A Paisagem

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APRESENTAÇÃO:

Aqui os estudantes terão a possibilidade de saber mais sobre o conceito de paisagem esta categoria que é tão importante para a ciência geográfica.

Façam bom proveito!!!

CONCEITO DE PAISAGEM

Há dois aspectos importantes quando estamos falando de paisagem; o  primeiro é relativo a quem vê, quem observa, o ser humano; o segundo, relativo à própria, a paisagem em si. Então, de inicio há quem observa (o humano) e quem é observado (a paisagem).

Num primeiro momento, podemos dizer que a paisagem é captada pelos sentido humanos, os cinco sentidos clássicos, a saber: a visão, a audição, o tato, olfato e paladar.

Então, a paisagem, para a maioria e no geral, é captada pela visão. Somente os olhos é que permitem a "imagem", por assim dizer, mais acabada da paisagem. Por outros termos, “mil palavras não são capazes de descrever uma foto”, conforme o dito popular. Imaginemos um cego. Para ele a paisagem deve ser totalmente matemática. Ele faz o cálculo, conta os passos e conversões, à esquerda e/ ou à direita para construir, mentalmente, a paisagem por onde se desloca. Utiliza-se, muitas vezes, da audição mais aguçada, que lhe foi potencializada graças ao treino. Com relação a isso é interessante lembrar o que um jovem estudante de Geografia cego partilhou ao presente autor: disse ele que, "de certa forma, ele também tinha uma 'imagem' da paisagem em sua mente". Entretanto, como é esta "imagem" só ele e somente ele sabe. Será que a imagem que o cego de nascença traz da paisagem é idêntica à real?! Talvez sim, ou, quem sabe, seja bem próxima à real. Mas, como lidar com as cores, para quem nunca viu uma cor? Como seria o azul do céu para um cego? Vê-se a grandessíssima importância do sentido da visão

Muito provavelmente, em segundo lugar, a audição emerge como segundo sentido mais importante. Para quem ouve perfeitamente, fica até difícil imaginar como atravessar uma rua sem esse sentido. Certamente é tarefa extremamente difícil para quem não está acostumado, e, tarefa quase impossível, sozinho, para quem, além de surdo, é cego. Assim, sabe-se, quem é surdo, tenta compensar muito bem esta peculiaridade usando, com mais atenção, a visão, mas, mesmo assim, a audição é de extrema importância. Somente quem já fez a experiência sabe, o quão perigoso é pedalar pelas ruas de uma grande cidade com os fones de ouvido no volume máximo, retirando-lhes a capacidade de ouvir os carros e as motos que vêm de trás. Assim, evidencia-se a importância da audição.

O tato parece ser o terceiro mais importante dos sentidos. É necessário que a pessoa sinta a rugosidade, a textura da paisagem por onde está se locomovendo. Imagine um motociclista que, por exemplo, desconsidera a aderência da ista por onde está trafegando. Outro exemplo é um esqueitista ou um ciclista que negligencia o terreno por onde está executando suas manobras. Deste modo, percebe-se que o tocar, o tato, o sentir com a pele é demasiado importante na construção que os seres humanos fizeram ao longo da história e ainda fazem hoje em dia. Fogo e gelo podem matar em questão de instantes, e, para subsistir, o ser humano usou, também, conjugado com os outros, este sentido que é tão importante, o tato.

Um sentido pouco associado à construção da paisagem é o olfato. Porém, o olfato é imprescindível para que uma pessoa tenha a exata noção de que tipo de paisagem está sendo referida. Do contrário, essa construção será incompleta. No caso dos porto-alegrenses um exemplo é clássico: o Mercado Público da cidade detém um aroma característico; alguns gostam; outros, não. Mas, o fato é que todo porto-alegrense concorda que o Mercado Público da cidade tem um cheiro característico e próprio. Deste modo, uma pessoa poderia ver fotos e até vídeos a respeito do local, mas, se nunca tiver caminhado por lá, não terá, em sua memória e vivência, a paisagem corretamente e completamente construída acerca do Mercado Publico da capital gaúcha.   

Semelhantemente ao olfato, o paladar emerge  como sentido que complementa a construção da paisagem para o ser humano. Aliás, estes dois últimos sentidos estão intimamente ligados: sentir o gosto da terra, o gosto das frutas da região e a culinária típica, fecha a apropriação que fazemos da paisagem de um lugar. Não se viaja a uma nova cidade, Estado ou país sem provar das delícias típicas locais. É por isso que turistas fazem a experiência de degustar as especiarias regionais para, depois, melhor lembrar de como foi o deparar-se com aquela paisagem. 

Então, temos que os cinco sentidos são os que permitem a total e completa apropriação de uma paisagem. "Quem olha" observa, utilizando-se destes cinco sentidos, faz apropriação da paisagem, certo? Sim! Mas, não é só isso. Há o "sexto sentido", um sentido que só mais recentemente a ciência e os livros têm trazido como imprescindível ao ser humano, parte integrante das dimensões do ser humano; e não estamos falando ainda de Espírito Santo, espiritismo, etc. Não, não se trata disso, trata-se de um sentido humano que é mais tênue, que é propriamente da esfera do Espírito humano, mas que não é propriamente místico. Esse sexto sentido é a intuição. A intuição emerge da junção de todos os outros sentido juntos - ou mesmo de algum deles em específico. Se não, vejamos: é a intuição que faz um motoqueiro diminuir a velocidade porque intui que o caminhão à sua frente lhe fechará a passagem; do contrário, estaria morto pois, graças a manobra brusca e sem aviso prévio do caminhão, iria parar em baixo dele. A intuição usou, neste exemplo, a visão, a audição, o tato (sobre a pista e os comandos da motocicleta) e até o olfato (a carga que o caminhão transportava) e o paladar (o gosto de óleo expelido pelo escapamento do caminhão a fazer a redução de marchas para entrar em uma rua às pressas, "cortando" o motoqueiro), utilizou-se de todos os sentidos até agara vistos. A intuição é uma sensação de que algo pode acontecer, e, de fato, muitas vezes acontece, bem como, pode não acontecer. Mas, o fato é que ela, a intuição, permite que o ser humano interaja de modo mais apto com a natureza que lhe circunda, com a paisagem propriamente dita.  

Passemos, agora, a outro aspecto da paisagem, ela mesma, a paisagem em si. Não podemos negar que há "algo lá fora", uma realidade externa ao ser humano. Não se discute que esta realidade é formada, construída e reconstruída dentro do ser humano, em uma dimensão mental, mas, ainda assim, algo subjaz, há algo fora, externo, um mundo concreto externo, há uma paisagem para ser vista. Tal paisagem será ainda e também apreendida, construída e reconstruída em termos sociais, ou seja, socialmente, pela comunidade humana. Mas, de novo e de todo modo, além do ser humano, há a paisagem que, independente do humano ampara e está disponível ainda para os outros animais, os não humanos, os outros terráqueos. Esta paisagem reflete a luz do Sol, é iluminada pela reflexão de luz da Lua, apresenta mares, morros, montanhas, vales, rios, planícies, planaltos, etc.. É a Terra apresentando-se, desvelando-se aos seres vivos para os quais e com os quais ela subjaz.

Assim, podemos concluir que a paisagem é formada graças ao ser humano e a ela própria. Naturalmente, um ser humano de posse de todas as suas faculdades mentais e com seus seis sentidos perfeitos tem a possibilidade de apropriar-se de todos os elementos de uma paisagem. Diz-se que ele tem "a possibilidade" porque é bem possível que a falta de atenção, a falta de treino ou até mesmo a indiferença (problema sério hoje em dia a indiferença) façam com que uma pessoa não note muitos dos detalhes de uma paisagem. Por isso, na escola, a Geografia é tão importante, é ela que vai preparar e trinar os estudantes, capacitando-os para observarem e descreverem a paisagem circundante. 

Conclui-se, então que, como há uma dupla relação - o humano e a paisagem

“A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, e sim em ter novos olhos.” (PROUST, Marcel).

Ainda para Collot (1990): “a paisagem é definida a partir do ponto de vista de onde ela é observada” (p. 22).

O supradito teórico ainda escreve que:

[...] a paisagem não é um objeto autônomo em si em face do qual o sujeito poderia se situar em uma relação de exterioridade; ela se revela numa experiência em que o sujeito e o objeto são inseparáveis, não somente porque o objeto espacial é constituído pelo sujeito, mas também porque o sujeito, por sua vez aí se acha envolvido pelo espaço [...] (p. 22).

ANEXO

Acima foi dito, através de diversos raciocínios, que a paisagem é captada pela relação entre o observador e o que há para ser observado, ou seja, entre seis sentidos, e, graças a ela própria, a paisagem em si. Foi dito tudo? Não.

A paisagem ainda contém aspectos que não podem serem vistos, ouvidos, tocados, farejados e degustados, muito menos intuídos. Ou seja, e por outros termos, a paisagem contém aspectos que ela mesma, por si só, não tem condições de transparecer, fazer emergir e saltar aos sentidos do observador. Isso acontece porque a paisagem é uma sucessão de tempos históricos que vão sendo  substituídos e soterrados, acabando por sumir por debaixo da reconstrução do espaço geográfico.

Assim, por outras palavras, os elementos da paisagem desaparecem em baixo de sucessivas camadas do sempre novo que vai sendo construída sobre o antigo e velho.

Veja-se um exemplo (vide ilustração abaixo): um jovem que, hoje, passa pela Avenida Assis Brasil, próximo ao número 2600 desta via, em Porto Alegre, e vê o enorme shopping "Bourbon Wallig" (inaugurado em 2012), não teve a oportunidade de ver a grandiosa fábrica de fogões de mesmo nome, os "Fogões Wallig", que alí havia. A enorme metalúrgica funcionou naquele endereço desde o ano de 1904, vindo a falir e fechar nas décadas de 1960 e 1970, respectivamente.

A paisagem foi totalmente modificada, com o novo soterrando o velho, vindo a promover o desaparecimento de vários de seus elementos. Mas, um porto-alegrense morador daquele bairro, o "Bairro Cristo Redentor", que tenha seus "quarenta e poucos anos", consegue se lembrar com exatidão da paisagem que vislumbrou quando jovem naquela área. Assim, para este último observador da paisagem da capital gaúcha, a paisagem da referia área é mais completa viva e cheia de história, coisas que nem os seis sentidos nem a própria paisagem em si podem fazer emergir; somente a História e a Geografia podem.  

Fotos do aspecto da Fábrica de Fogões Wallig e do Shopping Borboun Wallig. Tempos históricos diferentes e mesma localização, o antigo e o atual, o velho e o novo, a sucessão de tempos históricos de uma paisagem.

Ainda ressaltando as questões sobre o que pode e o que não pode ser "visto" em uma paisagem, e utilizando-se do mesmo exemplo aduzido acima, tome-se o seguinte depoimento de um port-alegrense que viu as atividades da metalúrgica Wallig: 

"Nas décadas de 1960-70, na infância deste cronista, que morava em Cachoeirinha, que tinha os avôs maternos; ela de origem alemã, Emma Bauer Pires; ele, de origem indígena/portuguesa (bugre), José Rodrigues Pires Neto, e que residiam na Vila SESI (atual Jardim São Pedro), Rua da Várzea esquina Ernesto Miranda, nº 243, no bairro Cristo Redentor, lembra-se: 'A parada do ônibus ficava na calçada da Avenida Assis Brasil, junto a cerca de tela, defronte a fábrica do Wallig, com seu grande Portão de Ferro e os mastros de bandeira bem na esquina com a Rua Francisco Trein (atual Shopping Bourbon Wallig); o barulho das máquinas e chapas era ensurdecedor, e ficava em meu imaginário o que lá se passava.'" (Fonte: Disponível em: <http://lealevalerosa.blogspot.com.br/2012/03/porto-alegre-em-montagem_7469.html>. Acesso em: 27 jan. 2017).

Note-se que "ficava no imaginário" do morador "o que se passava lá dentro" da metalúrgica, graças ao "barulho ensurdecedor" que as máquinas produziam ao fabricar os fogões; são os sentidos operando: visão  e tato (o "grande Portão de Ferro e os mastros de bandeira"), a audição (o barulho das máquinas e chapas era ensurdecedor") e a intuição ("o que lá se passava"?). Certamente no depoimento do morador não aparece mas olfato fazia parte da construção da paisagem de quem morava perto de uma fábrica deste tipo, que usava fornos e caldeiras para trabalhar o aço que iria se transformar em fogões.

Outro exemplo extremamente precioso para se entender que nem sempre há elementos que podem serem "vistos" em uma paisagem, e que podemos tomar de nossa cidade, é o do Mercado Público, novamente, mas, desta vez, de uma parte específica da construção, qual seja: bem no centro do pátio do mercado, há um mosaico que representa o "Bará do Mercado". O que é isso? Vejamos:

"O Mercado Público não é um espaço restrito ao comércio, também tem grande relevância para as religiões de matriz africana. Essa importância explica-se por acreditarem que ao centro do edifício está assentado o Orixá Bará, que, dentro do panteão africano, é a entidade que abre os caminhos, o guardião das casas e cidades e representa o trabalho e a fartura. “Assentar” significa fixar o orixá em determinado objeto através de práticas rituais específicas. Este objeto – chamado pelos praticantes da religião de ocutá - foi enterrado no chão do Mercado, exatamente no seu centro, significando que o orixá está ali, podendo ser visitado, cultuado e receber oferendas dos adeptos da religião." (Fonte: Disponível em: <http://memorialdomercado.blogspot.com.br/2009/04/o-bara-do-mercado.html>. Acesso em: 27 jan. 2017). 

Assim, deste modo (vide ilustração abaixo), um mosaico bem no meio do pátio do Mercado Público representa algo de extremamente especial e importante para os fiéis praticantes das religiões de matriz africana. Um católico que desconhece tal fato, ao passar por alí, não dará importância para o mosaico, e/ ou, nem perceberá tal aspecto da paisagem - justamente por ignorar (atenção: "ignorar" no sentido de "não saber" (ignorar) não no sentido negativo, de ser "estúpido")  essa mística ou esta religiosidade. Porém, ao fiel do candomblé aquela paisagem é repleta de significação. Mas, isso não pode ser "visto" com os sentidos, tem a ver com a História e a Geografia, a Cultura dos povos

Foto do aspecto do mosaico que existe bem ao centro do pátio do Mercado Público de Porto Alegre, onde, segundo as religiões de matriz africana está assentado o "Orixá Bará do Mercado Público".

Deste modo, conclui-se este anexo ao conceito de paisagem chamando a atenção para o fato de que a paisagem é formada, apreendida, assimilada, pelo ser humano, graças aos sentidos (os seis sentidos), graças a ela mesma (a paisagem em si), e, também, a paisagem é constituída por elementos  que não podem serem "vistos", mas apenas sentidos - a paisagem é constituída por elementos que não são concretos, mas imaginários

REFERÊNCIA

COLLOT, Michel. Pontos de vista Sobre a Percepção das Paisagens. Boletim de Geografia Teorética, vol.20(39), 1990, p.21-32.