Mãos à obra. O primeiro passo foi desobedecer a planta, que manda desenhar diretamente, à mão, as peças no compensado. Em vez disso, usei o excelente papel kraft de 250 g/m2 (quase uma lâmina de madeira, comprado em loja de aviamentos, costura etc...) e desenhei as peças nele. Além do contorno dos cortes, fiz as marcações necessárias à construção, como se fosse a própria planta, mas em tamanho natural. Cortei com tesoura e assim ficou facílimo posicionar, passar para o compensado e cortar as peças finais com a tico-tico. Os moldes foram reutilizados durante toda a construção (compensados, fibra de vidro, alinhamentos de detalhes nas peças, montagem etc...)
Na primeira foto acima, estou desenhando um molde usando uma ferramenta simples, feita em casa, para traçar linhas curvas. É feita com um tubo fino de PVC e um cadarço enroscado para servir de regulagem. Quebrou um galhão. O Wanderlei, que tem no currículo incontáveis barcos, canoas e caíques feitos "de memória", achou o máximo !
IMPORTANTE: Desobedecer a planta em geral e para assuntos de montagem ou dimensões das peças não é uma boa idéia, pois a mesma está muito bem resolvida.
Ao Lado: melhor coisa que fiz em matéria de moldes, foi um inteiro, de 5 metros de comprimento, de todo o costado. NÃO CORTEI o molde em 3 partes correspondentes às 3 peças que devem ser emendadas depois. Marquei tudo que precisava nele e assim pude usá-lo para alinhar as emendas dessas peças e para transferir com precisão todas as marcações de montagem e furação. Veja na foto o molde de papel kraft 250 no chão e a peça já pronta (as 3 partes coladas). A Carol é a assistente de fotógrafo.
Na sequência, abaixo, o Wanderlei pregando os "butt blocks" e no dia seguinte, eu, tirando os pregos, agora inúteis diante do formidável epóxi.
Por fim, abaixo, os quatro painéis já prontos para formar as canoas.
Considerações desta etapa:
A correta montagem dos painéis laterais que formarão as canoas é crítica para a qualidade final do barco no que tange a alinhamento do casco. Para emendar as partes do costado e colar os "butt blocks" vale a pena:
preparar as contra-tábuas auxiliares (para apoiar em baixo e pregar) todas bem feitas e com mesma espessura, mesmo que sejam temporárias;
usar um plástico anti-aderente grosso e sem rugas;
realizar o processo em um piso plano;
alinhar o molde de 5m por baixo de cada painel, na montagem, para perfeito posicionamento das seções.
Após prontos, e já com os "verdugos" colados no lugar, os painéis devem ser colocados lado a lado e ajustados com plaina elétrica ou lixadeira para que fiquem idênticos em tamanho, senão a canoa fica torta......
Todas as cavernas se ajustam bem. Precisa forçar um pouco aqui e ali, mas o arame mantém tudo no lugar. Apenas o arco da caverna 1 (proa) poderia ser 1 cm mais alto como veremos adiante quando colarmos o convés dianteiro.
Uma boa forma de fazer os arcos de reforço das cavernas é, a partir de uma peça de 12 X 25, cortá-la no perfil, com a tico-tico e colar a sobra em baixo, sem desbastar como sugere a planta, ficando assim mais forte e bem acabado. Uns dois preguinhs de cobre devidamente posicionados "ANTES" de passar a cola ajudaram bem neste processo, que vai ilustrado abaixo, em três fases e a foto do resultado (já instalado).
Uma última consideração: O projeto manda selar todas as cavernas e superfícies internas com duas demãos de resina, ANTES de montar o casco. Ocorre que para a montagem, a madeira selada, brilhante, perde muito da sua capacidade de aderência, pois a cola já não é capaz de ancorar ou entranhar nas suas fibras. O remédio é lixar as partes para reduzir o brilho, mas mesmo assim, tudo permanece definitivamente impermeável ! Decidi então desobedecer mais uma vez e não selei nada ! Posso garantir que foi facílimo selar, bem selado, todo o interior após a montagem, já que não sobrou muito a descoberto. Mas a cola, uma mistura de resina com sílica coloidal, não é muito fluida, e realmente precisa, onde vai colar, passar antes uma demão de resina pura, capaz de penetrar em profundidade na madeira.