corpo fluídico do Espírito. (Kardec, s. d. p., p. 374)

2) O Espírito é envolvido por uma substância que é vaporosa para os encarnados, mas ainda bastante grosseira para os desencarnados; suficientemente vaporosa, entretanto, para que ele possa elevar-se na atmosfera e transportar-se para onde quiser. Como a semente de um fruto é envolvida pelo perisperma, o Espírito propriamente dito é revestido de um envoltório que, por comparação, se pode chamar Perispírito. (Kardec, 1995, pergunta 93).

3) O Perispírito é o Princípio intermediário entre a matéria e o Espírito, cuja finalidade é tríplice: — manter indestrutível e intacta a individualidade; — servir de substrato ao corpo físico, durante encarnação ; — constituir o laço de união entre o Espírito e o corpo físico, para a transmissão recíproca das sensações de um e das ordens do outro. (Freire, 1992, p. 29 e 30) 

4) O Espírito Emmanuel, designa o Perispírito como “campo eletro-magnético, em circuito fechado, composto de gases rarefeitos” (gases que se desfazem ou diminuem de intensidade).

3. DENOMINAÇÕES DO PERISPÍRITO

Há inúmeras, em várias épocas, conforme a Filosofia: nas eras primitivas, Corpo-Sombra; para os indianos, Liga Sharira; no antigo Egito, ; para a Teosofia, Corpo Astral; segundo Paulo de Tarso, Corpo Celeste; para a Filosofia do Século XIX, Mediador Plástico; e, finalmente para o Espiritismo, é o Perispírito

4. ORIGEM DO PERISPÍRITO

A origem do perispírito está no fluido universal. O ponto de partida do fluido universal é a pureza absoluta, da qual nada nos pode dar idéia; o ponto oposto é a sua transformação em matéria tangível, adquirindo diversos graus de condensação. O perispírito é uma dessas transformações, mas sob a forma de matéria quintessenciada, ou seja, não perceptível aos olhos carnais. Assim, o perispírito, ou corpo fluídico dos Espíritos, é um dos mais importantes produtos do fluido cósmico; é uma condensação desse fluido em torno de um foco de inteligência ou alma. O corpo carnal também tem seu princípio de origem nesse mesmo fluido condensado e transformado em matéria tangível. No perispírito, a transformação molecular se opera diferentemente, porquanto o fluido conserva a sua imponderabilidade e suas qualidades etéreas. A natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento moral do Espírito. (Kardec, 1975, cap. XIV, item 7)

5. NATUREZA E CONSTITUIÇÃO DO PERISPÍRITO

A natureza do perispírito está sempre em relação com o grau de adiantamento moral do Espírito. Os Espíritos inferiores não podem mudar de envoltório a seu bel-prazer, pelo que não podem passar, à vontade de um mundo para o outro. Os Espíritos superiores, ao contrário, podem vir aos mundos inferiores, e, até, encarnar neles. Quando o Espírito encarna em um globo, ele extrai do fluido cósmico desse globo os elementos necessários para a formação do seu perispírito. Assim, conforme seja mais ou menos depurado o Espírito, seu perispírito se formará das partes mais puras ou das mais grosseiras do fluido peculiar ao mundo onde ele encarna. Resulta disso que a constituição íntima do perispírito não é idêntica em todos os Espíritos encarnados e desencarnados que povoam a Terra ou o espaço que a circunda. O mesmo já não se dá com o corpo carnal, que se forma dos mesmos elementos, qualquer que seja a superioridade ou inferioridade do Espírito. (Kardec, 1975, cap. XIV, item 9)

6. PROPRIEDADES DO PERISPÍRITO

Flexibilidade e expansibilidade são as duas principais propriedades do perispírito. O perispírito não está preso ao corpo, sem poder desprender-se. Em Obras Póstumas, no capítulo sobre manifestações dos Espíritos, 1.ª parte, item 11, lemos: "O Perispírito não está encerrado nos limites do corpo como numa caixa. É expansível por sua natureza fluídica; irradia-se e forma, em torno do corpo, uma espécie de atmosfera que o pensamento e a força de vontade podem ampliar mais ou menos". Baseando-se neste texto, o Dr. Ari Lex acha que não há necessidade de usarmos a palavra "aura". O termo atmosfera fluídica seria uma noção mais simples e cristalina.

7. FUNÇÕES DO PERISPÍRITO

7.1. ORGANIZADOR BIOLÓGICO

O perispírito é o molde fluídico, a "idéia diretriz" , o "esqueleto astral" ou o "modelo organizador biológico" do corpo carnal.

Sabemos que o Espírito acompanhado de seu perispírito começa a se ligar ao corpo físico do reencarnante desde o começo da vida embrionária. Como esboço fluídico que é, o Perispírito vai orientando a divisão celular, ou seja, a sua união com o princípio vito-material do germe. Como campo eletromagnético que é, pode, por isso, ser comparado ao campo do ímã, quando orienta a disposição da limalha de ferro. (Lex, 1993, p. 49 a 54)

7.2. SEDE DA MEMÓRIA 

Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec toca neste assunto muito de passagem. Quem o divulgou, com provas e detalhes, foi Gabriel Delanne, nos livros "Reencarnação" e "Evolução Anímica".

Quem pensa, ama, deseja, resolve é o Espírito. Essas funções mais nobres não são do Perispírito. Ele é apenas uma biblioteca, um arquivo do qual o Espírito se serve para buscar dados. É o Perispírito quem armazena, registra, conserva todas as percepções, todas as volições e idéias da alma. É o guardião fiel, o acervo imperecível do nosso passado. Em sua substância incorruptível, fixaram-se as leis do nosso desenvolvimento, tonando-o., por excelência, o conservador de nossa personalidade, por isso, é que "é nele que reside a memória". (Lex, 1993, p. 54 a 57)

7.3. INTERMEDIÁRIO ENTRE O CORPO E O ESPÍRITO

O Perispírito é órgão transmissor, funcionando como um transformador elétrico, no qual a corrente entra com certa voltagem e sai com voltagem diferente. O corpo recebe a impressão, o Perispírito a transmite e o Espírito, sensível e inteligente, a recebe, analisa e incorpora. Mas podemos ter um trajeto inverso. Quando há iniciativa que vem do Espírito, como ordem para o corpo executar, o Perispírito a transmite para o sistema nervoso, que a define como um impulso motor. Essa ordem vai, através dos nervos motores, aos músculos, que se contraem, obedecendo à ordem recebida. Surgem, assim, os movimentos: locomoção, fala, gestos da mímica, canto, salto etc. Alguns movimentos são automáticos, como os da respiração, do bombeamento do sangue pelo coração e, mais profundamente inconscientes, as contrações peristálticas do intestino. Também, nesse caso, a atuação do Perispírito é inegável. (Lex, 1993, p. 57 a 61)

7.4. ATUAÇÃO NAS COMUNICAÇÕES MEDIÚNICAS

As bilocações dos Espíritos são os fatos marcantes que atestam o desprendimento do Perispírito. Kardec, em Obras Póstumas, diz: "Fica, pois, demonstrado que uma pessoa viva pode aparecer simultaneamente em dois pontos diferentes; num, com o corpo real; em outro, com o Perispírito condensado, momentaneamente, sob a aparência de suas formas materiais". (Lex, 1993, p. 62 a 74)

Em todo o ato mediúnico, o Espírito aproxima-se do médium e o envolve nas suas vibrações espirituais. Essas vibrações irradiam-se do seu corpo espiritual, atingindo o corpo espiritual do médium. A esse toque vibratório semelhante a um brando choque elétrico reage o perispírito do médium.

8. CONCLUSÃO

O Perispírito é a chapa fotográfica de nosso passivo espiritual. Assim, nesta atual encarnação, é importante praticarmos incessantemente o bem, a fim de que possamos aumentar o saldo positivo em nossa contabilidade de acertos e erros.

9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

FREIRE, A. J. Ciência e Espiritismo: da Sabedoria Antiga à Época Contemporânea. 3. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1992.

KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

KARDEC, A. O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores. São Paulo, Lake, s.d.p.

KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.

LEX, A. Do Sistema Nervos à Mediunidade. São Paulo, FEESP, 1993.

 


Princípios Energéticos

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito: 2.1. Princípios; 2.2. Energética. 3. Energia. 4. Fluido. 5. Fluido Universal. 6. Célula Nervosa. 7.Transformação da Energia. Conclusão. Bibliografia consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é refletir sobre os vários tipos de energia, as suas diversas transformações e a maneira mais racional de utilizá-las em benefício de nós mesmos e do nosso próximo.

2. CONCEITO

2.1. PRINCÍPIOS

Princípio: momento em que alguma coisa tem origem;

Quim. Nos escritos dos alquimistas apareceu freqüentemente a palavra princípio, na acepção de elemento ou unidade constitutiva. Nos seus diferentes sistemas, de filiação mais ou menos longínqua nos dos filósofos gregos, os alquimistas consideravam todos os corpos conhecidos como formados por um certo número de princípios fundamentais. Assim, Geber (cerca de 722-813) considerava três princípios: mercúrio, enxofre e arsênio. Segundo Paracelso (1493-1541) os princípios, igualmente em número de três, eram: sal, enxofre e mercúrio. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

Em lógica, o princípio é uma proposição primeira e fundamental que não pode ser deduzida de nenhuma outra, isto é, ela própria, fonte de deduções: serve, portanto, de base ao raciocínio e, por conseqüência, aos conhecimentos que dele decorrem. Distinguem-se tradicionalmente três princípios lógicos: o princípio de identidade ("o que é, é; o que não é, não é"), o princípio de contrariedade ("o contrário do verdadeiro é falso"), o princípio de contradição ("de duas proposições contraditórias uma é verdadeira e a outra falsa"). Assim "princípios" designam o conjunto das proposições de onde decorre uma ordem de conhecimentos que lhe está subordinada no seu desenvolvimento.

No sentido normativo, os princípios designam as regras de ação que se apresentam claramente ao espírito e que o indivíduo deve aplicar na sua atividade (por exemplo, os princípios de moral). Se têm um valor universal e objetivo, são imperativos; se apenas valem para o indivíduo, são máximas. (Thines, 1984)

2.2.  ENERGÉTICA

Ramo da Física que trata essencialmente da energia e suas transformações.

3. ENERGIA

Em física, é a capacidade dos corpos para produzir um trabalho ou desenvolver uma força.

A energia pode ter várias formas (calorífica, cinética, elétrica, eletromagnética, mecânica, potencial, química, radiante), transformáveis uma nas outras, e cada uma capaz de provocar fenômenos bem determinados e característicos nos sistemas físicos. Em todas as transformações de energia há completa conservação dela, isto é, a energia não pode ser criada, mas apenas transformada (primeiro princípio da termodinâmica). (Dicionário Aurélio)

Suponha um corpo em repouso: num determinado referencial, ele é igual ao produto de sua massa em repouso multiplicado pela velocidade da luz ao quadrado. Se um corpo humano é projetado de um edifício, a sua energia de repouso (potência), transforma-se em energia cinética. Quando cai no chão, transforma-se em energia calorífica e sonora.

Descrição de alguns tipos de energia:

1) Energia atômica: energia liberada por alterações no núcleo de um átomo (como, por exemplo, pela fissão de um núcleo pesado por um nêutron ou pela fusão de núcleos leves em mais pesados), acompanhada de perda de massa; também chamada energia nuclear.

2) Energia calorífica: energia desenvolvida pela ação do calor; energia térmica.

3) Energia cinética: energia mecânica de um corpo em movimento.

4) Energia elétrica: energia proporcionada pela eletricidade.

5) Energia eólia: energia derivada dos ventos.

6) Energia potencial: energia de um corpo que depende de sua posição em relação a outros corpos e das forças ativas em relação a um estado normal; também chamada energia latente.

7) Energia radiante: energia que se propaga em forma de ondas; especificamente, a energia de ondas eletromagnéticas (como as de rádio, raios infravermelhos, luz visível, raios ultravioleta, raios X e raios gama). (Dicionário Michaelis)

4. FLUIDO

Fluido é um termo genérico empregado para traduzir a característica das "substâncias líquidas ou gasosas" ou de substância "que corre ou se expande à maneira de um líquido ou gás". (Dicionário Aurélio)

Para Gabriel Delanne, os fluidos são os estados da matéria em que ela é mais rarefeita do que no estado conhecido sob o nome de gás.

5. FLUIDO UNIVERSAL

O fluido universal é a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza. Como princípio elementar do Universo, ele assume dois estados distintos: o da eterização ou imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal, e o de materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira consecutivo àquele. O ponto intermediário é o da transformação do fluido em matéria tangível. (Kardec, 1975, it.2, p.273 e 274)

Além da matéria bruta e do corpo físico, o fluido universal pode ser decomposto:

Fluido vital: é um dos elementos necessários à constituição do Universo, mas tem a sua fonte nas modificações da matéria universal. É um elemento, como o oxigênio e o hidrogênio, que, entretanto, não são elementos primitivos, pois todos procedem de um mesmo princípio. É o elemento que dá vida à matéria orgânica. Pode ser denominado de magnetismo, eletricidade etc.

Ectoplasma: tipo de matéria que se situa entre a matéria densa e a matéria perispirítica. Presta, sobretudo, aos trabalhos de efeitos físicos e materializações.

Perispírito: invólucro semi-material do Espírito. Nos encarnados, serve de laço intermediário entre o Espírito e a matéria. (Equipe da FEB, 1995)

6. CÉLULA NERVOSA

"A unidade estrutural e funcional do sistema nervoso, o neurônio ou célula nervosa, em número aproximado de 25 bilhões (encéfalo e medula espinhal), constitui um campo ainda pouco conhecido..."

"...A função precípua da unidade nervosa é a coordenação e condução, através de seu citoplasma especializado, do impulso nervoso. Temos como certo, a origem dessas impulsões, nas camadas vibratórias da energética psíquica de profundidade. Dessa forma, a célula nervosa traduziria a tela por onde energias especiais aí encontrassem um cadinho expressivo de trabalho".  (Andrea, 1990, p. 13)

7. TRANSFORMAÇÃO DA ENERGIA

É pelo pensamento que transformamos as energias. Quanto mais puros forem os nossos pensamentos, maior capacidade adquiriremos para modificar as energias ambientais. Tomemos, por exemplo, um ser equilibrado e cheio de energia espiritual. Ele é como uma luz no  meio da escuridão: não tem receio de entrar em lugares fétidos, e por onde passa irradia o seu magnetismo contagiante.

8. CONCLUSÃO

Devemos ter em mente que quanto mais ativos formos maior é a nossa capacidade de transformar energia. É aquilo que reside na frase lapidar do Evangelho: "Ao que  muito foi dado, muito será exigido, e mais lhe será acrescentado".

9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANDREA, J. Energética do Psiquismo: Fronteiras  da Alma. 3. ed., Rio de Janeiro, F. V. Lorenz, 1990.

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p.

THINES, G. e LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa, Edições 70, 1984.

FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, s/d/p.

DICMAXI. Dicionário Multimídia Michaelis

KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.

EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro, FEB, 1995.

 

Há Muitas Moradas na Casa de Meu Pai

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Universo. 3. Cosmogonia e Visão de Mundo. 4. Vida em outros Planetas. 5. O Texto Evangélico. 6. A Casa do Pai. 7. Classificação ou Categorias dos Mundos. 8. Progresso dos Mundos. 9. Conclusão. 10. Bibliografia consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é refletir sobre o Planeta Terra, comparando-o com as diferentes categorias de mundos habitados: primitivos, provas e expiações, regeneradores, felizes e celestes. Esperamos que o resultado dessa pesquisa sirva para tomarmos consciência de  quanto somos pequenos diante da imensidão do Universo.

2. UNIVERSO

Conjunto de tudo quanto existe (incluindo-se a Terra, os astros, as galáxias e toda a matéria disseminada no espaço), tomado como um todo; o cosmo, o macrocosmo. (Dicionário Aurélio)

Diz-nos a Astronomia que o Universo é constituído de estrelas (corpos de massa completamente gasosa e geralmente de forma esférica, cujos gases, mantidos por forças gravitacionais, mas atuantes, por sua pressão e radiações, as dilatam).

As estrelas, reunidas em agrupamento de bilhões, formam as galáxias.

As galáxias, acessíveis aos nossos telescópios, são em número de 10 bilhões, separadas entre si por distâncias da ordem de 1 milhão de anos-luz.

A Via Láctea, uma dessas galáxias, como 80.000 anos-luz de diâmetro e contendo de 150 a 200 bilhões de estrelas, está o Sol com seu sistema planetário. O Sol gira ao redor do centro da galáxia a uma distância de 25.000 a 30.000 anos-luz. (Curti, 1980, p.16)

O nosso sistema planetário surgiu, na Via-Láctea, há uns 5 bilhões de anos pela condensação de um nuvem de gás e pó cósmicos. O Sol, suficientemente grande para irradiar luz própria, e, por outra, uma multidão de corpos celestes de diversos tamanhos, apesar de não haver nenhuma tão grande que pudesse irradiar luz própria. (Enciclopédia Combi, item Planeta)

O Universo compreende a infinidade dos mundos que vemos e não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os Astros que se movem no espaço e os fluidos que o preenchem. (Kardec, 1995, cap. III)

3. COSMOGONIA E VISÃO DE MUNDO

Ptolomeu foi o primeiro pensador grego que ofereceu uma sagaz e completa imagem do Universo. Suas hipóteses foram aceitas sem discussão durante mais de mil anos. Ptolomeu, entretanto, jamais afirmou que suas teorias fossem corretas. Eram só um modelo matemático destinado a descrever o movimento dos corpos celestes.

No séc. XVI, Copérnico já havia apresentado um modelo mais simples. Nunca afirmou que o Sol fosse o centro do mundo. Mas, sim, que o movimento dos planetas podia ser explicado mais simplesmente, se se partisse do princípio de que o Sol, e não a Terra, ocupava o centro do Universo. Contudo, a simplicidade dessa hipótese, lançou a semente da dúvida na cabeça de outros investigadores.

As observações do movimento dos planetas realizadas por Tycho Brahe demonstravam que o sistema de Copérnico não podia estar totalmente certo. Após os exaustivos trabalhos sobre os dados fornecidos por Brahe, Johanes Kepler acabou por demonstrar que os planetas descrevem órbitas elípticas. Descobriu também que existia certa relação entre o tamanho da órbita dos planetas, sua velocidade e duração de suas translações. As leis de Kepler conduziram mais tarde Newton a formular sua famosa teoria da gravitação universal. (Enciclopédia Combi, item Física)

Isso mostra que a verdade real já não estava mais centrada nos dogmas da Igreja ou no mundo incompreensível dos deuses. As observações e as experiências, ampliando a visão de mundo, eram a chave do conhecimento.

Resumo da evolução: há 100.000 anos, o homem era o centro do Universo; há  2.000 anos, a Terra; há 500 anos, o Sol; há 50 anos a Galáxia; hoje sem centro.

4. VIDA EM OUTROS PLANETAS

Na Antigüidade e na Idade Média pensava-se que a Terra ocupava o centro do Universo; segundo essa teoria é evidente e indiscutível a privilegiada posição do homem no cosmos. As modernas teorias heliocêntricas consideram a Terra um planeta como os outros, que gira à volta do Sol, o qual, por sua vez, é só uma simples estrela entre muitas centenas de milhões semelhantes em nosso sistema estelar. Com essa imagem do mundo surgiu também a crença de que a vida, até mesmo consciente e inteligente. Pode existir em outros lugares do Universo. (Enciclopédia Combi, it. Planetas)

A idéia de que a vida possa existir em uma miríade de planetas é reforçada pelo fato de que nossa química é universal, o que é revelado pela Astronomia. Kardec afirma que a vida existe em outros planetas e que o processo de geração espontânea continua nos planetas em formação da mesma maneira pela qual aqui se processou. Acrescenta ainda que o homem terreno está bem longe de ser, como acredita, o primeiro em inteligência, bondade e perfeição. (Kardec, 1995, cap. III)

5. O TEXTO EVANGÉLICO

“Não se turbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se assim não fora, eu vô-lo teria dito; pois vou aparelhar-vos o lugar. E depois de ir e vos aparelhar o lugar, virei outra vez e tornar-vos-ei  para mim, para que onde eu esteja, estejais vós também”. (João, cap. XIV, v. 1 a 3).

6. A CASA DO PAI

De Acordo com Allan Kardec, A Casa do Pai é o Universo, e as muitas moradas são os mundos que circulam no espaço infinito. Os diversos mundos estão em condições diferentes uns dos outros, como ensinam os Espíritos. Esses mundos são, foram ou serão habitados, e as humanidades que os habitam podem ser do mesmo grau que a terrestre, como também física e moralmente inferiores aos terráqueos ou mesmo superiores aos Espíritos que povoam a Terra. No Universo, a Terra é apenas um pequeno mundo, como tantos outros. (Kardec, 1984, cap. III)

7. CLASSIFICAÇÃO OU CATEGORIAS DOS MUNDOS

Embora a classificação que se queira fazer dos mundos seja relativa, havendo inúmeras graduações, Allan Kardec, com base nos Espíritos Superiores, mostra-nos a seguinte classificação geral dos mundos:

a)  MUNDOS PRIMITIVOS — quando encarnaram as primeiras almas humanas (depois que o animal atingiu o estádio que lhe fosse permitido receber a denominação de Espírito, por obra da Natureza Divina, por força do Criador)

b)  MUNDOS DE EXPIAÇÃO E PROVAS — onde ainda existe o predomínio do mal; são lugares de exílio dos Espíritos rebeldes à lei de Deus. (Um exemplo de tais mundos é a Terra, planeta de provas e expiações. Escola para a evolução).

c)   MUNDOS REGENERADORES — quando não mais existem expiações, mas ainda há provas. (São mundos de transição para os Espíritos, dos de expiação para os mundos felizes).

d)  MUNDOS FELIZES — em que há o predomínio do bem sobre o mal. (Nestes, não há mais provas, nem expiações).

e)  MUNDOS CELESTES OU DIVINOS — morada dos Espíritos purificados. (Só existe o bem).

8. PROGRESSO DOS MUNDOS

Segundo Santo Agostinho, "A Terra está classificada no mundo de provas e expiações. Esteve material e moralmente num estado inferior ao que está hoje, e atingirá sob esse duplo aspecto, um grau mais avançado. Ela atingiu um dos seus períodos de transformação, em que, de mundo expiatório, tornar-se-á mundo regenerador; então os homens serão felizes, porque a lei de Deus nela reinará". (Kardec, 1984, p. 57)

9. CONCLUSÃO

O mal ainda predomina sobre o planeta Terra porque o bem está retraído. Quando todos os homens de bem resolverem colocar em prática as suas virtudes, e quando isso for um apanágio da maioria, o mal se esconderá com medo de ser visto.

10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CURTI, R. Espiritismo e Evolução. São Paulo, FEESP, 1980.

Enciclopédia Combi Visual. Barcelona (Espanha), Ediciones Danae, 1974.

FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, s/d/p.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995. 


Matéria

 Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. A Física Aristotélica. 4. Matéria Primitiva. 5. A Matéria e o Espírito. 6. União do Espírito à Matéria. 7. Matéria e Materialismo. 8. Desapego à Matéria. 9. Conclusão. 10. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é buscar uma melhor compreensão do termo matéria, verificando as suas várias acepções e comparando-as com a visão da Doutrina Espírita.

2. CONCEITO

Para a Física, matéria é tudo que ocupa lugar no espaço, ou, mais especificamente, é qualquer substância sólida, líquida ou gasosa que ocupa lugar no espaço, ou substância capaz de receber determinada forma ou na qual atua determinado agente.

Para a Biologia, matéria de que se compõem os seres vivos.

Para a Filosofia, o que dá realidade concreta a uma coisa individual, que é objeto de intuição no espaço e dotado de uma massa mecânica; aquilo a que se atribui força ou energia, que é princípio de movimento; o que é transformado ou utilizado pelo trabalho do homem para um determinado fim. (Dicionário Aurélio)

Para o Espiritismo, a matéria vai além da máxima comum, de que é tudo que pode impressionar os sentidos (visão, audição, paladar, olfato e tato). Para os Espíritos, em seus ensinamentos, a MATÉRIA existe em estados ainda desconhecidos por nós, de forma tão sutil, que não afete qualquer dos nossos sentidos. Mesmo assim, embora imperceptível aos nossos sentidos, é sempre matéria. A matéria é o liame que escraviza o Espírito; é o instrumento que ele usa, e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação. (Kardec, 1995, pergunta 22)

3. A FÍSICA ARISTOTÉLICA

Para Aristóteles, os corpos são classificados a partir da teoria dos quatro elementos, elaborada pelo pré-socrático Empédocles, segundo a qual os elementos constitutivos de todos os seres são: terra (matéria sólida); ar (matéria gasosa); água (matéria líquida); e fogo (matéria em combustão). Essa teoria foi aceita até o século XVIII, quando Lavoisier demonstrou que não se tratava de elementos, mas de substâncias compostas.

No universo aristotélico, todos os corpos possuem um "lugar natural" conforme sua essência. É a partir daí que constrói a teoria da queda dos corpos. O peso e a leveza são qualidades dos corpos e determinam formas diferentes do movimento. Então, a terra e a água, como são corpos pesados, têm lugar natural embaixo; o ar e o fogo, sendo leves, têm o lugar natural em cima. O movimento natural é aquele em que as coisas retornam ao seu lugar na ordem estática do  cosmos (situação de repouso).

Assim, para os gregos o repouso não precisa ser explicado. O que precisa ser explicado é o movimento, que pode ser natural e violento.

Por trás dessas afirmações, há uma série de noções metafísicas, quanto à natureza dos corpos e do movimento.

Todo o ser é constituído de matéria e forma, princípios indissociáveis. Enquanto a forma é o princípio inteligível, a essência comum aos indivíduos de uma mesma espécie, pela qual todos são o que são, a matéria é pura passividade, contendo a forma em potência.

É através da noção de matéria e forma que se explica o devir (o movimento). Todo o ser tende a atuar (tornar atual) a forma que tem em si como potência. Assim, a semente, quando enterrada, tende a se desenvolver e transformar-se no carvalho que era em potência.

Quando Aristóteles fala em movimento, não se refere apenas ao conceito de movimento local. Movimento também pode ser compreendido como movimento qualitativo, pelo qual o corpo tem uma qualidade alterada, como, por exemplo, quando o homem analfabeto aprende a ler. Ou ainda, o movimento quantitativo, da planta que cresce, da alteração de tamanho. Há também a mudança substancial, pela qual um ser começa a existir (geração) ou deixa de existir (destruição das essências)

Aristóteles, ao explicar a passagem da potência ao ato, admite a necessidade de um motor que esteja em ato. Todo o movimento, supondo um motor, faz a física desembocar numa teologia: de causa em causa, é preciso parar numa primeira causa (incausada), num primeiro motor (imóvel), evidentemente de natureza divina e que  daria movimento a todas as coisas. Aristóteles chama esse Deus de Ato Puro (pois não têm potência alguma) e de Primeiro Motor Imóvel. (Aranha, 1986, p. 126 a 128)   

4. MATÉRIA PRIMITIVA

De acordo com Allan Kardec, os materiais constitutivos do mundo são matéria cósmica primitiva, simples e una, que se diversifica desde sua origem, continuando durante sua vida e se desmembrando pela decomposição. Se observarmos a diversidade da matéria, ver-se-á que as forças que realizam suas transformações, e as condições em que são produzidas, são ilimitadas, porque ilimitadas são as combinações da matéria. Assim, conclui Kardec: “Em todo o Universo, há uma só substância primitiva: a matéria cósmica ou fluido etéreo, que enche o espaço e penetra os corpos. “é essa matéria cósmica primitiva geradora do mundo e dos seres, por forças e leis imutáveis que regem o Universo. (Kardec, 1975, p. 107 a 109)

5. A MATÉRIA E O ESPÍRITO

"Se admitirmos que a força é uma maneira de ser, um aspecto da matéria, não haverá mais do que dois elementos distintos no Universo — matéria e espírito — irredutíveis entre si. O que caracteriza essencialmente o espírito é a consciência, isto é, o eu, mediante o qual ele se distingue do que não está nele, isto é, da matéria. Desde as primeiras manifestações vitais, o eu evidencia a sua existência reagindo, espontaneamente, a uma excitação interior. No mundo inorgânico, tudo é cego, passivo, fatal; jamais se verifica progresso, não há mais que mudanças de estados, as quais em nada modificam a natureza íntima da substância. No ser inteligente há aumento de poder, desenvolvimento de faculdade latente, eclosão do ser, a traduzir-se  por exaltação íntima do indivíduo". (Delanne, 1988, p. 234)

6. UNIÃO DO ESPÍRITO À MATÉRIA

O Espírito, sendo de natureza quintessenciada, e necessitando de se unir à matéria (corpo físico) para a sua evolução, utiliza um corpo semimaterial, denominado Perispírito. Desse modo, "quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao germen que o atrai por uma força irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o gérmen se desenvolve, o laço encurta. Sob a influência do princípio vito-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde o poder dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior". (Kardec, 1975, it. 18, p. 214)  

7. MATÉRIA E MATERIALISMO

A matéria,  sendo o elemento concreto e visível, levou muitos filósofos a assumirem, como denominador comum, a idéia de que matéria é ou a substância única, negando a existência de qualquer realidade supramaterial, ou a substância decisiva ou predominante nos processos psicológicos, sociais e históricos. O termo materialismo advém do fato de a matéria ser o elemento predominante, a essência. O Espírito surgiria como um epifenômeno. Foi a partir dessa idéia que Marx e Engels desenvolveram a teoria do materialismo histórico, segundo a qual os fatos econômicos, fundamentalmente materiais, são a base e causa determinantes de todos os fenômenos históricos e sociais.

8. DESAPEGO À MATÉRIA

Enquanto vivemos neste mundo, temos necessidade de um corpo físico que, segundo as alternativas da saúde e da doença, influi de maneira muito importante sobre a alma, que é preciso considerar como cativa da carne. O desapego à matéria não é abater o corpo, desprezá-lo e sacrificá-lo.  Nesse sentido, o Espírito Georges diz: "Sereis, pois, mais perfeitos se, martirizando o corpo, som isso não ficais menos egoístas, menos orgulhosos e pouco caridosos para com  o vosso próximo? Não, a perfeição não está nisso; ela está inteiramente nas reformas que fareis ao vosso Espírito suportar; dobrai-o, submetei-o, humilhai-o, mortificai-o: é o meio de torná-lo dócil à vontade de Deus, e o único que conduz à perfeição". (Kardec, 1984, p. 232)

9. CONCLUSÃO

A matéria não é o fim último da existência terrena; ela é o meio utilizado pelo Espírito para promover a sua evolução. Assim, se lhe dermos o que ela realmente merece, viveremos felizes e alcançaremos a paz de espírito.

10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ARANHA, M. L. de A. e MARTINS, M. H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo, Modena, 1986.

DELANNE, G. Evolução Anímica. 5. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1988.

FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, s/d/p.

KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

 

Pensamento

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Gênese do Pensamento. 4. Pensamento e Matéria Mental. 5. Associação de Idéias. 6. Pensamento Forma e Forma pensamento. 7. Fotografia do Pensamento. 8. Perturbações do Pensamento. 9. Fixação Mental (Monoideísmo). 10. Pensamento e Vontade. 11. Conclusão. 12. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é compreender como os nossos pensamentos, bons ou maus, surgem em nossa mente, permanecem e se esvaem. 

2. CONCEITO

Pensamento - do lat. pensare significa pesar, isto é, medir, avaliar e comparar.

No sentido mais lato, designa-se por pensamento toda a atividade psíquica;

Numa acepção mais estreita, só o conjunto de todos os fenômenos cognitivos, e excluindo, portanto, os sentimentos e as volições;

Mais estritamente ainda, pensamento é sinônimo de "intelecto", enquanto permite compreender — ou inteligir — a matéria do conhecimento e na medida em que realiza um grau de síntese mais elevado que a percepção, a memória e a imaginação.

O pensamento, neste sentido mais estrito, toma três formas: concepção, juízo e raciocínio, os quais são objeto de estudo, já da lógica, que considera a sua validez em relação ao objeto pensado, já da psicologia, que, prescindindo do valor crítico, investiga a sua natureza e leis de aparecimento. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

Podemos dizer, também, que o pensamento é a seqüência de representações e conceitos. Não pertence ao tempo nem ao espaço. São generalizações que permanecem virtualizadas em nossa mente. O ato de pensar, como ato, é sempre novo, ou seja, é a atualização temporal e espacial do conceito. Exemplo: o círculo, como conceito, é sempre o mesmo. Ao pensarmos uma, duas, três ... ene vezes sobre essa figura, cada uma delas será, para nós, sempre nova. Este é o sentido da evolução criadora de Bergson. Para ele, todo o momento é criativo, porque nunca o vivenciamos anteriormente.

Para o Espiritismo, é o elemento nobre, modelador das ações dos Espíritos, através de fluídos etéreos. Allan Kardec, em A Gênese, diz que o pensamento  “é a grande oficina ou o laboratório da vida espiritual”. “O pensamento e a vontade são para os Espíritos aquilo que a mão é para o homem”. (1977, cap. 14, it.14, p.282)

3. GÊNESE DO PENSAMENTO

Quanto às etapas na gênese do pensamento, há quem distinga cinco, a saber:

1.ª) estímulo — um problema que o desperta, podendo ser uma dúvida, incerteza, inquietação ou qualquer outra coisa;

2.ª) pesquisa — procura de documentação capaz de esclarecer o problema, através de uma atividade nervosa e psíquica que se desencadeia;

3.ª) hipótese — fase crucial e a mais importante do processo do pensamento, em que os dados obtidos são elaborados;

4.ª) solução — abandono da dúvida em vista da força dos elementos colhidos;

5.ª) crítica — fase final de análise do caminho seguido.

Outros autores contentam-se em mencionar três momentos no processo do pensamento:

Este começa por uma intuição empírica, sensorial e psicológica (introspecção), que faz conhecer imediatamente um fato não compreendido e levanta problemas. Depois seguem-se as operações pelas quais se procura resolver esses problemas, e que constituem o pensamento discursivo. Por fim aparece a intuição racional, onde desemboca o trabalho do pensamento. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura)

4. PENSAMENTO E MATÉRIA MENTAL

Pela mente os Espíritos absorvem o fluido cósmico, transmudando-o em um sub-produto, a matéria mental vibrátil, um fluido vivo e multiforme, estuante e inextancável, em processo vitalista semelhante à respiração, cujas vibrações são as impressas pela mente que a emitiu, cuja ação influencia, a partir de si mesma e sob a própria responsabilidade, a Criação.

A matéria mental tem natureza corpuscular, atômica e também resulta da associação de formas positivas e negativas. Utiliza-se denominar tais princípios de “núcleos, prótons, nêutrons, posítrons, elétrons ou fótons mentais”, em vista da ausência de terminologia analógica para estruturação mais segura de nossos apontamentos. (Xavier, 1977, cap. 4)

5. ASSOCIAÇÃO DE IDÉIAS

O Espírito André Luiz diz: "Emitindo uma idéia, passamos a refletir as que se lhe assemelham, idéia essa que para logo se corporifica, com intensidade correspondente à nossa insistência em sustentá-la, mantendo-nos, assim, espontaneamente em comunicação com todos os que nos esposem o modo de sentir" (Xavier, 1977, p. 48).

Significa dizer: dado um estímulo, imediatamente colocamos o nosso pensamento em sintonia com o clima das respostas que o referido estímulo sugere. Observe a leitura de um jornal: cada um de nós vai direto àquilo que mais lhe interessa. Se gostamos de futebol, abrimos as páginas esportivas; se nossa preferência é a saber sobre a vida pública de um país, consultamos as páginas de economia e política; se preferimos a arte, vasculhamos o caderno ilustrado. Desse modo, as "nossas companhias", quer boas ou ruins, dependem essencialmente de nossa escolha.

6. PENSAMENTO FORMA E FORMA PENSAMENTO

Com freqüência, as transformações são o produto de um pensamento. diz Kardec: “Basta ao espírito pensar numa coisa para que tal coisa se produza”. Desta forma, tomando conhecimento de tal verdade, devemos fazer bom uso dos nossos pensamentos, pois eles são movimentados por energias cósmicas, fluidos  etéreos, que, embora invisíveis aos nossos olhos, estão presentes onde as nossas forças físicas jamais chegariam. Nosso pensamento é um raio que tanto pode conduzir luz edificante como energias deletérias ou destruidoras. 

7. FOTOGRAFIA DO PENSAMENTO

Sendo o Pensamento criador de imagens fluídicas, reflete-se no Perispírito como num espelho, tomando corpo e, aí, fotografando-se. Se um homem, por exemplo, tiver a idéia de matar alguém, embora seu corpo material se conserve impassível, seu corpo fluídico é acionado por essa idéia e a reproduz com todos os matizes. Ele executa fluidicamente o gesto, o ato que o indivíduo premeditou. Seu pensamento cria a imagem da vítima e a cena inteira se desenha, como num quadro, tal qual lhe está na mente. É assim que os mais secretos movimentos da alma repercutem no invólucro fluídico. É assim que uma alma pode ler na outra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos olhos corporais. (Kardec, 1975, p. 115)

8. PERTURBAÇÕES DO PENSAMENTO

De acordo com a Psicologia, entende-se como o conjunto de alterações mais ou menos profundas da estrutura diferenciada e intencional do ato psíquico. É assim possível descrever as anomalias da ideação (encadeamento das idéias), da atenção espontânea e voluntária, da eficiência intelectual etc. Numa outra perspectiva, descreve-se, através das modalidades expressivas do discurso, uma aceleração aparente (fuga das idéias) ou um abrandamento (bradipsiquia) do pensamento, na mania e na melancolia. Na esquizofrenia, o pensamento perturbado no seu funcionamento, exprime-se por meio de uma linguagem estranha, caótica, dissociada, por vezes interrompida. (Thines, 1984)

9. FIXAÇÃO MENTAL (MONOIDEÍSMO)

Monoideísmo é estado patológico caracterizado pela tendência de uma pessoa retornar sempre em seu pensamento em sua palavra a um só tema. É a idéia fixa, ou o estado de consciência mórbida, que se caracteriza pela persistência de uma idéia, que nem o curso normal das idéias, nem a vontade conseguem dissipar. Vingança, desespero, paixões e desânimo são algumas das causas da fixação mental. Nosso cérebro funciona à semelhança de um dínamo. Dado o primeiro estímulo, interno ou externo, o que passa a contar é a manutenção de nosso pensamento num mesmo teor de idéia. Quanto mais tempo permanecermos num assunto, mais as imagens do tema se cristalizarão em nosso halo mental. A fixação mental é uma questão de atitude assumida: melhorando o teor energético de nosso pensamento,  ampliaremos o nosso campo mental para o bem e estaremos nos libertando dos pensamentos malsãos.

10. PENSAMENTO E VONTADE

O fenômeno da sugestão mental é oportuno. Emitindo uma idéia, passamos a refletir as que se lhe assemelham. Nesse sentido, somos herdeiros dos reflexos de nossas experiências anteriores, porém, com a capacidade de alterar-lhe a direção. Acionando a alavanca da vontade, poderemos traçar novos rumos para a libertação de nosso espírito. A vontade é o elemento do livre-arbítrio. Devemos ter comando sobre o pensamento, pois não falhamos só com palavras e atos. Pelo pensamento (sem barreira ou distância), o Espírito encarnado age sobre o semelhante, e o desencarnado, também, atua sobre nós, encarnados. Melhorando o pensamento, melhora a vida nos dois planos — físico e espiritual.

11. CONCLUSÃO

Vigilância e oração atenuam as vicissitudes da senda regenerativa. Através delas, pomo-nos em sintonia conosco mesmos, tornando-nos cada dia mais auto-conscientes. Percebendo claramente nossas reações do cotidiano, criamos condições para nos avaliarmos e consequentemente substituirmos os automatismos negativos pelos positivos. 

12. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Lisboa, Verbo, s. d. p.

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p.

KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.

KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.

THINES, G. e LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa, Edições 70, 1984.

XAVIER, F. C. Mecanismos da Mediunidade, pelo Espírito André Luiz. 8. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.

 

 

Inteligência e Instinto

 Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Inteligência versus Instinto. 4. Ato Instintivo e Ato reflexo. 5. O Homem e  o Animal. 6. Linguagem e Inteligência. 7. Herança e Automatismo.  8. Razão, Paixão e Instinto. 9. Inteligência e Espiritualidade. 10. Conclusão. 11. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é relacionar a inteligência e o instinto no sentido melhor compreender a complementaridade entre estes dois termos.

2. CONCEITO

Inteligência  -  do lat. intellectusinterlec.  =  escolher entre, ou intus e lec = escolher dentro, como preferem outros - é a faculdade que tem o espírito de pensar, conceber,  compreender.

O termo inteligência é ainda usado pelos psicólogos com considerável latitude de sentido. Por vezes emprega-se como sinônimo de cognição (tal como a palavra "entendimento"), isto é, aplica-se a qualquer dos processos pelos quais se constrói o conhecimento; outras vezes é restringido aos processos conceptuais; e em alguns casos é usado no sentido ainda mais restrito de função de apreender relações, ou, até, especiais formas de relação. No uso comum e quotidiano, tende-se a sublinhar o caráter prático da inteligência, como consistindo na capacidade de empregar meios adequados para atingir os vários fins que se tem em vista. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

Instinto - do  lat. instinctu significa  impulso inato, inconsciente, irracional, que  leva  um ente vivo, um animal, a proceder de tal ou tal forma. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira). Estímulo ou impulso natural, involuntário, pelo qual homens e animais executam certos atos sem conhecer o fim ou o porquê desses atos.

3. INTELIGÊNCIA VERSUS INSTINTO

Os  psicólogos  procuram  realizar  uma  tarefa  difícil:  a   de distinguir  a  inteligência  do instinto. O que ressalta logo nessa distinção é que a inteligência  é flexível, muito mais que o instinto. A inteligência tem a seu favor o passado, as experiências que ela coordena, e que aproveita para o exame de novas situações. Por outro lado, o instinto é cego, tal qual se  observa no  cão,  que,  mesmo domesticado, pisoteia o lugar  em  que  vai dormir, como se devesse dormir sobre a erva. O gato faz o gesto de tapar seus excrementos, mesmo quando os deposita sobre as pedras. (Santos, 1965)

4. ATO INSTINTIVO E ATO REFLEXO

No ato instintivo há um tender para um fim útil sem consciência desse fim. Já o ato reflexo é inflexível. Um espiro provocado virá, inflexivelmente, sem que se possa impedi-lo. Por outro lado, os reflexos podem ser úteis ou não, enquanto o instinto é sempre útil. Ao realizar o ato instintivo pode haver modificações na execução, o que é importante.

A observação cuidadosa do comportamento de alguns animais  mostra que o conceito comum de instinto, como mero impulso simples,  não basta  para  explicar  a  complexidade de  seus  atos.  A  aranha construirá  a teia diferentemente, segundo as circunstâncias  e  o  lugar   que  disponha. O  castor  constrói   diferentemente,   segundo   a corrente  da água, o nível da mesma ou a presença de homens.

Os reflexos são estimulados por um processo externo, enquanto o instinto pode ser provocado por um estímulo externo, mas é sempre o desdobramento de uma ação interna. (Santos, 1965)

5. O HOMEM E  O ANIMAL

Do ponto de vista biológico, somos animais, mas como criadores da civilização estamos a uma distância considerável da restrita vida animal. Na evolução biológica do homem, o fator mais importante tem sido o desenvolvimento do volume cerebral que permitiu uma crescente capacidade de aprender, resolver problemas e pensar de maneira construtiva.

Apesar da inteligência e da tecnologia que possui, o homem continua a portar-se em vários aspectos como um animal. Os etnólogos, investigadores do comportamento, observam que é possível  no homem verificar muitas maneiras de agir instintivas e próprias dos animais. Como exemplo, pode-se mencionar a luta por um território, a agressão aos intrusos e a formação de clãs. Além disso, verificam-se nos animais muitas características consideradas humanas. Alguns macacos podem até fazer uso de utensílios simples; muitos animais possuem algumas formas de linguagem e apresentam um certo comportamento social. (Enciclopédia Combi, it. Homem, 9)

6. LINGUAGEM E INTELIGÊNCIA

A língua funciona como instrumento para a transmissão de informações entre o homem e como sistema de símbolo para o pensamento e a formação de conceitos. A forma lingüística aprendida pelos homens não é herdada. Uma criança chinesa, criada num meio de fala inglesa, expressa-se perfeitamente nessa língua. Por outro lado, a linguagem dos animais não é aprendida, mas herdada como instinto.

A língua influi de diversas maneiras sobre o pensamento. os lugares comuns podem dar lugar a falsas conclusões. A expressão "pobre mas honrado" é tão admitida que, não sem certa surpresa, comprova-se amiúde que a pobreza não acompanha necessariamente a honradez, ou vice-versa. A linguagem não condiciona o pensamento, mas ajuda a pensar. (Enciclopédia Combi, it. Linguagem, 1 e 2)

7. HERANÇA E AUTOMATISMO

O Espírito  André Luiz diz: "Se, no círculo humano, a inteligência é seguida pela razão e a razão pela responsabilidade, nas linhas da Civilização, sob os signos da cultura, observamos que, na retaguarda do transformismo, o reflexo precede o instinto, tanto quanto o instinto precede a atividade refletida, que é a base da inteligência nos depósitos do conhecimento adquirido por recapitulação e transmissão incessantes, nos milhares de milênios em que o princípio espiritual atravessa lentamente os círculos elementares da natureza". (Xavier, 1977, p.39)

Assim, no reino mineral, o princípio inteligente adquire a atração, no reino vegetal, a sensação, no reino animal, o instinto, e no reino humano, o pensamento contínuo, o livre-arbítrio e a razão.

8. RAZÃO, PAIXÃO E INSTINTO

Allan Kardec, no cap. III de A Gênese, relaciona instinto, paixão e  inteligência.  Diz-nos que o instinto é sempre guia  seguro  e nunca  erra.  Pode  tornar-se  inútil,  mas  nunca   prejudicial. Enfraquece-se  com a predominância da inteligência. 

As  paixões, nas primeiras idades da alma, têm de comum com o instinto o serem criaturas solicitadas por uma força igualmente inconsciente. As paixões nascem principalmente das necessidades do corpo e dependem, mais do que o instinto do organismo. O que, acima de tudo, as distingue do instinto é que são individuais e não produzem, como este último, efeitos gerais e uniformes; variam, ao contrário, de intensidade e de natureza, conforme os indivíduos. São úteis até a eclosão do senso moral, em que o ser passivo  transforma-se  em ser racional. Depois  disso,  torna-se nociva, caso não seja disciplinada pela razão.

O homem que só agisse constantemente pelo instinto poderia ser muito bom, mas conservaria adormecida a sua inteligência. Seria qual criança que não deixasse as andadeiras e não soubesse utilizar-se de seus membros. Aquele que não domina as suas paixões pode ser muito inteligente, porém, ao mesmo tempo, muito mau. O instinto se aniquila por si mesmo; as paixões somente pelo esforço da vontade podem domar-se. (1975, p. 80 e 81)

9. INTELIGÊNCIA E ESPIRITUALIDADE

Tão acostumados aos atos maquinais, acabamos por traçar planos errôneos para a nossa evolução espiritual. É o caso de querermos padronizar o nosso comportamento. Esse devia ser sempre novo e responder aos estímulos do momento. É como o aprendizado: não se deve decorar técnicas, mas sim tornar-se capaz de..., estar apto para...

É preciso não confundir a boa memória ou o raciocínio fácil com a espiritualidade. A espiritualidade pode se auxiliada pela inteligência, pois esta lhe faculta a capacidade de aprendizagem. Porém, se a espiritualidade dependesse exclusivamente da inteligência, não veríamos tantas pessoas iletradas realizarem prodígios enquanto os que foram à faculdade cometerem  atrocidades no seio da sociedade. Há casos em que a boa memória até atrapalha. Cita-se o caso do médico, que por excesso de memória, tinha dificuldade para prescrever a receita ao seu paciente.

10. CONCLUSÃO

A inteligência  e o instinto são duas faculdades de  nosso  espírito. Saibamos ponderá-los eficazmente, a fim de que possamos viver  em paz com a nossa consciência.

11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Enciclopédia Combi Visual. Barcelona (Espanha), Ediciones Danae, 1974.

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p.

KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.

XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz, 4. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977. 

 

Livre-Arbítrio e Fatalidade 

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Livre-Arbítrio e Liberdade. 4. Livre-Arbítrio e Fatalidade. 5. Lei de Causa e Efeito ou Lei da Ação e Reação. 6. Somos os Construtores de Nosso Destino. 7. O Carma. 8. Conclusão. 9. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é mostrar que o livre-arbítrio e a fatalidade caminham juntos em nosso modo de proceder.

2. CONCEITO

Livre-Arbítrio — quer dizer o juízo livre, é a capacidade de escolha pela vontade humana entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, conscientemente conhecidos.

Fatalismo — Atitude ou doutrina que admite que o curso da vida humana está, em graus e sentidos diversos previamente fixado, sendo a vontade ou a inteligência impotentes para dirigi-lo ou alterá-lo.

Fatalidade

a) Diz-se que é fatal ou sucedido ou a suceder-se, marcado pelo destino, portanto, do que, necessariamente, tem de acontecer, ou necessariamente aconteceu. A fatalidade é a necessidade inevitável no desenvolvimento dos fatos históricos, que está prescrita por uma vontade determinante (o maktub, o que está escrito), que é superior a toda vontade humana (fatum, fado).

b) Diz-se, também, que é uma fatalidade um fato fortuito, devido ao acaso, inevitável, mas que é prejudicial aos interesses humanos.

c) Em sentido geral, fatalidade é sinônimo da necessidade das leis universais. (Santos, 1965)

Determinismo — Doutrinariamente considerado, o determinismo afirma que todos os fatos do universo são guiados inteiramente por determinantes, segundo certas leis.

Goblot, em seu "Vocabulário", define o Determinismo como uma doutrina segundo a qual todo fenômeno é determinado pelas circunstâncias nas quais ele se produz, de forma que, dado um estado de coisas, o estado de coisas que lhe segue, dela resulta necessariamente.

O determinismo é um conceito da razão, e a idéia da liberdade nos é dada pela intuição, pela intuição direta que cada um de nós tem de sua própria experiência. (Santos, 1965)

Carma — Nas filosofias da Índia é o conjunto das ações dos homens e suas conseqüências - somatório de tudo quanto fizemos de bom ou de ruim.

3. LIVRE ARBÍTRIO E LIBERDADE

Os pensadores do séc. XIX foram em grande número, partidários do determinismo, ensinando que a vontade se estabelece mecanicamente por seus antecedentes, não sendo possível a imprevisibilidade que constitui o ato livre. O século XIX caracteriza-se por uma euforia e por uma confiança ilimitada no método científico, que deveria até decifrar os próprios segredos da vida e da alma. Essa confiança estava assentada nos trabalhos de Darwin na biologia, de Pavlov e Freud na Psicologia, de Marx na Sociologia.

No séc. XX, a atmosfera científica mudou. O rígido determinismo sentiu-se abalado mesmo dentro do campo físico, onde nenhuma lei pode falar com absoluta segurança do exato comportamento de um elétron dentro de sua órbita — é o princípio do indeterminismo de Heisenberg. As predições científicas estão baseadas em regularidades estatísticas e não em relações de causa e efeito. Não há, pois, nenhum preconceito contra a liberdade ou livre-arbítrio. A psicologia moderna, por sua vez, procura colocar o problema do livre-arbítrio e da liberdade considerando esta última como uma ausência de impedimentos externos, quanto ao movimento. Quer se trate de liberdade de palavra, de crença ou de ação, pode reduzir-se a esta definição. Nesse sentido, a liberdade é compatível com as necessidade. Por exemplo, a água escorre necessariamente montanha abaixo, quando nada impede o seu movimento e quando, por conseguinte, de acordo com a definição é livre. Por tal motivo, alguns a definiram como "a necessidade feita consciente". A liberdade não consiste em quebrar as regras e as normas constritoras, mas em aperfeiçoá-las de tal modo que impeça o menos possível os movimentos de qualquer natureza dos indivíduos. (Enciclopédia Barsa) 

4. LIVRE-ARBÍTRIO E FATALIDADE

De acordo com Allan Kardec, na pergunta 851 de O Livro dos Espíritos, a fatalidade não existe senão para a escolha feita pelo Espírito, ao encarnar-se, de sofrer esta ou aquela prova física; ao escolhê-la, ele traça para si uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição em que se encontra. No tocante às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir. Observe que a palavra fatalidade aqui usada tem mais o sentido de determinismo do que de fatalidade propriamente dita. (Kardec, 1995, p. 314) Nesse sentido, o Espírito Emmanuel, nas perguntas 132 a 139 de O Consolador , retrata as relações entre o determinismo divino e o livre-arbítrio da seguinte forma: Diz-nos que esses dois termos coexistem na vida, sendo o primeiro absoluto nas mais baixas camadas evolutivas e o segundo ampliando-se com os valores da educação e da experiência. É justamente essa ampliação do livre-arbítrio que dá ao ser humano as noções mais acuradas do que seja o bem e o mal, do justo e do injusto, no sentido de lhe ampliar as responsabilidades por suas ações em sociedade. Quer dizer, quanto mais sabemos, mais podemos saber, mas em contrapartida, mais aumenta o número de coisas que devemos evitar. (Xavier, 1977, p. 83 a 88)

5. LEI DE CAUSA E EFEITO OU LEI DA AÇÃO E REAÇÃO

O esquema da lei da ação e reação pode ser vislumbrado no seguinte esquema: 

CAUSA (SOMA DOS ANTECEDENTES) = EFEITO (CONSEQÜENTE)

OU

CONSEQÜENTE = SOMA DOS ANTECEDENTES 

Elemento importante: causa e efeito sucedem no tempo

CAUSA + TEMPO = EFEITO

OU

SOMA DOS ANTECEDENTES + TEMPO = CONSEQÜENTE 

Acontece que o tempo é irreversível.

Deste modo, não há semelhança qualitativa entre causa e efeito, mas apenas uma semelhança quantitativa. Querer reduzir efeito à causa é quantitativo. Esquecem-se os racionalistas de que essa igualização é apenas abstrata, e, se bem examinada, também não procede, porque há mutação qualitativa. Exemplo: H2+O = H2O (água). A água é qualitativamente diferente. O efeito é igual à causa apenas quantitativamente. (Santos, 1965)

6. SOMOS OS CONSTRUTORES DE NOSSO DESTINO

O ser humano, em cada uma de suas ações, está criando o seu próprio destino. O fato é mais ou menos intuitivo. Se escolho uma boa ação, crio um clima para mais boas ações no futuro; se escolho uma má ação, crio um ambiente negativo para outras ações no futuro. Nesse sentido, o fator educativo, que é a mudança de hábitos e atitudes, é de fundamental importância para modificar o determinismo de nossa ações futuras.

7. O CARMA

O termo "carma" merece destaque nesse estudo. Observe que sempre usamos essa palavra no sentido pejorativo: coisa má , sofrimento, pena, pagamento. Esquecemo-nos de que na sua etimologia sânscrita  significa o somatório dos méritos e dos deméritos de cada alma. Quer dizer, temos tanto ações boas como ações más armazenadas em nosso passivo espiritual. Relacioná-lo somente às coisas negativas é interpretar o fato erroneamente. Precisamos vê-lo dentro de um todo maior.

8. CONCLUSÃO

Exercitemos o nosso livre-arbítrio, porém ponderemos o móvel de cada uma da nossas ações. É possível que estejamos nos aprisionando, onde deveríamos estar nos libertando.

9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro/São Paulo, Encyclopaedia Britannica, 1993.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.

XAVIER, F. C. O Consolador, pelo Espírito Emmanuel. 7. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.

 

Reencarnação

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Reencarnação e Ressurreição. 4. Finalidade da Encarnação. 5. Justiça da Reencarnação. 6. Limites da Encarnação. 7. Enfoque Científico. 8. Outros Tópicos. 9. Conclusão. 10. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é mostrar que a alma é imortal e ao corpo físico retorna quantas vezes for necessário.

2. CONCEITO

Reencarnação significa a volta do Espírito à vida  corpórea, mas  num  outro  corpo, sem qualquer espécie  de  ligação  com  o antigo. Usa-se também o termo Palingenesia, proveniente de duas palavras gregas — Palin, de novo; genesis, nascimento.

Metempsicose - do grego metempsykhosis, embora empregada no mesmo sentido da reencarnação, tem um significado diferente, pois supõe ser possível a transmigração  das almas, após a morte, de um corpo para outro, sem ser obrigatoriamente dentro da mesma espécie. Ou seja, a alma que atingiu a fase humana poderia reencarnar em um animal. Plotino (205-270 a. C.) sugeriu que se substituísse por metensomatose, uma vez que haveria na realidade, mudança de corpo (soma) e não de alma (psykhe) (Andrade, 1984, p. 194 e 195)

Ressurreição  - do lat. ressurrectione - significa ato ou  efeito de   ressurgir,   ressuscitar.   Segundo  o   Catolicismo   e   o Protestantismo, retorno à vida num mesmo  corpo.

3. REENCARNAÇÃO E RESSURREIÇÃO

A confusão entre o conceito de ressurreição e o de reencarnação é porque os judeus tinham noções vagas e incompletas sobre a alma e sua ligação com o corpo. Por isso, a reencarnação fazia parte dos dogmas judaicos sob o nome de ressurreição. Eles acreditavam  que um homem que viveu podia reviver, sem se inteirarem com  precisão da  maneira pela qual o fato podia ocorrer. Eles  designavam  por ressurreição  o  que  o Espiritismo,  mais  judiciosamente  chama reencarnação.

A  ressurreição segundo a idéia vulgar é rejeitada pela  Ciência. Se  os despojos do corpo humano permanecessem homogêneos,  embora dispersados  e reduzidos a pó, ainda se conceberia a sua  reunião em determinado tempo; mas as coisas não se passam assim, uma  vez que  os elementos desses corpos já estão dispersos e  consumidos. Não  se  pode, portanto, racionalmente  admitir  a  ressurreição, senão como figura simbolizando o fenômeno da reencarnação.

O  princípio  da  reencarnação funda-se, a  seu  turno,  sobre  a justiça divina e a revelação. Dessa forma, a lei de  reencarnação elucida  todas as anomalias e faz-nos compreender que Deus  deixa sempre uma porta aberta ao arrependimento. E para isso, Deus,  na sua  infinita bondade, permite-nos encarnar tantas vezes  quantas forem   necessárias   ao   nosso   aperfeiçoamento espiritual, utilizando-se deste e de outros orbes disseminados no espaço. (Kardec, 1984, cap. IV, it. 4, p. 59)

4. FINALIDADE DA ENCARNAÇÃO

1) Expiação — Expiar significa remir, resgatar, pagar. A expiação, em sentido restrito consiste em o homem sofrer aquilo que fez os outros sofrerem, abrangendo sofrimentos físicos e morais, seja na vida corporal, seja na vida espiritual.

2) Prova — Em sentido amplo, cada nova existência corporal é uma prova para o Espírito. A prova, às vezes, confunde-se com a expiação, mas nem todo sofrimento é indício de uma determinada falta. Trata-se freqüentemente de simples provas escolhidas pelo espírito para acabar a sua purificação e acelerar o seu adiantamento. Assim, a expiação serve sempre de prova mas a prova nem sempre é uma expiação.

3) Missão — A missão é uma tarefa a ser cumprida pelo Espírito encarnado. Em sentido particular, cada Espírito desempenha tarefas especiais numa ou noutra encarnação, neste ou naquele mundo. Há, assim, a missão dos pais, dos filhos, dos políticos etc.

4) Cooperação na Obra do Criador — Através do trabalho, os homens colaboram com os demais Espíritos na obra da criação.

5) Ajudar a Desenvolver a Inteligência — a necessidade de progresso impele o Espírito às pesquisas científicas. Com isso a sua inteligência se desenvolve, sua moral se depura. É assim que o homem passa da selvageria à civilização.  

A encarnação ou reencarnação tem outras finalidades específicas para este ou aquele Espírito. Citam-se, por exemplo, o restabelecimento do equilíbrio mental  e o refazimento do corpo espiritual. (FEESP, 1991, 7.ª Aula, p. 73 a 76)

5. JUSTIÇA DA REENCARNAÇÃO

A doutrina da reencarnação, que consiste em admitir para o homem muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à idéia da justiça de Deus com respeito aos homens de condição moral inferior; a única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, pois oferece-nos o meio de resgatarmos os nossos erros através de novas provas. A razão assim nos diz, e é o que os Espíritos ensinam. (Kardec, 1995, pergunta 171)

6. LIMITES DA ENCARNAÇÃO

A encarnação não tem, propriamente falando, limites nitidamente traçados, se se entende por isso o envoltório que constitui o corpo do Espírito, já que a materialidade desse envoltório diminui à medida que o Espírito se purifica. Nesse sentido, o limite máximo seria a completa depuração do Espírito, quando o perispírito estaria totalmente diáfano. Mas mesmo assim, há trabalho a realizar, pois podem vir em missões para ajudar os outros a progredirem. (Kardec, 1984, cap. IV, it. 24, p. 67 e 68)

7. ENFOQUE CIENTÍFICO

O Dr. Ian Stevenson, Diretor do Departamento de Psiquiatria e Neurologia da Escola de Medicina da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos da América, conseguiu catalogar cerca de 2000 casos, tendo publicado cinco livros versando sobre esses relatos. Em um de seus livros, o 20 Casos Sugestivos de Reencarnação, reúne 7 casos na Índia, 3 no Ceilão, 2 no Brasil, 7 no Alasca e 1 no Líbano.

O Método empregado pelo Dr. Ian Stevenson consiste em descobrir pessoas, principalmente crianças, que espontaneamente manifestem recordações. Na maioria dos casos espontâneos, os principais acontecimentos já ocorreram quando o investigador entra em cena.

Possíveis ocorrência erros:

1) tradução;

2) os registros no ato da transcrição das testemunhas;

3) as observações quanto ao comportamento do entrevistado;

4) falhas de memória por parte das testemunhas

5) Além disso, embora acreditem na reencarnação, as pessoas envolvidas adotam atitudes bem diferentes. Existe uma crença generalizada de que a lembrança de vidas pretéritas condena à morte prematura, e muitas vezes os pais usam de medidas enérgicas e mesmo cruéis, para evitar que uma criança fale sobre uma vida anterior.

Stevenson, em suas observações conclusivas, não opta com firmeza por nenhuma teoria como explanatória de todos os casos. Diz ele que alguns casos podem ser explicados melhor como sendo devido à fraude, à criptomnésia ou à percepção extra sensorial com personificação (talvez com misto de telepatia e retrocognição).

Complementando diz: "Na medida em que nos preocupamos com a evidência da sobrevivência, não nos sentimos obrigados a supor que todo caso sugestivo de renascimento deve ser explicado como um caso de reencarnação. Nosso problema é antes, saber se há algum caso (ou mesmo somente um) em que nenhuma outra explicação pareça melhor do que a reencarnação, na explanação de todos os fatos. (Stevenson, 1971, p. 506)

8. OUTROS TÓPICOS

O tema reencarnação, por ser amplo, comportaria vários outros tópicos, ou seja: planejamento da reencarnação, mapas cromossômicos, reencarnação na Bíblia,  encarnação nos diferentes mundos etc. 

9. CONCLUSÃO

A reencarnação fundamenta todo o nosso desenvolvimento moral e intelectual. Sem ela,  a existência física perderia a perspectiva de uma vida futura, o que nos levaria ao materialismo; com ela, todo o sofrimento encontra a sua explicação lógica, reacendendo, assim, a esperança num futuro mais promissor.

10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANDRADE, H. G. Espírito, Perispírito e Alma: Ensaio sobre o Modelo Organizador Biológico. São Paulo, Pensamento, 1984.

AUTORES DIVERSOS. Curso Básico de Espiritismo (1.º Ano). 3. ed., São Paulo, FEESP, 1991.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

STEVENSON, I. 20 Casos Sugestivos de Reencarnação. São Paulo, Difusora Cultural, 1971.

2.º Semestre


Lei Divina ou Natural

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. Doutrinas sobre a Lei Natural. 5. Caracteres da Lei Natural. 6. Conhecimento da Lei Natural. 7. O Bem e o Mal. 8. Divisão da Lei Natural. 9. Conclusão. 10. Bibliografia Consultada. 

1.  INTRODUÇÃO 

O objetivo deste estudo é mostrar que o conhecimento da Lei Natural é requisito necessário para que possamos atualizar as nossas potencialidades no bem, tornando-nos virtuosos, pois é somente pela virtude que nos preparamos para a obtenção do sumo bem. 

2. CONCEITO 

Noção de Lei — Aurélio, no seu Dicionário, anota vários sentidos, entre os quais: norma, preceito, princípio, regra; obrigação imposta pela consciência e pela sociedade. De acordo com Santo Tomás de Aquino "É uma ordenação da razão, promulgada em mira ao bem comum, por aquele que tem o encargo da comunidade."

Lei Natural — O nome da lei natural serve para designar uma lei que é conhecida pela luz natural da razão como derivando da natureza das coisas, que procede de Deus como autor da natureza, e que governa a atividade do homem para seu fim último natural. Por isto recebe ela também, por essa mesma razão, o nome de direito natural (jus naturae). Pode, pois, ser definida como sendo uma participação da lei eterna na criatura racional. (Jolivet, 1966, p. 93 a 116) 

3. HISTÓRICO 

As Leis Naturais sempre existiram: elas são tão velhas quanto o próprio Deus. Na Antigüidade, embora os grandes filósofos não a expressassem textualmente, podemos lê-las nas entrelinhas dos seus discursos. Sócrates e Platão falavam que o homem devia agir de acordo com a sua consciência, ou seja, praticar as virtudes que nada mais é do que escolher com justiça o bem e se apartar do mal. No campo político, Platão falava de um estado ideal, em que os mais sábios deviam governar por serem os mais conhecedores dessas leis da natureza.

Na Idade Média temos os contributos de Santo Tomás de Aquino, que fala de uma lei eterna, proveniente do próprio Deus.

Na Idade Moderna lembramos os contributos de Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704), John Stuart Mill (1806-1873) e Adam Smith (1723-1790). Cada qual em suas obras específicas deixa entrever o aspecto precioso da lei Natural. Hobbes, por exemplo, em A República diz que o governo é o elemento mais importante para a aplicação da lei natural, conhecida como lei áurea: “Não fazermos aos outros o que não gostaríamos que fosse feito a nós”. John Locke (1632-1704), por outro lado, em Sobre o Governo Civil começa o seu discurso reportando-se ao estado natural, em que viviam Adão e Eva. Naquela época, a Lei Natural e a Razão eram os elementos necessários para direcionar os atos de cada um. John Stuart Mill (1806-1873) em On Liberty defende que a única liberdade que merece o nome de liberdade é aquela em que cada um procurando o seu próprio interesse não prejudica o próximo a conquistar o dele. Já Adam Smith (1723-1790) em A Riqueza das Nações queria dar uma resposta mais coerente às indagações levantadas na sua Teoria sobre os Sentimentos Morais, ou seja,  como o interesse próprio pode gerar o bem-estar da sociedade. Tenta, também, partindo de uma confusão inicial visualizar o todo harmônico. (COMMINS, 1947.) 

4. DOUTRINAS SOBRE A LEI NATURAL 

Desde a Grécia Antiga, passando pela Palestina e pelo Egito, sempre tivemos contribuições para a compreensão da Lei Natural. Assim, há pelo menos quatro doutrinas que concernem à lei natural:

1) A Doutrina da Lei como imanente significa que a ordem da natureza expressa os caracteres das coisas reais, as quais, conjuntamente, compõe as existências encontradas na natureza. Quando compreendemos as essências dessas coisas, conhecemos, também, as mútuas relações de umas para com as outras. Se há elementos comuns em alguns padrões parciais de identidade, supõe-se também que os há em outros padrões. É evidente que essa doutrina prega a negação do “Ser Absoluto”, pois mostra somente as várias interdependências de todas as essências da natureza.

2) A Doutrina da Lei imposta adota a alternativa da doutrina metafísica das relações externas entre as existências que são fundamentos constitutivos da natureza. Os caracteres dessas coisas fundamentais são concebidos como tendo qualificação própria. Assim, uma existência é entendida em completa desconexão com outras existências. O problema é que mesmo não requerendo a participação das outras existências, há uma imposição no sentido de que esta existência necessite estar relacionada com as outras.

3) A Doutrina da Lei como mera observação parcial das coisas naturais. Aqui a Lei é meramente descritiva: observa-se a regularidade das coisas e a partir daí estabelecem-se regras. Como se vê, esta doutrina tem atrativo muito forte de simplicidade. Enquanto as duas primeiras doutrinas levam-nos à dificuldade para compreender a Lei e a natureza de Deus, esta liberta-nos de qualquer entrave, pois tudo gira em função da simples observação dos padrões de identidade da natureza.

4) A mera descrição não é suficiente para a compreensão da Lei. É preciso acrescentar-lhe uma interpretação convencional, ou seja, além da descrição, devemos estudar os fatos e inferir novas leis. O papel da ciência nada mais é do que observar, formular hipóteses, testá-las e tirar conclusões. Caso esteja em erro, voltar, reformular as hipóteses até atingir um grau maior de veracidade dos fatos. É um trabalho de infatigável perseverança na busca da verdade. (WHITEHEAD, 1942) 

5. CARACTERES DA LEI NATURAL 

Todas as leis da Natureza são leis divinas, pois Deus é o autor de todas as coisas. São leis eternas, imutáveis, não estão sujeitas ao tempo, nem à circunstância,  embora tenham em si o elemento do progresso. O sábio estuda as leis da matéria, o homem de bem, as da alma e segue-as.

Entre as Leis Divinas:

a) umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: são as leis físicas; seu estudo pertence ao domínio da Ciência;

b) outras concernem especialmente ao homem e às suas relações com Deus e com os seus semelhantes. Compreendem as regras da vida do corpo e as da vida da alma: são as leis morais. (Kardec, 1995, perguntas 614 a 618)

Embora a Lei Natural refira-se tanto ao aspecto físico quanto ao aspecto moral, é o aspecto moral que deve ser enfatizado, pois é ele que dá referência ao nosso estado de evolução espiritual.

Mas como o homem faz para conhecê-la? 

Há dois elementos básicos: unidade e universalidade.  A lei matemática em que dois mais dois são quatro existe em todo o lugar do universo. Independe de tempo e espaço. 

6. CONHECIMENTO DA LEI NATURAL 

Na pergunta 621 de O Livro dos Espíritos - Onde está escrita a lei de Deus? Os Espíritos respondem que está escrita na consciência do ser. E em seguida dizem que há necessidade de sermos lembrados porque havíamos esquecidos.

Como entender que a lei está escrita em nossa consciência? De acordo com os princípios doutrinários, codificados por Allan Kardec, fomos criados simples e ignorantes, sujeitos ao progresso. Nesse sentido, o Espírito André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, explica-nos que no reino mineral recebemos a atração; no reino vegetal a sensação; no reino animal  o instinto; no reino hominal o pensamento contínuo, o livre-arbítrio e a razão. São os pródomos da lei moral, cujo objetivo é transformar os homens em “anjos”, “arcanjos” e “querubins”. É a potencialização das virtualidades de cada ser.

Poderíamos, também, dizer de outro modo:

nos seres inanimados, é uma força cega que está em ação: a relação entre o fim e os meios é puramente mecânica. Nos seres brutos reina o instinto, graças ao qual  a lei se cumpre sob o influxo de uma necessidade interna. Não há pois, em ambos os casos, nem mérito, nem demérito e, por conseqüência, nem dever nem direito.

Em relação ao homem, a lei já não é mecânica nem instintiva, senão moral. Obriga a vontade, mas deixando ao livre-arbítrio a escolha entre o bem e o mal: de outro modo não compreenderiam nem o mérito nem o demérito. A lei moral natural nada mais é, pois, do que a lei eterna, enquanto esta tem por objeto a regulação da atividade humana.

É por isso que SANTO AGOSTINHO E SANTO TOMÁS afirmam que Deus "concriou" ao mesmo tempo a lei natural e os seres que chamou à existência. De maneira que se pode dizer que de alguma sorte, a lei eterna está "transcrita" ou "inscrita" na razão humana: ela é a razão divina a irradiar em nós por modo de participação". (Jolivet, 1966,  p. 93 a 116) 

7. O BEM E O MAL 

A experiência propicia-nos condições de conhecer o bem e o mal. Se Adão e Eva  não tivessem provado a maçã, não saberiam o que é o bem e o que é o mal. O fato bíblico,  nesse contexto, pode ser analisado da seguinte forma: Adão, estimulado pela Eva e esta,  pela serpente, comem o fruto proibido - cometem o  pecado. Adão poderia  escusar-se  dizendo que a culpa era da Eva e da serpente. Mas é justamente nesse ponto que a divindade intervém e dá-lhe a noção de responsabilidade.

A responsabilidade pode ser visualizada espiritualmente. O Espírito André Luiz, no livro  Evolução em Dois Mundos, psicografado por Francisco Cândido Xavier,  traça-nos  a  trajetória do princípio inteligente, através dos vários reinos da natureza. Diz-nos que, desde a nossa criação,  estamos sendo  conduzidos pelos “Operários Espirituais”. A  diferença  é que, uma vez adquirido o livre-arbítrio no reino  hominal,  o princípio, agora denominado Espírito, é deixado ao sabor de  suas próprias forças, porém com a responsabilidade  pelos atos praticados.

O estudo ora encetado comporta a  seguinte  pergunta: onde  está  a origem do mal? Deus, que é sabedoria,  justiça  e bondade,  não pode ser a sua causa. Mas o mal existe e, portanto, deve ter uma causa. Excluindo-se os males que não podemos evitar, tais como os flagelos destruidores, a maioria deles tem sua causa no orgulho, na ambição e no egoísmo humanos.

Podemos, ainda, levantar outra questão: como distinguir o bem do mal? Allan  Kardec, em  O  Livro  dos  Espíritos, esclarece-nos  que o bem é agir de acordo com a lei de Deus. Diz-nos, também, que se tivermos dúvida sobre o ato, devemos reportar-nos à regra áurea, ensinada por Jesus: "não fazer aos outros o que não gostaríamos que nos fizessem". (Kardec, 1995, perguntas 629 a 646) 

8. DIVISÃO DA LEI NATURAL 

PILASTRA_DC — Sigla para lembrarmos das dez Leis Naturais. P da Lei do Progresso, I da Lei de Igualdade, L da Lei de Liberdade, A da Lei de Adoração, S da Lei de Sociedade, T da Lei do Trabalho, R da Lei de Reprodução, A da Lei de Justiça, Amor e Caridade, D da Lei de Destruição e C da Lei de Conservação.

Na pergunta 648 de O Livro dos Espíritos — Que pensais da divisão da lei natural em dez partes? — “Essa divisão da lei de Deus em dez partes é a de Moisés e pode abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial. Podes segui-la, sem que ela tenha entretanto nada de absoluto, como não o têm os demais sistemas de classificação, que dependem sempre do ponto de vista sob o qual se considera um assunto. A Lei de Justiça, Amor e Caridade é a mais importante; é por ela que o homem pode avançar mais na vida espiritual, porque resume todas as outras”. (Kardec, 1995. Perguntas 647 e 648) 

9. CONCLUSÃO 

Tomar consciência da Lei Natural é o melhor caminho que devemos seguir na vida. Saber ouvir, saber falar e principalmente saber refletir, a fim de não desprezarmos os deveres da consciência impostos por nós mesmos no íntimo de nosso coração. 

10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

COMMINS, S. e LINSCOTT, R. N. The World’s Great Thinkers - Man and the State: the Political Philosophers. New York, EUA, Random House, 1947.

JOLIVET, R. Tratado de Filosofia (Volume IV - Moral). Rio de Janeiro, Agir, 1966.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. São Paulo, FEESP, 1972.

WHITEHEAD, A. F. Adventures of Ideas. Cambridge, University Press, 1942.

XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz, 4. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.


Lei de Adoração

 Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2.Conceito. 3. Histórico. 4. Hierofanização. 5. O sagrado. 6. Finalidade da adoração. 7. Formas de Adoração: 7.1. Adoração exterior; 7.2. Prece; 7.3. Politeísmo; 7.4. Sacrifícios. 8. Conclusão. 9. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

O objetivo deste estudo consiste na observação do sentimento de adoração, inato no ser humano, porém influenciado pelas hierofanias das diversas religiões. 

2. CONCEITO 

A palavra adorar vem do latim ad e orare que significa orar para alguém. É o gesto que traduz o sentimento de admiração, de espanto, de temor, de reverência e de amor do homem para com a Divindade, em si, nas suas manifestações e nos seus representantes. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura)

Dependendo do sistema religioso no qual estivermos inseridos, optamos por um tipo de vivência religiosa, em que expressamos as nossas atitudes de dependência e submissão ao Ser Supremo, de forma racional ou dogmática. 

3. HISTÓRICO 

A tradição histórica mostra que a veneração de um Ser Supremo existe desde a antigüidade. Há registros de que o homem de Neanderthal, há 150.000 anos, enterrava os mortos junto com objetos de uso diário, evidenciando a crença numa vida futura. Em cada etapa do processo histórico, fomos idolatrando a divindade de acordo com o horizonte alcançado nesses estados de compreensão.

Assim:

1) Nas religiões primitivas. Entre os primitivos, esse sentimento originário, muito indiferenciado ainda irrompe em exclamações de terror sacro ante o poder do numinosum e do fascinosum, tais como: Mana, Tabo, Orenda, Vacanda, Manitu etc.

2) Nas religiões médio e próximo orientais. O que nos primitivos era espontâneo assume, aqui e agora, um aspecto estudado e ritual. A sua forma mais freqüente é a prostração. Esta pode ser total — joelhos e face em terra, como ainda hoje entre os Muçulmanos — ou parcial, equivalente à genuflexão, simples ou dupla. A adoração faz-se no templo e fora dele, tendo, neste caso, o fiel o cuidado de orientar toda a sua pessoa na direção do lugar santo.

3) Nas religiões greco-latina. Traduzindo, sobretudo, o sentimento de reconhecimento, do respeito e do amor, o gesto com que o homem clássico "adora" uma divindade ou um mortal consiste num simples beijo enviado na ponta dos dedos. A prostração e até a simples genuflexão são por ele consideradas costumes "bárbaros". Mas, com a orientalização da Grécia e de Roma, esses costumes tornam-se correntes, aplicando-se, não apenas aos deuses, mas aos homens investidos do poder ou da glória. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura)

4) J. Herculano Pires em O Espírito e o Tempo retrata este histórico em termos de horizontes: tribal (mediunismo primitivo), agrícola (animismo), civilizado (mediunismo oracular), profético (mediunismo bíblico) e espiritual (mediunidade positiva). 

4. HIEROFANIZAÇÃO 

Ao lembrarmo-nos de que algumas religiões utilizam-se da  Litolatria (adoração das pedras), da Fitolatria  (adoração das árvores) e da Zoolatria (adoração dos animais), logo vem à nossa mente a imagem de pouca racionalidade desses cultos. Falta-nos uma melhor compreensão do termo hierofania.

A hierofania é o ato da manifestação do sagrado. A história das religiões tem um número considerável de hierofanias, ou seja, todas as manifestações das realidades religiosas. É isso o que explica o sagrado manifestando-se em pedras, animais, árvores etc. (Eliade, 1957, p. 25)

Não são as pedras, as árvores, os animais e os objetos que são adorados, mas sim o que eles representam para a coletividade.

Um exemplo clássico nos dias atuais: adoração da vaca na Índia. A vaca da Índia é igual a todas vacas do planeta. Mas quando esse animal sofre um processo de hierofanização, ele torna-se um animal sagrado.

Na Idade Média, tínhamos a cruz representando o combate ao mal.. A cruz era feita de madeira como qualquer outra cruz. Contudo, diante do processo de hierofanização, ela servia para expulsar os "demônios". 

5. O SAGRADO 

O sagrado é a manifestação de uma realidade de ordem inteiramente diferente da das realidades “naturais”. Tem como contrapartida a noção de profano. (Eliade, 1957, p. 24). O próprio espaço, para o homem religioso, não é homogêneo: o espaço apresenta roturas, quebras; há porções de espaço qualitativamente diferentes das outras.  “Não te aproximes daqui, disse o Senhor a Moisés, descalça as sandálias; porque o lugar onde te encontras é uma terra sagrada” (Êxodo, III, 5). (Eliade, 1957, p. 35)

Em se tratando do sagrado, há também a crença no Deus Otiosus, que é o fenômeno do “afastamento” do Deus supremo é já atestado aos níveis arcaicos de cultura. Entre os australianos Kulin, o Ser Supremo Bundjil criou o Universo, os animais, as árvores e o próprio homem; mas, depois de ter investido em seu filho o poder sobre a Terra, e a sua filha o de providenciar no Céu, Bundjil retirou-se do mundo. Na África, os Yorubas da Costa dos Escravos acreditam num Deus do Céu, denominado Olorum (literalmente proprietário do céu) que, após haver iniciado a criação do  mundo, incumbiu um Deus inferior, Obatala, de conclui-lo e governá-lo. Quanto a Olorum, afastou-se, sendo invocado como último recurso. (Eliade, 1957, p. 132-134)

Convém lembrar que, além da religião, o direito, a ética, a estética, a política, o casamento, a família, o sexo, a morte, a arte, a arquitetura e muitos outros aspectos da vida são igualmente envolvidos pelo sagrado. Situemos, como exemplo, o Direito: a arquitetura dos tribunais, a toga do juiz, o ritual das sessões dos tribunais, mesmo o uso de símbolos religiosos para o juramento, por exemplo, apontam certos aspectos da instituição do direito que têm pelo menos certo sabor de sagrado. Nos Estados Unidos, em qualquer circunstância, um juiz da Suprema Corte tem, aos olhos do homem médio, um status muitíssimo mais alto que o de um sociólogo, e um cientista social está muito mais sujeito a olhar como um servo para o tribunal do que a vê-lo como uma ameaça. (Boulding, 1974, cap. 4) 

6. FINALIDADE DA ADORAÇÃO 

A finalidade da adoração é a elevação do pensamento a Deus. Pela adoração o homem aproxima dEle a sua alma. A consciência de sua fraqueza leva o homem a se curvar diante dAquele que o pode proteger. Nesse sentido, jamais houve povos ateus. Todos compreendem que há acima deles, um Ser supremo. É por isso que a Lei de Adoração é uma lei natural, ou seja, não cremos em Deus pela lucubração de nossos pensamentos, mas por um sentimento que é inato em todos os seres viventes. (Kardec, 1995, perguntas 649 a 652).

Esse sentimento, porém, toma em cada tipo de religião uma forma determinada. É o atendimento da necessidade interior de cada um de nós. Por isso, se já estamos num nível mais avançado de racionalidade não devemos nos achar superiores ou mesmo tratar com desprezo os que se utilizam de meios ainda menos racionais. O que importa é o que a pessoa sente e não tanto a forma externa de manifestação. 

7. FORMAS DE ADORAÇÃO 

7.1. ADORAÇÃO EXTERIOR 

Diz-nos Allan Kardec que a verdadeira adoração é a do coração. Contudo, se a adoração exterior não for um fingimento, tem o seu mérito, visto Deus pesar mais as intenções do que o ato em si. Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal. Aquele que se vangloria de adorar o Cristo mas que é orgulhoso, invejoso e ciumento, que é duro e implacável para com os outros ou ambicioso de bens mundanos, só tem a religião dos lábios e não no coração. (Kardec, 1995, perguntas 653 a 656). 

7.2. PRECE 

A prece é um ato de adoração. Fazer preces a Deus é pensar nEle, aproximar-se dEle, por-se em comunicação com Ele. Pela prece podemos fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer. O essencial não é orar muito, mas orar bem. Há pessoas que julgam que todo o mérito está na extensão da prece e fecham os olhos para os seus próprios defeitos. Estes não estão orando corretamente. (Kardec, 1995, perguntas 658 a 666) 

7.3. POLITEÍSMO 

A idéia de um Deus único só podia aparecer como o resultado do desenvolvimento mental do homem. Incapaz, na sua ignorância, de conceber um ser natural, sem forma determinada, agindo sobre a matéria, ele lhe havia dado os atributos da natureza corpórea, ou seja, uma forma e uma figura, e desde então tudo o que lhe parecia ultrapassar as proporções da inteligência comum tornava-se para ele uma divindade. Tudo quanto não compreendia devia ser obra de um poder sobrenatural, e disso a acreditar em tantas potências distintas quanto efeitos pudesse ver, não ia mais do que um passo. Mas em todos os tempos houve homens esclarecidos, que compreenderam a impossibilidade dessa multidão de poderes para governar o  mundo sem uma direção superior, e que se elevaram ao pensamento de um Deus único. (Kardec, 1995, pergunta 667) 

7.4. SACRIFÍCIOS 

Os homens primitivos acreditavam que uma criatura animada teria muito mais valor aos olhos de Deus do que um corpo material. Foi esse o motivo que os levou a imolar primeiramente os animais e depois o próprio ser humano, pois, segundo sua falsa crença, pensavam que o valor do sacrifício estava em relação com a importância da vítima.

Deus julga sempre a intenção. Amparar os pobres e os aflitos é o melhor meio de homenageá-Lo. Desta forma, Deus desaprova as cerimônias que fazemos em nossas preces, pois há muito dinheiro que se poderia empregar mais utilmente. O homem que se prende à exterioridade e não ao coração é um espírito de vista estreita. (Kardec, 1995, perguntas 669 a 673) 

8. CONCLUSÃO 

O tipo de reverência, em que a verdadeira adoração é a que provém do coração, ainda é difícil de ser praticada para a maioria dos viventes. Contudo, não há outra forma de atingirmos um perfeito relacionamento com a Divindade: o estádio de evolução mais avançado exige esforços constantes da razão. 

9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

BOULDING, K. E. O Impacto das Ciências Sociais. Rio de Janeiro, Zahar, 1974.

ELIADE, M. O Sagrado e o Profano: A Essência das Religiões. Lisboa, Livros do Brasil, 1957?

Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Lisboa, Verbo, s. d. p.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.


Lei do Trabalho

 Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Concepções Históricas do Trabalho. 4. Necessidade. 5. Remuneração do Trabalho: o Salário. 6. A utilidade do Trabalho. 7. Trabalho e Lazer. 8. A Felicidade. 9. Conclusão. 10. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

O objetivo deste estudo é analisar as concepções do trabalho elaboradas pelos pensadores da terra, comparando-as com as concepções trazidas pelos amigos espirituais. 

2. CONCEITO 

O termo trabalho origina-se do lat. vulgar tripalium, instrumento de tortura composto de três paus ou varas cruzadas, ao qual se prendia o réu. Significa, em geral, qualquer atividade do homem que tem por finalidade um resultado útil e, nessa medida, dotado de valor econômico. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura)

É toda a atividade pela qual o homem, no exercício de suas forças físicas e mentais, direta ou indiretamente, transfigura a natureza para colocá-la a seu serviço. O trabalho é um dever inelutável de todo o homem, qualquer que seja a concepção moral e religiosa que o inspira. (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo)

Para cada ciência assume um significado particular.

Assim:

a) na Física — é a produção de movimento ou de atividade a um corpo que resiste por meio de uma força outra;

b) na Fisiologia, é  o desgaste de energia na ação muscular ou mental;

c) na Economia, é a atividade produtora de bens ou serviços;

d) na filosofia, que faz uma síntese de todas as ciências, envolve, além disso, a criação e evolução do ser. (Santos, 1965) 

3. CONCEPÇÕES HISTÓRICAS DO TRABALHO 

O trabalho está intimamente ligado ao progresso científico e técnico  e às estruturas sócio-culturais que influenciou poderosamente. Sobretudo a partir do séc. XVIII, verifica-se impressionante aceleração caracterizada por crescente mecanização, motorização e racionalização, culminando no progressivo alargamento da automação.

Em termos históricos, as suas concepções podem ser resumidas:

a) na Antigüidade, não apenas a greco-latina, domina a concepção trágico-pessimista refletida na etimologia.

b) A Revelação Judaico-Cristã tem do trabalho uma concepção simultaneamente grandiosa (colaborar na obra de Deus, essencialmente por ser o homem "imagem" de Deus, chamado a "senhorear" ou reinar sobre a natureza, precisamente graças ao trabalho) e realista  (o egoísmo pecador desvirtua  muitas vezes o trabalho, tornando-o desumanizante; daí, sobretudo, todos os aspectos penosos do trabalho, os quais se podem, contudo tornar "redentores" por participação na "cruz" — "nos trabalhos de Jesus".

c) A Reforma trouxe algumas aportações importantes sobretudo com Calvino, mesmo que se tenham de por de reservas à tese de Max Weber sobre a contribuição do calvinismo puritano para o nascimento do capitalismo.

d) Com os tempos modernos e o grande desenvolvimento dos estudos econômicos, evidencia-se o aspecto do trabalho como fator de produção, seu papel na formação do valor das mercadorias.

e) Hegel e Marx apresentam as últimas doutrinas globais do trabalho, com muitos pontos de acordo mas profundamente diferentes. Marx, combinando elementos dos economistas ingleses clássicos (sobretudo o que se refere à divisão do trabalho e suas implicações e ao papel do trabalho como medida e fonte de valor dos bens) e da filosofia de Hegel (em particular a "abstração" alienante que o trabalho representa) elabora a sua concepção global da sociedade e da história, dentro do qual se situa, como superação da alienação que o sistema capitalista introduziu, a revolução do proletariado e a implantação do comunismo no qual terminarão todas as alienações, e o trabalho será apenas fator de realização do homem. Engels foi mais longe, considerando-o mesmo fator de "humanização": "a mão não é só órgão do trabalho, mas também seu produto." (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura) 

4. NECESSIDADE 

Por que trabalha o homem? Para atender à sua necessidade.

O que é uma necessidade? É a consciência de que nos falta algo.

Por que nos falta algo? Porque a necessidade, sendo um estado de espírito e um atributo do homem subjetivo, impõe ao homem este ou aquele desejo.

Daí, três postulados econômicos básicos:

a) nossas necessidades e desejos são ilimitados;

b) os bens que estão à nossa disposição são escassos;

c) para adquiri-los, procuramos empregar o melhor esforço possível, usando o nosso critério de escolha. 

As necessidades podem ser:

a) prioritárias: comer, beber, dormir etc.

b) secundárias: vestir-se bem, passear, cinema etc. 

5. REMUNERAÇÃO DO TRABALHO: O SALÁRIO 

O salário constitui um direito natural de poder aquisitivo, cuja medida está relacionada à cooperação que cada um presta à sociedade.

Na sociedade atual, a procura de mão de obra repousa predominantemente na produtividade, e não sobre a sua eventual utilidade. Processa-se nos moldes da análise de preços, isto é, resume-se a uma análise da oferta e procura.

Assim sendo:

quanto maior o número de empresas que procura trabalhadores, maior será o salário.

De acordo com o Espírito André Luiz, a remuneração, no Plano Espiritual, refere-se ao "bônus-horas", ou seja, uma ficha de serviço individual, funcionando como valor aquisitivo. Lá, cada um deve dar oito horas de serviços, mas há horas de esforço extraordinário em que a remuneração aos serviços sacrificiais prestados é duplicada e, às vezes, triplicada.

Diferença de concepção: no Plano Espiritual, o salário é fundamentado na utilidade e no esforço que cada um emprega, independentemente da oferta e procura. (Xavier, 1978, cap. 22) 

6. A UTILIDADE DO TRABALHO 

Na pergunta 675 — Só devemos entender por trabalho as ocupações materiais? — Não, o espírito também trabalha, como o corpo. Toda a ocupação útil é trabalho. Aqui, temos que considerar a relação entre o útil e o inútil. Há muitas atividades que não trazem ganhos materiais e até dão prejuízo. Mas é preciso ver que todos ansiamos por valores artísticos, criativos, religiosos etc. No âmbito da atividade espírita, não devemos visar lucros materiais, pois, se assim o fizermos estaremos sendo mercenários com as coisas do Espírito. É por isso que Allan Kardec chama-nos a atenção que a mediunidade deve ser gratuita. Dar de graça o que de graça recebeste. (Kardec, 1995) 

7. TRABALHO E LAZER 

O repouso serve para reparar as forças do corpo. É também necessário para deixar um pouco mais de liberdade à inteligência que deve elevar-se acima da matéria. O lazer funciona como um antídoto à depressão e ao estresse. Acontece que muitas vezes a escolha de nosso lazer cansa mais do que trabalhar. Precisamos ponderar as coisas e colocá-las no seu devido lugar. 

8. A FELICIDADE 

Marx afirmara que os fatores econômicos são os que impulsionam a arte, a religião e outras atividades de nossa vida.

Assim:

Para o Marxismo, a felicidade do indivíduo estaria presa aos proventos materiais do trabalho (salários).

Para o Espiritismo, porém, a felicidade do indivíduo vai além dos proventos materiais do trabalho (salários), pois implica em evolução espiritual.

Por isso, não basta dar trabalho ao homem, sendo também necessário dar-lhe educação moral, ou seja, orientação espiritual para que ele possa tirar do trabalho todos os proventos que este lhe possa dar. Um mundo socialista, de trabalho e abundância para todos, mas sem perspectivas espirituais, seria tão vazio e aborrecido como um mundo espiritual de ociosidade, segundo o prometido pelas religiões. (Kardec, 1995, p. 267) 

9. CONCLUSÃO 

Lembremo-nos de que entre os trabalhos , o mais difícil é o trabalho interior, ou seja, o trabalho de reformulação de nossos hábitos e atitudes negativos. Assim,  os nossos maiores esforços deveriam ser direcionados para esse mister, pois é o único bem que nenhum ladrão nos roubará. Importa metermos mão à obra. 

10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro, M.E.C., 1967.

Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Lisboa, Verbo, s. d. p.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. Ed., São Paulo, Editora Matese, 1965.

XAVIER, F. C. Nosso Lar, pelo Espírito André Luiz. 19. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1978.

 

Lei de Reprodução 

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Reprodução no Tempo. 4. Reprodução como Lei Natural. 5. Família. 6. Parentesco. 7. Casamento e Celibato: 7.1. Resumo Estatístico; 7.2. Âmbito da Doutrina Espírita. 8. Divórcio. 9. Conclusão. 10. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

O objetivo deste estudo é analisar a criação de novos corpos físicos e a sua relação com o processo evolutivo do ser humano. 

2. CONCEITO 

Reprodução - dá-se este nome à série de processos pelos quais os seres vivos transmitem a vida a novos indivíduos e asseguram a continuação das espécies. A reprodução dos seres vivos se faz através de outro preexistente. Pode ser  assexuada ou agâmica e sexuada ou singâmica. Na  reprodução assexuada é uma célula ou um aglomerado celular que se destaca do indivíduo produtor, tornando-se independente, para dar início a um novo ser semelhante ao primeiro. Na reprodução sexuada a célula (espermatozóide) se destaca de um ser vivo e junta-se a uma outra célula (óvulo). Os óvulos formam-se no organismo feminino e os espermatozóides no organismo masculino. Quando os dois órgãos existem no mesmo indivíduo diz-se que ele é hermafrodita; estando em indivíduos separados a espécie é unissexuada, como se dá com a espécie humana e os animais superiores. (Edipe) 

3. REPRODUÇÃO NO TEMPO 

Conta-nos o Espírito André Luiz que a vida no Planeta Terra começou a partir da geléia cósmica, de onde verteu o princípio inteligente, em suas primeiras manifestações.

Trabalhadas, no transcurso de milênios, pelos operários espirituais que lhe magnetizam os valores, permutando-os entre si, sob a ação do calor interno e do frio exterior, as mônadas celestes exprimem-se no mundo através da rede filamentosa do protoplasma de que se lhes derivaria a existência organizada no Globo constituído.

Aparecem os vírus, que estimulam a divisão cariocinética.

Evidenciam-se as bactérias rudimentares, cujas espécies se perderam nos alicerces profundos da evolução, lavrando os minerais na construção do solo, dividindo-se por raças e grupos numerosos, plasmando, pela REPRODUÇÃO ASSEXUADA, as células primevas, que se responsabilizariam pelas eclosões do reino vegetal em seu início.

Os vírus e as bactérias propiciam a formação das algas, dotadas de extrema motilidade e sensibilidade, como formas monocelulares em que a mônada já evoluída se ergue a estágio superior. Sucedendo-as, por ordem, emergem as algas verdes de feição pluricelular, com novo núcleo a salientar-se, inaugurando a REPRODUÇÃO SEXUADA

Das cristalizações atômicas e dos minerais, dos vírus e do protoplasma, das bactérias e das amebas, das algas e dos vegetais do período pré-cambriano aos fetos e às licopodiáceas, aos trilobites e cistídeos, aos cefalópodes, foraminíferos e radiolários dos terrenos silurianos, o princípio espiritual atingiu os espongiários e celenterados da era paleozóica, esboçando a estrutura esquelética... 

Viajando sempre, adquire entre os dromatérios e anfitérios os rudimentos das reações psicológicas superiores, incorporando as conquistas do instinto e da inteligência.

E assim o princípio inteligente vai incorporando os automatismos de que nos servimos na fase humana, em que foram incorporados o pensamento contínuo, o livre-arbítrio e a razão, no âmbito da REPRODUÇÃO SEXUADA. (Xavier, 1977, cap. III) 

4. REPRODUÇÃO COMO LEI NATURAL 

De acordo com os postulados espíritas, Deus criou os Espíritos simples e ignorantes; logo, há necessidade da reprodução de formas físicas, a fim de atingirem a perfeição. Como é impossível atualizar todas as virtudes em uma única encarnação, os Espíritos voltam ao plano da matéria quantas vezes forem necessárias. Poder-se-ia dizer que as diversas encarnações têm o objetivo de sublimar o instinto sexual. Quer dizer, todo o Espírito passa do mundo das formas físicas, onde predomina a natureza animal, para os estados de Espíritos superiores, onde predomina a natureza espiritual.

No que tange aos obstáculos à reprodução criados pelo homem, os Espíritos dizem-nos que tudo o que entrava a marcha da Natureza é contrário à lei geral. Deus deu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder que ele deve usar para o bem, mas não abusar. Ele pode regular a reprodução segundo às necessidades, mas não deve entravá-la sem necessidade. (Kardec, 1995, perguntas 686 a  694) 

5. FAMÍLIA 

É no lar que, salvo raras exceções, as formas físicas são procriadas. A importância da família prende-se ao fato que é ali, no cadinho das quatro paredes, que o novo ser receberá apoio para a sua jornada terrena. Não basta apenas procriar; é preciso que a forma física, animada por um Espírito,  receba a influência educativa dos seus progenitores, no sentido de avivar a fraternidade e a solidariedade. Não é sem razão que a maioria dos grandes pensadores definem a família com sendo a célula máter da sociedade. 

6. PARENTESCO 

O parentesco é a matriz geral das relações sociais. O homem é um ser que vive em sociedade; a sociedade só existe dividida em grupos, que se baseiam no parentesco, e ultrapassam esta divisão original através da cooperação.

A instituição primária que dá origem à solidariedade entre os grupos é o casamento. Um grupo que só contasse com as suas próprias forças internas para se reproduzir biologicamente, que praticasse o incesto, e apenas o incesto, estaria condenado à destruição, indiscutivelmente.

A troca das mulheres entre os grupos é a troca da vida, uma vez que as mulheres fornecem os filhos e o seu poder de fecundidade a outrem que não aos seus próximos.

A lei da exogamia, na qual se baseiam todas as sociedades, deve ser entendida como lei de troca das mulheres e do seu poder de fecundidade entre homens — a mãe e a ama de leite. (Enciclopédia Einaudi, item Masculino/Feminino) 

7. CASAMENTO E CELIBATO 

7. 1. RESUMO ESTATÍSTICO 

a) até a Segunda Guerra Mundial.

- O número de casamentos e a fecundidade estavam em declínio e o celibato em ascensão; - Com o surgimento do fenômeno "baby boom", os casamentos e a fecundação sobem e o celibato cai. 

b) entre 1961 e 1965 rompe-se esse modelo.

- Surgem a pílula anteconcepcional e os movimentos feministas;

- As pessoas começaram a se casar menos com o vínculo legal;

- Há um aumento considerável das mães solteiras.. 

7.2. ÂMBITO DA DOUTRINA ESPÍRITA 

O casamento revela um progresso na marcha da Humanidade, porque é regulamentação do instituto familiar. A união livre e fortuita dos sexos pertence ao estado de natureza. O casamento é um dos primeiros atos do progresso nas sociedades humanas porque estabelece a solidariedade fraterna e se encontra entre todos os povos, embora nas mais diversas condições. A abolição do casamento seria, portanto, o retorno à infância da humanidade e colocaria o homem abaixo mesmo de alguns animais, que lhe dão o exemplo das uniões constantes.

O celibato somente é meritório quando feito para o Bem, pois todo sacrifício pessoal, visando o Bem e sem segunda intenção egoísta, eleva o homem acima de sua condição material. (Kardec, 1995, perguntas 695 a 699) 

8. DIVÓRCIO 

A separação dos cônjuges não deve ser facilitada, pois o regime monogâmico é o que melhor se presta para a evolução do ser encarnado. No casamento, o que é de Natureza Divina é a união dos sexos e a Lei do Amor para operar a renovação dos seres que morrem; mas as condições que regulam essa união são de ordem humana, sujeita aos costumes de cada povo.

O divórcio é uma lei humana que tem por fim separar legalmente o que está separado de fato; não é condenável perante Deus, pois, ele trata de legitimar o que já está separado, isto é, regular separações onde não há amor, mas somente a união dos sexos ou de interesses materiais. (Kardec, 1984, cap. XXII) 

9. CONCLUSÃO 

Vimos que a produção de novas formas físicas é de fundamental importância para a renovação da espécie humana. É preciso, pois, que essa reprodução seja responsável e não comprometa o processo evolutivo do nosso Planeta.  

10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

EDIPE - Enciclopédia Didática de Informação e Pesquisa Educacional. 3. ed., São Paulo, Iracema, 1987.

XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz, 4. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.

GIL, F. (Editor). Enciclopedia Einaudi. Lisboa, Imprensa Nacional, 1985-1991.


Lei de Conservação

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Evolução da Mentalidade Ecológica. 4. Instinto de Conservação. 5. Necessidade: Material e Espiritual. 6. Necessário e Supérfluo. 7. Alimentação, Privações e Mortificações. 8. A Maior Conquista. 9. Conclusão. 10. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

O objetivo deste estudo é analisar o instinto de conservação, natural no ser humano, porém influenciado pelos usos e costumes das sociedades modernas. 

2. CONCEITO 

A conservação pode ser vista sob vários ângulos:

Em Filosofia significa em geral a permanência de um ente real no seu existir, ou ainda a invariância dos seus estados fenomênicos e propriedades.

Em Teodicéia significa a ação de Deus que mantém os seres na existência. O seu contrário é a aniquilação.

Em Ecologia, conhecida como conservação da natureza, significa o movimento cultural, inicialmente designado por Proteção da Natureza, que visa assegurar a utilização racional dos recursos naturais, proteger o ambiente natural da poluição do solo, da água e do ar, manter e embelezar as paisagens naturais, proteger as espécies raras de animais ou plantas e quaisquer formações geológicas de maior interesse pela sua raridade ou originalidade. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura) 

3. EVOLUÇÃO DA MENTALIDADE ECOLÓGICA 

O Extremo Oriente teve a primazia da mentalidade conservacionista. Há milhares de anos  existem nessa região áreas destinadas a proteger os animais, como em Sarnath, na Índia, onde Buda se inspirava, e na China, onde os mandarins mantinham espécies de particular interesse em pequenos parques.

Embora tenha havido no final do século XIX eventos esparsos de preservação da natureza, especialmente nos Estados Unidos, Japão e México, foi somente no início do século XX, que  alguns governos, bem como entidades privadas, passaram a reconhecer que a proteção da natureza é assunto de alcance internacional.

O evento de maior amplitude e repercussão mais profunda, em vista dos problemas de poluição e degradação ambiental que se acumulavam no final do século XX, foi a Conferência da Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Realizado no Rio de Janeiro, em junho de 1992, teve a adesão de 178 países e contou com a presença de mais de cem chefes de estado. Na Eco-92, como ficou conhecida, foram aprovados documentos de fundamental importância para a conservação da natureza, como a Convenção da Biodiversidade, a Declaração de Princípios das Florestas, a Convenção do Clima e a Agenda 21.

No Brasil, o primeiro documento a referir-se expressamente à conservação da natureza foi a carta régia de 13 de março de 1797, que advertia contra o perigo de destruição das matas. Em 1821, José Bonifácio de Andrade e Silva propôs que "em todas as vendas de terras que se fizessem em sesmarias que se dessem, se pusesem a condição de que a sexta parte do terreno nunca haveria de ser derrubada  e queimada, sem que se fizessem novas plantações de bosques".

Observe que hoje a luta pela defesa da natureza, ao mesmo tempo, tomou feições concretamente política, passando a figurar com destaque entre as plataformas partidárias e as metas de novos governantes. (Enciclopédia Barsa) 

4. INSTINTO DE CONSERVAÇÃO 

Em todos os seres vivos, o instinto de conservação é o mais importante. A finalidade primordial do animal é comer e esforçar-se para não ser comido pelos outros. Essa é a razão pela qual os órgãos sensoriais, que investigam se existe alimento em volta ou que, ao pressentir perigo, ordena ao corpo que se proteja ou fuja, encontram-se perto do orifício de introdução dos alimentos.

Depois do instinto de conservação, o mais importante é o instinto de reprodução, ou tendência procriadora, que faz o macho procurar a fêmea para fecundá-la. Ambos os instintos requerem a contribuição coordenadora de diversos sistemas de órgãos. Na fuga, o coração bate mais depressa e os músculos ficam tensos.

O cérebro do homem, grande e desenvolvido, permite-lhe uma compreensão mais consciente dos acontecimentos e pode, assim, escolher a forma de comportamento mais adequada a cada situação. O que nos animais é instinto, no homem é subjetivo. Ele pode igualmente dominar-se, recordar, prever e planejar os atos segundo as experiências acumuladas. (Enciclopédia Combi)

O instinto de conservação é uma lei natural, porque a vida num corpo físico é necessária ao aperfeiçoamento dos seres, e sua destruição antecipada entrava o desenvolvimento do princípio inteligente. (Kardec, 1995, perguntas 702 e 703) 

5. NECESSIDADE: MATERIAL E ESPIRITUAL 

Necessidade é a consciência de que nos falta algo. Pode ser material e espiritual.

No âmbito das necessidades materiais, temos as principais (comer, beber e dormir) e as complementares (passeios e diversões). O provimento dessas necessidades dá-se pelo trabalho. O trabalho é a troca de nossa especialização pela especialização do outro. Há uma renda e com ela suprimimos os meios básicos para a nossa sobrevivência.

No âmbito das necessidades espirituais, destacamos a leitura de um livro espiritual a freqüência em igrejas,  as discussões sobre a morte e o que vem depois dela etc. Talvez seja essa a razão pela qual nos reunimos em uma sala de aula para aprendermos a Doutrina dos Espíritos. Há a necessidade dos que  expõem os postulados espíritas e a daqueles que ouvem. E ficamos ali enquanto as nossas necessidades forem preenchidas. Quando já não nos satisfaz, mudamos e seguimos outro caminho. 

6. NECESSÁRIO E SUPÉRFLUO 

A civilização multiplica as necessidades, mas também multiplica as fontes de trabalho e os meios de vida. Sempre há para todos um lugar ao Sol, mas com a condição de cada qual tomar o seu e não o dos outros. A Natureza não poderia ser responsável pelos vícios da organização social e pelas conseqüências da ambição e do amor ao próprio.

Como conhecer o limite do necessário? O sensato o conhece por intuição e muitos o conhecem através das suas próprias experiências.

O limite entre o necessário e o supérfluo nada tem de absoluto. A civilização criou necessidades que não existem no estado de selvageria, e os Espíritos que ditaram esses preceitos não querem que o homem civilizado viva com selvagem.

O elemento chave está sempre no senso moral que prescreve os esforços que o homem tem de fazer para não viver do trabalho alheio quando tem forças para ganhar o sustento por si mesmo. Pede moderação  nos gozos, pois todo o excesso é prejudicial. Enfim solicita o exercício do bom senso no seu mais alto grau. (Kardec, 1995, perguntas 704 a 717) 

7. ALIMENTAÇÃO, PRIVAÇÕES E MORTIFICAÇÕES 

A alimentação animal, para o homem, é contrária à lei natural? — Em nossa constituição física, a carne nutre a carne, pois do contrário pereceríamos. A lei de conservação impõe-nos o dever de conservar as nossas energias e a nossa saúde, para podermos cumprir a lei do trabalho. Devemos alimentar-nos, portanto, segundo exige a nossa organização.

Alimentar-se, excluindo a carne, é uma opção particular. Não é uma imposição doutrinária, nem tampouco indício de purificação da alma. Nesse sentido, o Evangelho adverte-nos que não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai, pois provém do coração.

No que tange às privações, lembremo-nos somente das que são meritórias: sacrificarmo-nos em favor do próximo, renunciarmos às festas para atender alguém que esteja doente, retirarmos do necessário para auxiliar alguém em dificuldade etc. 

As mortificações, praticadas desde a antigüidade por diversos povos, só terão mérito se elas forem proveitosas para alguém. Se não serve senão ao que a pratica e o impede de fazer o bem, é egoísta, qualquer que seja o pretexto sob o qual se disfarce. submeter-se a privações no trabalho pelos outros é a verdadeira mortificação, de acordo com a caridade cristã. (Kardec, 1995, perguntas 718 a 727) 

8. A MAIOR CONQUISTA 

Conservarmo-nos donos de nossa casa interior é a maior das conquistas. Se, como tantos fazem, procuramos a vida fora de nós, nas outras pessoas e nas coisas, seremos escravos. Um homem evoluído não teme a guerra, a dificuldade e o dissabor; sabe que, apesar de todas as asperezas da estrada a percorrer, poderá permanecer calmo como o relógio ao meio da tempestade.

Sempre procuramos nos outros as causas de nosso infortúnio; elas, porém, residem em nós, dentro de nós. Procuramos sempre inculpar os demais, pois queremos encontrar um cireneu que nos carregue a cruz. No entanto, nós é que devemos carregá-la nos ombros.

Resistência, reação defensiva e recuperação são as idéias forças que devemos exercitar para robustecer o dinamismo de nosso próprio destino. 

9. CONCLUSÃO 

Escutemos a nossa voz interior, pois ela possui poderes ilimitados para nortear nossa vida. Tendo-a por escudo, usaremos de tudo e não abusarmos de nada. Ouvindo-a constantemente desenvolveremos o nosso senso moral e o sentimento de caridade que nos eleva acima de todos os sofrimentos presentes. 

10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA  

Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Lisboa, Verbo, s. d. p.

Enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro/São Paulo, Encyclopaedia Britannica, 1997.

Enciclopédia Combi Visual. Barcelona (Espanha), Ediciones Danae, 1974.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.


Lei de Destruição

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO 1. Introdução. 2. Conceito. 3. População e Meio Ambiente. 4. Destruição Como Lei Natural. 5. Destruição abusiva e necessária. 6. Flagelos Destruidores. 7. Guerras, Assassínio, Crueldade, Duelo e Pena de Morte. 8. Transformação Conservativa. 9. Conclusão. 10. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

O objetivo deste estudo é mostrar que o instinto de destruição que há no ser humano deve ser contrabalançado pelo instinto de conservação, caso queiramos perpetuar a espécie humana. 

2. CONCEITO 

Destruição - do lat. destructione significa ação ou efeito de destruir; demolição: destruição de uma casa. (Aurélio) O que chamamos destruição não é mais que transformação.  

População e Meio Ambiente 

A pressão da população sobre o meio ambiente (fator de impacto), com a finalidade de extrair o kcal (quilo caloria) necessário à sua sobrevivência, pode ser visto em 4 fases, a saber:

 

1ª) fase - caçador-coletor. Tomemos como ponto de partida a situação em que havia 3.000.000 de habitantes, necessitando de 2.600 kcal por dia, proporcionando um impacto igual a 1. 

2ª fase - agricultura de subsistência e pastoreio. Estima-se que o consumo energético per capita das sociedades de 10 mil anos, com uma população de 8.000.000 de pessoas, estava ao redor de 4.700 kcal/dia, tendo um fator de impacto igual a 4,8. (este resultado é obtido, dividindo os dados desta fase com os da anterior). 

Conclui-se que essa nova forma de vida causa um impacto quase 5 vezes maior. 

3ª fase - urbanização. Por volta de 3.500 anos a. C. Estima-se em 11.000 kcal o consumo calórico per capita dessa fase e a população, na época dos grandes descobrimentos, em 400 milhões da almas. Assim, pode-se deduzir que o impacto tornou-se mais de quinhentas vez maior do que o causado por nosso “caçador-artista”. 

4ª fase - tecnologia moderna. Da época dos descobrimentos até o final do século XVIII, o consumo energético per capita cresceu mais 1.600 kcal, somando 12.600. 

O índice aqui utilizado foi apresentado, pela primeira vez, durante a conferência organizada pela UNESCO e pelo Conselho Internacional das Uniões Científicas (ICSU), no Programa ”O Homem e a Biosfera”, em 1981. Na década de 70 houve um impacto 10 mil vezes maior do que a inicial. Dados de 1986 estimam o consumo energético médio per capita em 31.816 kcal/dia, o que nos dá com a população de 5 bilhões, o escore de 20.394 na tabela de impacto. (Rodrigues, 1989, pág. 70 a 76) 

3. DESTRUIÇÃO COMO LEI NATURAL 

A destruição é uma lei natural, porque precisamos renovar a espécie. Se mantivéssemos eternamente o nosso corpo físico, não haveria o melhoramento dos seres vivos. Para que haja equilíbrio ecológico, uma espécie destrói a outra para sobreviver. A destruição recíproca dos seres vivos é, dentre as leis da Natureza, uma das que, à primeira vista, menos parecem conciliar-se com a bondade de Deus. Pergunta-se por que lhes criou ele a necessidade de mutuamente se destruírem, para se alimentarem uns à custa dos outros. É que o homem, como inteligência finita, não consegue abarcar a Inteligência Infinita de Deus. Contudo, o homem evoluído sabe que a verdadeira vida, tanto do animal quanto dele próprio, não está no invólucro corporal e sim no Princípio Inteligente, que preexiste e sobrevive ao corpo. Assim, para se nutrirem, os seres vivos destroem-se entre si, mas única e exclusivamente para obedecer ao equilíbrio natural, decorrente das Leis de Conservação e de Destruição conjugadas. (Kardec, 1975, p. 81 a 84) 

5. DESTRUIÇÃO ABUSIVA E NECESSÁRIA 

Como vimos anteriormente, o equilíbrio ecológico se dá através da eliminação das espécies inferiores. No final do ciclo de destruição está o homem, com sua inteligência, a eliminar os animais menores. A destruição que ultrapassa os limites das necessidades e da segurança mostra a predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda a destruição que ultrapassa os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus. Os animais não destroem mais do que necessitam, mas o homem, que tem o livre-arbítrio, destrói sem necessidade. Como exemplo, podemos dizer que matar um animal para saciar a sua fome é necessário, mas matar pelo prazer da caça é abusivo. (Kardec, 1995, perguntas 728 a 736)  

6. FLAGELOS DESTRUIDORES 

Os flagelos destruidores fazem a civilização caminhar em poucos anos o que levaria séculos para conseguir sem a prática da Lei do Amor. No entanto, os homens de bem que sucumbem aos flagelos (terremotos, maremotos, inundações etc.) não sofrem como os maus, pois, dada sua condição evolutiva superior, a perda de uma veste, como o corpo, não tem a mesma importância que para um materialista ou para aquele mais apegado à natureza animal. Sabe-se, além do mais, que os flagelos naturais destruidores têm uma utilidade física, porque freqüentemente mudam o estado de uma região, proporcionando, no futuro, melhores condições de aproveitamento para o homem. (Kardec, 1995, perguntas 737 a 741) 

7. GUERRAS, ASSASSÍNIO, CRUELDADE, DUELO E PENA DE MORTE 

Estes temas dão-nos a oportunidade de elaborarmos sobre o pensamento dicotômico. Somos de tal  modo limitados ao sim/não, ao certo/errado, à guerra/paz que não conseguimos vislumbrar o problema como um todo. Um ponto minúsculo, torna-se imenso, quando olhamos somente para ele; mas se o colocarmos dentro de um grande mapa tridimensional, verificaremos que é bastante irrisório quando comparado ao todo. Foi o que fez K. E. Boulding em Paz Estável. Diz-nos o autor que no desenrolar da história humana, as probabilidades de se morrer numa guerra têm sido realmente muito pequenas. Até mesmo no beligerante século XX, em que o número total de mortes deve ter sido de 1,5 a 2 bilhões. Praticamente todas as pessoas que estavam vivas em 1900 estão hoje mortas, bem como uma proporção considerável daqueles que nasceram desde então. Todas as guerras do século XX até hoje não mataram mais do que 80 milhões de pessoas, ou cerca de 4% do número total de mortos.

Do ponto de vista espiritual, a explicação para as guerras, os assassínios, a crueldade etc. dizem respeito à predominância da natureza animal sobre a espiritual e à  satisfação das paixões. (Kardec, 1995, perguntas 742 a 765) 

8. TRANSFORMAÇÃO CONSERVATIVA 

Para o provimento de suas necessidades, os homens são obrigados a transformar os recurso naturais em bens úteis, econômicos. O nó da questão está em usar os bens naturais de forma conservativa, isto é, sem alterar substancialmente o equilíbrio cósmico. Para isso, devemos conjugar serenamente a Lei de  Conservação e a Lei de Destruição, a fim de atingirmos o equilibro entre o Espírito e a matéria. 

9. CONCLUSÃO 

No afã do lucro, nem sempre sopesamos o desperdício dos recursos naturais e a conseqüente poluição devastadora do solo, do mar e do ar. Contudo, além do problema material, urge considerar a poluição mental, que se expressa pelo entrechoque de vibrações, ondas e mentes em desalinho, como decorrência das ambições desenfreadas, dos ódios sistemáticos e do orgulho destruidor. 

10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

BOULDING, K. E. Paz Estável.

KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

RODRIGUES, S. DE A. Destruição e Equilíbrio. O Homem e o Ambiente no Espaço e no Tempo. 6. Ed., São Paulo, Atual, 1989 (Série meio-ambiente).


Lei de Sociedade

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito de Sociedade. 3. Histórico. 4. Classes Sociais. 5. Necessidade da Vida Social. 6. Laços de Família. 7. Família e Estado. 8. Conclusão. 9. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

O objetivo deste estudo é analisarmos o instinto de sociabilidade, inato no ser humano,  concretizado em nosso relacionamento com familiares, amigos, inimigos e demais seres humanos jungidos às circunstâncias de nossa vida.  

2. CONCEITO DE SOCIEDADE 

Em sentido amplo, conjunto de indivíduos entre os quais há relações organizadas de serviços recíprocos.

Em sentido restrito, conjunto de indivíduos cujas relações estão consolidadas em instituições e até mesmo, na maioria das vezes, asseguradas pela existência das sanções, sejam codificadas, sejam difusas, que fazem sentir ao indivíduo a ação e as imposições da coletividade. (Enciclopédia Delta Larouse) 

Diz-se, também, que é o estado dos homens ou dos animais que vivem sob a ação de leis comuns: as abelhas vivem em sociedade; cada família forma uma sociedade natural. Assim, as pessoas reunidas num estádio para assistirem a uma partida de futebol não constituem uma sociedade, enquanto aquelas reunidas em uma Igreja sim.

Para Gabriel Tarde, o grupo social é um conjunto de indivíduos que se imitam entre si. 

3. HISTÓRICO 

Cada período da História da Sociedade, desde os tempos mais primitivos até a moderna sociedade industrializada, revela os seus característicos especiais. A época das caças; o período da agricultura primitiva; o período feudal, no qual as comunidades camponesas se reúnem sob o poderio dos senhores feudais, a que deviam obediência e para os quais trabalhavam como servas; a era do artífice e do mercador, em que este enriqueceu-se vendendo os produtos daquele em terras distantes, estimulando assim, indiretamente, a navegação e a construção de navios; o aparecimento do industrial, com o seu sistema de produção mecanizado na fábrica e conseqüente disseminação de mercadorias pelos quatro cantos do mundo.

Para K. E. Boulding, o século XX marca o período médio de uma grande transição no estado da raça humana. Pode-se designá-la com propriedade como a segunda grande transição na história da humanidade.

A primeira transição ocorreu com a passagem da sociedade pré-civilizada para a civilizada e teve início há cinco (ou dez) mil anos. Essa transição ainda está se desenvolvendo em algumas partes do mundo, embora possa ser considerada quase terminada.

Contudo, agora que a primeira grande transição chega a seu término, uma segunda grande transição se aproxima, a que podemos chamar transição de uma sociedade civilizada para uma pós-civilizada.

As origens da primeira grande transição perdem-se nas brumas do tempo. Nada nos impede, porém, de considerar a pesca, a caça e o pastoreio como os seus característicos iniciais. A partir daí, desse nomadismo primitivo, os indivíduos descobrem a agricultura e fixam-se à terra, e com isso produzem um excedente agrícola, capaz de financiar o aparecimento das cidades. Nas cidades, há mais tempo livre para alguns homens que podem se dedicar à invenção de máquinas e equipamentos, no sentido de aumentar a produtividade das pessoas.

As origens da segunda grande transição não são tão obscuras quanto as da primeira. A astronomia babilônica, a geometria grega, a álgebra árabe representaram uma espécie de primícias do enorme caudal de novos conhecimentos e de tecnologia que viria depois.  A partir de século VI é possível acompanhar a expansão lenta da tecnologia. A nora surgiu no século VI; o estribo, no VIII; coelheira e o leme, no IX; o moinho de vento, no XII, e assim por diante. A invenção da imprensa no século XV representou para a Europa uma arrancada irreversível, pois a partir desse momento a divulgação dos conhecimentos aumentou com grande rapidez. O século XVII viu surgir a ciência, e no século XVIII processou uma aceleração das alterações tecnológicas, denominada de Revolução Industrial. (Boulding, 1966, cap. 1) 

4. CLASSES SOCIAIS 

A classificação em classes sociais, estudada primeiramente nos Estados Unidos, e hoje adotada em todos os países, apresenta o seguinte perfil:

A classe alta (3%) — é constituída pelas pessoas que exercem as funções mais importantes na sociedade e ocupam posições de destaque, respeito, mando, prestígio etc., com escala de valores bem definida.

A classe média (38%) — é constituída pelas pessoas profissionalizadas em geral, tais como: balconistas, pequenos comerciantes, operários especializados, técnicos de diversas categorias, empregados de escritório etc.

A classe baixa (59%) — é constituída de pessoas marginalizadas, despreparadas para o trabalho, de desenvolvimento mental rudimentar, com tendência para o ócio, instáveis, destituídas de ambição, desconhecedoras das leis, de seus deveres e direitos.

As porcentagens indicadas são de determinado estudo feito na América do Norte. Em termos de aproximação, podemos afirmar que nos países sub-desenvolvidos, a percentagem da classe média talvez se constitua de 20 a 25%, enquanto a baixa engrossa para além de 70%. (Curti, 1983, p. 123 a 125)  

5. NECESSIDADE DA VIDA SOCIAL 

O instinto de sociabilidade, inato no ser humano, leva-o a participar da sociedade. Aristóteles no século IV a. C. dizia que “o homem é naturalmente um animal político”. Na Idade Média, Santo Tomás de Aquino o mais expressivo seguidor de Aristóteles, afirma que “o homem é por natureza, animal social e político, vivendo em multidão”.

A necessidade da vida social prende-se ao fato de que nenhum homem dispõe de todas as faculdades humanas. É pelo contato social que eles se completam uns aos outros para assegurarem o progresso e o bem-estar. Os mais fortes auxiliam os mais fracos; os ricos ajudam os pobres; os sábios ensinam os ignorantes. No isolamento ele fenece e estiola. (Kardec, 1995, perguntas 766 a 772)

Segundo B. Reymond “Na Índia, descobriu-se em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. Caminhavam de quatro patas apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e o pés para os trajetos longos e rápidos. Alimentavam-se de carne crua ou podre, comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para frente e lambendo os líquidos”. (Aranha, 1986, p.2) Este relato mostra que a vida de isolamento absoluto e o voto de silêncio privam o homem das relações sociais que lhe podem fornecer ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso. 

6. LAÇOS DE FAMÍLIA 

A família ocupa lugar de destaque na sociedade. Observe que Herbert Spencer considerou a família entre as instituições que dão forma à vida social; Marx e Engels, como o primeiro grupo histórico, a primeira forma de interação humana; Augusto Comte, como célula básica da sociedade, o embrião e o modelo desta, de maneira que a sociedade perfeita é a que funciona como a família.

Por mais que se queira eliminá-la, como aconteceu na Rússia, verifica-se o retorno à mesma. É que na família está a verdadeira educação do ser. O Estado, a escola dão a instrução, mas somente o lar pode educar com êxito. Havendo o relaxamento deste, há também o relaxamento da vontade e da personalidade dos homens. O homem tem outro destino que não o dos animais. Para ele, há outra coisa além das necessidades físicas: há a necessidade de progresso. Os liames sociais são necessários ao progresso e os laços de família resumem os liames sociais: eis porque eles constituem uma lei natural (Kardec, 1995, perguntas 773 a 775) 

7. FAMÍLIA E ESTADO 

As duas grandes sociedades da terra são a família, como semente formadora da sociedade, e o estado, como instituição política organizadora da sociedade. De logo se verifica, que, por um processo natural, o próprio homem sente ser imprescindível manter e conservar a sociedade para, dentro dela, progredir, individual e coletivamente. Para o  espiritismo, a sociedade existe para a elevação moral do homem, para o seu crescimento interior, para que aprenda a ser fraterno e indulgente, em seu benefício e no do todo. 

8. CONCLUSÃO 

Tenhamos plena consciência de nossos deveres e direitos junto à nossa família e ao estado em que estivermos inseridos. Somente responsabilizando-nos pela coisa pública poderemos formar uma sociedade mais justa e mais fraterna. 

9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

ARANHA, M . L. de A. e MARTINS, M. H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo, Editora  Moderna, 1986, pág. 2.

Enciclopédia Delta Larouse.

BOULDING, K. E. O Significado do Século XX - A Grande Transição. São Paulo, Fundo de Cultura, 1966

CURTI, R. Espiritismo e Questão Social (Problemas de Atualidade I). São Paulo, FEESP, 1983.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.


Lei de Progresso

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. A marcha do Progresso. 5. Progresso e Religião. 6. Influência do espiritismo no Progresso. 7. A Nova Civilização. 8. Conclusão. 9. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

O objetivo deste estudo é comparar o desenvolvimento técnico-científico alcançado pelas sociedades modernas com o avanço moral de seus habitantes. 

2. CONCEITO 

Progresso significa movimento ou marcha para frente. Avanço natural e regular da humanidade para maior conhecimento e maior ventura. (Delta Larousse) J. B. Bury expressa o progresso nos seguintes termos: "A idéia de progresso é a síntese do passado e a profecia do futuro". 

3. HISTÓRICO 

A origem do progresso pode ser buscada na Antigüidade clássica. Há historiadores que não aceitam a idéia de progresso nesta etapa, pois defendem a tese de que estes filósofos não tinham consciência de um passado histórico suficientemente longo para que o progresso pudesse ser evidenciado. Robert Nisbet, em a História da Idéia de Progresso, nega tal afirmativa mostrando o elo que os filósofos faziam entre o passado e o futuro. Empregavam constantemente a palavra "no decurso do tempo", "pouco a pouco" e "passo a passo''.

Há com relação à Idade Média uma acepção de que cuidavam somente da teologia e do sobrenatural sem ligar para as coisas do mundo. Há um equívoco, pois na Alta Idade Média já se tem em formação todo o arcabouço da Renascença, que se consubstanciou no desenvolvimento da ciência e com ela todo o avanço da tecnologia que vemos nos dias de hoje.

Poder-se-ia, assim, resumir o progresso material nos seguintes termos:

- até 1700, o sistema produtivo (Europa) era baseado no artesanato;

- entre 1700 e 1910, com Revolução Industrial (Inglaterra), o sistema produtivo passa ao mecanizado;

- entre 1910 e 1973, com o sistema Ford (Estados Unidos), o que prevaleceu foi a produção em série;

- Depois de 1973,  temos o sistema Toyota (Japão), caracterizando os inventários minimizados e o sistema de produção baseado no just in time

4. A MARCHA DO PROGRESSO 

O estado natural é a infância da Humanidade e o ponto partida do seu desenvolvimento intelectual e moral. O homem, sendo perfectível, procura incessantemente o seu melhoramento como resultado de uma lei natural, a Lei do Progresso. Entretanto, o progresso moral e o progresso intelectual não caminham juntos. A bem dizer, o progresso moral é a conseqüência do progresso intelectual, visto o progresso intelectual fornecer meios para o desenvolvimento do livre-arbítrio, o que aumenta a responsabilidade do homem pelos seus atos.

Os que tentam impedir o progresso agem como a pedra sob uma roda; retardam o seu andamento, mas acabam esmagados por ela. Quando, entretanto, um povo não caminha com a pressa desejável na evolução natural, Deus, através de suas leis, lhe suscita o progresso com um grande abalo físico ou moral.

O maior obstáculo ao progresso moral são o orgulho e o egoísmo, que desenvolvem a ambição e a paixão pelo poder e pelas riquezas, na medida em que desenvolvem a inteligência, mas sem amor.

Há duas espécies de progresso que mutuamente se apoiam e entretanto não marcham juntos: o progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados o primeiro recebe em nosso século todos os estímulos desejáveis, e por isso atingiu um grau até hoje desconhecido. Seria necessário que o segundo estivesse no mesmo nível. Não obstante, se compararmos os costumes sociais de alguns séculos atrás com os de hoje teremos de ser cegos para negar que houve progresso moral. (Kardec, 1995, perguntas 776 a 785) 

5. PROGRESSO E RELIGIÃO 

Uma reflexão sobre eminentes pensadores leva-nos a aceitar a grande influência que a religião teve sobre o progresso. Na Antigüidade clássica grega os deuses influenciavam as ações dos indivíduos. Toda a filosofia de Sócrates baseia-se no seu daimon — guia protetor. Platão é reconhecido como o iniciador das idéias religiosas quando desenvolve o mito da reminiscência das idéias. Mesmo o mundo romano é dominado pelo cristianismo, pois a vinda de Jesus dá uma nova dimensão à caridade.

Há vários autores da época recente que colocam a noção de Providência em seus raciocínios: Vico, Kant, Condorcet. Os escritos de Comte e Saint Simon apontam para a fé do progresso sob o guante da religião. Até mesmo Mill, aparentemente ateísta durante grande parte de sua vida, em seus últimos anos, chegou a declarar o Cristianismo como indispensável tanto para o progresso como para a ordem. Marx pode ter repudiado todas as religiões manifestas, mas a sua Dialética é originariamente agostiniana, e este fato tem uma função providencial na teoria marxista do progresso.  

6. INFLUÊNCIA DO ESPIRITISMO NO PROGRESSO 

O Espiritismo se tornará uma crença comum e marcará uma nova era na História da Humanidade, porque pertence à Natureza e chegou o tempo em que deve tomar lugar nos conhecimentos humanos. Haverá, entretanto, grandes lutas a sustentar, mais contra os interesses do que contra as convicções.

As idéias só se transformam com o tempo e não subitamente; elas enfraquecem de geração em geração e acabam por desaparecer com os que as professavam e que são substituídos por outros indivíduos imbuídos de novos princípios, como se verifica com as idéias políticas.

Auxiliando na destruição do materialismo, que é uma das chagas da sociedade, é a contribuição que o Espiritismo pode oferecer ao progresso, pois ele faz os homens compreenderem onde está o seu verdadeiro interesse, ou seja, na vida futura. (Kardec, 1995, perguntas 798 a 799) 

7. A NOVA CIVILIZAÇÃO 

A lei do progresso, que é inexorável, encaminha o homem para a civilização cristã. Nessa civilização haverá menos egoísmo, cupidez e orgulho, os costumes serão mais intelectuais e morais do que materiais e a bondade e o amor ao próximo serão condutas intrínsecas do todo o indivíduo. Esta é a civilização que o Espiritismo estabelecerá na Terra. Como se vê pelas explicações dos Espíritos e os comentários de Kardec, a civilização incompleta em que vivemos é apenas uma fase de transição entre o mundo pagão da Antigüidade e o mundo cristão do Futuro. 

8. CONCLUSÃO 

Tenhamos em conta a irreversibilidade do tempo, pois os minutos desperdiçados não voltam mais. Se formos negligentes, podemos perder a oportunidade de acrescentar valores morais ao nosso patrimônio espiritual. 

9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

Grande Enciclopédia Delta Larousse. Rio de Janeiro, Delta, 1979.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.


Lei de Igualdade

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito de Igualdade. 3. Histórico. 4. Igualdade Natural e Desigualdade Social. 5. Desigualdade da Riqueza. 6. Desigualdade e Reencarnação. 7. Projeto da Igualdade Democrática. 8. Doutrina Comunista e Igualdade de Renda. 9. Conclusão. 10. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

O objetivo deste estudo é refletir sobre a lei de igualdade, natural no ser humano, porém  influenciada pelos fatores econômicos, o quais implicam em trágicas mudanças nas condições sociais da humanidade. 

2. CONCEITO DE IGUALDADE 

Sentido Geral - é a qualidade do que é igual, do que não tem diferença.

Na Matemática - a igualdade é simbolizada pelo sinal =, daí a=b.

Na Ética e na Política - o princípio segundo o qual as prescrições, proibições e penas legais são as mesmas para todos os cidadãos, sem acepção de nascimento, situação ou riqueza (igualdade jurídica). (Santos, 1965) 

3. HISTÓRICO 

A história social e econômica dos povos primitivos mostra que a igualdade e a reciprocidade estiveram sempre na base das trocas praticadas pelas sociedades mais simples e rudimentares. Mas é sobretudo a propósito da justiça chamada a regular relações entre pessoas, que as referências à aritmética e geometria, como seu critério e medida, se revelam mais freqüentes e elaboradas.

A idéia de igualdade fundamental de todos os homens, penosamente adquirida  ao longo da história, repousa sobre a igualdade metafísica ou identidade essencial. É de salientar, no entanto, que o cristianismo, ao proclamar a eminente dignidade da pessoa humana enquanto imagem de Deus, não só conferiu ao princípio da igualdade fundamental de todos os homens caráter absoluto e transcendente a sua profunda radicação na consciência humana. Perante Deus, pai comum, todos os homens são irmãos. Tornam-se, por isso, inaceitáveis todas as discriminações de raça, de religião, de cultura, sexo, de classe social etc. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia)

A declaração dos Direitos Humanos, advindos da Revolução Francesa, foi um  marco sem precedentes na busca pela igualdade entre os seres humanos. É dela que temos notícia do lema "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", pressupostos que ainda estão por ser atualizados em cada uma de nós. 

4. IGUALDADE NATURAL E DESIGUALDADE SOCIAL 

Todos os homens são iguais perante Deus; todos nascem com a mesma fragilidade, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o corpo do pobre.

Deus criou todos os Espíritos iguais, mas cada um viveu mais ou menos tempo e por conseguinte realizou mais ou menos aquisições; a diferença está no grau de experiência e na vontade, que é o livre-arbítrio: daí decorre que uns se aperfeiçoam mais rapidamente, o que lhe dá aptidões diversas. Como os mundos são solidários, a mistura de aptidões é necessária para a evolução da Humanidade: o que um não faz, o outro faz, e é assim que cada um tem a sua função útil.

A desigualdade social não é uma lei natural; ela é obra do homem e não de Deus. Essa desigualdade desaparecerá juntamente com a predominância do orgulho e do egoísmo, restando tão somente a desigualdade de mérito. Chegará um dia em que os membros da grande família dos filhos de Deus não mais se olharão como de sangue mais ou menos puro, pois somente o Espírito é mais puro ou menos puro, e isso não depende de posição social. (Kardec, 1995, perguntas 803 e 807) 

5. DESIGUALDADE DA RIQUEZA 

"A desigualdade das riquezas é um desses problemas que se procura em vão resolver, se não se considera senão a vida atual. A primeira questão que se apresenta é esta: Por que todos os homens não são igualmente ricos? Não o são por uma razão muito simples: é que eles não são igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem moderados e previdentes para conservar. Aliás, é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna, igualmente repartida, daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente; que, supondo-se essa repartição feita, o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo, pela diversidade de caracteres e das aptidões.'' (Kardec, 1984, p. 210) 

Em termos econômicos, a desigualdade da riqueza é medida pela distribuição de renda. 

Comparemos, pois, a distribuição de renda no Brasil com a do resto do mundo. 

O Brasil é apontado pelos técnicos do BIRD (Banco Internacional de Desenvolvimento Econômico) como sendo o país mais injusto na distribuição de renda da América Latina. Pela avaliação do PIB (Produto Interno Bruto), somos a 8ª economia do mundo; pelo índice de Desenvolvimento Humano, que inclui analfabetismo e qualidade de vida, ocupamos a 70ª posição no ranking mundial.

De acordo com o índice de Sofrimento Humano Internacional tabulado pelo Population Crisis Committee - PCC , um Instituto norte-americano sem fins lucrativos, de pesquisas populacionais, os brasileiros foram classificados entre os ”altos” sofredores do mundo. A pesquisa foi feita a partir  de estatísticas de l4l países sobre qualidade de vida, liberdade política, taxa de inflação e distribuição de renda. 

Transformando em números, podemos dizer que: 

a distribuição de renda no Brasil mostra que 20% dos mais ricos ganham 26 vezes mais do que os 20% mais  pobres. No Leste Europeu, os 10% mais ricos recebem 7 vezes mais do que  os 10% mais pobres;

aqui, a diferença entre o menor salário e o maior é de 1/100, já no Japão é de 1/10;

temos uma renda per capita de US$ 2.550 contra  US$ 30.270 na Suíça; 

6. DESIGUALDADE E REENCARNAÇÃO 

De que maneira a Doutrina Espírita pode auxiliar-nos na compreensão da desigualdade de renda apontada acima? O princípio da reencarnação, adotado pelo Espiritismo, é um forte argumento, que pode oferecer-nos alguma pista. É possível que os Espíritos que ora estão encarnados neste país já tenham vivido nos outros países mais desenvolvidos. Como não souberam utilizar a riqueza em favor do próximo, foram enviados para esta região para se reequilibrarem na lei do amor, passando pela prova da pobreza.

A reencarnação mostra a justiça divina. No que tange à riqueza, todos passaremos por ela, quer seja nesta vida ou em outras.  

7. PROJETO DA IGUALDADE DEMOCRÁTICA 

Este projeto realizar-se-á através das seguintes exigências:

1ª) igualdade inicial de oportunidades;

2ª) possibilidades iguais, para todos, de realizar sua dignidade essencial igual: trabalho justamente remunerado;

3ª) possibilidades diferentes, para cada um, de realizar seus talentos diferenciados.

Observação: se todos os homens são rigorosamente iguais em sua dignidade essencial, todos são rigorosamente diferentes em suas capacidades e talentos (Grande Enciclopédia de Moral e Civismo).  

8. DOUTRINA COMUNISTA E IGUALDADE DE RENDA 

Marx, em seu materialismo histórico, prevê o surgimento do comunismo como a síntese perfeita da evolução materialista da sociedade, onde não haverá barreiras de classe, onde não haverá exploração do homem pelo homem, nem mesmo poder estatal sobre o indivíduo; em que os recursos produtivos serão de posse comum; onde a escassez será superada e haverá uma abundância de riqueza material. Em termos do nosso estudo, pressupõe a igualdade da renda.

Mas, será possível essa igualdade absoluta? Ela já existiu? Ela não é possível. A diversidade das faculdades e dos caracteres se opõe isso.

Auxiliemo-nos, porém, da utilidade marginal da renda para aclarar nossas idéias. De acordo com essa teoria, a igualdade de utilidade marginal não implica rendas iguais. Importa apenas a maximização da utilidade social. Isso significa que cada um de nós, por sermos diferentes, precisamos de diferentes níveis de renda. Para que quer renda o eremita no deserto?

As rendas deveriam ser iguais somente se todos os homens fossem semelhantes. Mas como isso é impossível, precisamos encontrar um grau ótimo de desigualdade, pois à medida que nos afastamos deste ideal imaginário em outra direção, no sentido de maior desigualdade, perdemos a democracia, a fraternidade, o interesse e responsabilidade de todos por todos, que é o que faz a organização tolerável.

Em termos monetários, o princípio evangélico "àquele que tem dar-se-lhe-á" deveria ser substituído por "aquele que mais desfruta o que tem, mais se lhe dará". Numa sociedade em que os indivíduos são dessemelhantes em face das inclinações das curvas de sua utilidade marginal, presumindo que as utilidades marginais de indivíduos diferentes sejam mais ou menos as mesmas para níveis de subsistência de renda, então um aumento na renda total da sociedade resultaria em distribuição mais desigual, visto como o aumento de rendia iria principalmente para aqueles que mais desfrutarão. (Bouding, 1967, p. 107 a 111) 

9. CONCLUSÃO 

Uma visão ampla do amor induzirá o homem a repartir do seu excesso  com aquele que tem menos; da abundância de um país, para os que tiverem dificuldade de produzir. Ao Espiritismo cabe uma grande responsabilidade, ou seja, a de auxiliar o pensamento do homem a fim de que se liberte das paixões materiais e o conduza à conquista dos bens espirituais, os únicos que poderá levar ao partir para a vida dos Espíritos. 

10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro, M.E.C., 1967.

BOULDING, K. E. Princípios de Política Econômica. São Paulo, Meste Jou, 1967.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

Logos – Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia. Lisboa/São Paulo, Verbo, 1989.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.


Lei de Liberdade

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito: 2.1. Liberdade; 2.2. Livre-Arbítrio; 2.3. Fatalidade; 2.4. Determinismo. 3. Histórico. 4. Ambigüidade do Termo. 5. O Problema da Liberdade. 6. Livre-Arbítrio e Fatalidade. 7. Relação entre Livre-Arbítrio e Determinismo. 8. Liberdade e Escravidão. 9. A Escolha entre o Bem e o Mal. 10. Conclusão. 11. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

O objetivo deste estudo é analisar a liberdade, relacionando-a com o livre-arbítrio, a fatalidade, o determinismo e a escravidão, no sentido de absorver o seu real sentido, muitas  vezes ofuscado pela ambiguidade que o termo conota. 

2. CONCEITO 

2.1. LIBERDADE 

Sentido Geral - estado do ser que não sofre constrangimento, que age conforme a sua vontade, a sua natureza.

Sentido Político - é a faculdade de fazer o que se queira dentro dos limites do direito (lei).

Sentido Psicológico e Moral - aquele que fazendo o bem ou o mal age conforme a razão, que aprova (Lalande, 1993). 

2.2. LIVRE-ARBÍTRIO 

Livre-Arbítrio quer dizer juízo livre. É a capacidade de escolha pela vontade humana entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, conscientemente conhecidos.

O livre-arbítrio não quer dizer, de modo algum, que é um querer sem causa, como o pretendem interpretar alguns deterministas, que se opõem à sua aceitação (Legrand, 1986). 

2.3. FATALIDADE 

a) Diz-se que é fatal ou sucedido ou a suceder-se, marcado pelo destino, portanto, do que, necessariamente, tem de acontecer, ou necessariamente aconteceu. A fatalidade é a necessidade inevitável no desenvolvimento dos fatos históricos, que está prescrita por uma vontade determinante (o maktub, o que está escrito), que é superior a toda vontade humana (fatum, fado).

b) Diz-se, também, que é uma fatalidade um fato fortuito, devido ao acaso, inevitável, mas que é prejudicial aos interesses humanos.

c) Em sentido geral, fatalidade é sinônimo da necessidade das leis universais. (Santos, 1965) 

2.4. DETERMINISMO 

Doutrinariamente considerado, o determinismo afirma que todos os fatos do universo são guiados inteiramente por determinantes, segundo certas leis.

Goblot, em seu "Vocabulário", define o Determinismo como uma doutrina segundo a qual todo fenômeno é determinado pelas circunstâncias nas quais ele se produz, de forma que, dado um estado de coisas, o estado de coisas que lhe segue, dela resulta necessariamente.

O determinismo é um conceito da razão, e a idéia da liberdade nos é dada pela intuição, pela intuição direta que cada um de nós tem de sua própria experiência. 

3. HISTÓRICO 

A cultura arcaica ignora o indivíduo, o primitivo ignora o "eu", a sua própria existência; esta é, antes de mais vivida colegialmente. Há um a priori comunitário de regras preestabelecidas, onde cada um participa de tudo e de todos, não havendo sequer espaço ou possibilidade para a iniciativa individual — o que, aliás, não  constitui problema algum. Na mentalidade arcaica o desejo de cada um coincide com a situação dada, não havendo  condições possibilitantes de alternativa e de oposição entre controle mítico-social e iniciativa pessoal. O homem primitivo é livre como a ave no seu elemento aéreo, como o peixe no seu elemento aquoso... É livre de fuma liberdade primeira, anterior à reflexão dos seus porquês. Não havendo possibilidade de cisão entre o real (situação dada) e o possível, não pode haver "consciência infeliz".

Embora não saibamos precisar o momento histórico, vemos surgir a liberdade segunda, afirmadora já da realidade individual e relacional de cada um com todos, em prejuízo da absolutização da comunidade integradora - clã , povo etc. (Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado)

Em termos políticos, podemos aquilatar os esforços da humanidade em prol da liberdade da pessoa humana, analisando a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Partindo do Código de Hamurabi (2067 a. C.), e percorrendo o Decálogo de Moisés, O Sermão do Monte de Jesus, A Magna Carta da Inglaterra, em 1689, a Declaração da independência dos Estados Unidos, em 1776, a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789 ... podemos chegar finalmente, em 10 de dezembro de 1948, à Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Organização das Nações Unidas, cujos trinta artigos, embora não se revistam de força jurídica coativa, constituem um termo de responsabilidade assumido pelas nações integrantes da ONU. (Edipe)   

4. AMBIGÜIDADE DO TERMO 

A palavra liberdade presta-se a  muitos significados. Falamos de liberdade  política, de liberdade econômica e de liberdade de consciência. A liberdade em Cuba é diferente da liberdade nos Estados Unidos. O termo comporta, também, limitações psicológicas, legais e  econômicas. Suponhamos a seguinte situação: ir aos Estados Unidos. Sentido psicológico: estou disposto a me deslocar para aquele país?; sentido legal: o governo  americano  permite a minha estada?;  sentido  econômico: conseguido  o visto de entrada, tenho recursos  financeiros  para tal empreendimento? (Boulding, 1967, 130 a 132)           

5. O PROBLEMA DA LIBERDADE 

"A liberdade de uma pessoa não termina quando começa a liberdade da outra". Esta é a frase com que Eduardo Prado de Mendonça  começa o capítulo II do seu livro A Construção da Liberdade. Afirma o autor que não existe uma geometria da liberdade nem uma liberdade no espaço. Acha ele que quando dizemos que "a liberdade de um acaba quando começa a liberdade do outro", estamos assumindo um preconceito, do qual não temos consciência. Que significa dizer que a liberdade de um acaba quando começa a liberdade do outro?

Primeiro, as noções de acabar e começar têm um significado temporal. Isso quer dizer que cada um tem o seu tempo de ser livre. Quando um começa o outro acaba e vice-versa. O que não é verdade. Eu não sou livre durante os dez primeiros minutos e o outro nos dez minutos seguintes. No sentido espacial, quer dizer que a área de liberdade de um não é área de liberdade do outro. O que não é uma verdade, pois eu não sou livre até o meio de uma sala e o outro na outra metade da sala. O que se procura com essa frase é afirmar de fato que o direito à liberdade de um tem como limite o direito à liberdade do outro. Mas a liberdade de um não é a liberdade do outro, logo cada um tem uma liberdade diferente. Aqui já entramos no campo do direito, não da arbitrariedade. E tratando-se de direito, põe-se a questão do dever ser. (1977, p.19 a 21) 

6. LIVRE-ARBÍTRIO E FATALIDADE 

De acordo com Allan Kardec, na pergunta 851 de O Livro dos Espíritos, a fatalidade não existe senão para a escolha feita pelo Espírito, ao encarnar-se, de sofrer esta ou aquela prova física; ao escolhê-la, ele traça para si uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição em que se encontra. No tocante às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir. Observe que a palavra fatalidade aqui usada tem mais o sentido de determinismo do que de fatalidade propriamente dita. (Kardec, 1995, p. 314) 

7. RELAÇÃO ENTRE LIVRE-ARBÍTRIO E DETERMINISMO 

O Espírito Emmanuel, nas perguntas 132 a 139 de O Consolador , retrata as relações entre o determinismo divino e o livre-arbítrio. Diz-nos que esses dois termos coexistem na vida, sendo o primeiro absoluto nas mais baixas camadas evolutivas e o segundo ampliando-se com os valores da educação e da experiência. É justamente essa ampliação do livre-arbítrio que dá ao ser humano as noções mais acuradas do que seja o bem e o mal, do justo e do injusto, no sentido de lhe ampliar as responsabilidades por suas ações em sociedade. Quer dizer, quanto mais sabemos, mais podemos saber, mas em contrapartida, mais aumenta o número de coisas que devemos evitar. (Xavier, 1977, p. 83 a 88) 

8. LIBERDADE E ESCRAVIDÃO 

A palavra vem do termo “slav” e referia-se aos prisioneiros eslavos reduzidos à servidão pelos povos germânicos. Caracteriza-se pelo fato de reduzir uma pessoa humana à condição de coisa ou de animal, como propriedade absoluta de um senhor (Grande Enciclopédia de Moral Civismo).

Há homens naturalmente destinados a serem propriedade de outros homens? Resposta: a lei humana que estabelece a escravidão é uma lei contra a Natureza, pois assemelha o homem ao bruto e o degrada moral e fisicamente. Devem-se levar em conta os costumes e a desigualdade natural de aptidões. (Kardec, 1995, pergunta 829)

Os vícios, por limitarem os nossos atos livres, podem ser considerados uma forma de escravidão. 

9. A ESCOLHA ENTRE O BEM E O MAL 

As idéias justas ou falsas que fazemos das coisas levam-nos a vencer ou fracassar, segundo o nosso caráter e a nossa posição social. Achamos mais simples e menos humilhante para o nosso amor-próprio atribuir os nossos fracassos à sorte e ao destino, do que a nós mesmos. Se a influência dos Espíritos contribuem algumas vezes para isso, podemos sempre nos subtrair a ela, repelindo as idéias más que nos forem sugeridas. (Kardec, 1995, pergunta 852) 

10. CONCLUSÃO 

Escolhendo o vício haverá um tolhimento da  vontade, pois esta  estará submetida à necessidade de supri-lo, impedindo a continuidade  de outros atos livres. Sendo assim, concentremo-nos na prática das virtudes, pois somente elas têm a capacidade de ampliar a nossa liberdade de ação. 

11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

LALANDE, A. Vocabulário Técnico e Crítico de Filosofia. [tradução de Fátima Sá Correia ... et al.]. São Paulo, Martins Fontes, 1993.

LEGRAND, G. Dicionário de Filosofia. [Trad. de Armindo José Rodrigues e João Gama]. Lisboa, Edições 70, 1986.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.

EDIPE - Enciclopédia Didática de Informação e Pesquisa Educacional. 3. ed., São Paulo, Iracema, 1987.

Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado.

BOULDING, K. E. Princípios de Política Econômica. São Paulo, Meste Jou, 1967.

MENDONÇA, E. P. de. A Construção da Liberdade. São Paulo, Convívio, 1977.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

XAVIER, F. C. O Consolador, pelo Espírito Emmanuel. 7. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.


Lei de Justiça, Amor e Caridade

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito  de Justiça. 3. Histórico. 4. Três Formas de Justiça. 5. Virtudes: 5.1. Virtudes Cardeais; 5.2. Virtudes Teologais. 6. Relação entre Justiça, Amor e Caridade. 7. A Base da Justiça. 8. Conclusão. 9. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

objetivo deste estudo é analisar o sentimento de justiça, natural no ser humano, frente aos vários estados de injustiças que se observa nas atividades do homem dentro da sociedade. 

2. CONCEITO  DE JUSTIÇA 

Sentido amplo - a noção de justiça pode ser entendida como ordem e harmonia total do homem no mundo, de acordo com as leis e normas do ser. (Idígoras, 1983)

Sentido Restrito - justiça é a constante e perpétua vontade de conceder o direito a si próprio e aos outros, segundo a igualdade. É virtude subjetiva, portanto.

Sentido Moral - significa o respeito que há em cada um de dar a cada um o que é seu (Santos, 1965). 

3. HISTÓRICO 

Na história do pensamento filosófico o conceito de justiça apresenta uma interessante evolução. Prescindindo da noção bíblico-teológica de justiça, é mister ascender até a Grécia se quisermos seguir a sobredita evolução na cultura ocidental. 

a) a palavra dikaiosyne, que nos escritores da idade clássica traduz o conceito de justiça, não aparece nem em Homero, nem em Hesíodo. Neles o conceito mais afim de justiça é expresso por dois vocábulos: Dike e Themis. O 1.º significa "decisão judicial", o 2.º o "bom conselho", que inspira a decisão prudente. A partir do séc. VI a. C., começa a divulgar-se a palavra dikaiosyne, mas não tem o sentido jurídico que hoje damos ao termo justiçal. Dikaiosyne significava propriamente um "princípio universal de ordem e harmonia" entre o fato e a norma que lhe diz respeito. Este aspecto geral atinge a sua expressão máxima no sistema platônico. Essa noção geral manteve-se firme durante muitos séculos, embora se fosse paralelamente outro aspecto mais restrito. 

b) Este segundo aspecto começa a ser sistematizado a partir de Aristóteles, utilizando aliás elementos já existentes em germe na filosofia pré-socrática e, designadamente pitagórica. Consiste em sublinhar a índole social da justiça frisando que ela é primariamente correspondência entre dois termos contrapostos precisando estabelecer igualdade no que reciprocamente lhes é devido. Deste modo se passa de um princípio universal para uma virtude particular. 

c) Estas duas concepções coexistiram lado a lado durante séculos e aparecem ainda notadamente em Leibniz. Mas o aspecto universal foi-se gradualmente esquecido e hoje prevalece ordinariamente a noção de justiça em sentido estrito ou jurídico. 

A partir do século XIX foi-se divulgando cada vez mais a expressão justiça social, em relação contra os abusos do capitalismo liberal. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura) 

4. TRÊS FORMAS DE JUSTIÇA 

São Tomás esclareceu o conceito de justiça distinguindo três formas, a saber:

É a que se refere às relações do todo social com os indivíduos, denominando-se justiça comutativa;

É a que se refere às relações do todo social com os indivíduos, denominando-se justiça distributiva, que implica no interesse da sociedade pela justa distribuição dos bens entre todos os seus membros.

Se refere às relações dos indivíduos com a sociedade como um todo, denominando-se justiça legal. (Idígoras, 1983) 

5. VIRTUDES 

As Virtudes — potências racionais que inclinam o homem para o bem, quer como indivíduo, quer como espécie, quer pessoalmente, quer coletivamente, podem ser divididas em:  

5.1. VIRTUDES CARDEAIS 

A virtude moral predispõe o indivíduo à prática do bem. Há duas ordens de moralidade, a natural e a infusa. Por isso, temos duas espécies de virtudes: adquiridas e infusas. Entre as virtudes adquiridas, distinguem-se principalmente quatro: prudência, justiça, fortaleza e temperança. Cognominadas de cardeais (de cardo, gonzo), por ser em redor delas que giram todas as outras, tais como a paciência, a tolerância, a brandura etc. Dentre todas elas a Justiça ocupa lugar de destaque, pois todas as outras giram primariamente sobre esta. (Santos, 1965) 

5.2. VIRTUDES TEOLOGAIS 

Entre as virtudes infusas estão a , a esperança e a caridade , cognominadas de  teologais, porque não são o produto de uma prática, mas um dom infuso de Deus nos seus filhos. (Santos, 1965) 

Observe que a Lei de Justiça Amor e Caridade sintetiza os dois tipos de virtudes. Assim, convém analisar a relação entre esses termos. 

6. RELAÇÃO ENTRE JUSTIÇA AMOR E CARIDADE 

Para maior compreensão dessa relação tenhamos em conta que o amor é "a totalidade dos sentimentos e desejos que estruturam o pensamento para a liberação de energia e de forças que guiam a ação na produção do bem e possibilitam a aquisição de qualidades, constituintes do crescimento do Espírito". (Curti, 1981, p.81) A Caridade,  por outro lado, pode ser expressa como o "amor em ação".

Temos notícias de que habitualmente a justiça é representada com os olhos vendados e com uma balança na mão. Essa imagem significa que a justiça não faz discriminação de pessoas nem tem preferências afetivas, que ela é muito mais racional e, portanto, fria. Ao contrário do amor, que se estabelece em uma dimensão essencialmente pessoal e de preferência afetiva. No entanto, isoladamente, a justiça corre risco de esquecer muitos aspectos pessoais e muitas considerações que só o amor é capaz de descobrir. Allan Kardec diz que "o amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: "Amai-vos uns aos outros, como irmãos"". (Kardec, 1995, pergunta 886) 

7. A BASE DA JUSTIÇA 

O sentimento de justiça é natural ou resulta de idéias adquiridas? É tão natural que nos revoltamos ante uma injustiça. 0 progresso moral desenvolve a justiça, mas não a cria. Por isso, muitas vezes, entre os homens simples e primitivos encontramos noções mais exatas de justiça do que entre os de muito saber.

No que consiste a justiça? A Justiça consiste no respeito aos direitos de cada um. Esses direitos são determinados pela lei humana e pela lei natural. Como os homens fizeram leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram direitos que podem variar com o progresso.

Fora do direito consagrado pela lei humana, qual a base da justiça fundada sobre a lei natural? O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para os outros aquilo que se quer para si mesmo, e não de querer para si o que se deseja para os outros. Como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar para o próximo senão o bem. Desde todos os tempos e em todas as crenças o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo. (Kardec, 1995, perguntas 873 a 876) 

8. CONCLUSÃO 

O senso de injustiça mostra que algo está errado, não meramente conosco, mas com o mundo em geral. Ele mostra o descontentamento entre o ideal imaginado e a situação observada. É nesse momento que entra o sentimento de justiça, que deve ser contrabalançado pelo amor e a caridade, no sentido de atingir o bem comum.  

9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo, Edições Paulinas, 1983.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.

Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Lisboa, Verbo, s. d. p.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

Apostila elaborada por Sérgio Biagi Gregório

São Paulo, Dezembro de 1995.