Noto que, cada vez com mais insistência, se começa a questionar o baptismo das crianças, porque, segundo dizem, é um atentado à sua liberdade. Um ou outro pai já me confidenciou que vai deixar essa decisão para o filho, quando for adulto. Não se sentem no direito de lhe impor algo sobre o qual um dia pode vir a discordar. O filho, mais tarde, pode não querer seguir a Igreja Católica. Até lá, vai andando às quatro pancadas. Alguma modernidade bem-pensante, muito sensível à liberdade individual, considera que é mesmo abusivo, até mesmo violento, o baptismo de crianças. Este nosso mundo moderno está cada vez mais incompreensível: ora achamos que temos todos os direitos, ora achamos que não temos direitos nenhuns. Será que quando não queremos baptizar o nosso filho, estamos mesmo a pensar na sua liberdade? Então se assim é, temos de ser mais coerentes: não se lhe dá um nome, o rapaz pode não gostar do nome que lhe deram; não o obriguem a ir à escola, o miúdo pode não querer estudar e, às vezes, até tem de ir para um curso que não gosta, mas que agrada aos pais; não o intoxiquem com propaganda futebolística para ser do mesmo clube do pai ou da mãe; não o obriguem a comportar-se como deve ser, não vá o miúdo apanhar algum complexo ou ficar traumatizado. Quem são os pais para lhe dizerem o que é bem e o que é mal? Então os pais acham que têm direito em impor umas coisas e outras não? Deixem o miúdo em paz. Desculpem, mas esta da liberdade não pega.
O Baptismo não tira nada à criança e é mais um bem que lhe damos. E se um dia o quiser recusar, poderá fazê-lo na sua liberdade. A Igreja, ou melhor, Jesus Cristo, não impõe nada a ninguém. Um pai ou uma mãe, se são verdadeiros crentes, sabem que a fé é preciosa, de um valor inestimável. E se assim é, sentem a necessidade de a comunicar, quanto antes, ao filho e de o ajudar a valorizá-la e a aprofundá-la, até se tornar adulto na fé. Ela não estorva a liberdade, mas com ela, esclarecida e assumida, é que somos verdadeiramente livres. Por outro lado, a fé também é um conjunto de hábitos e de práticas e quanto mais cedo somos introduzidos nelas, mais frutos vamos colher na vida adulta.
Por detrás deste questionamento do baptismo de crianças esconde-se muito comodismo, aversão a compromissos, próprio da cultura contemporânea e, sobretudo, muita falta de fé e de convicções. A invocação do respeito pela liberdade disfarça a frieza que sentimos diante de Deus e a aridez interior em relação aos valores espirituais e religiosos, que a nossa sociedade actual deturpa e desvaloriza, com consequências imprevisíveis. Mas não esqueçamos: tudo na vida tem um pau de dois gumes. Se é certo que uns se podem congratular pelo facto de os pais não lhe terem dado a conhecer a fé, outros poderão acusá-los porque o podiam ter feito, quando tinham todas as condições para o fazer. Que muitos pais não venham a sofrer deste remorso.