Olá caro(a) aluno(a), espero que esteja empolgado com o progresso que estamos tendo ao longo das últimas lições, pois estamos aprendendo conteúdos muito interessantes e que são amplamente utilizados por economistas e por diversos outros profissionais da área da gestão e planejamento.
Na presente lição, colocaremos a última peça do quebra cabeça que faltava sobre a teoria da produção. Nós já vimos porque existem as empresas, como elas transformam insumos em produtos, por meio da tecnologia de produção, como elas analisam a produtividade de seus fatores de produção e, também, sobre os custos que uma empresa tem ao realizar suas atividades.
Vamos, nesta lição, juntar todas estas peças e responder a seguinte pergunta: qual o nível de produção que uma empresa adotará para obter o lucro máximo. Quando qualquer empresa produz um produto ou um serviço sua intenção é obter lucro, quanto mais lucro melhor, não é mesmo? Ao vender seu produto ela terá uma receita, ou seja, o valor monetário que ela recebeu dos seus clientes. Então, alguém pode pensar: se a receita vem da venda dos produtos, quanto maior a receita maior o lucro.
Este, no entanto, é um pensamento errado, pois, para se vender algo, esse algo deve ser produzido antes, ou comprado de alguém que produziu. Quanto mais produtos a empresa desejar vender, maior será o seu custo, pois ela tem que pagar a matéria-prima, o capital e o trabalho que foram utilizados para chegar nesse produto.
Então, como o lucro é dado pela diferença entre receitas e custos (aprenderemos melhor isso na lição), a empresa tem que decidir o quanto ela terá de custo, qual a receita que espera obter para, assim, definir o máximo de lucro que pode obter. Esta é uma decisão muito similar que vimos com a teoria do consumidor, que dado a sua renda e os preços, decide quais produtos ou serviços adquirirá.
No caso da teoria da produção, a escolha é qual a quantidade de produto que será produzida que garantirá o máximo de lucro possível. Após o fim da lição, você estará apto a responder esta questão.
Como as empresas tomam suas decisões para obter o máximo de lucro possível? Já pensou sobre isso? Vimos no início de nossa disciplina, que a ciência econômica é a ciência da escolha. Por que este tema, a escolha, acaba sendo sempre presente nas discussões econômicas? Já vimos que, na teoria do consumidor, a questão a ser respondida era qual a escolha do consumidor para ter o máximo de utilidade. Quando vimos sobre externalidades, excedente do consumidor e do produtor, entre outros assuntos analisados, sempre o objetivo final era chegar em uma escolha.
Na teoria da produção não é diferente, pois empresas, assim como consumidores, utilizam alguns produtos e serviços, que são chamados de insumos, matérias-primas, fatores de produção. A diferença em relação ao consumidor é que empresas utilizam estes recursos não para consumo próprio, mas para produzirem outros bens e serviços para oferecer ao mercado.
O dono de uma padaria, por exemplo, não compra trigo para consumo pessoal, mas sim para produzir seus pães. Ele não compra fornos e contrata trabalhadores para fazer pão para seu consumo, mas sim para vender para a sociedade e, assim, obter lucro. Isso se aplica a toda e qualquer empresa, pois ela, ao contratar trabalhadores, comprar máquinas, construir instalações, está pensando no lucro final que terá.
É o lucro que motiva as empresas a produzirem, não fazem isso para atender à necessidade de consumo da população, mas sim porque sabem que podem ter ganhos monetários se conseguirem produzir e vender. Então, a análise econômica existe justamente para analisar qual será a decisão da empresa, ou seja, quanto ela produzirá para poder ter o máximo de lucro possível, considerando as receitas que têm ao vender, mas também os custos que têm ao contratar fatores de produção e matéria-prima para produzir esses produtos ou serviços que serão vendidos.
Depois da aula de hoje, você será capaz de entender um pouco mais sobre como funciona a “mente” de uma empresa, descobrindo quais são os fatores que influenciam sua decisão de produção e, consequentemente, de lucro.
Na presente lição, concluiremos um tema que há algumas aulas estamos construindo, o conteúdo sobre a teoria da produção. Espero que você entenda que a decisão por parte da empresa não é simples, pois ela tem que decidir o quanto produzirá e, para isso, tem que analisar a quantidade de fatores de produção que contratará, como cada fator contribuirá para a produção e quais serão os gastos da contratação dessa produção.
Vamos dar uma olhada em um trabalho científico realizado por Brito et al. (2017), que analisou se uma empresa, localizada em uma cidade no interior do Ceará, sabia qual a quantidade ótima a ser vendida para se obter o lucro máximo, ou, como dizem os economistas, a quantidade que maximiza o lucro.
No trabalho, os autores levantaram informações referentes à quantidade de fatores de produção e matéria-prima utilizadas pela empresa e fizeram todas as suas análises usando planilhas do Excel.
Primeiro, a partir da quantidade vendida e do custo de produzir os alimentos vendidos, os autores identificaram qual era a receita obtida pela empresa e qual os custos que ela possuía. Para levantar esses custos, os autores verificaram o preço de todos os insumos que eram utilizados para a produção dos alimentos (pizzas e pastéis). Após isso, verificaram qual era o lucro máximo que podia ser obtido, dado o preço dos produtos e seus custos de produção, assim como fizemos ao longo das últimas lições e você aprenderá de uma forma definitiva na presente lição.
Após identificado o lucro máximo que poderia ser obtido, que no dia era um total de R$459,00, eles perceberam que a produção e a venda estavam abaixo deste nível. Para alcançarem esse lucro máximo tinham que vender dez pizzas e dez pastéis, no entanto a quantidade atual verificada era de apenas cinco unidades de pizza e cinco de pastéis.
Dessa forma, após a identificação da quantidade que deveria ser vendida para se obter o lucro máximo, os autores, que assumiram papéis de consultores, recomendaram a utilização do marketing para divulgar mais os produtos para que a empresa pudesse, de fato alcançar o máximo de lucro.
Antes, porém, analisaremos algo importante referente a esta discussão. Nosso objetivo é verificar como as firmas fazem para obter o máximo de lucro possível. Essa definição, o máximo de lucro, na economia é conhecida como maximização dos lucros. Será que todas as empresas sempre objetivam maximizar seus lucros? A resposta é: não.
Vamos explicar. Para empresas de pequeno porte cujo dono é o gestor da empresa, é bem provável que, nesse caso, o objetivo final seja sempre o máximo de lucro. Mas empresas de grande porte, de capital aberto (que têm ações no mercado), os donos não são os administradores e gestores, e estes, por sua vez, raramente, têm contato direto com os proprietários da empresa. Por esta razão, os proprietários não têm total controle dos objetivos almejados pelo administrador, que, muitas vezes, pode estar mais preocupado em aumentar ao máximo a receita (que não é o lucro) para pagar bons dividendos para os acionistas e, assim, manter uma boa imagem da empresa. No entanto, a partir do momento em que a empresa para de ter lucros, possivelmente, o administrador será substituído. Ou seja, por mais que existam momentos em que o lucro não é o único objetivo, é razoável considerar que é o lucro a principal variável de interesse para uma empresa (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Tendo claro esta ideia, vamos, de fato, avançar no conteúdo e entender como as empresas maximizam seus lucros.
Em nossa análise sobre a escolha do produtor para maximizar seu lucro, analisaremos a quantidade produzida que gera esse lucro, sendo esta análise válida para qualquer empresa em qualquer tipo de estrutura de mercado (aprenderemos sobre estruturas de mercado em lições futuras).
Antes de mais nada, temos que entender o que é o lucro e como calculá-lo, não é mesmo? Não se preocupe, se você chegou até aqui, entenderá bem a equação matemática apresentada a seguir:
O que a equação (1) mostra, você consegue entender? A decisão de lucro da empresa está relacionada à quantidade de produtos que ela quer produzir para vender, não é mesmo? Então, quanto mais ela vender, maior o lucro, correto? Não. Se a empresa aumenta a produção, ela também aumenta os seus custos, como vimos em lições passadas. Assim, o lucro, representado pela letra grega pi (π), será determinado pela quantidade produzida (q) e é dado pela diferença da receita total R(q) menos os custos totais C(q) (VARIAN, 2012).
Como obtemos a receita total e o custo total? Vamos para um exemplo prático. Se você é dono de uma pizzaria e você a vende, na média, por R$ 30,00 cada pizza, se vender dez pizzas em uma hora, quanto de receita você obteve? R$300,00, isso mesmo, a quantidade vendida de dez multiplicada pelo preço de R$ 30,00. A receita sempre será dada pela quantidade vendida do produto ou serviço multiplicado pelo preço desse produto ou serviço (MANKIW, 2013). Se você prestar atenção, fica fácil perceber que a escolha que gerará o máximo de lucro é aquela em que exista a maior diferença entre a receita total e o custo total, não é mesmo? Vamos representar isso, graficamente, para ficar ainda mais fácil de entender?
Alguns pontos interessantes a serem percebidos na Figura 1. Quando a produção é zero, o custo é positivo. Você pode dizer por quê? Isso mesmo, por causa dos custos fixos. Mesmo a empresa não produzindo nada, ela tem que pagar seus custos fixos (como aluguel do barracão) (VARIAN, 2012). Em níveis baixos de produção, o lucro é negativo, pois as receitas geradas não foram suficientes para cobrir os custos (novamente, se o dono de uma padaria tem um custo de produção diário de R$ 900,00, se ele vender menos que esta quantidade, ele não terá lucro, mas sim prejuízo).
Perceba que, conforme a produção se eleva, a receita também começa a crescer de forma mais rápida que o custo, razão pela qual o lucro começa a ser positivo. Onde podemos perceber, no gráfico, o aumento do lucro? Observe que a linha azul representa a receita, a linha vermelha os custos, e a linha verde os lucros. Quando a linha do lucro (verde) está abaixo do eixo horizontal, ele é negativo, quando toca no eixo horizontal é igual a zero e vai subindo até um ponto máximo, representado pelo ponto C (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Veja que a curva do lucro se assemelha a uma montanha. Por coincidência ou não, quando o lucro está no máximo, ele está no pico da curva, ou seja, o ponto C. É esse ponto que nos interessa, pois veja que esse ponto de lucro máximo ocorre na quantidade denotada de Q*. Toda nossa construção de conhecimento sobre a teoria da produção é para descobrir este nível Q* de produção que faz o lucro ser o máximo possível.
Perceba, também, que, a partir do ponto A, a receita começa a cair, e a partir do ponto B, o custo começa a se elevar. Por consequência, um nível de produção acima de Q* não será mais o de máximo, pois a receita está diminuindo, e o custo está aumentando. O ponto Q lim representa uma quantidade produzida que o lucro é nulo (zero). Se a empresa produzir acima dessa quantidade limite, o lucro torna-se negativo. Mas qual a explicação para isso? Lembra quando vimos sobre a produção média e marginal do trabalho e do capital. Quando existe um fator fixo, aumentar a quantidade de um fator de produção aumentará a produção, mas até certo limite (lembre-se da ideia de dois fornos para dois padeiros e dois fornos para 50 padeiros) (MANKIW, 2013).
Este fato está diretamente ligado ao que vimos sobre os custos da empresa. Se uma empresa contratar mais trabalhadores, terá mais custos com salários, não é mesmo? Então, ela só contratará novos trabalhadores se eles forem capazes de aumentar sua produção. Perceba que tudo que vimos nas lições passadas eram peças de um quebra cabeça que, agora, se juntam e nos permitem entender qual o nível de produção escolhido que maximizará o lucro. Entendendo isso, você está apto a entender outra forma de se chegar no lucro máximo de uma empresa, mas, para isso, aprenderemos mais um conceito, o de receita marginal.
Você já deve estar acostumado com o termo marginal, não é mesmo? Já vimos o termo aplicado ao produto e ao custo. Quando, na economia, se usa o termo marginal, a ideia é sempre de verificar o quanto uma variável (produção, custo, receita, lucro etc.) aumenta em função do aumento unitário de outra variável.
Quando falamos em custo marginal, a ideia é entender o quanto aumenta o custo da empresa ao se produzir uma unidade a mais de produto (como vimos na lição passada). Aplicada à receita, a lógica é exatamente a mesma, ou seja, a receita marginal mede o quanto a receita aumentará ao se produzir uma unidade adicional de produto (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Veja que tanto a receita como o custo marginal são importantes, pois eles dirão como se comporta o custo e a receita de uma empresa quando se aumenta uma unidade a mais de produto. Está muito difícil de entender? Ilustraremos com nosso exemplo da padaria. Novamente, imagine que sua família é dona de uma padaria e cabe a você a responsabilidade de expandir a produção para aumentar os lucros. Do que já aprendemos, o que você considerará em sua análise? Primeiro: até que ponto mais trabalhadores ou fornos aumentarão a produção; segundo: o quanto aumentará o custo da padaria com essas novas contratações, e; terceiro: o quanto de receita será gerado por cada unidade a mais de pão feito.
A receita marginal, como anteriormente mencionado, mostrará o quanto a receita aumentará ao se vender uma unidade a mais de produto. Um ponto importante a ser considerado é que estamos assumindo que o preço de mercado dos produtos são os mesmos, ou seja, que estamos em uma economia de concorrência perfeita (como aprendemos em lições passadas) (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Esta hipótese pode parecer difícil de entender, mas, no fundo, não é, veja nosso exemplo da padaria. Por mais que padarias possam cobrar preços distintos por itens que vende na padaria, em uma mesma região onde a qualidade do pão não é muito diferente, o preço do pãozinho tende a ser o mesmo, pois, se for cobrado um preço acima da média, os consumidores comprarão pão em uma padaria mais barata (é isso que a maioria faria, não é mesmo?).
Tendo compreendido a receita marginal, temos todas as ferramentas para definir a regra que define o lucro máximo de uma empresa. Uma empresa escolherá uma quantidade de produção em que a receita marginal for igual ao custo marginal, pois, nessa quantidade, a empresa alcançará o lucro máximo (VARIAN, 2012; PINDYCK; RUBINFELD, 2013). Vamos analisar um exemplo com valores para ficar mais fácil a compreensão. Analise o quadro a seguir:
Veja que, como mencionamos, o preço do produto é estabelecido no mercado e é o mesmo para toda quantidade (desconsideraremos descontos pela quantidade). O preço cobrado pela nossa empresa hipotética é de R$240,00. Assim, para chegar na receita, para cada nível de produção, basta multiplicar a quantidade de produto pelo preço (por exemplo, ao se produzir cinco unidades e com o preço de R$240,00, a receita será de R$1.200,00). Veja que a receita marginal é dada pela variação da receita ao se aumentar uma unidade de produto (ao se produzir duas unidades, a receita aumenta R$240,00 em relação a produzir apenas uma unidade). Aqui, a regra fica clara, o nível de produção que gerará o lucro máximo é de seis unidades, pois com seis unidades o custo marginal é igual à receita marginal (ambos R$240,00), e o lucro é o máximo possível, de R$110,00.
Com esta análise, fechamos nossa teoria da produção e compreendemos, a partir da tecnologia de produção, que geram o produto, dos custos e da receita, qual a escolha da empresa em termos de nível de produção que maximizará seus lucros.
Com a presente lição, finalizamos um tópico muito importante na área da ciência econômica, pois vimos como as empresas decidem qual a quantidade produzida que maximiza seu lucro, ou seja, que gera o maior lucro possível.
Ainda que vivamos em um mundo onde vários fatores influenciam as decisões dos agentes econômicos, sendo eles empresas, consumidores, governo, setor externo (outros países), conhecer a teoria da produção faz de você um indivíduo mais preparado para a vida em sociedade, mesmo que sejam adotadas várias hipóteses para a construção da teoria. Em nosso estudo, por apenas apresentarmos os princípios básicos da teoria da produção, ignoramos o fator mercado consumidor. Assim como em nosso case, por meio da teoria da produção, descobrimos o quanto produzir para ter o lucro máximo, mas não estudamos se a empresa conseguirá vender a quantidade necessária para esse lucro máximo. No entanto isso é uma análise para outro momento, o importante é que você saia da disciplina tendo as noções básicas sobre a teoria da produção.
Para termos certeza de que você, aluno(a) entendeu, deixaremos para você o seguinte desafio. Preencha os campos que faltam na coluna a seguir e encontre qual a quantidade que gera o máximo de lucro (basta lembrar da nossa regrinha aprendida na seção conceitual da lição.
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BRITO, J. C. P. et al. A importância da maximização do lucro sem comprometer a quantidade de insumos de uma empresa do ramo alimentício – um estudo de caso em uma pastelaria em Caucaia, Ceará. In: MOSTRA DE PESQUISA EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 2017, Fortaleza. Anais[...]. Fortaleza, DeVry Brasil - Damásio - Ibmec, 2019.
MANKIW, N. G. Introdução à economia. Cengage Learning, 2013.
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. [S. l.]: Pearson Itália, 2013.
VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. [S. l.]: Elsevier Brasil, 2012.