Ciência Espírita e suas Implicações Terapêuticas (Notas de Livro)

Notas Introdutórias

Para o Dr. Carlos Imbassahy

que sustentou a luta sem tréguas para esclarecimento dos problemas da Ciência espírita, a partir de sua modesta fortaleza de Niterói, publicando uma série de livros em que respondeu a todas as críticas dos adversários, apresentando-lhes, com elegância e bom-humor, todo o panorama das pesquisas científicas no mundo, as quais confirmaram as pesquisas de Kardec.

“Se Kardec não houvesse fundado, desenvolvido e propagado a Ciência Espírita, pela qual deu sua vida e seu gênio, nossa cultura não passaria de um ciscar de galinhas na crosta da Terra. Nunca saberíamos, através de pesquisas psicológicas e físicas incessantemente repetidas, o que somos, qual o nosso destino e o que a morte representa no vir-a-ser da Humanidade. Ele obrigou os mais famosos cientistas do Século XIX a pôr de lado as suas preocupações com a matéria para descobrir e provar a existência do espírito, como aconteceu com William Crookes, Charles Richet, Alexandre Aksakof, Ochorowicz, Friedrich Zöllner e tantos outros, a enfrentar os fantasmas como Édipo enfrentou a Esfinge. Em nosso século forçou Rhine e McDougal a desenvolver na Parapsicologia as suas pesquisas, hoje vitoriosas em todo o mundo.” (Palavras do Dr. Urbano de Assis Xavier, na abertura do I Congresso Espírita da Alta Paulista, em Marília, em maio de 1946.)

Filosofia Espírita foi reconhecida pelo Instituto de França e figura no Dicionário Técnico da Filosofia, de Lalande. O reconhecimento da Ciência Espírita, em virtude de suas implicações gnosiológicas profundas, que provocaram uma revolução copérnica nas Ciências, e por causa da fragmentação destas em diversas especificações, somente agora, com o desenvolvimento da Parapsicologia, conseguiu o seu reconhecimento pelos grandes centros universitários do mundo. Somente os espíritos sistemáticos e as instituições dogmáticas (fora da área científica), ainda se opõem a esse reconhecimento, jogando com argumentos e não com fatos, portanto de maneira não-científica.


 

Desenvolvimento Científico

A inquietação do mundo atual, na busca de novas soluções para os problemas humanos, abrange todos os setores de nossas atividades e teria necessariamente de afetar o meio espírita. Mas a nossa Doutrina não é uma realidade entranhada nas estruturas atuais. É um arquétipo carregado de futuro, um vir-a-ser que se projeta precisamente no que ainda não é, na rota das aspirações em demanda. Confundi-la com as estruturas peremptas deste momento de transição e querer sujeitá-la às normas e modelos do que já foi, é tentar prendê-la no círculo vicioso dos abortos culturais. O Espiritismo, rejeitado pelo mundo agora agonizante, não é cúmplice nem herdeiro, mas vítima inocente desse mundo, como Jesus e o Cristianismo o foram no seu tempo.

A Revelação Espiritual veio pelo Espírito da Verdade, mas a Ciência Espírita (revelação humana) foi obra de Kardec. Ele mesmo proclamou essa distinção e se entregou de corpo e alma ao trabalho científico, sacrificial e único de elaboração da Ciência Admirável, que Descartes percebeu por antecipação em seus famosos sonhos premonitórios.

Kardec rompera definitivamente as barreiras dos pressupostos para firmar em bases lógicas e experimentais os princípios da Ciência Admirável dos sonhos de Descartes e das previsões de Frances Bacon. A metodologia científica, minuciosa e mesquinha, desdobrou-se no campo do paranormal e aprofundou-se na pesquisa do inteligível com audácia platônica. Kardec não se perdeu, como Wundt, Werner e Fechner, no sensível das pesquisas epidérmicas do limiar das sensações. Percebeu logo que os métodos não podiam ser aplicados a fenômenos extrafísicos e estabeleceu o princípio da adequação do método ao objeto. Quando alguns membros da Société Parisien quiseram desviá-lo para a pesquisa biofísica das materializações, ele se recusou fazê-lo, alegando que essa tarefa cabia aos especialistas das ciências materiais.

Mais tarde Richet, o fisiologista implacável, reconheceria o rigor das suas pesquisas, a firmeza da sua posição, sem as quais a Ciência não se libertaria da poeira da terra. Kant lhe opunha a barreira de sua autoridade ao afirmar que a Ciência só era possível no plano dialético. A proposição kantiana pesa até hoje na limitação das atividades científicas. Mas a audácia de Kardec o levou à vitória. Richet observou, numa carta histórica a Ernesto Bozzano, o grande metapsiquista italiano, que a posição kardeciana deste contrastava decisivamente com as teorias que atravancam o caminho da Ciência.

Kardec provara que as Ciências não deviam temer os fantasmas, mas enfrentá-los e explicá-los.

O criador da Ciência atual e de sua metodologia eficiente e eficaz, queiram ou não os alérgicos ao futuro, na expressão recente de Remy Chauvin, foi precisamente Kardec, o homem do século XIX que revelou, numa batalha sem tréguas, estes dois princípios fundamentais da nossa mundividência:

1) A realidade é una e indivisível, firmada na Unidade Pitagórica que se revela na multiplicidade da Década;

2) Tudo se encadeia no Universo, sem solução de continuidade. Os que tentam fragmentar essa unidade orgânica estão presos às falíveis condições do sensório humano.

No desenvolvimento atual das Ciências, muitas cabeças gregas e troianas formularão novas, fascinantes e complexas teorias, mas só prevalecerão as que forem sancionadas pelas profecias fatais de Cassandra. O fatalismo, no caso, não decorre da natureza trágica das previsões, mas da comprovação dos fatos.

Sua didática ressalta de toda a sua obra. Richet lhe censurou a aparente facilidade com que aceitava a realidade dos fenômenos mediúnicos e da vida após a morte, mas acabou reconhecendo que ele nunca fizera uma só afirmação que não estivesse respaldada pelas pesquisas.

Esse problema da comprovação é frequentemente levantado pelos contraditores da doutrina e até mesmo por adeptos pouco informados, que alegam a impossibilidade de repetição dos fenômenos para atender às exigências do método científico. Com esse velho chavão nas mãos, pensando haver descoberto a chave do mistério, declaram com ênfase que a Ciência Espírita não é ciência, mas apenas um apêndice espúrio da doutrina. Com isso agridem a competência de Kardec e de todos os grandes cientistas que, desde o século passado até o presente, de Crookes a Rhine, submeteram os fenômenos às formas possíveis de repetição. Basta a leitura das anotações de Kardec em Obras Póstumas, o episódio do seu encontro com o fenômeno das mesas-girantes, para se ver a falácia dessa acusação. A impossibilidade de repetição dos fenômenos espíritas implicaria a impossibilidade da pesquisa. Todos os anos da pesquisa sistemática, minuciosa e exaustiva de Kardec, e os anos de pesquisa exemplar de Crookes, Notzing, Gibier, Ochorowicz, Aksakof, Myers, Geley e Osty, e assim por diante, são displicentemente atirados no baú das antiguidades estúpidas. Foi por essa e por outras que Richet escreveu o seu livro O Homem Estúpido. A repetição de experiências é medida corriqueira em qualquer pesquisa. Os que lançam mão dessa alegação para negar a existência da Ciência Espírita nos dão a prova gratuita da sua incapacidade para tratar do assunto.

Houve interrupção no desenvolvimento da Ciência Espírita, alegam outros. Depois de Kardec ninguém mais pesquisou e os espíritas se entregaram a rememorar os feitos do passado. Se tivéssemos feito isso, simplesmente isso, já teríamos mantido viva a tradição doutrinária, vigorosamente apoiada em séries infindáveis de pesquisas mundiais, realizadas por nomes exponenciais das Ciências. Mas a verdade é que não houve solução de continuidade na investigação, mas simples diversificação das experiências em várias áreas culturais, acompanhada de renovações metodológicas.

A Ciência Espírita necessita de escolas, de Universidades, de bibliografias especializadas.

Os serviços culturais continuam à míngua, sustentados apenas pelos que dão seu tempo, sua vida e seu sangue para a sustentação da cultura espírita.

A Ordem Divina é regida por Deus, mas a ordem humana é dominada pelo homem, no aprendizado da vida terrena. Se não conseguirmos despertar os homens para o urgente desenvolvimento da Ciência Espírita, nada mais teremos do que a cultura terrena em que vivemos, de olhos fechados para o alvorecer dos novos tempos. Não veremos o raiar da Era cósmica, porque teremos voluntariamente enterrado a cabeça na areia, em pleno deserto, na hora das tempestades. E o que faremos, então, de nossos parcos conhecimentos, de nossa ignorância espiritual, ante a proliferação das Universidades das subculturas materialistas?

Instituto Espírita de Educação fechou as portas, a editora Paideia com dificuldades financeiras, a Biblioteca Espírita, fundada por José Dias, franqueada ao público para leituras e consultas, num andar da Rua 24 de Maio, morreu com a morte súbita do fundador abnegado.

Quais são os motivos dessa situação calamitosa? Unicamente a falta de compreensão e interesse dos homens de recursos que não se sensibilizam com as iniciativas culturais espíritas. Se a Ciência Espírita não se desenvolve entre nós, a culpa é exclusivamente dos homens de recursos, que preferem endereçar suas contribuições para as obras assistenciais, com os olhos voltados para a conquista de um pedaço do céu depois da morte. Além disso, o próprio público espírita mostra-se alheio aos interesses superiores do desenvolvimento da cultura espírita, não se interessando pelas publicações culturais, dando preferência aos impressos avulsos de mensagens gratuitas para distribuição nos Centros.

Temos assim uma situação calamitosa, em que o aspecto cultural da Doutrina, e particularmente o seu aspecto científico, estruturado na Ciência Espírita, com a mais brilhante tradição, vê-se relegado, como se nada representasse nessa fase de transição, em que todos os espíritas conscientes da importância da Ciência Espírita deviam empenhar-se em lhe assegurar as possibilidades de desenvolvimento. Enganam-se os que pensam que tudo virá do Alto. O trabalho é nosso, dos homens pobres ou ricos, de todos os que se beneficiaram com os recursos da compreensão espírita em suas vidas passageiras. Ao invés de se preocuparem com o progresso da Ciência Espírita, que modificará o mundo, os espíritas se apegam às suas instituições particulares, como os vigários às suas igrejas e sacristias, pensando que isso lhes basta no cumprimento dos seus deveres espirituais.

O tempo voa, as exigências de uma reformulação dos conceitos humanos sobre a vida e a morte são simplesmente olvidados. Temos de criar a Universidade Espírita, onde a Ciência Espírita poderá desenvolver-se suficientemente para termos e ampliarmos os benefícios da Cultura Espírita no mundo. Só a Cultura Espírita efetivada nas instituições culturais superiores poderá nos franquear os portais da Era Cósmica.


 

Capítulo 1 — Desenvolvimento da Ciência Espírita

É cada vez maior o número de pessoas que recorrem às instituições espíritas suplicando ajuda para si mesmas ou para parentes e amigos que se entregam a viciações e perversões de toda espécie.

A moda pegou e o Brasil se encheu de pseudoparapsicólogos que brotavam do chão como as heresias no tempo de Tertuliano. Ainda hoje continua a floração desses cogumelos por todo o país. Cursos e escolas semeiam diplomas da Ciência de Rhine e Mc-Dougal à margem da lei e das áreas educacionais oficialmente autorizadas. Esse panorama surrealista é responsável pelo atraso em que nos defrontamos no campo dos estudos e das pesquisas dos fenômenos paranormais no Brasil. O Instituto Paulista de Parapsicologia, fundado por Cientistas, Médicos, Psicólogos, estudantes de Medicina (atualmente já médicos famosos) não vingou, ante a avalanche de aproveitadores que o invadiram, levando seus diretores a fechá-lo, por esse motivo e pelo total desinteresse das nossas Universidades, temerosas do pandemônio que se avolumava. Tivemos de voltar à estaca-zero. Ninguém, nem mesmo os governos, tiveram coragem de pôr a mão na cumbuca, proporcionando recursos ao Instituto para a montagem de seu laboratório. Nas vésperas da Era Cósmica, preferimos o gesto cômico, supinamente burlesco, de lavar as mãos na bacia de Pilatos e deixar o problema no campo da charlatanice.

Os espíritas continuam, num clima de maiores esperanças mundiais nesse terreno, com o avanço espantoso das pesquisas parapsicológicas nos Estados Unidos e na URSS, a socorrer no Brasil as vítimas de perturbações mentais e psíquicas, em seus centros de trabalho permanente e gratuito. A eficácia de seus métodos simples, desprovidos dos recursos tecnológicos da atualidade, são evidentes, mas não constam de comprovações estatísticas. Mas o meio espírita, infenso às agitações e inquietações políticas, deixou-se embalar pelas canções de ninar das mensagens mediúnicas piedosas, dos relatos curiosos da vida após a morte, nas pregações mediúnicas incessantes sobre a caridade, a humildade, o amor ao próximo, a moral evangélica, a preparação de todos para a migração a mundos superiores e assim por diante.

Ao mesmo tempo, a terapia espírita, nascida humildemente da prece e da imposição das mãos aos doentes, segundo o ensino e o exemplo de Jesus, era transformada em ritos complicados e pretensiosos, aplicados por médiuns diplomados pelas Federações.

A terapia espírita começava lentamente a recuperar-se em sua simplicidade e pureza. O prestígio do passe espírita, desprovido de encenações espúrias e pretensiosas, restabelecia-se nos grupos não contaminados. No meio espírita domesticado por incessantes mensagens padrescas, algumas instituições doutrinárias chegaram a proclamar-se donas exclusivas da verdade. Um enviado dos anjos fez-se oráculo dos novos tempos (por conta própria) e a autodenominada Casa-Máter do Espiritismo no Brasil ampliou a sua orgulhosa e falsa pretensão, cortando do seu título autoconcedido a expressão “do Brasil”, tornando-se, com essa simples operação, a Casa-Máter do Espiritismo no Mundo. Sem uma base de convicção firme e de fidelidade à obra de Kardec não poderemos curar-nos a nós mesmos, quanto mais aos outros.

José Herculano Pires aponta as dificuldades para a implantação de uma ciência espírita, pois faltam recursos e os seus adeptos não estão muito interessados nesse tipo de pesquisa, preferindo dar ênfase às mensagens de consolo. Aproveita para criticar a FEESP, que monopoliza o Espiritismo no Brasil, querendo se tornar a Casa-Máter do Espiritismo mundial.


 

Capítulo 2 — Princípios da Terapêutica Espírita

A terapêutica espírita se funda na concepção do Universo como estrutura unitária e infinita. Tudo se encadeia no Universo, como ensina Kardec. Dessa maneira, há uma constante relação de todas as coisas e todos os seres no Universo Infinito. Essa estrutura inimaginável encerra tudo em si mesma e por isso todos os recursos de que necessita estão nela mesma. Cada partícula do Universo reflete o todo e é formada à semelhança do Todo. Esse princípio de similaridade universal supera as nossas concepções e as nossas percepções fragmentárias. Foi da intuição natural da similaridade que surgiu a magia, como primeira tentativa de conquista e domínio, pelo homem, das energias da natureza.

A dialética da vida se insinuava naturalmente em sua consciência fragmentária, ligando os fatos entre si e desenvolvendo-lhe o tirocínio. Este o levaria às conquistas subsequentes, infundindo-lhe o sentimento do mundo, na fusão da mente com a afetividade. Nessa fusão temos o homem ligado à terra pela similitude de seus interesses vitais, e ao mesmo tempo atraído ao céu pelo despertar de seus impulsos de transcendência.

Dessa mitologia aparentemente absurda nascera em tempos remotos, curtido pelo sentimento do mundo, o sentimento da fraternidade humana, da possibilidade das ações fluídicas entre os corpos dos homens vivos. Jesus empregaria então os seus poderes espirituais na transmissão das energias vitais do terapeuta ao doente, através do rito da imposição das mãos, que marcaria todo o período de desenvolvimento do Cristianismo até o Século XIX, em que Kardec reavivaria essa prática antiquíssima em plena era científica.

Os erros de interpretação de um passado obscuro tornaram-se acertos ante as investigações do homem moderno. Assim podemos afirmar que o primeiro princípio da terapêutica espírita é de origem telúrica, fundado na realidade objetiva de um dos mais curiosos e intrigantes episódios da história da Medicina.   A volta à Natureza, que Rousseau pregou na Educação, ironizado por Voltaire, Kardec efetivou, como pesquisador científico e médico, professor e diretor de estudos na Universidade de França. Ao seu lado, o Dr. Demeur, em sua clínica de Paris, dava a Kardec a sua assistência de observador e pesquisador dos efeitos curativos da nova terapêutica.

Podemos enunciar o primeiro princípio da terapêutica espírita da seguinte maneira:

1) A cura das doenças depende da ação natural das energias conjugadas do homem e da terra (psicológicas e mesológicas), na reconstituição do equilíbrio das energias naturais do doente. Os demais princípios podem ser definidos na sequência abaixo:

2) A renovação de energias depende da ação conjugada dos espíritos terapeutas com o médium curador, que se põe à disposição dos espíritos para a transmissão dos fluidos energéticos através da prece e do passe.

3) A eficácia do passe depende da boa-vontade do médium, que se entrega humildemente à ação dos Espíritos, sem perturbá-la com gesticulações excessivas, limitando-se às que os espíritos lhe sugerirem no momento. Não temos nenhum conhecimento objetivo do processo de manipulação dos fluidos pelos espíritos e poderíamos perturbar-lhes a ação curadora com nossa intervenção pretensiosa. O médium é instrumento vivo e inteligente da ação espiritual, mas só deve utilizar a sua inteligência para compreender o seu papel de doador de fluidos, como se passa no caso da doação de sangue nos hospitais.

4) A ação curadora dos espíritos não é mágica nem milagrosa; está sujeita a leis naturais que regem a estrutura psicobiológica do homem. A emissão de ectoplasma do corpo do médium para o corpo do doente revela-se atualmente, nas pesquisas russas, como emissão de plasma físico acompanhado de elementos orgânicos. As famosas pesquisas da Universidade de Kirov, na URSS, comprovaram e confirmaram as pesquisas de Richet, Schrenk-Notzing, Gustave Geley e Eugéne Osty, no século XIX, sobre a ação do plasma físico (quarto estado da matéria) nos efeitos físicos da mediunidade. Na teoria do perispírito, Kardec já havia também, com grande antecedência, constatado a importância da relação espírito-matéria nesses processos.

5) Nos casos de cura à distância, sem a presença do médium, a eficácia depende das condições psicofísicas do doente, que permitem a colaboração do seu próprio organismo nas elaborações fluídicas do plasma, em conjugação com as energias espirituais dos espíritos terapeutas. Kardec considerava o perispírito como organismo semimaterial. Frederic Myers estudou a atividade da mente supraliminar (consciente) e subliminar (inconsciente) em todos esses processos então considerados como misteriosos.

6) As chamadas operações espirituais (hoje paranormais) podem realizar-se por intervenção física do médium, dominado pelo espírito que dele se serve por influenciação mediúnica no transe hipnótico. Mas a simples ação mental do médium pode produzir efeitos físicos no paciente, como Rhine provou nas suas experiências com animais. Rhine resumiu os resultados de suas pesquisas no seguinte princípio: “A mente, que não é física, age por vias não físicas sobre a matéria.” Soal, Carington e outros verificaram que as atividades internas do organismo animal e humano (funções vegetativas e correlatas) são controladas por ação mental sobre o sistema nervoso, vascular e muscular. A teoria do dinamismo psíquico inconsciente de Geley se desenvolve nesse mesmo sentido.

O mistério teológico da encarnação transformou-se atualmente numa questão científica universalmente pesquisada nos maiores centros universitários do planeta. A terapia espírita está hoje respaldada pelas mais recentes e avançadas descobertas científicas. Os que pretendem rejeitá-la com argumentos se esquecem de que os problemas da ciência só podem ser resolvidos por meio de pesquisas e provas.

Quando a Academia de França reconheceu a realidade do magnetismo e seu interesse científico, mas mudando-lhe o nome para hipnotismo, Kardec escreveu um artigo sobre o fato na Revista Espírita, lembrando que o magnetismo cansara de bater à porta da Academia, sendo sempre enxotado. Por fim resolvera mudar de nome e entrar na casa pela porta dos fundos, sendo então recebido e aclamado pelos cientistas.


 

Capítulo 3 — Natureza Moral da Terapia Espírita

Kardec adverte quanto às relações da moralidade do médium com a sua mediunidade. Considerada em si mesma como um campo de produção fenomênica, a mediunidade independe da moralidade. Mas considerada como instrumento cognitivo, ou seja, como meio de conhecimento, a mediunidade depende estritamente da moralidade. Mas quando se trata da busca da verdade ou de processos de cura, a mediunidade divorciada da moralidade não serve, tornando-se mesmo perigosa.

Desejando acelerar o trabalho de ordenação da doutrina, na Codificação – no qual trabalhava apenas com as meninas Boudin – Kardec pensou em utilizar-se da boa-vontade de um médium seu conhecido, mas o seu orientador espiritual o advertiu de que esse médium não tinha condições morais para o trabalho, acrescentando: “A verdade não pode falar pela boca da mentira.” Desse episódio, bem como dos princípios morais da doutrina, ampla e minuciosamente explanados na Codificação, nunca se lembraram nem se lembram os clérigos e materialistas acusadores da suposta amoralidade espírita. Basta isso para mostrar a debilidade moral desses acusadores.

Na terapêutica espírita, como nas investigações científicas da mediunidade, a exigência da moral é de importância básica. As constantes denúncias de fraudes mediúnicas nas pesquisas decorrem da falta de escrúpulo dos pesquisadores na escolha de seus instrumentos mediúnicos, no tocante às exigências morais.

Fala-se muito da importância da fé nas curas espirituais de qualquer setor religioso. A fé se revela, nesses casos, mais como um anseio ardente de cura do que propriamente como fé. O conceito vulgar de fé tem por fundamento a crença. Quem não crê, não tem fé. Mas, como explicou Kardec, a fé verdadeira não prescinde da razão, que a fundamenta no conhecimento e no saber. A fé espírita é racional. A crença é apenas uma aceitação emotiva de um princípio ou de um mito. Denis Bradley, depois de suas experiências espíritas, sustentava: “Eu não creio, eu sei.” Na terapia espírita a fé representa apenas um estímulo moral ao paciente, para que ele se predisponha melhor, emocionalmente, à ação dos elementos curadores.

A condenação hipócrita do sexo pelas religiões cristãs sobrecarregou de preceitos e ordenações morais que fomentaram por toda parte o fingimento e a hipocrisia. As tentativas cruéis de abafar o instinto sexual através de um moralismo ilógico, como o da era vitoriana na Inglaterra, prepararam a explosão sexualista da atualidade, com o rompimento explosivo dos diques e açudes tradicionais.

E o remédio indicado para a reconstrução do mundo seria a educação das novas gerações, nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, o lema da Revolução Francesa que ressurgiria com o restabelecimento ou a ressurreição do Cristianismo do Cristo e não dos seus vigários, como anunciaria também o Padre Alta, Doutor da Sorbonne, suspenso de ordens por suas ideias perigosas.

Por isso a terapia espírita, como a de Jesus, não se funda em práticas sacrificiais, em exorcismos demoníacos, em condenações da função genésica do homem e da mulher, mas na liberdade regida pelos princípios básicos da consciência humana, onde – e somente nela – estão inscritas as verdadeiras leis morais da humanidade.

Curar e educar são funções conjugadas do homem na luta pela sua transcendência. Por isso, Kardec as reuniu em suas primeiras atividades em Paris, tendo exercido a medicina, como assinala André Moreil, confirmando as informações de Henry Sausse, primeiro biógrafo de Kardec e contemporâneo do mestre. Moreil menciona o período em que Kardec clinicou em Paris. Ficou assim anulada a dúvida que se levantou sobre as suas atividades médicas. Por outro lado, é pacífico que ele lecionou ciências médicas em Paris. Era uma inteligência onímoda e se empenhava com afinco na decifração dos mistérios do homem. Sua maior realização foi a criação da Ciência Espírita. Ela lhe custou muito caro, pois teve de enfrentar sozinho uma batalha sem tréguas com todas as forças culturais, religiosas, políticas e sociais do seu tempo. Seu senso e sua moralidade comprovam-se atualmente na volumosa obra que deixou como o alicerce inabalável da Ciência e da Filosofia Espírita.

A mediunidade independe da moral do médium. Mas para os objetivos superiores do Espiritismo, a moral é essencial, pois somente ela pode dar-nos guarida aos pensamentos elevados. Além do mais, “a verdade não pode falar pela boca da mentira”.

 

 


 

Capítulo 4 — Tratamento de Vícios e Perversões

A embriaguez, os tóxicos e a jogatina são os flagelos atuais do nosso mundo em fase aguda de transição. Cansados de recorrer sem proveito a internações hospitalares, as vítimas e suas famílias acabam recorrendo ao Espiritismo e às diversas formas mágicas do sincretismo religioso afro-brasileiro. É comum fazer-se confusão entre essas formas de religiões primitivas da África e o Espiritismo, em virtude de haver manifestações mediúnicas nos dois campos. Os sociólogos, que deviam ser minuciosos ao tratar desses problemas, carregam a maior parte da culpa dessa confusão. Estão naturalmente obrigados, pela própria metodologia científica, a distinguir com rigor um fenômeno social do outro, mas preferem a simplificação dos processos de pesquisa, que gera confusões lamentavelmente anticientíficas. A palavra Espiritismo, cunhada por Kardec como um neologismo da língua francesa, na época, é uma denominação genésica da Doutrina Espírita. Nasceu das suas entranhas e só a ela se pode aplicá-la. Kardec rejeitou a denominação de Kardecismo, que seus próprios colaboradores lhe sugeriram, explicando que a doutrina não era uma elaboração pessoal dele, mas o resultado das pesquisas e dos estudos das manifestações espíritas.

Em todos os grandes centros universitários do mundo as pesquisas espíritas prosseguem com resultados positivos.

No difícil e geralmente falho tratamento das viciações, o principal é a integridade moral dos terapeutas. Além do vício, há a influência de entidades inferiores, gerando o vampirismo.

A terapia espírita consiste, nesses casos, num processo oral de persuasão, conhecido como doutrinação. Conseguindo-se levar o espírito vampiro e sua vítima a se convencerem da necessidade e da conveniência de abandonarem o vício, ambos se curam.

Kardec acentuou a necessidade de boas condições morais das pessoas que se dedicam a esse trabalho, pois só a moralidade do doutrinador exerce influência sobre os espíritos. A formação de correntes de mãos dadas em torno do paciente, o uso de defumadores e outros artifícios semelhantes, e qualquer outra forma de encenação material são simplesmente inúteis.

A supressão dos cultos pneumáticos — sessões mediúnicas da era apostólica — permitiu a romanização da Igreja, frustrando-lhe os objetivos espirituais. O mundo espiritual é unitário e orgânico, exatamente como o mundo material. Cortar a ligação humana com a região inferior desse mundo é atentar contra o princípio doutrinário da solidariedade dos mundos e constitui uma ingratidão para com os espíritos que deram a própria doutrina. Mais do que isso, é uma insensatez, pois não dispomos de meios para fazer essa cirurgia cósmica. A Igreja pagou caro a sua insensatez, tendo de recorrer mais tarde à revelação grega, à Filosofia de Platão (Santo Agostinho) e de Aristóteles (São Tomás de Aquino) para erigir com decalques e empréstimos a sua própria Filosofia.

Não aprenderam, com as pesquisas de Geley, que nas sessões mediúnicas se processa em fluxo contínuo a emissão de ectoplasma que permite aos espíritos sofredores sentirem-se amparados na matéria, como se ainda estivessem encarnados, para poderem compreender as explicações doutrinárias?

Nas perversões sexuais e sensoriais em geral, bem como nos casos de toxicomania, a doutrinação dos espíritos vampirescos é indispensável ao êxito da terapia.

Não há nada mais desastroso para uma doutrina do que abrigar entre seus adeptos criaturas que se deixam levar por cantos de sereias. Precisamos, com urgência, recorrer à tática de Ulisses, mandando tapar com chumaços de algodão os ouvidos desses ingênuos navegantes de mares perigosos.

Um tratamento eficaz dos vícios e perversões exige a presença de doutrinadores moralmente qualificados para o perfeito convencimento dos espíritos vampirescos que estão ligados aos viciados.

 


 

Capítulo 5 — Motivos de Dificuldades nas Curas

Há curas que se verificam com surpreendente facilidade e rapidez, dando às vítimas de graves perturbações e às suas famílias a impressão de um socorro divino especial. A cura fácil e rápida decorre de méritos pessoais do doente, de compensações merecidas por esforços despendidos por ele no seu desenvolvimento espiritual e em favor da evolução humana em geral.

As doenças revelam desajustes da nossa posição existencial. Sem liberdade de errar  não poderíamos desenvolver as nossas potencialidades espirituais. Deus, Consciência Cósmica, não interfere em nosso aprendizado, mas também não está alheio ao que se passa conosco. Por toda parte os seres espirituais agem continuamente no universo. Como dizia o filósofo e vidente Tales de Mileto, na Grécia Antiga: “O mundo está cheio de deuses, que trabalham na terra, nas águas e no ar.” São retrógrados todos aqueles que ainda se apegam, em nossos dias, às ideias ingênuas de um passado de milhares de anos. Mal iniciamos os primeiros passos na Era Cósmica e já podemos compreender melhor a beleza e a ordem da Obra de Deus e a importância suprema de seus objetivos que são, na verdade, o destino de cada um de nós.

As dificuldades nas curas pela terapia espírita decorrem, portanto, de nossas atitudes e ações no passado e no presente. Se prejudicamos a evolução de criaturas e comunidades em nossos avatares anteriores, é natural que agora tenhamos de suportar a companhia e sofrer a sua inferioridade em nosso ambiente individual. Como ensinou Jesus, devemos aproveitar a oportunidade de estarmos no mesmo caminho com o adversário, para nos entendermos com ele.

Passar de um tipo de mentalidade a outro, no processo histórico, exige enorme e permanente esforço de uma civilização.  O homem atual perdeu a segurança do passado. Suas próprias certezas científicas foram substituídas por probabilidades. Ele se recusa inconscientemente a trocar os seus mitos religiosos por ideias racionais, mas ao mesmo tempo sente-se obrigado a trocá-los, por força do desenvolvimento cultural e tecnológico. O antropomorfismo, que o cevou por milênios nas ideias cômodas de um Deus semelhante a ele e o fez familiar de Deus, é para ele muito caro. Deixar esse Deus familiar pela ideia de uma Consciência Cósmica o confunde. Como Kardec acentuou, esse processo se torna fácil graças à sucessão das gerações. Monsenhor Pisoni, expert de Espiritismo no Vaticano, declarou recentemente à revista italiana Gente que teve a oportunidade de receber mensagens autênticas de dois amigos falecidos, e acrescentou que o Vaticano não condena as pesquisas espíritas.

Precisamos aprofundar os estudos doutrinários, através do esforço de pensadores espíritas suficientemente integrados na cultura atual e empenhados no desenvolvimento da nova cultura da era cósmica.

Kardec insistiu na necessidade de nos firmarmos na razão para não recairmos nos delírios da imaginação excitada pelo impulso de sublimação que levou os clérigos de todos os tempos a se julgarem privilegiados de Deus e agraciados pela sabedoria infusa do teologismo. Kardec esquivou-se ao uso dos processos da vidência e do desprendimento mediúnico para a investigação do plano espiritual, preferindo obter informações dos espíritos, sempre que controláveis, para atingir a verdade sobre o outro mundo.

A afirmação de o corpo espiritual é semimaterial aplica-se hoje ao corpo bioplásmico, que é formado de plasma físico, mistura de partículas atômicas, em que se inserem elementos extrafísicos.

As dificuldades de cura decorrem geralmente de implicações cármicas dos pacientes, de deficiências mediúnicas e de falta de conhecimento do problema pelos dirigentes de sessões. O apego emocional dos pacientes aos seus obsessores, por afinidades temperamentais, é um dos mais graves entraves do processo terapêutico. Os médicos espíritas podem controlar a cura e estimular os pacientes, bem como os médiuns doadores de energias ectoplásmicas. Por isso é sempre aconselhável a presença e participação de médicos conhecedores do problema em todos os tratamentos pela terapia espírita. Alegar que a participação médica torna suspeitos os resultados é simplesmente provar desconhecimento do assunto.

 


 

Capítulo 6 — Interpretações Errôneas da Homossexualidade

Na palavra homossexualidade o prefixo homo não se refere a homem, mas a igual ou semelhante. Esse o sentido do prefixo grego que equivale a homogêneo ou homogeneidade. A palavra abrange, portanto, todos os casos de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, homens e mulheres. Há no meio espírita a tendência de se atribuir essa perversão ao processo de reencarnação. Tornou-se mesmo comum dizer-se que um afeminado revela com isso que foi mulher na encarnação anterior e que a mulher de aspecto e atitudes viris foi homem. O sexo é um caso de polaridade das funções genésicas.

Todos os homens e mulheres são igualmente dotados da sexualidade única, que só se divide e se diferencia no plano funciona.

Devemos ainda atentar para os aspectos científicos da questão. Os desequilíbrios sensoriais podem ser provocados pela educação deformante da criança. Durante dois mil anos os pregadores de abstinências impossíveis violaram a naturalidade do sexo, entregando suas vítimas à sanha dos espíritos inferiores, íncubos e súcubos, que punham clérigos e freiras em delírio nos mosteiros e conventos. A extrema sensibilidade dos órgãos sensoriais, apta à captação da estesia, complica-se no homem com o desenvolvimento da imaginação que o leva à busca do prazer. A mulher, considerada inferior nas sociedades patriarcais, representa o instrumento da serpente (símbolo fálico) para levar o homem à desobediência. Agora, como se não bastasse essa injustiça mitológica, queremos também imputar-lhe a responsabilidade do homossexualismo através da reencarnação.

Ver num jovem efeminado a reencarnação de uma mulher pervertida é fugir à realidade universal das perversões masculinas, sempre mais brutais que as femininas. Nosso refinamento é exterior e superficial. Por baixo das camadas de verniz da civilização atual carregamos os monstros que puseram suas garras de fora na última Conflagração Mundial, no genocídio atômico de Nagasaki e Hiroshima, nas escaladas americanas sobre o Vietnã.

Outra explicação da homossexualidade atribui aos velhos a responsabilidade da perversão. Segundo os autores dessa teoria os velhos, ao perderem a virilidade, entregam-se a excitações indevidas, e quando o espírito volta à reencarnar-se, traz na sua bagagem esse estranho contrabando. Não há razão para essas invenções ou invencionices, quando a perversão dos instintos naturais é uma constante da evolução em todos os seus campos. Geração e corrupção, como ensina Aristóteles, são a antítese e a tese da dialética da criação, mas nos limites temporais do processo. A regularidade das leis naturais que determinam a sistemática evolutiva não comporta especulações bastardas. A própria grandeza do destino humano, da destinação superior do homem no Universo, repele essas tolices. Cada ser e cada espécie estão submetidos à lei da harmonia e perfeição que rege, do minério ao homem, o desenvolvimento das potencialidades da criação. O dínamopsiquismo-inconsciente de Geley a que já nos referimos, oferecenos uma visão grandiosa do processo evolutivo que amesquinha por si mesmo essas especulações sem sentido.


 

Capítulo 7 — Psiquiatria Espírita

O estudante de medicina que, terminado o seu curso, resolve especializar-se em Psiquiatria depara-se com uma série de teorias que contrastam violentamente com os estudos e as experiências objetivas que teve de enfrentar nas aulas de Anatomia, Fisiologia, Cirurgia e assim por diante. Tem a sensação de passar do plano da realidade viva e concreta para um plano de abstrações e suposições muitas vezes contrastantes entre si.

Essa curiosa situação cultural do nosso tempo levou Rhine a dizer que, ao pé de um moribundo encontramos o conflito de duas antropologias: a do médico que considera o homem como um ser puramente carnal e a do sacerdote que o considera como puramente espiritual. No tocante à Psicologia, Rhine verificou que ela deixara de existir desde o momento em que abandonara o seu objeto, que é a alma, convertendo-se em ecologia, no estudo exclusivo das relações do sujeito com o meio.

A falta de penetração mais profunda e eficaz no problema da alma e do seu destino, ante as restrições de um materialismo já superado pela própria Física, tem levado numerosos psiquiatras a aceitar a teoria espírita em seus dois aspectos fundamentais: o do homem considerado como espírito encarnado e o da influenciação de espíritos desencarnados sobre o comportamento humano. Surge assim, por força das circunstâncias, a Psiquiatria Espírita, hoje em franco desenvolvimento. As vantagens da Psiquiatria Espírita em desenvolvimento, sobre a tumultuada Psiquiatria destes anos alucinados, decorrem da sua disciplina rigorosamente científica, baseada em fatos e pesquisas mundiais de uma tradição bissecular. Rejeitando Kardec, os psiquiatras atuais, com raras exceções, aceitaram Rasputin, instituindo o avançado sistema do avanço sobre as clientes, sem exceção para jovens religiosas que os procuraram. Essa Psiquiatria da Libertinagem cura os jovens efeminados aconselhando-os a não contrariarem as suas tendências naturais e oferece às esposas nervosas o calmante específico da procura de um amante, geralmente encontrado na terapia de grupo ou nos ensaios de psicodramas. A senhora de um jovem engenheiro procurou famoso psiquiatra. Ele lhe deu a receita: “um amante”. Ela o encarou com espanto e exigiu a devolução do dinheiro da consulta: “Não vou pagar com o dinheiro do meu marido, ganho honestamente, os chifres com que o senhor deseja adornar a sua cabeça.”

A Psiquiatria Espírita reconhece a legitimidade dos instintos inferiores do homem, provenientes de suas origens animais. Reconhece também a existência de poderosas influências, da própria ancestralidade humana e do meio social pervertido, bem como os casos de vampirismo de espíritos viciosos, que a Psiquiatria da Libertinagem ignora.

Lembremos Ingenieros em El Hombre Medíocre: “Onde todos andam de rastros, ninguém tem coragem de andar de pé.”

O esquematismo universitário, criado para defesa da Cultura, acabou fechando-a na muralha da China. Isolada em seus limites estreitos, a cultura acadêmica formou o seu colégio de oráculos infalíveis, desprovidos da graça do espírito. Felizmente a abertura para as dimensões desconhecidas do Universo está hoje rompendo a dogmática materialista. Com isso, muitos cientistas de espírito arejado começaram a andar em pé, sem medo de tropeçar nas armadilhas do mistério e das superstições. Chegou a hora da desprezada Ciência Espírita e os espíritas arcarem com a pesada responsabilidade da herança kardeciana. A Psiquiatria Espírita é o maior desafio aos médicos espíritas conscientes de seus deveres.


 

Capítulo 8 — Os Imponderáveis da Cura Espírita

Pasteur descobriu o mundo das bactérias infecciosas que ameaçam a saúde e a vida do homem no planeta e ninguém lhe dava crédito, porque esse mundo era imponderável e invisível. Kardec descobriu o mundo dos espíritos, que ameaçam por toda parte o equilíbrio mental e emocional dos homens, mas a condição imponderável e invisível desse mundo levou-o ao ridículo perante as corporações científicas. Freud descobriu o mundo igualmente imponderável e invisível das instâncias da personalidade, que influem no comportamento humano, e até hoje os cientistas positivos, que só acreditam no que podem ver e pegar, não se cansam de combatê-lo e ridicularizá-lo. O conceito do positivo exclui da realidade científica as causas imponderáveis que se ocultam numa realidade subjacente do real. A rés (ou coisa) tem de se manifestar como tal na perspectiva científica, sob pena de não merecer atenção das Ciências. Mas a vida e a morte, os sonhos e as aspirações do homem são o fundamento de toda a realidade que nasce do imponderável e do invisível para constituir a realidade. Dessa maneira,  a busca científica do real se processa inelutavelmente na subjacência do imponderável e invisível.

Mas o que é a fé, senão a crença transformada em verdade pela invisível e imponderável intuição do homem? Kardec afirmou: “Só podemos ter fé naquilo que conhecemos.” E ao mesmo tempo em que ele fazia essa afirmação audaciosa, provava a realidade do imponderável e inacessível através das manifestações espíritas. A mediunidade se apresentava a ele, através da pesquisa científica, como a percepção extra-sensorial, que antecipa a realidade imponderável e invisível que amadurece na subjacência do real. E Mannheim, em nossos dias, confirmaria essa possibilidade no estudo da utopia, que se mostra, no plano sensível da realidade social, como antevisão de realidades futuras. O vidente e o profeta que anunciam realidades ainda ocultas na subjacência do real concretizaram necessariamente o vir-a-ser das realidades ainda em gestação no futuro.

No Espiritismo as opiniões não passam de palpites, mesmo quando se disfarçam em hipóteses ou teorias. Por isso a Ciência Espírita, que os inscientes confundem com magia delirante, na realidade é uma estrutura lógica de conceitos fundados na experiência e provados através de pesquisas rigorosas. O credo qui absurdum dos escolásticos não pode sobreviver na era científica. Mas as religiões podem tornar-se racionais e até mesmo científicas, desde que se disponham a se libertarem de sua paixão interesseira pelos reinos da Terra, preferindo o Reino de Deus. O Espiritismo encontrou a solução desse problema em sua estrutura de ciência livre ligada à religião livre e à moral pura do Cristo, sem concessões aos magnatas da simonia.

Kardec deu como regra única da pureza espírita o desinteresse total pelos bens materiais, a fraternidade humana incondicional, o desinteresse total pelo proselitismo, o respeito absoluto às ideias e crenças dos outros, sem a aceitação fingida e comprometedora desses erros, mas sem hostilidades à ingenuidade dos que não podem ir além dos conhecimentos primários.

Não se pode comparar a submissão do crente à insubmissão do que não busca uma forma de crença, mas o saber, provado e comprovado cientificamente. Os fatos espíritas não foram provados apenas pelos espíritas, mas também e principalmente pelos adversários da doutrina. A realidade espírita não foi forjada por teóricos compromissados com qualquer tipo de instituição religiosa ou não, mas por pesquisadores livres e altamente responsáveis. Richet, Crookes, Zöllner, Lombroso, Aksakof, Notzing e tantos outros nomes da Ciência e da Cultura Geral não fizeram pesquisas para comprovar a verdade espírita, mas para obterem provas contra a doutrina. Nenhuma outra doutrina no mundo passou incólume por tantas investigações promovidas por grandes cientistas que a contestavam em nome da Ciência. E todos eles foram obrigados, por amor à verdade e por exigências da consciência, a proclamar a realidade dos fatos que comprovavam a doutrina e a se curvarem perante ela.

Quando um espírita competente trata de Parapsicologia não a deforma, pois isso seria deformar a sua própria doutrina.

Por outro lado, nenhum médium consciente da relatividade de sua ação pode assegurar antecipadamente a eficácia de sua intervenção. Porque em toda cura, normal ou paranormal, estão presentes os pressupostos cármicos, ou seja, as cargas negativas do passado moral do doente. O paciente espírita aprende a enfrentar a sua responsabilidade moral, e quanto melhor o fizer mais rapidamente obtém o seu resgate.

O passe espírita equivale a um acordar da mente para a era nova, em que o homem descobrirá as suas potencialidades divinas e a sua destinação cósmica.

O Espiritismo é o despertar dos homens para a verdade de que eles sempre fugiram, no jogo dos seus mitos e das suas encenações teatrais. Atingimos agora o momento crucial da Era Cósmica que se avizinha. Não procuremos novas formas de prosseguir com os nossos jogos e malabarismos de esconde-esconde. Abandonemos as trapaças de Simão, o Mago, lembrando-nos da ressurreição que o Cristo ensinou e demonstrou a Paulo no esplendor de sua visão na Estrada de Damasco. A Terra se abre para o Infinito e suas pétalas de luz nos indicam o rumo das constelações. É com humildade e não com inovações pretensiosas que podemos pisar no limiar da Nova Era.


 

Capítulo 9 — Negros e Índios Terapeutas

As manifestações espíritas de negros e índios são comuns, não raro intervindo nos processos de cura. Isso causa espécie a pessoas ainda impregnadas de antigos preconceitos. “Como podem esses espíritos primários ainda apegados à era do barro — dizia-nos famoso jornalista — manifestarem-se como orientadores e terapeutas num meio de civilização superior?” Acontece que a população espiritual da Terra é semelhante à sua população encarnada. Não existem discriminações injustas no tocante às possibilidades de intercâmbio espiritual. O que vale no espírito não é a sua qualificação social, mas a sua condição moral. No Brasil as manifestações de negros e índios são altamente consideradas no meio culto.

Realizada a experiência, Schutel disse a Urbano: “Nunca gostei dessas manifestações de negros e índios, mas o seu Pai Jacó encheu-me as medidas, revelando um conhecimento doutrinário que me assombrou.” Mais tarde Pai Jacó explicou a Schutel que ele havia sido um médico holandês em encarnação anterior, mas na última viera como negro. E como nela aprendera e desenvolvera a virtude da humildade, preferia manifestar-se como preto velho.

Negros e índios dotados de humildade, não apegados às suas religiões de origem selvagem, formam na linha humilde dos voluntários de boa-vontade que nada querem para si mesmos e tudo almejam de verdadeiro e bom, de legítimo e puro para toda a Humanidade. Dessa maneira, os espíritos de negros e índios utilizam-se também, quando permitido pelos espíritos superiores, de sua terapêutica primitiva e natural, misturando práticas das selvas da América e da África. É a contribuição paranormal ou espírita à medicina folclórica ou popular.

O homem, com todo o seu orgulho, não passa de um fragmento de ser. A lenda socrática dos andróginos, que Zeus cortou em duas metades, equivale à lenda bíblica de Adão e Eva, criados separadamente para se ligarem na parelha humana. A grandeza do homem não está no seu físico, que não passa de uma metade biológica, necessitando da outra metade para reproduzir-se. Toda a grandeza do homem está no seu espírito, que cria por si mesmo, acima e além das exigências materiais. É no espírito que as unidades perdidas se reencontram e se refundem, como na lenda balzaquiana de Seraphite, o ser total.


 

Capítulo 10 — Manifestações Espirituais de Crianças

Nas correntes do Sincretismo Religioso Afro-Brasileiro existem, divididas em formas idealizadas de grupos espirituais, as correntes infantis, médicas, orientais, africanas, indígenas e outras, que se manifestam mediunicamente, com as características do condicionamento etário da vida terrena, das condições profissionais e raciais e assim por diante.

As manifestações de espíritos de crianças são naturais, pois todos os espíritos podem manifestar-se. Mas as manifestações desses espíritos em cadeia, formando correntes para trabalhos espirituais não têm sentido. As crianças transformam os médiuns em bebês chorões, pedem chupetas e mamadeiras, querem brincar com bonecas e assim por diante. Acontece que os espíritos de crianças não são crianças, mas adultos. Deixando o corpo infantil são confiados a espíritos superiores que os orientam para que se descondicionem da situação infantil, de que somente necessitavam em função de sua rápida passagem cármica pela Terra. Quando o espírito já dispõe de conhecimentos espirituais, retorna por si mesmo e naturalmente à condição de adulto. A condição infantil corresponde às necessidades evolutivas do corpo material.

Kardec registrou em suas pesquisas várias manifestações de crianças na condição de agêneres (manifestações de crianças em forma de materializações, mas que não o são). Trata-se de casos raros, provocados por excessivo apego de espíritos afins. O caso da menina Raquel, filha de Frederico Figner, foi materialização através de médium. O agênere é o fenômeno produzido por alterações do perispírito ou corpo espiritual do espírito manifestante, que lhe dão a aparência de materializado. (Ver na Revista Espírita, de Kardec, a teoria dos agêneres).

Ao problema das manifestações de espíritos de crianças devemos juntar o das manifestações da mediunidade infantil. Campo ainda pouco explorado pelos pesquisadores, pelas dificuldades naturais que oferece e o temor de desencadear processos inesperados no psiquismo imaturo, foi pesquisado no passado e continua em pesquisas em nossos dias.

Como esse meio de pesquisa é sujeito a muitas imprecisões e interpretações errôneas, o Espiritismo se interessa mais pelas manifestações de espíritos adultos, pois nestes encontra mais segurança e possibilidades de confirmação dos fatos, bem como maior proveito para a humanidade que representa uma fase decisiva da evolução dos seres. Tudo nos mostra, no mundo atual, que não podemos perder tempo com especulações secundárias.


 

Capítulo 11 — Perigos das Religiões Primitivas

As práticas do Sincretismo Religioso Afro-Brasileiro correspondem à mentalidade primitiva dos povos selvagens, mentalidade que Durkhaem considerou como pré-lógica, anterior ao desenvolvimento da razão propriamente lógica, ou seja, não só discriminadora, mas também organizadora e classificadora da experiência natural do mundo. Essa mentalidade mítica, idólatra, nascida da experiência empírica não controlada pelos processos racionais, é determinada por impressões de uma realidade fantástica.

O Espiritismo surgiu, em meados do século passado, como um socorro espiritual a essa civilização, firmando o princípio da Razão sobre os resíduos mágicos do irracionalismo religioso dogmático, para reorientar a Civilização Cristã, mas o mundo preferiu a volta ao paganismo, na sua mais deslavada expressão.

Não podemos combater as práticas sincréticas em si mesmas, pois elas correspondem à incultura da maioria, apegada ainda à placenta selvagem, mas podemos e temos de lutar pelo esclarecimento doutrinário, afastando dos terreiros de macumba os que julgam encontrar ali formas mais eficazes, porque mais fortes, de manifestações mediúnicas, como se o poder do espírito dependesse dos precários poderes da matéria.

As tendências gregárias reforçam o instinto de conservação e toda interferência discrepante gera reações de defesa do status quo. Numa civilização que já atingiu a sua maturidade possível e luta para superar-se, o repúdio ao retrocesso histórico-cultural torna-se uma constante irredutível, na busca da transcendência. Indivíduos e grupos que se oponham a essa tendência formam quistos negativos que resistem às forças evolutivas e desencadeiam atritos e conflitos.

Dizia o Apóstolo Paulo aos seus discípulos que, em pequenos, eles se alimentavam de líquidos, mas, ao crescer, necessitavam de alimentos sólidos. A recomendação se aplica aos espíritas atuais, que não querem largar o mingau da infância pelo tutu de feijão. O Espiritismo tem por finalidade libertar o espírito humano do visco da matéria, para que ele possa alçar o voo da transcendência. A Religião Espírita não comporta lamúrias e ladainhas, nem exige dos adeptos atitudes formais, voz modulada, gestos artificiais e estudados, olhares lânguidos e lágrimas ou carpideiras em velórios e funerais. As dores e angústias do mundo não são castigos do céu, mas provas necessárias ao desenvolvimento das potencialidades do espírito. Viver é lutar, como no verso de Gonçalves Dias. A luta da vida não se destina a angelizar as criaturas, mas a virilizar o espírito, predispondo-o para voos de águia e não para o esvoaçar das borboletas. A Angelitude, que é o quarto reino da natureza, nada tem a ver com anjinhos de procissão com asas de papel de seda. Da Humanidade temos de evoluir para a Angelitude, que é o plano imediatamente superior ao plano terreno, povoado de espíritos elevados em saber e moral, responsáveis por si mesmos e pelo desenvolvimento espiritual dos homens.

A graça, como explicou Kardec, não é um privilégio concedido gratuitamente a alguém, em detrimento de outros. A graça, segundo Kardec, é a força que Deus concede ao homem de boa-vontade para vencer as suas imperfeições. Lutar e vencer são as duas espadas simbólicas das vitórias do espírito. O Espiritismo é o Consolador prometido por Jesus, mas o consolo espírita não é cantiga de ninar e sim conhecimento da razão e das finalidades da vida. Só o conhecimento real, o encontro com a verdade pode dar ao espírito a consolação necessária.

Ante essa abertura do mundo, que o Espiritismo apresentou-nos muito antes da evolução da Física, o espírita é obrigado a sair da sacristia e fugir dos velórios para proclamar a continuidade da vida em todas as dimensões da realidade cósmica. Seria estranho e inexplicável se os espíritas, possuindo essa visão nova do mundo e da vida, resolvessem voltar aos terreiros de macumba.


 

Capítulo 12 — Situação Perigosa dos Médiuns de Cura

A rejeição pura e simples do meio científico ao fato inegável das curas mediúnicas cria para os médiuns de cura uma situação perigosa, que geralmente os afeta perturbando-lhes o necessário equilíbrio psíquico, deformando-lhes o comportamento social e prejudicando-lhes a própria faculdade curadora.

A primeira cura feita por um médium, não raro de maneira inesperada, lança-o na senda das fascinações perigosas. Ele se sente escolhido por Deus, colocado acima do comum da humanidade, detentor de dons divinos. O fermento velho das religiões salvacionistas cresce no seu inconsciente, levedando-lhe a vaidade natural do homem. Pouco a pouco os necessitados aglomeram-se ao seu redor. O atendimento se torna difícil, em virtude do aumento sempre crescente dos necessitados.

O médium Arigó, preso na cadeia de Conselheiro Lafaiete, chamava os demais presos de colegas. Ao ser libertado, levou outros libertos para as suas terras em Congonhas e os manteve ali como colegas de trabalho na roça. Dizia sempre aos que o condenavam por isso: “São meus colegas, gente boa que só ficou ruim por causa da miséria.”

Essa atitude do médium roceiro e semialfabetizado devia servir de exemplo aos cientistas ilustres que hoje condenam os seus colegas corajosos que rasgam as perspectivas do futuro. É recente o episódio dos psicólogos norte-americanos que condenaram as pesquisas parapsicológicas, confessando não terem lido um só livro sobre o assunto. Rhine declarou apenas isto: “Esses cientistas descobriram um meio anticientífico de tratar de Ciência.”

Os médiuns de cura sabem muito bem que nada podem fazer se não tiverem a assistência dos espíritos terapeutas que os envolvem em seu magnetismo perispirítico, descarregando energias espirituais e físicas nos organismos doentes e perturbados para restabelecer-lhes o equilíbrio abalado. Não obstante, julgam-se senhores do poder curador. Esse desequilíbrio mental, provocado pelo orgulho — engorgitamento mórbido do eu inferior —, anula os efeitos curativos no choque fatal das vibrações doentias em conflito. As ambições do poder, ganância e superioridade confundem-lhe a mente, levando-o ao fracasso e às tentativas inúteis de socorro e ajuda. Ele se transforma em explorador das esperanças e da fé dos doentes, emparelhando-se com estes no desequilíbrio inevitável. Essa queda do médium, que os espíritos benevolentes não podem impedir, para não anular a experiência necessária, reflete-se negativamente no plano moral e social, invertendo os efeitos intencionais da sua prática terapêutica, em prejuízo moral e social do despertamento espiritual.

O poeta Cleiômenes Campos, num pequeno poema sobre esse episódio, escreveu:

Jesus não respondeu.

Foi como se dissesse: “A verdade sou eu.”

Jesus pregava aos homens a verdade da vida humana e seus objetivos, que decorria da Verdade Suprema de Deus. Como explicar isso a um romano que ia entregá-lo à crucificação para defender a mentira?

A verdade é uma questão de relação do pensamento com a realidade. Se essa relação é pura, direta, sem deformações interesseiras, ela é a verdade.

Surgindo na era científica, em meados do século XIX, o Espiritismo se opôs, ao mesmo tempo, ao religiosismo alienante e ao materialismo exclusivista. Kardec abriu a brecha espírita nesses maciços milenares, estabelecendo o critério da razão na busca da verdade. Sustentou o princípio dialético da constituição do mundo por dois elementos fundamentais: espírito e matéria. Dessa colocação, válida e confirmada em nossos dias, nasceu a Ciência Espírita, armada com os métodos da pesquisa científica dos fenômenos e com os processos da cogitação filosófica livre de pressupostos e preconceitos. A Ciência acadêmica rejeitou a dualidade espírito-matéria, sustentando o monismo materialista, mas o avanço das pesquisas em nosso século acabaram por dar razão à Ciência Espírita. A concepção monista permanece válida, mas em termos de estrutura orgânica da realidade. Espírito e matéria preenchem o cosmos, sendo o espírito o elemento estruturador da matéria. A verdade brota naturalmente das pesquisas científicas da realidade objetiva. O sonho dos fisiólogos gregos realiza-se hoje, plenamente, no desenvolvimento das pesquisas fenomênicas da Ciência Espírita. A Parapsicologia atual é simplesmente o elo de ligação da Ciência Acadêmica com a Ciência Espírita. Sem esse elo, os dois campos científicos permaneceriam separados, impedindo a visão global da realidade, necessária à compreensão verdadeira do mundo, do homem e da vida.

São Paulo, janeiro de 2021.