Ateliê de Literatura Inclusiva
Poesia Contemporânea – um Atravessamento de Diversidades
SOBRE O CURSO
As instituições de ensino no Brasil apagaram por muito tempo diversas vocês, pretas, periféricas, lgbtqia+, de mulheres, entretanto a
contemporaneidade é uma jorrar de todas essas vezes invisibilizadas. Esse percurso formativo visa apresentar vários aspectos de diversidade
na literatura brasileira, com o recorte da poesia, passeando pelos temas mais diferentes que ressoam nessas poéticas e convidando as/os
participantes a também produzirem sua própria poética. O curso é voltado para pessoas negras, periféricas, LGBTQI+, mulheres.
SOBRE O PROFESSOR
Talles Azigon é Poeta, Editor, Mediador de Leituras. Um dos criadores da Editora Substânsia, criador da Livro Livre Curió Biblioteca Comunitária.
Coordena o grupo de Leitura e Estudos em Poesia da Livro Livre Curió. Possui cinco livros de poemas publicados.
Ateliê de Poesia em LIBRAS
Esse curso pretende fazer uma investigação criativa na poesia produzida em LIBRA.
O curso é voltado para pessoas surdas e falantes usuárias de LIBRAS, que se interessam por poesia.
SOBRE O PROFESSOR
Edinho Santos é graduando do curso de Pedagogia da UNIP - Universidade Paulista. Trabalha atualmente no Itaú Cultural, na área de Educação e Acessibilidade. Tem experiências de trabalho no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu do Futebol e Museu Afrobrasil. Atua como produtor de eventos da comunidade surda, com a equipe "Vibração e Sencity". É organizado do Congresso Nacional Social de Inclusão de Negros Surdos e palestrante sobre acessibilidade aos surdos.
"Este projeto é apoiado pela Secretaria Estadual da Cultural, através do Fundo Estadual da Cultura, com recursos provenientes da Lei Federal n.o
14.017, de 29 de junho de 2020", com realização da Mercúrio, Gestão, Produção e Ações Colaborativas e Bruta Flor - Arte e Invenção.
Clique abaixo para acessar poesias elaboradas no Ateliê Poesia Contêmporânea.
Ailo Nascimento - Amor de Ansioso
Amor de ansioso
Para Sérgio Vaz...
Furtigam-me os dedos Tremulam-me as pernas O coração acelera
A cabeça pesa
Já sei o que vem
A idéia em ascensão Uma crise de ilusão
Causada por minha dor
Amar ela eu vou
Abraçar ela também Enquanto rebuliço for Poesia escreverei de bem.
Ailo Nascimento
Lucas Doth - Quem te viu
quem te viu na festa não viu teu corre.
deu teu pulo no zoom
mesmo sabendo quem que morre.
os buracos são os abismos
que tu preenche com a força muito mais
que pulos em poça.
ouvi tuas palavras do rs a salvador segurando meu lugar de telespectador.
sinto teu verso como faca na pela mil vezes mais dor que ouvir adele.
ouvir tu falar
é esse ciclo completo que me faz desejar
nada mais que estar perto.
de sobral ao brasil
teu verso vai ecoar
e
se no dia não chover
tua dor vai voar.
fala, fran, e voa
grita pr'esse povo ouvir pra dizer muito mais do que "sobrevivi".
Manoel Moacir - Mc Martina
Mc Martina,
O grito da periferia
É seu e meu também:
Somos todos o poema
Do povo oprimido.
A guerra é as pobres
Aos negros, às LGBTQIA+,...
Mas temos nossa voz.
Sua voz. É mais.
É nós,
Manoel
30/01/2020
Marcelo Camelo - Carta para Fran
Fortaleza-CE, 29 de janeiro de 2021.
Para Fran Nascimento,
Não sei nem como começar essa carta, se pedindo desculpas por não te conhecer ou simplesmente agradecendo ao Talles Azigon,por ter nos apresentado você, Fran Nascimento, aqui no nosso ateliê de poesia contemporânea da Mercúrio.
Que incrível você é: nova, potente, eloquente. Você é "um atravessamento de diversidades".
Você é lição de casa, dessas que precisamos de tempo pra fazer, que exigem uma leitura, uma pesquisa, um aprofundamento.
Não é tarefa fácil, e é dessas tarefas que precisamos, pois assim o aprendizado é maior.
FRAN NASCIMENTO, é uma das articuladoras d’O Slam da Quentura, primeira disputa de poesia falada do estado do Ceará. Realizado de forma colaborativa por alguns poetas, rappers, MCs, produtores e alguns entusiastas do movimento. Desde março de 2017, ocupando a Praça do FB, no centro de Sobral, sempre no último sábado do mês, às 20h. Também facilita a “Oficina PoetizAção”, nos Slams e em escolas. “Poesia Nua e Crua?/ Slam da Quentuuuuuuuura!”
O serviço está dado, resta-nos cumprir a missão, conhecer-te Fran Nascimento, mas como fazê-lo em tão pouco tempo?!?
Não é desculpa, é a mais pura verdade, este relato-carta, chegará as suas mãos ao tempo que continuo a descobrir-te.
Siga firme, sem perder a ternura, um grande abraço.
Marcello Camelo
Pablo Soares - (Des) ABAFO
(Des)ABAFO
de Pablo Soares
O que aqui contarei
Pode não ser novidade
Mas peço compreensão,
Senão farei um alarde.
Dizem que sou viado
Bicha, balde e afeminado
Porque amo de verdade.
Desde muito pequenino
Comecei a compreender
Que como outros meninos
Eu nunca iria ser.
Jogar bola eu detestava
Boneca me fascinava,
Era esse meu viver.
Meu pai então furioso,
Minha mãe muito abalada,
Eu tentava explicar
Mas eles não me escutavam.
Eu ia dormir chorando
Toda noite ali pensando
Em parar com a boiolada.
Porém eu não entendia
De homossexualidade
E menos eu conhecia
A heteronormatividade.
Só queria ser feliz
Dançar e brincar de giz
C’as meninas da cidade.
Mas meu pai se revoltava
Com o meu jeito de ser
Um homem afeminado?
Não podia conceber
Eu juro que eu tentava
Até pipa eu empinava
Mas eu não tinha prazer.
Rejeição familiar
Pra mim era a pior
Pois isso me machucava
E me travava que só.
Pedia pra que Deus me levasse
Ou um “macho” me tornasse
Nesse mundo de dar dó.
Me escondendo tristonho
Comecei a frequentar
Uma igreja do bairro
Em busca de me “curar”.
Lia salmos e levítico
Até João, o apocalíptico,
Me fazia piorar.
O pastor sempre dizia
Que tudo era do “cão”.
Coisas que eu assistia:
Como Xuxa e Fofão
O Rouge também, coitado
Tinha pacto com o diabo
E veio a decepção.
Na escola do mesmo jeito
Opressão me perseguia.
Rua, Igreja e Família.
Só preconceito existia.
Daí tive que criar forças
Me espelhar em outras moças
Pra lutar no dia a dia.
Agressões eram tantas
De física a verbal
A sociedade é malvada
Com pau que gosta de pau.
E se for afeminado
Teu nome será viado
Em âmbito nacional.
Ana Carla e Orlando
Marquito, Ozi e Janine
São pessoas de coragem
Luta e Garra os define.
Me fizeram levantar
Me afirmar e amar
Sem ter quem me determine.
Sei que alguns ainda falam
Que isto é patologia
Ou mazela do demônio
Ou mesmo esquizofrenia
Mas se prestar atenção
Doente é a ação
Da homo-lesbo-trans-fobia
Conheci o feminismo
Que veio me libertar
Foucalt, Butler e Salete
Constituem o meu altar.
Agora eu sou mais feliz
Amo, gozo e peço bis
E o mundo é meu lugar.
Vagner Gonzaga - porém Vaz, caminha
porém Vaz, caminha
se tem algum que do mar diga "terra a vista"
nem mesmo no crédito
conseguirá pagar a conquista de uma terra arrasada
mas deus não é homem não, é minino,
e graças a esse dom divino
que hoje é outro Vaz que
escrivinha
do sopro da noite
da calada
da canção quebrada
por ameaças giroflex
é teu grafite zero sete
que se repete
se essa rua fosse tua
se esse beco, se essa viela
se essa bandeira verde amarela fossem das mãos tuas
tudo seria muito mais
baile de favela
porém o cinza avança
e amanhece farda
em batalhões e distritos
e tudo quanto mais já nos foi dito pero Vaz, caminha