- Olá, Senhor Padre, uma coisa que ouço a algumas pessoas é que não precisam de se confessar a um padre, porque se confessam diretamente a Deus. Isto pode-se dizer e fazer?
- Não, João. Eu também já ouvi isso e só posso dizer que é um disparate dizer uma coisa dessas, é um grave erro na vivência da reconciliação com Deus e com a Igreja, e é até um abuso para com Deus e para com a Igreja.
- Porquê?, Senhor padre? Gostaria que me explicasse.
- É um assunto que toca vários aspetos e vou tentar sintetiza-los. Em primeiro lugar, não esquecer que foi Jesus que instituiu o Sacramento da Confissão, para podermos reestabelecer a nossa relação com Deus e com a Igreja, pelo perdão dos pecados. Não foi a Igreja que inventou. E não temos o direito de desprezar o que Jesus instituiu. Disse Jesus: «Recebei o Espírito Santo: àqueles quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos». A igreja, mediadora de Jesus no mundo, recebeu o poder, que exerce em nome de Jesus, de perdoar os pecados. Não há outra maneira de receber o perdão de Deus senão através do Sacramento da Confissão. A partir do momento em que aceitas ser filho de Deus e discípulo de Jesus na Igreja e com a Igreja, a tua relação com Deus tem de passar sempre pela Igreja. Já não existes tu sozinho. Jesus deu-nos o poder de perdoarmos os pecados uns aos outros, mas não de nos perdoarmos a nós mesmos.
- Mas se rezo a Deus, porque é que não posso pedir-lhe diretamente perdão?
- João, podes e deves sempre rezar e falar com Deus e podes pedir-lhe perdão dos teus pecados, mas isso não te dá o perdão dos pecados. Repara nas muitas questões que se levantam: diante de Deus, como é que sabes o que é pecado e o que não é pecado? Tu tens toda a sabedoria para ajuizar sobre isso? Até que ponto estás mesmo a falar com Deus ou te estás a ouvir a Ti mesmo? Como é que sabes qual é a gravidade do que fizeste? Como é que sabes que Deus te perdoou? Depois , não esqueças que é preciso empreender um caminho de conversão e de reparação do mal que fizeste. Que penitencia ou sentença dás a ti mesmo? Então fazes de juiz e dás a sentença a ti mesmo? Imagina se isso acontecesse num tribunal. E também não esqueças que o teu pecado manchou a Igreja e causou mal aos outros. Tens de lhe pedir perdão. Para evitarmos toda esta confusão e todos estes erros, Jesus instituiu o Sacramento da Confissão, para recebermos o perdão dos pecados. Não há outra forma de o obter.
- Estou a perceber, Senhor Padre. Há quem diga também que não tem sentido um pecador confessar-se a outro pecador.
- Dizes bem, o padre é um pecador também , mas no sacramento da Confissão não estás a falar com o padre, estás a falar com Jesus, de quem o padre é representante. É jesus quem te absolve e te lança numa vida nova.
- Pois, exatamente, Senhor Padre.
- Quando ouvires alguém dizer aquilo, diz-lhe que aquilo nem se diz, nem se faz. É um abuso da nossa parte, para com Deus e para com a Igreja, a quem desprezamos nesta situação. Vive numa relação ilusória com Deus. Nunca nada chega a Deus ou vem de Deus até nós sem a Igreja. Nós somos seres sociais e precisamos de sinais sensíveis para vivermos a vida, como são os sacramentos que Jesus instituiu. S. Agostinho usava a imagem da reanimação de Lázaro. Jesus reanimou o seu corpo, mas depois pediu aos discípulos que lhe tirassem as faixas. É o que acontece na confissão: Jesus perdoa, mas não dispensa o trabalho dos ministros da Igreja. Através deles, recebes o perdão.