Blind Bits

Blocos de Circuito

Desenvolver circuitos eletrônicos educacionais usando componentes embarcados em blocos (Figura 1) é uma prática comum no mundo educacional, tendo até mesmo implementações comerciais aqui mesmo, no Brasil. A inovação neste objeto de aprendizagem está no acréscimo de funcionalidades que permitam o seu uso, no processo de aprendizado de eletrônica básica para alunos com forte deficiência visual.

Figura 1 - Alguns componentes do BlindBits.

No atual mundo maker, projetos como o LittleBits (Figura 2) e seus encaixes magnéticos, vem fazendo muito sucesso, pois são usados na introdução ao mundo da eletrônica, até mesmo para crianças. No entanto, para alunos com deficiência visual, ele apresenta dois problemas fundamentais, a saber: i) a identificação/organização de seus componentes é feita por textos/cores e; ii) mesmo sendo muito bom para materializar o conceito de geração (entrada), de transporte (processamento) e de carga elétrica (saída), o conceito de circuito (fundamental na eletrônica) vem encapsulado nos blocos.

Figura 2 - Uma implementação de circuito usando o LittleBits.

Material Necessário

Nesta proposta de implementação, batizada de BlindBits (Figura 1), os blocos de circuito são especialmente preparados para o alunos cegos. Dentre as principais características do produto, podem ser destacadas as seguintes: i) todos os componentes eletrônicos estão dispostos sobre o bloco plástico, ou seja, são táteis; ii) a identificação do componente pode ser inserida no bloco através de uma etiqueta em braille; iii) componentes com polaridade são identificados de modo tátil, pois contam com uma porca extra no parafuso do polo positivo (Figura 3 a esquerda); iv) o uso de fios com "garras jacarés" (Figura 5) ou similar, além de prover uma conexão robusta entre os blocos, facilita o acompanhamento tátil do circuito implementado.

Figura 3 - Identificação tátil da polaridade.

A primeira versão do BlindBits foi construída tendo como base pedaços de tampas de locais para unidades de CD/DVD-ROM dos gabinetes de computadores. Dispostos nestas bases estão os componentes eletrônicos e os parafusos conectados aos terminais dos respectivos componentes.

Montagem e Uso

A montagem dos "bits" necessita de ferramentas comuns (furadeira, serra, alicate, ...) e algumas nem tanto, como um ferro de solda. No entanto, as imagens já mostradas deixam claro a simplicidade da proposta.

Como ainda está em fase preliminar de implementação espera-se que o aluno cego, com o apoio de um colega vidente, possa identificar os blocos e fazer as conexões; seguindo as orientações do professor. Isso implica na implementação, das atividades de aprendizado, usando do método de oficinas, onde o professor (mestre) conduz o processo de montagem de um produto e o aluno (aprendiz) efetivamente constrói o produto e o faz funcionar, usando-o como base no desenvolvimento do conhecimento relacionado a este produto.

Como exemplo prático, a Figura 4 mostra um pequeno circuito para implementar o conceito de Circuitos RC, onde um capacitor é carregado (chave posicionada à esquerda) e após a sua carga, pode ser usado para ligar (lampejo) uma lâmpada.

Figura 4 - Exemplo de circuito implementado usado no BlindBits.

No caso do BlindBits, obviamente nenhuma lâmpada é usada, sendo assim, esta foi substituída por um pequeno motor (Figura 5); o que permite ao aluno cego sentir o funcionamento do circuito, através da vibração do motor.

Figura 5 - Implementação, no BlindBits, do circuito da Figura 4.

As Futuras Versões

Nesta versão inicial, devido ao pouco tempo disponível para o desenvolvimento, as bases dos "bits" foram feitas de pequenas placas de plástico. A principal mudança proposta para as futuras versões estão relacionadas à impressão 3D destas bases, as quais deverão contar com a identificação em braille do componente, assim como de um espaço reservado para uma etiqueta com um QR Code, permitindo assim que um software em SmartPhone possa "visualizar" e descrever (em audio) o Blind Bit escaneado - ver QR Audio. Estas funcionalidades devem possibilitar a independência do aluno cego quanto a identificação e uso dos "bits".

O BlindBits foi criado para as aulas iniciais da disciplina de Eletrônica Digitas do curso de Ciências da Computação da Universidade Federal do Oeste do Pará. As demais aulas terão a lógica digital como principal fundamento. Isto implica na necessidade de criação de portas lógicas tangíveis - isso vai dar um pouco mais de trabalho.

Para Fazer e Saber Mais

Atualizado em 20/12/2021 (Cássio D. B. Pinheiro).