EDITORIAL

EDITORIAL

Em 22 anos de “século 21”, operaram-se inúmeras mudanças no retrato que se pode traçar do que esperará, fora da escola, um aluno de sucesso.

Muitos desses alunos não quererão ter o seu futuro limitado pelos constrangimentos do mercado de trabalho tradicional e optarão por percursos que os levem para outras paragens, para outras formas mais transitórias e flexíveis de trabalhar, cada vez mais a um nível global.

Na nossa escola temos, com grande orgulho nosso, um número significativo destes alunos que nos vão dando notícias de Paris, Londres, Delft, Leuven, Espoo, Uppsala, Viena...

E temos todos os outros. A maioria de alunos e alunas que permanecerão por cá, por razões tão diversas quanto as escolhas e constrangimentos  pessoais ou ainda imposições institucionais.

Uns e outros merecem, durante os três anos em que são nossos alunos, anos decisivos de transição de adolescentes a jovens adultos, que a escola dê o melhor de si, para os encaminhar nesse futuro fora da escola.

Citando do nosso projeto educativo, a Brotero “aposta na qualidade das práticas, na inovação pedagógica e científica e na melhoria contínua de procedimentos” tendo como missão “a formação qualificada de pessoas capazes de dar resposta eficaz às solicitações das instituições do ensino superior e do mercado de trabalho” não esquecendo nunca “[o exercício da] cidadania de forma ativa, responsável e sustentável, pautad[o] por uma atuação ética consistente ao serviço do bem comum”.

Um conhecido pedagogo britânico, Sir Ken Robinson, afirmou que “quanto mais complexo se torna o mundo, mais criativos deveremos ser para conseguir enfrentar os desafios que ele nos coloca” e, teimosamente, em muitos fóruns, defendeu que “a criatividade é tão importante quanto a literacia”, sublinhando que podemos e devemos “ser criativos seja no que for: em Matemática, em Ciências (...), em Filosofia, tanto quanto na Música, no Desenho ou na Dança”.

Ainda que consideremos pertinente este ponto de vista, e assim, de facto, o consideramos, o modo como a Escola ainda se organiza na segunda década do século XXI, o modelo de avaliação de discentes e docentes e da instituição, torna o abraçar da criatividade, um desafio a que não é fácil ou linear corresponder.

De facto, pensemos no seguinte: temos neste momento, como alunos e alunas da Brotero jovens que se convencionou chamar da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) que não se lembram da vida sem internet, sem telemóveis, sem tablets, sem que isso signifique que lhes tenham um acesso universal (como se comprovou no ensino à distância). Estes jovens continuam hoje a ser educados e formados como teriam sido no virar do século, isto é, seguindo e segundo um currículo e uma avaliação universais, uma espécie de um TU (tamanho único) educativo que não parece estar em cima da mesa quanto aos debates urgentes do país.

Como manter motivados e empenhados alunos e alunas que podem obter informação de um modo mais rápido e muitas vezes mais divertido (uma preocupação geral destes jovens) se se embrenharem no YouTube, ou se espreitarem na Wikipedia? Como explicar a estes alunos que não podem ter o telemóvel à mão para essas consultas, já que, entre outras razões porque é proibido e se torna inevitavelmente objeto de desejo, qualquer desejo, serve frequentemente para desaprendizagens várias?

Não pretendendo ter respostas ou soluções mágicas para estes desafios, creio, contudo que a aposta na criatividade, na cultura e na arte, não como entidades subsidiarias do currículo “que conta”, mas como parte integrante de um currículo, que tem de ser sempre genuinamente inclusivo e não apenas nas intenções, que não pode deixar ninguém para trás, é um dos caminhos para servir aos diversos tipos de alunos que recebemos, dos que irão ter sucesso que comecei por referir aos outros que atingirão, ao seu ritmo, patamares de sucesso que transportarão igualmente para fora da escola, para a vida pessoal e de trabalho.


António Fonseca Andrade
(Diretor da Escola Secundária Avelar Brotero)