Agora que você já conhece um pouco mais sobre os princípios da economia, sua história e suas hipóteses e modelos, você está preparado(a) para compreender como os economistas fazem suas análises e como eles orientam suas decisões.
Mas antes de iniciar a leitura, observe que todas as palavras que estão sublinhadas, dessa forma: “minidicionário”, possuem o seu significado no quadro 1, ao final da lição. Então, caso precise de um suporte para entender algum conceito, é só fazer uma pausa e consultá-los no final da lição, combinado?
Nesta lição vamos aprender alguns fundamentos muito importantes para os economistas, como a definição sobre o que é mercado (local, físico ou não) onde as pessoas ofertam e demandam produtos e serviços, e fazem suas transações; com os vendedores definindo o lado da oferta e os consumidores definindo o lado da demanda.
Você já foi a um shopping center, ou até mesmo passou por alguma rua em que as lojas estavam uma ao lado da outra, certo? Vamos imaginar que você foi a um destes lugares para comprar uma calça jeans.
Você vai encontrar diferentes lojas que ofertam vários tipos de calças com diferentes preços. Bom, enquanto as lojas, ou os vendedores definem o preço de seus produtos, os compradores (você e toda a sociedade) decidem se pagam o preço estipulado ou não.
Ou seja, você vai escolher entre as diversas lojas qual calça vai comprar. Em contrapartida, os vendedores vão tentar atrair a maior quantidade possível de compradores para sua loja.
Agora imagine que nesse shopping, ou nessa rua, existam várias lojas de calça jeans. Neste caso podemos dizer que há um mercado com elevada competitividade, ou seja, com uma grande quantidade de ofertantes (vendedores) e demandantes (compradores) de produtos parecidos em uma mesma economia.
Nesse caso, os preços cobrados não serão definidos por um único comprador ou um único vendedor, mas sim por todos os vendedores e consumidores à medida que fazem suas interações.
Para avançar em nossos estudos vamos aplicar a hipótese de que os mercados possuem uma competição perfeita. O grande objetivo dessas hipóteses é construir o conhecimento para que você possa entender o funcionamento de duas ferramentas da economia que são amplamente utilizadas em estudos nas mais diversas áreas; a curva de demanda e a curva de oferta.
Talvez você já tenha ouvido falar que quanto maior o preço, menor é a demanda, ou que quanto maior o preço de um bem ou serviço, maior será o estímulo à sua produção. Portanto, nosso objetivo nesta lição é demonstrar a origem dessa análise na economia e como entendê-la de forma prática.
Qual, ou quais, as principais informações que vêm em sua mente quando escuta a palavra economia? Talvez você tenha a ideia de que economia é simplesmente “guardar dinheiro”, ou como é normalmente falado “fazer poupança”.
No entanto, se você é um aluno(a) curioso(a) deve ter ouvido falar em algo sobre demanda, oferta e mercado, não é mesmo? Quando você faz uma compra, já pensou o motivo pelo qual aquele preço está sendo cobrado? E por que geralmente um produto ou serviço que existe em abundância tem preços parecidos? Qual a razão para os preços serem mais baixos quando há grande concorrência, ou mais altos quando há pouca concorrência?
Quando pensamos em um ambiente em que as pessoas fazem suas negociações, como o shopping, por exemplo, temos que ter em mente que, geralmente, há dois lados envolvidos, o que oferta algo (lojas) e o que demanda (consumidor). Essa interação é a base dos estudos econômicos, porque é a partir dela que os bens e serviços circulam pela economia, bem como a renda é gerada (lembre-se do fluxo circular da renda).
Mas, não podemos entender toda a complexidade nas interações dos agentes econômicos, se não entendermos primeiramente como elas ocorrem no nível individual. Por isso, vamos analisar algumas possíveis regras que vão determinar como se comporta a demanda e a oferta no nosso dia a dia, para depois evoluir para o entendimento do todo, combinado?
Conhecer as curvas de oferta e de demanda e os fatores que influenciam essas curvas, farão com que você consiga entender como funciona o mercado de bens e serviços. Você também irá compreender o que esperar quando ocorrem mudanças em determinados fatores como: preço, renda, tecnologia, insumos, entre outros. O que será aprendido nesta lição estará muito presente nos demais estudos sobre economia e sobre mercado.
No Brasil e no mundo o consumo de tabaco é um fator de preocupação para os órgãos de saúde pública, uma vez que são visíveis os efeitos negativos dessa substância sobre o bem-estar da população, seja a curto ou a longo prazo. De acordo com Instituto Nacional do Câncer (2020), é por essa razão que desde 1970 algumas medidas de controle ao seu consumo foram tomadas no Brasil, o que levou a criação em 1984 do Programa Nacional de Combate ao Fumo. As principais iniciativas tomadas foram de conscientização da população, alertando como o tabaco faz mal para a saúde, tanto da geração atual como da futura.
A partir desse cenário, como podemos visualizar o efeito dessas ações de forma econômica? Ou seja, qual a efetividade disso em termos de consumo. Podemos aplicar a curva de demanda que aprenderemos nesta lição para verificar qual foi o impacto sobre a demanda de cigarros. A seguir, analise a Figura 1:
A imagem traz dois gráficos, cada um com suas curvas de demanda, o do lado esquerdo indicando o efeito de uma política de conscientização sobre consumo de cigarro, o do lado direito uma política de elevação de custo por meio dos tributos. Perceba que se forem adotadas políticas para conscientização, haverá um deslocamento da curva de demanda por cigarro, indo da curva D1 para D2. Veja que o mesmo preço de R$10,00 houve uma redução da quantidade demandada de 20 para 10, como indicado pelo gráfico A. O mesmo pode ser alcançado se o governo aumentar a tributação do cigarro, o tornando mais caro, indo de R$10,00 para R$15,00, pois como vamos aprender na lição, aumentos no preço, reduzem a quantidade demandada (MANKIW, 2013).
O case te deixou curioso(a)? Assista ao vídeo a seguir para conhecer um pouco mais sobre essa história:
A curva de demanda: uma relação de preço e quantidade demandada.
Para compreender o que é uma curva de demanda, é necessário que você entenda o que é quantidade demandada e sua relação com os preços, para depois desenharmos isso em um gráfico.
A quantidade demandada de qualquer bem é entendida como a quantidade que os consumidores querem adquirir desse bem. Como você pode imaginar, existem alguns fatores que influenciam as pessoas demandarem ou não um bem ou serviço, mas um fator que se destaca entre os demais, é o preço. Imagine que você seja um indivíduo que gosta muito de pizza. Se o preço normal desse produto for R$30,00, mas de uma hora para outra passar a custar R$60,00 é de se esperar que seu consumo diminua, não é mesmo? Mas se ocorrer o contrário, se o preço reduzir para R$10,00, o consumo de pizza vai aumentar, correto? (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Essa simples relação de demanda por um produto em relação ao seu preço, pode ser verificada em grande parte dos bens e serviços em uma economia. De tão forte que é essa relação, os economistas criaram o conceito da Lei da Demanda.
A Lei da Demanda diz que: aumento no preço de um produto reduz a compra (quantidade demandada) desse produto, e caso o preço diminua, aumenta sua compra (sua quantidade demandada). E essa relação pode ser representada por uma curva, a curva de demanda individual, mostrada pela Figura 1 abaixo (MANKIW, 2013).
Observe na Figura 2 que quando o preço é de R$0,00, o consumidor demandará (consumirá) 7 unidades de pizza (mesmo sendo de graça, há um limite máximo que um produto pode ser consumido em um único período. Mas, se o preço aumentar para R$10,00, a quantidade demandada (consumida) cairá para 6 e, à medida que o preço for subindo, a quantidade demandada caíra até o ponto em que não compense mais consumir a pizza ao preço de R$70,00.
Quando a concorrência é perfeita, ou seja, quando existem muitos compradores e muitos vendedores bem como produtos e serviços idênticos, a curva representada acima é chamada de curva de demanda individual. Isso porque, ela mostra a relação entre preço e quantidade demandada de um único produto de uma única pessoa.
Mas, é necessário expandir essa análise para todos os compradores, ou seja, gerar a curva de demanda de mercado (PINDYCK; RUBINFELD, 2013). Imagine que agora ao invés de considerar apenas um consumidor de pizza, analisamos também a quantidade demandada de pizza de outro indivíduo, como representado na Figura 3. Temos três curvas na Figura 3, a curva de demanda A, a curva de demanda B e a soma das curvas A e B.
Figura 3: Curva de demanda de mercado
Fonte: Adaptado Mankiw (2013).
Considerando que, por hipótese, haja apenas dois indivíduos na economia consumindo, a curva de demanda de mercado será o resultado da soma horizontal das quantidades demandadas desses dois indivíduos, em relação aos preços de mercado. Agora imagine isso para toda a economia, o mesmo seria possível, a soma da quantidade demandada de toda a sociedade resultaria na curva de demanda de mercado de toda aquela sociedade (viu como as hipóteses ajudam a simplificar a realidade para depois serem aplicadas no contexto econômico geral?). Em resumo, a curva de demanda de mercado mostra como a demanda de mercado varia quando há alguma alteração nos preços (MANKIW, 2013; PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Um ponto importante ainda não discutido é como a curva se “move” (esse movimento pode ser para frente, direita, ou para trás, para esquerda) no gráfico. Esse deslocamento da curva de demanda será dado pelos demais fatores que afetam a demanda, que não os preços. Vamos ver cada um deles.
A renda é quanto uma pessoa ganha, pode ser o salário dela ou os lucros obtidos de outras formas. Sabendo disso e mantendo tudo constante, a renda é um fator que desloca a curva de demanda para frente (direita) quando ela aumenta e se move para esquerda quando ela diminui. Isso porque quando nosso salário aumenta, temos a tendência de aumentar os nossos gastos. Ainda sobre a renda, diz se que quando a renda aumenta e a quantidade demanda também aumenta, o produto em análise é um bem normal, mas quando aumento dos preços reduz a quantidade demandada, o produto é chamado de bem inferior (por exemplo, com o aumento da renda de uma pessoa, ela pode parar de utilizar o serviço de transporte público e comprar um automóvel) (ROSSETTI, 2016).
Imagine que você tenha um carro e ele seja flex, podendo abastecer com gasolina ou etanol. Se o preço da gasolina aumentar, pela lei da demanda, você provavelmente vai reduzir a quantidade demandada de gasolina e irá aumentar a quantidade demandada de etanol. Quando o aumento do preço de um bem aumenta a quantidade demanda de outro, dizemos que os bens são substitutos (margarina e manteiga, carne de boi e de frango, etc.). Agora para bens cuja elevação no seu preço leva a uma redução da quantidade demandada de outro, os bens são chamados bens complementares. Pão e margarina são bons exemplos, como ambos são normalmente consumidos em conjunto, se o preço do pão se eleva, reduz a quantidade demandada de margarina (ROSSETTI, 2016).
Os gostos são talvez o fator mais óbvio que determina a quantidade demandada, se você gosta muito de determinado produto você tende a consumi-lo mais do que outros produtos. Como o gosto é algo da esfera pessoal e subjetiva, não é um fator que os economistas tentam explicar (ROSSETTI, 2016).
Agora que aprendemos sobre um lado do mercado, a demanda, vamos estudar um pouco sobre o outro lado, a oferta
A curva de oferta: uma relação de preço e quantidade ofertada.
Assim como na demanda, existem diversos fatores que afetam a oferta, mas entre todos, o preço é o que apresenta o maior destaque. Voltemos ao exemplo da pizza. Se o preço de venda desse produto aumentar, é mais lucrativo para os empresários produzirem mais, pois receberão um maior valor por unidade vendida. Agora imagine: o que acontece se o preço reduzir?
Imagine que você é dono de uma pizzaria e percebe que está havendo uma redução no preço de venda das pizzas de seus concorrentes. Antes de reduzir também o seu preço, você precisa considerar seus custos como aluguel, salários e fornecedores.
Se você baixar o preço da pizza, a atividade se torna menos lucrativa pois receberá menos por unidade de pizza vendida, afetando diretamente os lucros. Se pensarmos que o preço baixou tanto a ponto de não cobrir os custos de produção, sua opção será encerrar as atividades, não é mesmo?
A relação entre preços e quantidade ofertada recebe o nome de Lei da Oferta, aqui a dinâmica é diferente da Lei da Demanda, enquanto antes era inversamente proporcional, na Lei da Oferta é proporcional. Isto é, mantendo tudo constante, um aumento no preço de um produto aumenta sua quantidade ofertada proporcionalmente, enquanto uma redução no preço, gera uma redução na quantidade ofertada.
A Figura 3 ilustra uma curva de oferta individual (PINDYCK; RUBINFELD, 2013), em que é possível observar essa dinâmica, observe a seguir:
Figura 4: Curva de oferta
Fonte: Adaptado de Mankiw (2013).
A Figura 4 mostra que quando o preço da pizza é 0 a oferta também é 0. Ao preço de R$10,00 a oferta também continua nula, pois por esse preço as empresas não conseguem cobrir seus custos produtivos. A partir de R$20,00 reais é possível cobrir os custos, e a quantidade ofertada torna-se positiva, de forma que, quanto maior for o preço, maior será a quantidade ofertada.
Olhando para mais de um produto, como obtemos a curva de oferta de mercado? A curva de oferta de mercado é dada pela soma horizontal de todas as curvas de ofertas individuais, como ilustrado na Figura 5 (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Figura 5 – Curva de oferta de mercado
Fonte: Adaptado Mankiw (2013)
Imagine, por hipótese, que nossa economia é formada por apenas duas empresas de pizza, a empresa A e a empresa B. Individualmente vimos como os preços afetam cada um dos produtores individualmente, mas ao somarmos as quantidades ofertadas aos preços estabelecidos, encontramos a curva de oferta de mercado de pizza de nossa economia hipotética.
Quais outros fatores afetam a oferta além dos preços, deslocando sua curva para cima ou para baixo? Analise a seguir os principais fatores.
Preços dos insumos: Para produzir pizzas, a empresa tem custos produtivos relacionados aos insumos utilizados, como fornecedores, aluguéis e mão de obra. Quanto maior o preço dos insumos, menor tende a ser a quantidade ofertada. De forma contrária, quanto menores forem os preços dos insumos, será mais barato produzir cada unidade, deslocando a curva para cima (para direita) (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Tecnologia: A tecnologia indica o grau de eficiência que uma empresa consegue transformar insumos em produto, quanto melhor e mais eficiente for a tecnologia adotada no processo produtivo, maior tende a ser a quantidade ofertada, mantido tudo o mais constante (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Expectativas: As expectativas também afetam a decisão de produzir ou não. Quanto melhor forem as expectativas futuras, maior tende a ser a motivação das empresas (oferta) a produzir (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Em resumo, fatores que fazem que haja um aumento na quantidade ofertada, deslocam a curva de oferta para cima e fatores que fazem com que haja uma redução na quantidade ofertada, deslocam a curva para baixo.
Ficou interessado(a) sobre esse tema? Clique no play a seguir e assista ao vídeo:
Os temas que estudamos até esta última lição são importantes, pois mostram como surgiu a ciência econômica e como os profissionais dessa área analisam o comportamento da sociedade.
Na presente lição vimos que no mercado há dois principais grupos atuando de forma direta, aqueles que demandam e aqueles que ofertam. O resultado dessa interação determina a quantidade de produtos e serviços em uma economia. Vimos também como alguns fatores influenciam diretamente o consumo de um bem ou serviço, bem como o quanto as empresas estão dispostas a ofertar.
Conhecer o mecanismo de funcionamento da demanda, seja por meio de sua lei ou de sua curva, faz com que você esteja apto a compreender como o mercado se comporta diante de mudanças em aspectos como preço, renda, bens e gostos.
Como visto no case da lição, uma forma de verificar o impacto de uma política de redução de consumo de cigarro, é por meio da curva de demanda. Esse mesmo exemplo poderia ser estendido para qualquer outro produto, ou mesmo uma política contrária, de fomento a algum produto em especial (o uso de álcool 70% na pandemia do Covid-19 é um exemplo).
Da mesma forma, ao compreender como se comporta a quantidade ofertada das empresas, seja por meio dos preços ou dos custos de produção, preços dos insumos e tecnologia, você é capaz de realizar análises mais bem fundamentadas, pois usa ferramentas de validade comprovada na ciência econômica.
Outro ponto importante a ser destacado é sobre o que é um mercado de concorrência perfeita e as hipóteses que o sustenta. Na economia real de sua cidade, você vai verificar que tais hipóteses não são tão distantes do que de fato se verifica, pois sempre que há uma grande quantidade de empresas ofertando um produto, os preços cobrados por esse produto não são tão distintos, considerando produtos similares. É essa abundância de bens e serviços que fazem com que os preços sejam menores que em sua ausência (como em um monopólio).
Por fim, você deve ter notado que analisar um único indivíduo, seja consumidor ou empresa, é muito útil, pois a partir das hipóteses adotadas, é possível levar as conclusões do nível microeconômico (individual) para o nível macroeconômico (agregado), gerando assim a possibilidade de entender como funciona a economia como um todo.
Agora que você já aprendeu como a oferta e a demanda atuam na economia, passe a observar como os valores dos produtos podem impactar o seu consumo, ou, o contrário, como a sua decisão de compra pode impactar um estabelecimento comercial.
Quadro 1: Significado dos termos técnicos da Economia
Fonte: Elaborado pelo autor
Clique aqui, teste seus conhecimentos sobre esta lição e confirme sua participação nesta disciplina!
MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. Cengage Learning, 2013
ROSSETTI, J. P. Introdução à economia. 21. ed. São Paulo. Atlas. 2016
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Pearson Itália, 2013
PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE AO TABAGISMO. Instituto Nacional do Câncer. Disponível em: https://www.inca.gov.br/programa-nacional-de-controle-do-tabagismo. Acesso em: 29 dez. 2021.