Estamos avançando cada vez mais em nossos conhecimentos sobre a ciência econômica, agora compreendendo sobre estruturas de mercado e como elas influenciam as relações entre oferta e demanda, produção e consumo.
Na lição passada, vimos um caso particular em que existe apenas uma empresa ofertante de um produto muito específico, o monopólio. Agora, vamos ver um outro caso muito estudado pelos economistas, uma estrutura de mercado em que existem diversos vendedores e diversos compradores, a concorrência perfeita.
Vamos usar um exemplo para facilitar o que vamos aprender: imagine que você vai comprar um produto que possui muitas empresas que o ofertam, de forma que se você não gostar do preço ou da qualidade do produto de uma empresa, você pode simplesmente não comprar nela e procurar em outra, pois como existem muitas outras, existem alternativas de consumo.
Nesse caso, consegue perceber que a empresa não poderá cobrar um preço muito elevado, pois se assim o fizer, ela vai perder clientes para outras? Se você prestou atenção na lição passada, percebe que esse cenário é o total oposto do monopólio. Para empresas que se enquadram nessa categoria, se diz que elas pertencem à chamada estrutura de mercado de concorrência perfeita.
Vamos aprender a identificar as principais características que definem a concorrência perfeita, porque ela é tão utilizada nas análises econômicas e porque grande parte dos modelos econômicos que nós já estudamos em lições passadas utilizam essa estrutura. Um dos pontos importantes sobre essa estrutura, assim como no monopólio, é que os elementos que caracterizam a concorrência perfeita são complementares entre si, ou seja, cada um desses elementos influencia o outro, de forma que é fácil olhar para o mercado de um produto e dizer se ele é ou não, ou pelo menos se aproxima, de uma concorrência perfeita.
Esperamos que após essa lição, você seja capaz de olhar os mercados que fazem parte do seu cotidiano de consumo e dizer se ele pertence ou não a uma concorrência perfeita.
Talvez você esteja se perguntando, desde a aula passada, porque está aprendendo sobre estruturas de mercado, monopólio, concorrência perfeita e as estruturas mistas, que vamos aprender na próxima lição.
Pois bem, como notou, os economistas utilizam muitos exemplos e cenários para explicar os assuntos econômicos. Talvez o cenário que vamos construir agora seja o que mais se aproxima da sua realidade. Um ambiente econômico com concorrência é bom porque quando existe diversidade de empresas, existe diversidade de produtos na economia e, assim, a sociedade de forma geral tem acesso tanto a uma quantidade adequada de produtos como também a preços acessíveis.
Imagine que, na sua cidade, exista apenas uma padaria, uma loja de camisetas, uma loja de calçados, enfim uma única empresa para cada produto ou serviço que habitualmente você adquire no seu dia a dia. A primeira coisa que você notaria é que seria refém do produto daquela empresa, não é mesmo? Ainda que o produto não seja da qualidade que deseja ou possua um preço muito elevado, você enquanto consumidor não terá opção a não ser comprar o produto daquela única empresa.
Esse é um cenário de monopólio, e como percebeu, é ruim para a sociedade e para o consumidor (a não ser que você seja o dono de uma dessas empresas). Quando há concorrência entre empresas, elas adotam ações para conseguir atrair clientes, podendo ser redução de preços, formas de propaganda e marketing etc.
Veja que na existência de concorrência entre empresas os consumidores têm maior liberdade para atender suas necessidades de consumo. Por isso economistas tem tanto interesse nesse assunto, pois se nossa sociedade fosse dominada por monopólios, os consumidores seriam prejudicados direta ou indiretamente, seja por questão de quantidade total ofertada ou por um preço abusivo.
Importante ressaltar que aprendemos em lições passadas sobre excedente do consumidor e excedente do produtor. Sempre que um mercado for marcado por concorrência perfeita haverá uma divisão proporcional de excedente para cada uma das partes (considerando cada tipo de mercado), mas quando uma das partes possui poder de mercado (influenciar preço) sempre haverá um desequilíbrio no mercado.
Como dito na seção anterior, talvez essa seja uma das lições que mais fará sentido para você enquanto consumidor, pois sempre que se fala em concorrência entre empresas, a ideia é que haja uns ganhos para os consumidores.
Uma situação que ocorreu em abril de 2002 deixa isso que estamos falando mais claro. O caso aconteceu com o Netflix, uma plataforma de filmes, séries e documentários que provavelmente você já ouviu falar.
Uma notícia publicou que a Netflix perdeu um terço do valor na bolsa (cerca de US$ 55 bilhões), ou seja, ocorreu prejuízo financeiro na empresa. Isso aconteceu devido a uma queda no número de assinantes, o que fez com que ocorresse uma reação negativa dos investidores. Outra situação que reduziu o nível de atratividades da empresa é que havia uma estimativa de ganhar mais 2,5 milhões de assinantes em três meses, porém o que aconteceu foi uma redução de 200 mil assinantes. Os executivos da empresa atribuíram os resultados ruins devido ao aumento da concorrência no setor do streaming e a outros fatores, como a inflação, os efeitos econômicos da guerra na Ucrânia e o encerramento das filmagens devido ao coronavírus (Quintanilla, 2022).
Veja que um dos motivos indicados para o mal resultados dos lucros das empresas, além de fatores relacionados à inflação e Guerra entre Rússia e Ucrânia, é o aumento da concorrência no setor de streaming, ou seja, como outras empresas entraram no mercado ofertando o serviço de streaming, a Netflix acabou perdendo parte dos seus clientes, pois estes passaram a possuir outras opções além dela.
Na lição passada, começamos nossos estudos sobre estruturas de mercado, aprendendo sobre o chamado monopólio. Nesta lição, vamos estudar a estrutura de mercado que representa uma situação diferente do monopólio, a chamada concorrência perfeita. Antes de iniciarmos, alguns pontos valem a pena serem ressaltados. Lembra-se que já estudamos diversos assuntos na área da economia, entre elas curva de oferta e curva de demanda? Caso tenha se esquecido, vale a pena dar uma olhada nas lições passadas para recordar.
Boa parte do que foi estudado até o momento considerou, por hipótese, que a estrutura de mercado era de concorrência perfeita porque é mais fácil entender como ocorre a interação entre oferta e demanda nesse tipo de estrutura (MANKIW, 2013). Existem formas de estudar tudo o que vimos até agora por meio de um monopólio, oligopólio ou concorrência monopolística (temas das próximas lições), mas como estamos em uma disciplina de introdução à economia, a forma mais simples de iniciar nossos estudos é por meio da concorrência perfeita (saiba que muitos mercados estão nessa estrutura, como produtos agrícolas, habitação, mercados financeiros entre outros).
Assim como no monopólio, existem alguns elementos que são indicadores de um mercado de concorrência perfeita, que são empresas tomadoras de preços, produtos homogêneos e livre entrada. Um ponto importante é que se você for um aluno(a) curioso vai perceber que as características da concorrência perfeita são bem distintas da de um monopólio (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Essa é uma característica bem marcante da concorrência perfeita e que faz um total oposto ao monopólio. Na estrutura de concorrência perfeita existem muitas empresas ofertando um produto ou serviço, e muitas pessoas querendo comprar esse produto ou serviço. Por essa razão, se uma única empresa decidir aumentar seus preços ou diminuir, isso não terá nenhum efeito sobre o preço cobrado pelo mercado, pois dado a grande quantidade de ofertantes e demandantes, essa alteração não terá impacto nenhum sobre o preço (MANKIW, 2013).
Cada empresa é responsável por apenas uma pequena parte da produção total do mercado, assim uma empresa a mais ou a menos no mercado não traria mudanças importantes na quantidade total ofertada.
Vamos de exemplo porque eles sempre nos ajudam, não é mesmo? Vamos imaginar que você abra uma loja de camisetas no centro de sua cidade, próximo de diversas outras empresas que já vendem esse produto e tendo que concorrer com a venda virtual possível graças à internet.
Como existem muitas empresas ofertando esse produto, você acha que poderia negociar o preço para cima, ou acima do preço cobrado pelas outras empresas concorrentes? A não ser que seu produto seja muito raro ou específico, é pouco provável que você consiga vender por um preço acima do mercado de camisetas, não é mesmo? Veja que sua decisão de abrir um ponto comercial não afetou a quantidade total de camisetas na região, pois você é apenas uma fração muito pequena deste mercado e caso decida sair dele, da mesma forma você não vai influenciar a quantidade total.
Empresas em concorrência perfeita, por essa razão aceitam os preços do mercado, ou seja, são tomadoras de preço. Para você, aluno(a), que prestou atenção na lição anterior, sabe que se uma empresa pode alterar o preço do seu produto ela possui poder de mercado, certo? Como as empresas em concorrência perfeita são tomadoras de preço e não tem nenhuma influência sobre o preço cobrado, logo, elas não possuem nenhum poder de mercado! (VARIAN, 2012).
Uma razão para as empresas terem que aceitar o preço dado pelo mercado é porque existem muitas empresas, e isso em muitos casos ocorre porque os produtos são muito parecidos, quando não são idênticos (PINDYCK; RUBENFIELD, 2013). Essa condição de produtos similares é chamada pelos economistas de homogeneidade dos produtos. Uma forma de entender o termo homogeneidade de produtos é assumir que eles são substitutos perfeitos entre si! Lembra-se que em lições passadas existem alguns bens na economia que podem ser substituídos livremente sem prejuízo ao consumidor.
Que tal um exemplo? Imagine que você precisa comprar uma caneta esferográfica da cor azul e sabe que em uma papelaria próxima a sua casa existe uma marca de caneta que atende sua necessidade, mas na mesma papelaria tem uma outra marca de caneta que também satisfaz sua necessidade por canetas azuis. As duas marcas de caneta, nesse caso, são substitutas perfeitas. Esse exemplo pode ser refeito para diversos outros produtos e serviços, como alimentação, vestuário, cortes de cabelo etc.
Pare para pensar: se existem muitas empresas em um mercado e elas ofertam o mesmo produto, elas não podem pensar em mudar o preço, pois os consumidores tem várias opções alternativas de irem adquirir o mesmo produto em outra empresa, concorda?
Um mercado que na prática se aproxima muito desse critério de homogeneidade é o de produtos agrícolas. Os produtos agrícolas normalmente são homogêneos, com poucas diferenças entre a produção de fazendas em regiões distintas. Uma empresa que compra milho para revendê-lo de alguma forma não tem preocupação em saber qual a fazenda o milho foi colhido, apenas se preocupa sobre a qualidade do produto, que tende a ser igual, ou ao menos muito parecida, não importa a região de onde venha. Os exemplos são muitos para produtos homogêneos, como cobre, ferro, gasolina, etanol, algodão, arroz, soja, entre outros (curiosidade: economistas também adotam o termo commodities para se referirem a produtos homogêneos) (PINDYCK; RUBENFIELD, 2013).
Veja aqui, novamente, uma diferença com o monopólio. Se uma empresa consegue ter um produto que não possui nenhum outro produto alternativo similar, essa empresa acaba sendo a única capaz de ofertar esse produto, logo, possui poder de mercado ao ter a capacidade de influenciar o preço de mercado.
Já ouviu falar dos produtos gourmet? Não se preocupe que não iremos analisá-los, ok? Esse tipo de produto normalmente deriva de outro, mas é acrescentado algo que faz com que ele perca sua similaridade com outros produtos, acabando dessa forma por acabar sendo vendido por um preço mais elevado.
Mais uma vez fazemos uma comparação com o monopólio, como um exercício de fixação de conteúdo e também para que fique mais claro a diferença entre essa estrutura de mercado e a concorrência perfeita.
No monopólio existem pelo menos 3 barreiras, a entradas de novas empresas, o que acaba limitando o mercado a apenas uma. Na concorrência perfeita, por sua vez, não existe nenhum custo ou barreira para que empresas entrem e saiam dessa estrutura (MANKIW, 2013).
Como resultado, uma empresa pode facilmente entrar e sair de um negócio ou mercado sem grandes problemas, tendo apenas o custo fixo inicial de entrada, porém sem restrições maiores de custo. Talvez possa te ajudar, mas que tal algumas dicas para identificar barreiras à entrada e saída de empresas em um mercado?
Sempre que em um setor ou atividade (quando economistas usam esses termos querem se referir a empresas que atuam em uma mesma área, por exemplo, empresas na área da saúde, de equipamentos tecnológicos, imobiliário, automotivo etc.) for comum os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, também chamado de P&D, é normal que surjam patentes que concedem apenas a elas o uso de uma inovação, ou seja, esse tipo de investimento acaba gerando uma barreira de mercado!
Outra forma de identificar uma barreira é o custo ou investimentos iniciais, para se começar as atividades. Vamos voltar ao exemplo da loja de camisetas. Por mais que pareça algo difícil de se imaginar para você agora, para você abrir essa empresa seus custos não seriam tão elevados, pois basicamente teria algumas despesas fixas como aluguel e internet, trabalhadores caso julgar necessário, água, luz, encargos tributários e o custo para compra das camisetas. Agora imagine se ao invés disso, você decida abrir uma empresa que produza computadores, ou celulares, ou quem sabe automóveis! Consegue perceber que seu custo para iniciar será imensamente maior do que abrir a loja de camisetas? Assim, sempre que o custo, representado por investimentos iniciais, for muito alto, a empresa não está em uma estrutura de concorrência perfeita (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Na prática, apenas poucos mercados, ainda que existam muitos produtos dentro dessa categoria, podem ser considerados de concorrência plenamente perfeita, com exceção talvez do agrícola, no entanto, muitos mercados possuem uma elevada competitividade (VARIAN, 2012).
Por essa razão, como aponta Mankiw (2013) não existe uma regra para dizer se uma empresa está ou não em um mercado de concorrência perfeita, o que se tem é alguns critérios objetivos, como os acimas expostos (empresas tomadoras de preço, homogeneidade dos produtos, livre entrada e saída de empresas) que são indícios de que uma empresa atua nessa estrutura de mercado.
O termo indícios é porque nenhuma das condições citadas são, por si só, capazes de definir a concorrência perfeita.
Por exemplo, pode ocorrer que mesmo em uma região com muitas empresas exista algum tipo de acordo informal para que as empresas possam se organizar para definir o preço cobrado pelo produto ou serviço acima do que seria o ideal de mercado. Pode ocorrer também que poucas empresas atuam de forma competitiva entre si, por não haver coordenação entre elas e cada uma ofertando produtos similares (esse seria um caso a ser estudado na estrutura de mercado de oligopólio, que aprenderemos na próxima lição).
Perceba que todas as condições que caracterizam a concorrência perfeita se complementam em termos de justificativas das características. Como não há barreiras à entrada ou saída de novas empresas, existem muitas empresas nessa estrutura, visto que é fácil entrar ou sair dela. Se existem muitas empresas, é de se esperar que não seja difícil produzir o produto, visto que se fosse um recurso escasso (assim como no monopólio) poucas empresas teriam acesso aos recursos, o que limitaria o número de empresas.
Por fim, como existem muitas empresas e como os recursos para produção são de fácil acesso, é de se esperar também que os produtos sejam muito semelhantes, ou homogêneos. Veja que não é difícil identificar um mercado de concorrência perfeita.
Em resumo, uma empresa pode ser considerada como estando em uma concorrência perfeita quando existem produtos homogêneos aos que são ofertados para o mercado, quando não existem barreiras à entrada, ou saída e quando elas são tomadoras de preço.
No Quadro 1, a seguir, tem se um resumo geral das características da estrutura de mercado de concorrência perfeita e o paralelo com monopólio:
O que achou do conteúdo da lição? Esperamos que tenha gostado, pois conhecer as estruturas de mercado é entender que tipo de relação prevalecerá entre o lado produtivo da economia, a oferta, e o lado consumidor, a demanda.
A concorrência perfeita, ainda que não exista 100% na prática, é uma estrutura muito próxima da que vemos na realidade, pois sempre que se pensar em muitas empresas e produtos similares, ou como aprendemos, homogêneos, saberemos que o consumidor tem uma grande liberdade para comprar produtos ou serviços, visto que ele tem acesso a uma diversidade de empresas ofertando esses produtos e serviços.
Quando você desejar consumir algo, mas não tem muita opção, pois em sua cidade ou região há poucas empresas, saiba que você enquanto consumidor estará sendo prejudicado, uma vez que não terá como negociar preço ou qualidade. E por que isso é tão importante para os economistas? Esperamos que tenha ficado claro que economistas estão preocupados em entender e melhorar a forma como a sociedade, seja como oferta ou demanda, fazem suas decisões de consumo.
Por essa razão, identificar uma estrutura de mercado é muito útil para que o governo tome medidas para garantir que não haja um desequilíbrio nas forças de mercado, de forma que nem a oferta ou a demanda consigam ganhos extremamente excessivos prejudicando a outra parte.
Para você poder ficar o conteúdo da lição, vamos te fazer dois desafios, está pronto?
Existem muitos produtos no seu cotidiano que estão em mercados que se assemelham muito a concorrência perfeita (muitas empresas, produtos homogêneos e sem barreiras à entrada ou saída) e no primeiro desafio, pense em pelo menos 3 produtos que se encaixam nessa estrutura de mercado de concorrência perfeita.
O segundo desafio é um exercício de reflexão. Aponte quais são as vantagens de em uma economia existir muita concorrência entre empresas e também quais seriam as desvantagens. Em sua análise, tente levar em consideração não somente o lado da demanda, mas também o lado da oferta, pois como a economia é formada por esses dois lados, o que é bom para a demanda pode ser ruim para a oferta e vice-versa.
Clique aqui, teste seus conhecimentos sobre esta lição e confirme sua participação nesta disciplina!
MANKIW, N. G. Introdução à economia. [S.l]: Cengage Learning, 2013.
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. [S.l]: Pearson Italia, 2013.
QUINTANILLA. N. Netflix perde um terço do valor na bolsa e gera dúvidas sobre futuro. UOL, 20 abr. 2022. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/efe/2022/04/20/netflix-perde-um-terco-do-valor-na-bolsa-e-gera-duvidas-sobre-futuro.htm. Acesso em: 11 jul. 2022.
VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. [S.l]: Elsevier Brasil, 2012.