Léa Garcia

Léa Lucas Garcia de Aguiar (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1933). Atriz. Com extensa carreira em teatro, cinema e televisão, desenvolve consciência político-racial que perpassa sua atuação artística com uma postura questionadora sobre o lugar do negro na sociedade e na arte.

Filha de um bombeiro hidráulico e de uma modista famosa na zona sul carioca, Léa perde a mãe aos 11 anos e passa a morar com a avó materna, que trabalha como governanta de uma família da elite do Rio de Janeiro. Aos 16 anos, após uma briga com o pai, sai de casa para viver com o diretor Abdias Nascimento (1914-2011), fundador do Teatro Experimental do Negro (TEN). A relação aproxima-a do teatro e da militância antirracista.

No TEN, tem aulas de danças folclóricas com Mercedes Baptista (1921-2014) e de interpretação. Em 1952, estreia como atriz na peça Rapsódia Negra, no palco da Boate Acapulco, dançando e declamando versos de Navio Negreiro, do poeta Castro Alves (1847-1871).

Segue atuando em peças do TEN, como Orfeu da Conceição (1956), adaptação do mito grego aos morros cariocas, que sela a parceria de Vinicius de Moraes (1913-1980) com Tom Jobim (1927-1994) e conta com cenário de Oscar Niemeyer (1907-2012). No papel de Mira, cumpre temporada brevíssima de seis noites com casa lotada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Também atua ao lado de Nelson Rodrigues (1912-1980), em rara participação do dramaturgo como ator, em Perdoa-me por Me Traíres (1957).


Em 1959, é a única do elenco teatral a conseguir papel na versão cinematográfica da peça, Orfeu Negro (ou Orfeu do Carnaval), dirigida pelo francês Marcel Camus (1912-1982). Interpreta Serafina, prima de Eurídice, personagem cômica criada para o filme. A obra é premiada com o Oscar de melhor filme estrangeiro e a Palma de Ouro no Festival de Cannes daquele ano. Léa também concorre à Palma de melhor atriz, com boas chances, mas quem a recebe é Simone Signoret (1921-1985), por Almas em Leilão (1959).


São marcantes em sua trajetória os papéis de mulheres destemidas. Em Ganga Zumba (1963), primeiro filme de Cacá Diegues (1940), sua personagem Cipriana é uma espécie de porta-voz da liberdade, que segue seu próprio caminho ao ser abandonada por Zumba a caminho de Palmares.

Na televisão, onde também atua intensamente, interpreta uma das vilãs mais lembradas da história da teledramaturgia brasileira, a Rosa de Escrava Isaura (1976), novela de Gilberto Braga (1945) produzida pela TV Globo e reexibida com sucesso em Cuba.


LÉA Garcia. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa400953/lea-garcia. Acesso em: 23 de maio de 2022. Verbete da Enciclopédia.ISBN: 978-85-7979-060-7