Seja muito bem-vindo(a) ao nosso segundo trimestre do Curso Técnico em Administração, à disciplina Introdução à Economia. Espero que esteja gostando da nossa disciplina. Já aprendemos, em lições passadas, sobre os princípios da economia, economia como ciência, conceitos, como externalidades, excedente do consumidor e do produtor e finalizamos o semestre passado com a teoria do consumidor, dando início às análises sobre como as decisões de consumo são tomadas pelos indivíduos.
Na presente lição, continuaremos com o que aprendemos nas lições anteriores referente à teoria do consumidor. Daremos mais um passo em direção à análise do comportamento do consumidor, pois ainda existe um fator muito importante que ainda não foi considerado em nossas análises. Vale frisar que, referente ao conteúdo dessa teoria, já estudamos sobre as preferências do consumidor, os tipos de bens na economia, a curva de indiferença e a Taxa Marginal de Substituição Técnica – (TMS). Você se lembra?
Um ponto que ainda não foi considerado, e que você, um(a) aluno(a) curioso(a), talvez tenha se questionado, é o seguinte: Bom, já vimos sobre as características de consumo por meio da curva de indiferença e da TMS. No entanto também aprendemos que a economia é a ciência da escolha, pois temos várias necessidades, mas os recursos (dinheiro e tempo) são escassos. Cadê esta realidade em nosso estudo, ou seja, o consumidor não tem nenhuma restrição, pode comprar infinitamente a quantidade de bens e serviços que desejar?
Para quem pensou isso, parabéns. De fato, existe sim uma limitação de poder de compra dos indivíduos, e essa limitação é conhecida como restrição orçamentária. A restrição orçamentária é justamente o que temos de recursos financeiros (dinheiro) em nossa posse e que usamos para comprar os produtos e os serviços. Você pode pensar em restrição orçamentária como o salário recebido, pois é a partir dele que se deve decidir o quanto será destinado ao consumo.
Na aula de hoje, daremos o passo final no que diz respeito a teoria do consumidor, pois aprenderemos como a restrição orçamentária influencia a decisão de consumo dos indivíduos em sociedade. Após a lição de hoje, partiremos para a análise, agora, com todos os elementos, de qual será a escolha do consumidor a partir de suas preferências, os preços dos bens e sua renda/salário.
Você já parou para pensar porque seus pais, familiares, amigos e colegas, ou mesmo você, compra determinados produtos e serviços? Talvez sua resposta seja que o que determina o consumo é, unicamente, o gosto. Essa resposta não está totalmente errada, mas uma deixo algumas perguntas: os preços dos produtos também não influenciam? Produtos mais caros acabam passando por maior análise do que os mais baratos, não é mesmo? E a renda, ou salário, mesada, que você tem, ela também não influencia seu consumo?
Será justamente esta análise que aprenderemos na lição de hoje, sobre a restrição orçamentária que todo o consumidor enfrenta ao adquirir produtos ou serviços. Nosso foco nas últimas lições foi analisar como os economistas estudam o comportamento do consumidor, ou seja, como as decisões de consumo são tomadas por parte indivíduos da sociedade. Já parou para pensar que existe uma relação muito direta entre preços dos produtos, renda e a escolha fina do consumidor? Imagine que você é esse consumidor, quanto maior sua renda, maior é sua capacidade de adquirir bens e serviços, não é mesmo? No entanto, mesmo se sua renda for muita alta, ainda assim haverá limites para o que você pode comprar, pelo menos em quantidade. Pessoas com renda mais baixa têm menor poder de compra e decidem por consumir produtos e serviços mais próximos de seu poder aquisitivo.
Após nossa lição, você será capaz de entender de que forma a renda afeta o consumo, uma vez que dados os preços dos produtos, esperamos que nosso consumidor racional tome a melhor decisão para atender às suas necessidades. Aprender sobre a restrição orçamentária é compreender a última peça que falta para fecharmos a teoria do consumidor, pois já vimos sobre as cestas de mercado, mostrando os produtos disponíveis para consumo; as hipóteses sobre as preferências para entendermos as possíveis ações do consumidor e, agora, veremos como a renda limita essa escolha, fazendo com que o consumidor faça a melhor escolha possível.
Esperamos que você saia desta lição entendendo a importância da renda e dos preços para a decisão do consumidor, além de compreender como as variações no preço dos produtos em estudo e na renda impactam a escolha a ser tomada.
Veremos em nossa lição como a restrição orçamentária limita a decisão de consumo dos indivíduos, e isso porque, como a renda é um fator que condiciona a aquisição dos bens e dos serviços, é necessário que a decisão de consumo seja a melhor possível, considerando os preços dos produtos e serviços e a renda que o indivíduo possui. Para que você, estudante, possa perceber o quão importante é a restrição orçamentária no momento de decidir o consumo e também o planejamento de consumo, daremos uma olhada no case a seguir.
Imagine que você trabalha em uma grande empresa que tem interesse em abrir uma filial em determinada cidade. Para isso, os gestores o(a) selecionou para fazer as campanhas de marketing de uma grande empresa, mas, antes, você deve realizar uma pesquisa de mercado e analisar qual o preço que os consumidores pagam em determinado produto que a empresa que você trabalha tem interesse em começar a ofertar, por meio desta nova filial. No entanto, ao fazer sua pesquisa, você percebeu que o preço não é o principal fator que determina o consumo, pois você pode verificar que a cidade possui duas regiões muito distintas em termos de renda, ou seja, uma muito pobre, com pessoas com uma renda pequena, e outra muito rica, que possui uma renda muito elevada.
Dessa forma, neste contexto, você percebeu que a política de preço deve considerar estes dois locais porque, na região com maior renda, é possível produzir uma linha de produtos com maior valor agregado, ou seja, com maior preço, porque esta população terá condições de adquirir esse produto. Já na região com menor renda, é necessário que a empresa adote uma política de preços menos agressivos, porque, como a renda é inferior, se forem cobrados os mesmos preços da região com alta renda, é provável que os produtos a serem lançados não sejam vendidos.
Veja que nos planos da empresa em divulgar um novo produto ela teve que levar em consideração como a renda afeta o consumo. Por esta razão, é tão importante que se saiba como a renda influencia a decisão de consumo, pois isso garantirá maior sucesso no planejamento e nos projetos. Além do mais, conhecer a restrição orçamentária de um indivíduo mostrará como ele faz suas análises entre quais produtos adquirir, visto que, como sua renda é limitada, sua decisão dos itens que comprará tem que ser a melhor possível, pois será com esses produtos que ele poderá atender às suas necessidades de alimento, vestuário, lazer etc.
O case o(a) deixou curioso(a)? Assista ao vídeo, a seguir, para conhecer um pouco mais sobre essa história:
Nas duas lições anteriores de nossa disciplina, demos início ao estudo do comportamento do consumidor, tendo estudado um pouco sobre as cestas de mercado, a curva de indiferença, a taxa marginal de substituição e como os economistas esperam que sejam as escolhas do consumidor em termos de decisão da quantidade dos produtos a serem consumidos. No entanto ainda falta um componente muito importante que, talvez, um leitor um pouco mais curioso tenha percebido. Vimos que a economia é a ciência da decisão, da escolha, e isso porque os desejos são ilimitados, mas os recursos, principalmente o dinheiro, é escasso, então, um componente da decisão é justamente a limitação, ou restrição, de renda que os consumidores possuem (MANKIW, 2013).
Na presente lição, avançaremos um pouco mais na teoria do consumidor, teoria da economia que estuda o comportamento de consumo das pessoas, analisando, agora, como a restrição da renda afeta as decisões de consumo. Após entendermos o conteúdo desta lição, na próxima, fechamos essa teoria analisando, de forma conjunta, as preferências e os tipos de bens da economia e a restrição orçamentária para, dessa forma, podermos entender como economistas analisam o comportamento dos consumidores em termos de decisão de consumo.
Como você já deve ter percebido, economistas usam de simplificações para poder fazer suas análises. Dessa forma, para entendermos como analisar a restrição orçamentária, imaginaremos um consumidor hipotético, que tem uma renda (salário) total que chamaremos de R, que ele pode gastar apenas em dois bens, alimento (A) e vestuário(V). Os preços desses dois produtos serão representados por PA, preço do alimento, e PV, preço do vestuário. Então, se o preço do vestuário for, por exemplo, R$5,00, e ele comprar quatro unidades, terá um gasto de R$20,00 com vestuário (R$5,00 x 4 = R$20,00).
Entendida a relação de preços, quantidade e renda, a linha orçamentária, também chamada de linha de orçamento, ou linha da restrição orçamentária, indicará todas as combinações de alimentos e vestuários em que toda a renda é gasta, de forma que:
Ou seja, a equação apresentada, que é uma representação da linha orçamentária, mostra que toda a renda do nosso consumidor é gasta ou em alimento ou em vestuário (PINDYCK; RUBINFELD, 2013). Um exemplo numérico talvez possa ajudá-lo. Imagine que cada unidade vestuário custe R$5,00, e que cada unidade de alimento custe R$10,00. Então, se nosso consumidor possuir apenas R$15,00 de renda, ele pode comprar apenas uma unidade de vestuário e uma unidade de alimento. Se a renda for de R$30,00, ele pode adquirir duas unidades de vestuário e duas de alimentos (R$5,00 x 2 + R$10,00 x 2 = R$30,00), ou ele pode adquirir quatro unidades de vestuário (R$5,00 x 4 = R$20,00) e uma única de alimento (R$10,00x 1 = R$10,00), que também gastaria os R$30,00 de renda (R$20,00 + R$10,00).
Assumindo que nosso consumidor tenha uma renda semanal de R$80,00, no Quadro 1, têm-se possíveis combinações de cestas de mercado (lembre-se de que estudamos sobre cestas de mercado em lições passadas), assumindo que o preço do alimento é de R$1,00 e do vestuário R$2,00.
Quadro 1 - Possíveis combinações de consumo de vestuário e alimento possuindo uma renda de R$80,00 / Fonte: adaptado Pindyck e Rubinfeld (2013).
Veja que, em cada cesta de mercado, a renda de R$80,00 é totalmente utilizada. Na cesta A, o consumidor adquire 40 unidades de vestuário, mas como cada vestuário custa R$ 2,00, 40 x R$2,00 = 80, ou seja, não sobrou dinheiro para comprar alimento. À medida que o consumidor quer consumir alimento, ele tem que reduzir as unidades de vestuário, até o ponto em que, se quiser consumir 80 unidades de alimento, que custam cada um R$1,00, não será possível comprar vestuário (no caso, a cesta E). Mas fica a questão: e a linha orçamentária? Para alunos(as) que se perguntaram isso, a resposta está logo a seguir, na Figura 1. Perceba que a linha vermelha representa a coluna 4 do Quadro 1, ou seja, indica apenas que para todas as cestas de mercado possíveis, toda a renda é gasta, seja somente em vestuário (cesta A), somente em alimento (cesta E) em alguma combinação dos dois produtos (cestas B, C e D).
Figura 1 - Linha orçamentária/ Fonte: adaptada Pindyck e Rubinfeld (2013).
Perceba que, à medida que se aumenta a quantidade de alimentos, reduz a quantidade de vestuário, pois, como a renda (os recursos) é escassa, é necessário desistir de um pouco do consumo de vestuário para obter um pouco mais de alimentos, e vice-versa (VARIAN, 2012). A questão que temos que entender é a seguinte: a partir dos preços, das quantidades dos dois bens e da renda, o quanto devemos deixar de consumir de vestuário para termos mais consumo de alimento? Esta resposta é obtida fazendo uma simples operação matemática. Não se preocupe, é bem simples de se chegar neste resultado e, para isso, usaremos a equação (1) já apresentada anteriormente.
Dividiremos os dois lados da equação por PV e teremos:
Resolveremos de forma que, no lado esquerdo da equação, fique apenas V. Como o segundo termo da equação tem PV no numerador e no denominador, podemos dizer que PV/PV = 1 (imagine que o preço do vestuário é de R$5,00, então, R$5,00 / R$5,00 é igual a 1). Vamos lembrar que, para mudarmos termos de um lado de uma igualdade para outro, “jogamos” o termo de um lado para outro, invertendo a operação, ou seja, se é mais (positivo), vai para o outro lado menos (negativo), e vice versa, se for multiplicação, vai para o outro lado dividindo, e vice versa. Assim, resolvendo a equação (2) para deixar apenas V do lado esquerdo, teremos:
A equação (3) é a representação da linha orçamentária. Um ponto a ser destacado. Como pode ser visto na Figura 1, a linha orçamentária possui inclinação negativa, ou seja, é descendente. O termo da equação (3) que indica essa inclinação é - PA/PV. Veja que o sinal que acompanha a divisão é negativo, logo, a inclinação da linha orçamentária é dada pela divisão dos preços das duas mercadorias. Para se obter o máximo de consumo de um dos produtos, basta dividir toda a renda pelo preço do produto. Veja que, no eixo vertical, na cesta A, temos o valor de 40 unidades de vestuário e 0 de alimentos, se dividirmos toda a renda (R) de R$80,00 pelo preço do vestuário (V) de R$2,00, teremos justamente R$80,00 / R$2,00 = 40 unidades de vestuário (a mesma lógica para o eixo horizontal que indica 80 unidades de alimentos, mas 0 de vestuário, você consegue fazer esta conta?) (VARIAN, 2012).
Agora que você sabe o que é uma linha orçamentária e como ela é uma forma de representar o consumo de dois produtos de forma que toda a renda seja utilizada, ficará mais fácil entender dois outros aspectos que podem acontecer que afetarão o consumo. No mundo em que vivemos, os preços não são sempre constantes não é mesmo? Em poucos dias ou semanas, os preços podem aumentar ou diminuir. Da mesma forma, podemos conseguir uma promoção em nosso emprego e termos uma elevação da nossa renda, ou, também, o caso contrário, por algum motivo termos uma redução salarial (comum para quem perde o emprego e aceita outro, mas sabendo que terá um salário menor) (MANKIW, 2013).
A questão que fica é: como as alterações nos preços dos produtos e variações na renda afetam a linha orçamentária? É isso que aprenderemos agora.
Considerando que apenas um dos produtos considerados em nossa lição (vestuário e alimentos) sofrerá alteração no preço, como ficará a linha orçamentária? A Figura 2 (a) mostra isso. Considerando, por exemplo, que o preço do alimento caia para R$0,50, qual será o comportamento da linha orçamentária? Como indicado na Figura 2 (a), a interseção da linha orçamentária com o eixo horizontal se deslocará para a direita, enquanto que a interseção da linha orçamentária com o eixo vertical não se altera (pois apenas o preço do vestuário reduziu). Mas por que isso acontece? A resposta é intuitiva. Uma redução no preço do bem estimula seu consumo (lembra-se da lei da demanda vista em lições anteriores)? Se houvesse um aumento no preço do bem A, também haveria uma mudança da linha orçamentária com o eixo horizontal, mas agora para a esquerda (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
Figura 2 – (a)Efeitos da variação de preço; (b)renda sobre a linha orçamentária
Fonte: adaptada Pindyck e Rubinfeld (2013).
Já no gráfico (b) da Figura 2, o que temos é o comportamento da linha orçamentária quando ocorre variação na renda. Inicialmente, tínhamos uma renda de R$80,00, representada pela linha vermelha. Se houver um aumento da renda, por exemplo, para R$100,00, toda a linha orçamentária se desloca para a direita, aumentando o poder de compra do consumidor (representada pela linha orçamentária azul). Caso ocorra uma redução da renda, a linha orçamentária se desloca para a esquerda, reduzindo o poder de compra do consumidor, pois com menos renda se consome menos produtos (no gráfico, representado pela linha orçamentária laranja).
Ficou interessado(a) sobre esse tema? Clique no play, a seguir, e assista ao vídeo:
Na presente lição, você aprendeu como a renda é um fator importante na questão da escolha do consumidor, pois quanto maior for a restrição orçamentária, ou seja, quanto menor a renda, menor é a quantidade de bens e serviços a que o consumidor pode ter acesso. Vamos concluir a presente aula com uma recomendação de vídeo e um pequeno desafio para aprofundar seu conhecimento sobre o conteúdo aprendido na lição.
Antes, porém, é importante que tenha ficado claro que a renda é um dos principais elementos na hora de uma pessoa adquirir um produto ou um serviço. Mesmo que, nos tempos atuais, seja possível a pessoa pegar dinheiro emprestado no banco, se endividar no cartão de crédito ou nos antigos talões de cheques, é esperado que pessoas racionais não gastem além do que recebem (lembrando que as compras podem ser parceladas, aliviando um pouco as contas). Por esta razão, diversos pesquisadores na área da economia e também administradores de empresas têm grande interesse nessa área, pois, sabendo como é a renda de uma região, melhor será o planejamento de uma empresa em lançar um novo produto, como visto em nosso estudo de caso. Se a renda da população for baixa, não fará muito sentido querer vender itens de luxo nessa região, não é mesmo? Isso porque as chances dessa população comprar são pequenas.
Da mesma forma, regiões com maior nível de renda têm maior liberdade de consumo e podem adquirir produtos com preços mais elevados, por terem esta condição. Por esta razão, sempre que você, estudante, pensar em restrição orçamentária, imagine empresários em uma mesa de reunião debatendo quais serão as estratégias de lançamento de novos produtos ou abertura de novas filiais.
Como dito no primeiro parágrafo, deixaremos um breve vídeo (ver link) que vale a pena assistir, pois é uma apresentação da Turma da Mônica ensinando assuntos muito interessantes sobre práticas do dia a dia que envolvem a renda que temos e as formas que as gastamos. Além disso, desafiamos você a conversar com seus pais ou responsáveis sobre como a renda da sua casa é gasta. Veja com eles qual é a renda total da família e pergunte como ela é gasta, ou seja, quanto é destinado à alimentação, ao combustível, à educação, ao aluguel etc. Assim, você conhecerá qual o nível da restrição orçamentária da sua casa.
Clique aqui, teste seus conhecimentos sobre esta lição e confirme sua participação nesta disciplina!
MANKIW, N. G. Introdução à economia. São Paulo: Cengage Learning, 2013.
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. São Paulo: Pearson Italia, 2013.
VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil, 2012.