Pesquisa

Esta seção apresenta uma descrição geral das pesquisas com as quais estou e estive envolvida.

Enativismo: influências e desdobramentos

(2021)


A questão central que direciona essa pesquisa é a de como o enativismo, que é uma teoria recente da cognição, pode influenciar desenvolvimentos em pesquisas sobre a linguagem e em perspectivas filosóficas em geral. Com base em um de seus princípios básicos, a saber, que organismo e mundo se constituem mutuamente, investigo quatro modos que o enativismo e, mais especificamente o enativismo linguístico, podem influenciar desenvolvimentos em perspectivas filosóficas e em pesquisas tanto teóricas quanto empíricas acerca da linguagem. São elas, (i) a epistemologia dos eixos, que pode adotar princípios enativistas para rejeitar o ceticismo cartesiano; (ii) as bases filosóficas da teoria da evolução, que viria a assimilar desenvolvimentos recentes da biologia evolutiva e arqueologia cognitiva em direção a uma concepção de evolução como deriva natural; (iii) a nossa compreensão e consideração teórica de ações significativas em contextos não verbais de interação, que podem gerar novos desenvolvimentos para a filosofia da linguagem e linguística cognitiva; e (iv) as implicações da validação de ações significativas como componentes linguísticos para a identificação, sistematização e reflexão sobre fenômenos sociais no contexto de epistemologias afetivas feministas.


Essas linhas de atuação no contexto das teorias enativistas da cognição são desenvolvimentos de pesquisas iniciadas entre 2019 e 2020.


Improvisação e Enativismo

(2020 a atual)


Com Ivani Santana,


Essa pesquisa colaborativa, coordenada pela Profa. Ivani Santana, da UFBA/CNPq, envolve pesquisadoras da filosofia, da música, dança e tecnologias audiovisuais, para explorar novas formas de investigar modelos cognitivos. Segundo ela, a pesquisa em processos artísticos com mediação tecnológica na academia é um terreno fértil para o desenvolvimento de projetos científicos, pois eles podem se beneficiar de experimentos (e da experiência artística) no campo das artes. Segundo o enativismo, teoria na qual nos debruçamos nessa pesquisa, o corpo é compreendido como constitutivo da cognição humana, assim como o ambiente que ele habita. Por isso, consideramos a performance, a improvisação, o movimento e a dança, atividades que tem como foco o próprio corpo e o ambiente, possibilidades importantes para a pesquisa em cognição.


Enativismo Linguístico, filosofia da linguagem e agenda empírica

(2019 a 2020)

O enativismo linguístico, como chamo, é a versão do enativismo que propõe a teoria dos corpos linguísticos. Esta teoria está explicitada no livro Linguistic Bodies: The continuity between Life and Language (2018) MIT Press e sintetizada nesta resenha. Nessa pesquisa apresento razões para considerarmos novos desenvolvimentos na filosofia da linguagem segundo este paradigma, a partir de processos de improvisação.

Pesquisa apresentada na SBFA 2020.


O cético e o enativista: reflexões sobre os fundamentos da epistemologia dos eixos.

(2019 a 2020)

Este trabalho apresenta razões para defendermos a aproximação entre a teoria enativista autopoiética e a questão da justificação epistêmica na concepção moderada da epistemologia dos eixos.

No prelo, Editora Scientiae Studia. In Epistemologia dos Eixos

FIGUEIREDO, N. M. O cético e o Enativista: reflexões sobre os fundamentos da epistemologia dos eixos. In Epistemologia dos Eixos. Editora Scientiae Studia, 2021


Distinção de tonalidades: vendo cores ou diferenças?

(2018 a atual)

Com Etienne Roesch, Giovanni Rolla, Catriona Scrivener e Ivano Raz

Neste projeto, investigamos se a percepção de diferenças se deve a comparações de experiências ou não. É um intenso debate filosófico na filosofia e nas ciências cognitivas. Sugerimos, apresentando os resultados de um experimento filosoficamente orientado, que a percepção das diferenças e as percepções de mudança (mudança é definida como diferença no tempo) não se devem a comparações de experiências. Dados sobre experiências cromáticas de pares de amostras de cores com variação de luminosidade indicam que a identificação de diferenças e mudanças na luminosidade das amostras de cores depende mais do contexto do que das amostras. Posteriormente, argumentamos, com base na natureza da visão espectral (Atkins e Hans, 2014), que quando identificamos as amostras, estamos realmente capturando diferenças de contraste e croma.


Dialética no Enativismo Linguístico

(2019 a 2020)

A teoria dos corpos linguísticos tem como ponto central em uma noção fundamental que atravessa toda a teoria: o conceito de dialética. Os três níveis de corporeidade interagem dialeticamente (isto é: situações dialéticas ocorrem nos três níveis de cognição e entre elas) e situações dialéticas também estão em cada etapa do modelo em direção à realização do fazer-sentido participativo, pois cada uma dessas etapas é a resultado de uma interação entre tensões que as antecipam logicamente. Eu proponho que o leitor pode identificar três aspectos sob os quais podemos entender a noção de dialética: o aspecto metodológico, o ontológico e o próprio modelo dialético; em seguida, sugiro que o aspecto ontológico pode ser consideração como aspecto epistemológico, pois isso é consistente com a concepção de concretude da teoria, como um objetivo constante de considerar os elementos imersos na totalidade de suas relações.

No prelo Revista Unisinos

FIGUEIREDO, N. M. . On the notion of dialectics in the linguistic bodies theory. Filosofia Unisinos, 2021.

Questões atuais sobre corpo e linguagem: cognição corporificada, agenda empírica e enativismo linguístico

(2020)

Com Josie Siman

Abordagens corporificadas da cognição humana enfatizam o papel do corpo nos processos de compreensão e produção linguística. Diversas pesquisas empíricas apresentam evidências para essas abordagens. A abordagem enativista linguística da cognição, por sua vez, sugere que temos que aprofundar nossa concepção de corpo. Nesse contexto, apresentamos (1) evidências empíricas comuns às abordagens corporificadas; (2) duas abordagens corporificadas nas ciências cognitivas: a cognição grounded e outra abordagem baseada na teoria de sistemas dinâmicos — nosso foco está no sistema conceptual segundo essas duas perspectivas; e (3) a abordagem enativista linguística da cognição. Em seguida, a partir de esclarecimentos introdutórios sobre esses três domínios, sugerimos que as evidências empíricas sustentam uma perspectiva rasa do papel do corpo na cognição, se considerarmos a concepção enativista linguística e ressaltamos a importantância de considerarmos o alcance empírico do enativismo linguístico.

No prelo - Revista Conjectura - 2020

FIGUEIREDO, N. M.; SIMAN, J. . Questões atuais sobre corpo e linguagem: cognição corporificada, agenda empírica e enativismo linguístico. CONJECTURA: FILOSOFIA E EDUCAÇÃO (UCS), 2021.

Múltiplas representações e análise conceptual dinâmica em dados não controlados

(2020)

Com Josie Siman

A semântica cognitiva possui diferentes métodos de pesquisa, como introspecção, análise de corpora, análise de interações e experimentos. A análise de "dados produzidos em situações não-controladas" (corpora e interações) geralmente é baseada em teorias, mas raramente no cenário atual dos resultados de pesquisa experimental sobre linguagem e cognição. Este artigo tem dois objetivos, o primeiro é enfatizar a possibilidade e importância de diminuir a distância entre teoria, evidência empírica e análise de dados linguísticos no estudo da cognição. O segundo é sugerir que recorrer ao estado da arte de pesquisas empíricas sobre linguagem e cognição permite análises mais flexíveis, que podem superar os limites de teorias atuais. Para esse fim, (i) fornecemos uma visão geral atual de resultados de pesquisas neuro e psicolinguísticas sobre o “grounding” de conceitos concretos e abstratos, (ii) discutimos como esses resultados podem apoiar as análises de dados linguísticos e (iii) enfatizamos as tendências em direção a teorias de múltiplas representações e sistemas dinâmicos.

No prelo - revista Fórum Linguístico

SIMAN, J. ; FIGUEIREDO, N. M. . Multiple representational and dynamic conceptual analysis in the wild. Fórum Linguístico, 2022.

Raciocínios analógicos: representacionalismo ou enativismo?

(2020)

Com Raquel Krempel e César Meurer

Raciocínios analógicos são tradicionalmente concebidos como processos que envolvem a comparação de representações mentais. Mais recentemente, com o surgimento de teorias não-representacionalistas da cognição humana, surge a questão de como explicar processos tradicionalmente concebidos como representacionais. Nesse contexto, levantamos a discussão sobre se representações mentais farão parte de uma explicação dos raciocínios analógicos, oferecendo um embate de perspectivas e tendo como principal objetivo o fomento do debate. Primeiramente, apresentamos a visão segundo a qual raciocínios analógicos são processos mentais representacionais. Em seguida, apresentamos alguns problemas levantados por Fodor para o seu tratamento computacional, mas sugerimos que esses problemas não afetam a ideia de que raciocínios analógicos envolvem representações mentais. Na seção seguinte, apresentamos a teoria enativista linguística e sugerimos a possibilidade de compatibilização dessa teoria com uma concepção de analogia enquanto processo de categorização não-representacional. Por fim, sintetizamos as duas propostas apresentadas e sugerimos que o contraste de perspectivas divergentes sobre capacidades cognitivas é especialmente frutífero para a nossa compreensão da mente.

FIGUEIREDO, N. M.; KREMPEL, R. ; MEURER, C. F. . Raciocínios analógicos: representacionalismo ou enativismo?. REVISTA PERSPECTIVA FILOSÓFICA, v. 46 n.2, p. 6, 2020.

Representações Mentais ou Neurais

(2016 a 2020)

Com Fabiana Carvalho

Neste projeto, Dra. Fabiana Carvalho e eu, investigamos se um dos usos mais comuns do conceito de representação nas neurociências cognitivas é justificável, sugerindo as condições sob as quais ele pode ser aceito e como pode ser relacionado aos estados mentais. Apresentamos estados mentais em termos de experiências privadas e eventos públicos. Argumentamos que uma representação é uma relação que envolve três elementos principais, bem como o usuário da representação, e defendemos que as condições nas quais podemos conceber a atividade neural como representativa são definidas pelo contexto da observação de uma correlação entre eventos públicos e padrões de atividade neural. Nosso objetivo foi o de mostrar que a atividade neural pode ser vista como representacional e não representacional - mas constitutiva - dependendo se estamos considerando eventos públicos sob a perspectiva do observador, ou se estamos considerando experiências privadas sob a perspectiva subjetiva.

CARVALHO, F. M. ; FIGUEIREDO, N. M. . Mental or Neural Representations: Justifying the terminology used in cognitive neuroscience.. Veritas (Porto Alegre), v. 65, p. 1, 2020.


O problema da lacuna ontológica intransponível entre o cérebro e nossas experiências particulares em termos Wittgensteinianos

(2017 a 2019)

Um dos meus objetivos era ajudar a compatibilizar problemas filosóficos da cognição com a neurociência cognitiva e, portanto, contribuir não apenas para a dissolução de confusões conceituais, mas também com a investigação empírica. Minha motivação para este trabalho começou com a necessidade de esclarecer e mostrar a possibilidade de uma atividade filosófica que considere casos de uso de palavras, esclareça relações conceituais e interaja com as ciências empíricas. Essa necessidade surgiu da minha pesquisa de doutorado e do trabalho sobre o papel da filosofia na perspectiva wittgensteiniana. O principal resultado desta pesquisa foi apresentado como artigo sugerindo, de uma perspectiva wittgensteiniana, que a noção comum de que existe uma lacuna entre um escopo físico, a saber, processos cerebrais e algo imaterial como experiências particulares, é uma ilusão provocada pelo conflitos conceituais de nossa compreensão. Para superar essa ilusão, é necessário esclarecer os fundamentos e implicações dos usos de conceitos-chave no campo cognitivo.

FIGUEIREDO, N. M.. The Problem of the Unbridgeable Ontological Gap Between the Brain and Our Private Experiences in Wittgensteinian Terms. DISCURSO, v. 49, p. 185-203, 2019.



Sobre os fundamentos filosóficos da memória episódica como consciência de eventos passados

(2018)

A viagem no tempo mental (MTT) é um rótulo bastante inovador em Filosofia. A noção foi estabelecida pelo psicólogo experimental e neurocientista cognitivo Endel Tulving na década de 1980 e refere-se à capacidade de estar ciente de eventos subjetivos passados ​​e futuros. A visão de Tulving sobre memória e consciência fornece uma importante distinção conceitual fundada em dados observados experimentalmente. Nesse artigo, discuto (1) seu conceito de memória episódica como consciência, baseada na distinção de percepção e sensação de Peter Hacker, bem como em sua concepção de memória, e (2) se a memória pode ser tomada como uma percepção subjetiva do próprio corpo, que , portanto, desafia a concepção de memória como informação armazenada no cérebro e a ideia de que de alguma forma poderíamos perceber nossas memórias. O principal enigma é: se a consciência é um estado consciente que envolve a percepção verídica dos estados/ eventos internos ou externos presentes, como podemos conceber a consciência dos eventos passados ​​e futuros? Esta discussão visa contribuir para a concepção de MTT de Tulving, esclarecendo os fundamentos conceituais sobre os quais podemos entender a memória.

FIGUEIREDO, N. M.. On the philosophical foundations of episodic memory as awareness of past events.. Filosofia Unisinos, v. 19, p. 63-71, 2018.