Sondagem "Kabengele Munanga na UFRN":
A presente iniciativa fez parte da disciplina "Antropologia e o Estudo da Cultura" (2022), do Departamento de Ciências Sociais/UFRN. A investigação, de tipo exploratório, propõe uma sondagem quali-quantitativa dos conhecimentos a respeito de Kabengele Munanga e sua trajetória na UFRN. A enquete fui distribuida durante o mês de dezembro de 2022. O estudo investigou, de forma virtual e através de formulários da plataforma Google Forms, a opinião de 52 (cinquenta e dois) estudantes de graduação e pós-graduação da UFRN, maiores de 18 anos. Com este trabalho desejamos contribuir para uma melhor compreensão da trajetória do professor Kabengele Munanga na UFRN e da sua recepção contemporânea por parte da comunidade de estudantes desta instituição.
Interpretação das respostas
Área de estudos
A nossa definição amostral foi realidade a partir de uma metodologia da bola de neve. Os convites foram enviados a partir da nossa rede próxima de contatos. Para podermos compreender melhor o universo amostral deste estudo exploratório, solicitamos a quais áreas de estudo pertenciam os/as participantes da pesquisa:
Observamos aqui uma certa diversidade de áreas abrangidas, preponderando, dentro delas, as ciências humanas e as sociais.
Curso
Aqui vemos um detalhe dos cursos que realizam os/as participantes desta pesquisa:
É possível observar uma importante quantidade de pessoas que estudam Ciências Sociais dentro da UFRN.
Auto-identificação étnico-racial
Neste ponto, solicitamos uma auto-identificação étnico-racial para conhecermos melhor os lugares de enunciação dos/as participantes. As respostas foram como segue:
Podemos notar que há mais pessoas que se auto-identificam como pardas, seguidamente de pessoas que se auto-identificam como brancas, correspondendo às pessoas que se identificam como negras um número menor.
Auto-identificação de gênero
Para podermos adensar nossa aproximação de forma interseccional, também foi considerada relevante a auto-identificação em termos de gênero. Eis aqui as respostas expressas de forma gráfica:
Podemos reconhecer uma maioria de mulheres, seguida por um número importante de homens, e finalmente duas representações das categorias “agênero” e “não binárie”.
Você conhece intelectuais negres?
Neste ítem, sondamos junto aos/às participantes da pesquisa sobre o conhecimento prévio do trabalho de pessoas negras que façam parte da vida intelectual da nossa cidade, estado, região, continente ou mesmo globais. Os resultados aparecem como segue:
No diagrama acima, é possível notar que uma parte significativa das pessoas entrevistadas - sendo a totalidade delas de estudantes universitários - não tinha uma referência presente de intelectuais negros/as/es para citar. Sendo assim, das 52 pessoas que preencheram o formulário, 12 delas declararam não conhecer nenhum/a intelectual negro/a - coisa que corresponde a mais de um vinte por cento do total da nossa amostra.
Quais intelectuais negros/as você conhece?
Aqui, solicitamos para os/as entrevistados/as colocarem algumas referências que viessem à memória no ato do preenchimento da enquete. Os resultados foram recolhidos e apresentados no gráfico que segue:
Os nomes mencionados pelos/as participantes da pesquisa foram: bell Hooks, Djamila Ribeiro, Conceição Evaristo, Angela Davis, Abdias Nascimento, Katiúscia Ribeiro, Sueli Carneiro, Socorro Acioli, Beatriz Nascimento, Machado de Assis, Vera Rodrigues, Sílvio Almeida, Lélia Gonzalez, Carla Akotirene, Chimamanda Adichie, Audre Lorde, W. E. B. Du Bois, Franz Fanon, Tereza de Benguela, Luiza Mahin, Thereza Santos, Alzira Rufino, Inaicyra Falcão, Aimé Césaire, Rainha Nzinga, Amailton Magno, Patricia Hill Collins, Achille Mbembe, Milton Santos, Nelson Mandela, Henrique Fontes, Josiane Soares, Márcia Lima, Caio Jardim, Renata Gonçalves, Marcus Vinicius, Jones Manoel, Cheikh Anta Diop, Emicida, Mano Brown, Leonardo Péricles,Nataly Neri, Rincon Sapiência, Djonga e Mara Viveros.
Acesso ao conhecimento sobre intelectuais negros/as
A partir deste ponto, interessa-nos conhecer as formas de transmissão do conhecimento relativo a intelectuais negros/as. Por quais canais circulam as informações e sentidos sobre eles/as? Deixamos a pergunta como um texto aberto, pois nos interessava observar a pluralidade de estratégias possíveis já existentes na comunidade estudantil. As respostas são apresentadas em dois gráficos: o primeiro, de ordem mais geral, que divide em duas categorias básicas - acadêmicas e extra-acadêmicas - o acesso ao conhecimento. A partir desta agregação de respostas a partir desses duas categorias, observamos o seguinte:
No gráfico acima, observamos que há uma maioria significativa (39 pontos) de processos formativos a respeito deste tema que se iniciam nos espaços extra-acadêmicos, sendo consideravelmente menor a incidência dos espaços acadêmicos (22 pontos). Precisamos reforçar aqui que, havendo a inclusão de mais de um ponto por pessoa, o número total de pontos aparece, naturalmente, como maior ao número total da nossa amostra (n 52).
No segundo gráfico, demonstramos o detalhe das modalidades mais comuns de acesso à produção de intelectuais negros/as:
Do total de respostas deste diagrama, que foram contabilizadas pontuando cada uma das várias possibilidades observadas, observamos que uma boa parte teve acesso a esses nomes em aulas acadêmicas, contudo o maior número é representado por estratégias extra-acadêmicas ou complementares à academia: acesso a livros, redes sociais, audiovisuais, pesquisas pessoais e movimentos sociais como dispositivos/espaços de formação significativa. Finalmente, amigos/as e palestras aparecem também como locais que incitaram esse primeiro contato com intelectuais negros/as.
Referência prévia ao trabalho do professor Kabengelê Munanga
Neste item, consultamos aos/às participantes da pesquisa sobre o conhecimento que eles/as tinham, naquele momento, da obra do professor. Os resultados aparecem como segue:
Como observamos acima, a grande maioria das pessoas entrevistadas não conhecia previamente a obra do professor.
Formas de acesso ao conhecimento do trabalho do professor Munanga
Neste ponto, as três pessoas que preencheram o formulário apontaram quatro dispositivos/estratégias de acesso. Elas são descritas como seguem:
Como é possível notar, uma metade dos pontos definiram um tipo de acesso acadêmico (2 pontos), e outra metade dos pontos definiram um acesso extra-acadêmico (2 pontos).
A importância da contribuição do professor Kabengelê Munanga
para a educação e para a ciência brasileira
A respeito dessa questão, como boa parte dos/as estudantes participantes da pesquisa colocaram que não conheciam o autor em discussão, tivemos poucas respostas. As mesmas foram elaboradas graficamente como segue:
A sugestiva potência narrativa das poucas respostas recebidas nos leva a pensar em uma demanda a ser suprida, discutindo institucionalmente a contribuição de Munanga dentro dos espaços educativos.
O professor Munanga na UFRN
Essa pergunta é muito pontual, e indaga sobre o conhecimento histórico de um fato específico: “Você sabia que o professor esteve na UFRN entre os anos 1979 e 1980, fazendo parte da fundação de um programa de pós-graduação em antropologia?”. As três respostas obtidas deixam por fora um total de 49 pessoas do nosso universo amostral de 52 pessoas. Além disso, somente três (3) das quatro (4) pessoas que manifestaram conhecer previamente o prof. Munanga sabiam deste fato. As respostas dadas são apresentadas como segue:
Consideramos esse retorno, que aponta um vazio significativo no conhecimento dos/as estudantes da passagem do professor Munanga pela UFRN, como uma das chaves interpretativas centrais da nossa pesquisa exploratória, que tem como última questão o ponto seguinte.
Retornos sobre a experiência
Finalmente, trazemos um questionamento em tom reflexivo para finalizar o presente exercício: “essa pesquisa te fez refletir sobre alguma coisa?”. Na sequência, observamos os retornos dos/as participantes da pesquisa sobre a pergunta realizada:
A partir desta análise, podemos verificar que, ainda quando foram notadas críticas que observaram a pesquisa como “supérflua”, e auto-críticas a respeito do próprio conhecimento por parte de um entrevistado de pesquisadoras negras, em relação ao conhecimento de pesquisadores negros homens, houve uma boa aceitação da proposta de explorar mais a proposta de intelectuais negros/as em geral, e do professor Kabengelê Munanga em particular, salientando-se a sua necessária inserção e fortalecimento no meio acadêmico local, regional e nacional, dentro, mas também fora, da área da antropologia.
Conclusões
As respostas apresentadas e analisadas aqui de forma preliminar nos ajudam a pensar e construir pontes que ligam o pensamento e a intelectualidade do povo preto dentro e fora da academia. Ao mesmo tempo, uma série de sentidos emergem deste estudo, projetando perguntas a futuro: por que há uma parcela dos/as estudantes da UFRN que desconhece a existência de intelectuais negros/as? Por que há um número tão baixo de pessoas que conhecem a trajetória de um intelectual que contribuiu tanto para a academia e as políticas públicas de ação afirmativa no país como o professor Kabengele Munanga?
Consideramos que a presente pesquisa pode contribuir a trazer mais sentidos sobre esse pesquisador, focando na importância de conhecermos e reconhecermos a sua passagem concreta pela UFRN durante o final do periodo da ditadura militar, e traçando pontes que unem a realidade da UFRN e da sociedade potiguar à época com o nosso presente. Salientando que o presente estudo foi de tipo exploratório, julgamos que, a partir deste material, uma série de novos sentidos e fios para pesquisa devam ser abertos a partir do trabalho colaborativo entre estudantes, professores/as, pesquisadores/as e lideranças sociais dentro da nossa comunidade acadêmica, abraçando outros espaços de discussão cidadã e construção democrática.