Dando continuidade a nossos estudos sobre a teoria do consumidor, você aprenderá um pouco mais sobre este tema agora considerando o longo prazo.
Lembra de quando, em lições passadas, vimos que o que chamamos de curto e de longo prazo depende do tipo de empresa? Resgatando o que aprendemos, um vendedor de picolé, para dobrar suas vendas, teria o trabalho de apenas conseguir um novo carrinho e um novo vendedor (dobrar as vendas, não necessariamente o lucro, ok?). Agora, imagine uma empresa de grande porte, por exemplo uma montadora de carros. Para ela dobrar sua produção, terá que construir, pelo menos, um novo barracão, importar máquinas e equipamentos e contratar mão de obra qualificada ou mão de obra não qualificada e dar treinamentos. Concorda que todo este processo levaria um tempo? Na lição passada, vimos como as empresas escolhem a quantidade de trabalho que utilizarão em sua produção, pois naquela análise pensamos no curto prazo.
Na presente lição, trabalharemos considerando o longo prazo, ou seja, assumiremos que, para as empresas, todos os fatores de produção, aqui resumidos em trabalho e capital, podem variar. Talvez não tenha ficado claro, mas o longo prazo é o tempo que as empresas, não importa seu tamanho, têm tempo o suficiente para planejar a quantidade de fatores de produção que contratará a mais para seu processo produtivo, objetivando aumentar a produção total.
Uma peça chave do conteúdo da teoria da produção será visto nesta lição, que é a isoquanta, uma curva que mostra diferentes combinações de capital e de trabalho que geram o mesmo nível de produto. Lembra-se de quando estudamos sobre a teoria do consumidor e vimos as curvas de indiferença? A ideia da isoquanta é exatamente a da curva de indiferença, mas, agora, em vez de considerar dois bens que geram o mesmo tipo de utilidade, serão combinações de fatores de produção que geram o mesmo produto.
Esperamos que estejam animados para mais esta etapa, pois estamos quase finalizando nossa teoria da produção e já teremos visto sobre as decisões da empresa produzir, sua produção com um insumo variável. Agora, você aprenderá com dois insumos variáveis e, em breve, teremos todas as peças para montar nosso quebra cabeça e entender: qual a quantidade de fatores que a empresa escolherá para ter o máximo de ganhos?
Quais são os principais desafios que você, aluno (a), terá ao longo desta nossa lição? Primeiro, compreenderá o que muda na análise dos economistas e profissionais da gestão quando todos os insumos da empresa podem variar. Traremos esta discussão para sua realidade. Imagine que, em seu bairro, existe uma única padaria que atende toda a população. Mesmo existindo outras padarias mais distantes, a padaria do bairro é a escolhida por grande parte da população.
Agora, imagine que o governo lançou um projeto de habitação na cidade, e o seu bairro foi o escolhido para que se inicie a construção de 300 casas populares. Passado um ano, esta obra é finalizada, e o número de famílias em seu bairro aumentou em 300. O quão feliz ficaram os comerciantes do bairro, não é mesmo? E o dono da padaria então? Agora, ele terá mais 300 famílias que, provavelmente, comprarão com ele. No entanto, com esse novo contingente de consumidores, para poder atendê-los sem deixar faltar o pãozinho para os antigos moradores do bairro, ele tem que aumentar a produção. Como passou um ano para a construção das casas, ele teve tempo o suficiente para se preparar para comprar mais um forno, aumentar a padaria, colocando um espaço para alimentação dentro dela, mais algumas geladeiras para colocar bebidas, algumas prateleiras e, principalmente, trabalhadores, tanto para atender como para produzir os pães.
Agora a pergunta é: quanto ele deve investir? Quantas geladeiras comprar? Quantas prateleiras? Quantos novos trabalhadores? Perceba que, no período de um ano, ele pode fazer tal planejamento, mas se sua demanda aumentasse do dia para noite, ele não conseguiria fazer os ajustes/investimentos necessários, não é mesmo?
Na lição passada, vimos que no curto prazo a opção é aumentar o número de trabalhadores, mas como o produto marginal do trabalho é decrescente, porque o capital era fixo (dois padeiros operando um forno podem aumentar a produção, mas se forem 20 padeiros para apenas dois fornos, é perigoso até reduzir a produção, porque eles poderiam atrapalhar uns aos outros), existiria um limite para a quantidade de novos trabalhadores que contratar.
Em nossa atual lição, você entenderá como fazer esta mesma análise, mas, agora, considerando que tanto o trabalho como o capital podem ser aumentados, ou seja, colocamos mais uma variável em nossa análise. Está preparado(a) para o desafio? Vamos lá então aprender!
No case da presente lição, traremos um exemplo da realidade que temos visto e vivido nos dois últimos anos e como o conteúdo da lição pode ser muito útil, principalmente no aspecto de planejamento.
No momento de crise econômica que o mundo tem passado em função, principalmente, da pandemia da Covid-19, várias empresas viram suas portas fechar. Uma reportagem de agosto de 2021 trouxe os dados que foram divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), indicando que cerca de 600 mil empresas fecharam as portas no intervalo de dois anos. De acordo com os dados divulgados na notícia, em 2019, o Brasil tinha 4,369 milhões de empresas, e, em 2020, devido à pandemia, o número passou a cair, chegando a 3,788 milhões no segundo trimestre de 2021 (NADER, 2021).
De acordo com a reportagem, ocorreu uma baixa de 13,3%, e isso corresponde a cerca de 581,3 mil empregadores a menos, em um período de dois anos, e a redução, em termos percentuais, ficou atrás somente da categoria dos trabalhadores domésticos, que foi de 18,3% (NADER, 2021). No entanto, em 2021, de acordo com a VILELA (2022), o Brasil registrou um saldo positivo de mais de 2 milhões de novas empresas, em 2021, ou seja, nossa economia está se recuperando.
Estas novas empresas, além das que conseguiram permanecer abertas durante a pandemia, enfrentam um novo desafio, que é de se adaptar à nova realidade e também se organizar e decidir o tamanho do investimento a ser feito para produzir seus produtos e vender no mercado. Por essa razão, a presente lição é tão importante, pois veremos alguns fundamentos de decisão das empresas sobre quanto e quais fatores de produção serão contratados.
Estamos estudando, nas últimas lições, sobre a teoria da produção, que, assim como a teoria do consumidor, procura entender quais são as escolhas das empresas para que elas obtenham o máximo de ganho. Você está gostando de aprender como as decisões nas empresas são tomadas para poder produzir os bens e os serviços que, diariamente, toda a sociedade, incluindo você, consomem?
Na lição, continuaremos com o que vimos na lição anterior, mas, agora, considerando o longo prazo. Vimos que, por definição, o longo prazo é definido como o período em que todos os insumos (fatores de produção) da empresa são variáveis. Lembra que na lição passada fizemos um exemplo em que sua família era proprietária de uma padaria, e coube a você expandir a produção? Na lição passada, como estávamos considerando o curto prazo, o único fator que poderia ser adquirido era o trabalho, pois demoraria um tempo para adquirir novas instalações ou novos fornos. Agora, imagine que você tem o tempo necessário para expandir a produção, seja contratando novos trabalhadores seja expandindo seu capital. Sua decisão agora é outra, pois tem mais opções de escolhas, não é mesmo?
Com os dois fatores podendo variar, ou seja, você podendo alterar a quantidade tanto de trabalhadores como de capital em nossa padaria hipotética, terá diferentes combinações de trabalho e capital. No Quadro 1, é apresentado um resumo de possíveis combinações dos dois fatores (imagine que o capital representa a quantidade de fornos).
A produção resultante de cada combinação de capital e trabalho gerará o máximo possível em determinado período. Vamos supor que, analisando o Quadro 1, vemos que três unidades de capital e uma de trabalho fornecem um produto de 55 unidades de pães por hora. Mas o que é interessante notar do Quadro 1? Veja que, se olharmos na linha (quantidade de capital), à medida que aumentamos a quantidade de trabalho, aumenta o produto, e se olharmos na coluna (quantidade de trabalho), à medida que aumentamos capital, a produção total também aumenta (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Lembre-se de que em lições anteriores representamos, graficamente, valores presentes em Tabelas e Quadros? Então, este é um hábito dos economistas. As informações do Quadro 1 podem ser expressas, por meio de um gráfico e de uma curva muito importante, a isoquanta. Por definição, uma isoquanta é a curva que mostra as combinações de insumos que geram a mesma quantidade de produto total (é exatamente a mesma ideia da curva de indiferença que vimos quando estudamos a teoria do consumidor, mas agora voltado para a análise do produto) (PINDYCK; RUBINFELD, 2013; VARIAN, 2012). A Figura 1 traz a representação de isoquantas tiradas do Quadro 1.
Pela definição dada anteriormente, a isoquanta Q1 mostra todas as combinações de trabalho e capital que geram a mesma quantidade de produção (pães por hora, seguindo nosso exemplo). Os pontos A e E dessa isoquanta estão no Quadro 1. O ponto A é a combinação de um trabalhador e três unidades de capital, enquanto o ponto E é dado pelo uso de uma unidade de capital e três de trabalho. Já a isoquanta Q2 mostra todas as combinações de capital e trabalho que geram um produto de 75 unidades, por exemplo, no ponto B a combinação é dada por três unidades de capital e dois de trabalho. Consegue perceber que o gráfico e as isoquantas nada mais são do que um resumo mais visual dos dados do Quadro 1?
O que de curioso você consegue observar na figura, além do já mencionado? Veja que quanto maiores as proporções de capital e trabalho, maior é a produção total, motivo pelo qual a isoquanta Q3, na Figura 1, é a curva mais alta, porque é a que possui as mais combinações de capital e trabalho que geram uma produção de 90. No ponto C, da isoquanta Q3, o produto de 90 unidades de pães é obtido por meio de três unidades de capital e de trabalho, enquanto o ponto D usa cinco unidades de capital e duas de trabalho.
Vamos imaginar novamente, assim como na lição passada, que sua família possui uma padaria e o colocou como o responsável pelo aumento da produção. Qual seria, na sua opinião, a forma mais rápida para conseguir este aumento? Aumentar a quantidade dos fatores de produção utilizados, não é mesmo? Tanto a isoquanta como a função de produção vista na aula passada mostram esta mesma realidade, mas de formas diferentes, pois ambas mostram que quanto maior a quantidade de fatores de produção, maior será o produto final obtido. Ou seja, quanto mais à direita estiver a isoquanta, maior será a produção (VARIAN, 2012).
Note, porém, que nem sempre é fácil obter capital ou trabalho nas proporções desejadas, este é um dos motivos pelo qual a isoquanta é útil, pois ela mostra diferentes combinações possíveis que geram o mesmo nível de produção, ou seja, mesmo não tendo a quantidade necessária de um dos insumos, mas tendo outro em abundância, é possível chegar na mesma produção final. Imagine uma indústria que precise aumentar a quantidade de trabalhadores para aumentar a produção (PINDYCK; RUBINFELD, 2013). Em uma situação de escassez de trabalho, a indústria pode adquirir máquinas mais produtivas e eficientes, de modo que, sem aumentar, consideravelmente, a contratação de trabalho, consegue mesmo assim aumentar sua produção.
Um ponto que vale a pena ser frisado, que já vimos na lição passada, é que a lei dos retornos marginais decrescente também pode se aplicar no longo prazo. Mesmo com trabalho e capital podendo variar livremente, essa lei ainda é verificada, pois, ao se aumentar um insumo, por exemplo o trabalho, mantendo constante o capital, a produção adicional do trabalho será crescente, mas em proporções decrescentes. Mas por quê?
Relembrando o que vimos na lição passada, se a empresa aumentar muito a quantidade de um fator de produção e o outro não, haverá desperdício (MANKIW, 2013). Considerando que um padeiro necessite de apenas um forno, dois fornos podem até aumentar sua produção, mas não será algo expressivo. Agora, imagine mais dez fornos, qual será a utilidade para esse único padeiro (trabalhador)? A lógica contrária também é válida, se cada padeiro opera um único forno e, admitindo que a padaria só possua um forno, contratar outro padeiro poderia aumentar a produção, mas a partir do 10° padeiro, ele acabaria atrapalhando, não é mesmo?
Agora que você, estudante, sabe o que é uma isoquanta e a relação dos insumos para produção, chegamos a uma parte muito importante do conteúdo. Está preparado? Temos certeza de que sim.
Aprendemos que a isoquanta mostra as combinações dos insumos que geram o mesmo produto, certo? Mas o que isso quer dizer? Se estamos afirmando que são combinações que geram o mesmo produto, então, os insumos, o capital e o trabalho são substituíveis. Essa possibilidade de substituição é que define o formato da isoquanta (VARIAN, 2012). Os economistas chamam esta proporção de substituição entre insumos, ou seja, quanto se deve desistir de um insumo para aumentar em uma unidade a utilização de outro, de Taxa Marginal de Substituição Técnica (TMST). Assim como vimos a curva de indiferença e a TMS, lá na teoria do consumidor, aqui, na teoria da produção, temos suas contrapartidas, isoquanta e a TMST. A fórmula matemática da TMST é bem simples, como pode ser observado na equação a seguir:
TMST = Variação do insumo capital / variação do insumo trabalho (1)
Como podemos aplicar isso a tudo que aprendemos até o momento? Veja que, quando o trabalho aumenta de uma para duas unidades, com a produção fixa em 75, a TMST será igual a dois (desiste-se de duas unidades de capital para ter uma a mais de trabalho), mas, quando o trabalho vai de duas unidades para três, a TMST agora é de um (desiste-se de apenas uma unidade de capital para ter mais uma de trabalho). O que podemos entender a partir do que o gráfico da isoquanta nos mostra? Se pensou que a TMST é decrescente, acertou. Quando desistimos de capital para ter mais trabalho, é que o trabalho é escasso, e o capital abundante. À medida que trocamos o capital por quantidades cada vez maiores de trabalho, o capital começa a ficar escasso, enquanto que o trabalho começa a ficar abundante. Logo, a TMST é descrente ao longo da curva (grave isso, pois é muito importante para as próximas lições) (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Voltemos ao nosso exemplo da padaria. Se você, gestor da padaria da família, tem liberdade para trocar capital por trabalho, apenas faria esta troca se tivesse muitos fornos e poucos trabalhadores, não é mesmo? Se a padaria tem capacidade de contratar mais padeiros, pois há fornos em abundância, faz sentido não comprar mais fornos e contratar padeiros, não é mesmo? Mas a partir do momento que você tem muitos trabalhadores em sua padaria, não vale mais a pena trocar seu capital (que supomos ser o dinheiro para adquirir novos fornos), por mais trabalhadores, porque já estão em uma proporção adequada para a expansão da produção.
Basicamente, uma TMST decrescente apenas nos mostra que a produtividade dos fatores de produção é limitada, motivo pelo qual as empresas precisam escolher uma boa combinação dos fatores que serão utilizados (VARIAN, 2012).
Na lição que acabamos de ver, demos um grande salto de conhecimento. Concorda? Você aprendeu um conceito novo que, provavelmente, não conhecia, a taxa marginal de substituição técnica (TMST), além da isoquanta.
A TMST é uma forma matemática não complexa de apresentar quanto se deve desistir de um fator de produção (trabalho por exemplo) para aumentar em uma unidade a utilização de outra (no caso capital). Vimos também que, como todas as áreas da economia, é possível apresentar o mesmo conceito mais de formas diferentes. Uma forma de apresentar as combinações de trabalho e capital, além de um quadro, é por meio de uma curva, chamada isoquanta.
Na isoquanta, o que temos são diversas combinações de capital e trabalho (os fatores de produção mais comuns e que consideramos em nossa lição) que gerarão o mesmo nível de produção. Além disso, vimos que a TMST tem uma relação muito direta com isoquanta, pois à medida que trocamos o capital por trabalho, o capital começa a ficar escasso, enquanto que o trabalho começa a ficar abundante. Ou seja, a TMST será decrescente ao longo da curva, porque à medida que se desiste de capital, este fator de produção fica mais escasso, fazendo com que valha cada vez menos trocá-lo para se obter mais trabalho.
Talvez, você esteja se perguntando: mas como aprender a interpretar um gráfico (isoquanta) e uma fórmula (TMST) será útil para minha vida? Lembre-se: a teoria da produção, assim como a teoria do consumidor, tem que ser construída em etapas. O que aprendemos na lição será útil em lições futuras, quando formos aprender, de forma definitiva, como as empresas escolhem a quantidade de fatores de produção que utilizarão em sua produção. Esperamos que esteja gostando do conteúdo que estamos vendo, pois além de estarmos aprendendo coisas novas, estamos abrindo nossos horizontes de conhecimento para áreas que, direta e indiretamente, afetam nossa vida, e entender o lado da produção (oferta) é tão importante quanto conhecer o lado do consumo (demanda).
Para aprofundarmos um pouco mais o conteúdo que estamos vendo, veja a breve animação presente no link a seguir, que faz um resumo de tudo que já aprendemos sobre a teoria da produção e tudo o que vimos sobre produção e fatores de produção.
Clique aqui, teste seus conhecimentos sobre esta lição e confirme sua participação nesta disciplina!
MANKIW, N. G. Introdução à economia. São Paulo: Cengage Learning, 2013.
NADER, D. Cerca de 600 mil empresas fecharam as portas durante a pandemia. Contábeis, 20 set. 2021. Disponível em: https://www.contabeis.com.br/noticias/48730/cerca-de-600-mil-empresas-fecharam-as-portas-durante-a-pandemia/. Acesso em: 18 mar. 2022.
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. São Paulo: Pearson Itália, 2013.
VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil, 2012.
VILELA, P, R. Brasil registra saldo positivo de 2,6 milhões novas empresas em 2021. Agência Brasil, 2022. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2022-02/brasil-registra-saldo-positivo-de-26-milhoes-novas-empresas-em-2021. Acesso em: 11 maio 2022.