O contexto histórico da UFRN
durante a presença de Kabengele Munanga
Em 25 de junho de 1958, o então governador Dinarte de Medeiros Mariz sancionou a lei nº 2.307, pela qual foi criada a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). No entanto, na época ainda não havia o curso de Ciências Sociais. Segundo Juan de Assis Almeida (2015), a Faculdade de Sociologia e Política foi criada em 1961, porém, era ofertada pelo estado, através da Fundação José Augusto (FJA), passando a integrar a grade de cursos da UFRN só no ano de 1975.
Em entrevista cedida aos alunos da disciplina de Antropologia e Cultura da UFRN, para uma pesquisa etnográfica sobre o professor Kabengele Munanga, em 26 de novembro de 2022, o entrevistado, professor Luiz Assunção, nos fala sobre seu ingresso nessa que era a primeira turma de Sociologia e Política da UFRN, tendo feito o vestibular no ano de 1975 e se matriculado em 1976. Enquanto Luiz cursava Sociologia e Política, o curso passou a ter em sua grade curricular, as disciplinas de antropologia, passando então a ser Ciências Sociais. Em 1979, quando Luiz Assunção já estava para se formar bacharel, teve aulas com o antropólogo Kabengele Munanga, que além de dar aulas para as turmas de bacharelado e licenciatura, também era professor do mestrado em Ciências Sociais.
Vale lembrar que, durante os anos de 1964 a 1985, o Brasil passava por um regime não democrático, no marco de uma ditadura militar. Os/as trabalhadores/as, artistas, estudantes e professores/as, sobretudo aqueles que se organizaram para protestar contra as forças opressoras do Estado totalitário, eram os grupos mais perseguidos pelas forças militares.
Neste período, o relatório da Comissão Nacional da Verdade, aponta para 434 mortos pela ditadura militar. Ao mesmo tempo, o livro Comissão da Verdade, lançado pela UFRN (2015), traz vários relatórios sobre estudantes e professores da região, centenas de investigados/as, dezenas de torturados/as, e três pessoas mortas nesta instituição pelo regime militar: o estudante Emanuel Bezerra dos Santos (Faculdade de Sociologia e Política), José Silton Pinheiro (Faculdade de Educação da UFRN) também estudante, e o professor Luiz Ignácio Maranhão Filho (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Natal).
Nesse sentido, observamos que a passagem do professor Munanga pela UFRN esteve marcada, também, pelo ambiente desfavorável à construção de reflexões sobre o racismo e políticas da igualdade racial. Contudo ele, junto a outros/as colegas, persistiram na organização de vídeo-debates sobre o tema em discussões que engajavam estudantes de vários cursos, criando por fim o Centro de Estudos Afro-Brasileiros nesta universidade - iniciativa institucional que, infelizmente, não teve continuidade.
Referência bibliográfica:
ALMEIDA, Juan de Assis. Diligências para Localização do Acervo Documental da Extinta Assessoria de Segurança e Informações da UFRN (1970 a 1990). In. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Gabinete do Reitor. Comissão da verdade da UFRN [recurso eletrônico]: relatório final / Universidade Federal do Rio Grande do Norte. – Natal, RN: EDUFRN, 2015.
Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/19504 Acesso em 14-12-2022.