Embora o conceito de Tecnologias Sociais seja polissêmico, possui um núcleo central que consiste no reconhecimento de que este envolve inovação e participação no desenvolvimento de soluções para problemas sociais. Podem ser descritas como produtos, técnicas ou metodologias desenvolvidas em interação com as comunidades, visando à inclusão social e à melhoria das condições de vida (Dagnino, 2010). Não são impostas “de fora para dentro” a partir de peritos, mas construídas de forma participativa a fim de que sejam mais efetivas e promovam transformações significativas. Essas tecnologias são vistas como instrumentos importantes para a construção de um mundo mais justo e sustentável, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU.
A Incubadora Social Feminista Antirracista Norte, Nordeste e Amazônia Legal pretende fortalecer e fomentar práticas de prevenção às violências interseccionais nas universidades. Com foco específico na inclusão de mulheres pertencentes a segmentos minoritários, a incubadora busca integrá-las em todas as etapas de planejamento, produção e difusão de tecnologias sociais.
Ao desenvolver Tecnologias Sociais que impactam positivamente as trajetórias formativas de mulheres quilombolas, a Incubadora vai além do apoio educacional. No âmbito das ciências, os projetos de pesquisas em andamento promovem a visibilidade das mulheres negras quilombolas nas universidades, preenchendo uma lacuna crítica na presença e nas contribuições dessas mulheres na produção científica brasileira. Desse modo, trabalhando na prevenção das violências interseccionais e oferecendo suporte educacional, a Incubadora leva em consideração marcadores de gênero, raça, etnia e territorialidade.
Para articular universidade e sociedade na produção de tecnologias sociais, a Incubadora busca um engajamento colaborativo que fortalece a eficácia das soluções propostas, mas também promove a apropriação local das práticas, conhecimentos e metodologias desenvolvidas, garantindo que elas sejam contextualmente relevantes, cognitivamente transformadoras para mulheres e sustentáveis ao longo do tempo.
Em colaboração com a sociedade civil, a incubadora promove a inclusão de mulheres de segmentos minoritários em todas as fases de planejamento, produção e difusão de tecnologias sociais. Além disso, fomenta relações intergeracionais entre pesquisadoras em diversos estágios de formação, fortalecendo a produção de conhecimentos e tecnologias sociais. Com essas ações, ela transforma o ambiente acadêmico e científico, promovendo uma ciência mais inclusiva e representativa.
A partir de uma perspectiva contracolonial, as trajetórias vivenciadas por essas mulheres são situadas numa ampla historicidade de produção de conhecimentos por mulheres quilombolas, destacando que os conhecimentos quilombolas não começam na universidade, mas têm sido fundamentais para redefinir os modos como concebemos as universidades e as ciências no contexto brasileiro. Os saberes e conhecimentos quilombolas e sua presença têm o potencial de redefinir os modos como concebemos as universidades e as ciências no contexto brasileiro
Essa abordagem crítica e inclusiva contribui para promover uma transformação social e epistêmica. As Tecnologias Sociais desenvolvidas pela Incubadora visam colaborar no enfrentamento de problemas sociais específicos e, também, contribuir para a construção de um ambiente acadêmico mais justo, equitativo e diversos às mulheres negras e quilombolas. Este engajamento enriquece o conhecimento acadêmico com perspectivas diversificadas e experiências práticas, também fortalece os laços entre academia e sociedade, promovendo uma colaboração eficaz na busca por soluções sustentáveis e inclusivas para desafios sociais contemporâneos como é o caso de estudos de raça e gêneros.
Conheça agora as produções elaboradas pela incubadora voltadas para diferentes públicos:
Para estudantes quilombolas nas universidades e gestoras (es)
Caderno de Recursos “Fortalecendo a permanência de mulheres quilombolas em universidades”: um recurso interativo e orientador, desenvolvido com a participação das próprias mulheres quilombolas de graduação e pós-graduação das universidades parceiras, em oficinas realizadas pela Incubadora, visando ampliar o acesso e viabilizar a sua permanência no ambiente acadêmico.
Cadernos de Orientação Mulheres Quilombolas nas Ciências: são recursos educativos que destacam a importância da participação feminina na ciência e demonstram como o conhecimento científico pode beneficiar mulheres historicamente marginalizadas. Estes cadernos serão construídos a partir da experiência acumulada das equipes de pesquisa nas universidades parceiras e por meio das oficinas realizadas pela Incubadora. Serão produzidos três cadernos. O primeiro abordará a maternidade nas ciências, o segundo, o enfrentamento aos assédios e violências na universidade, e o terceiro, as trajetórias acadêmicas e carreiras científicas.
Para estudantes quilombolas nas universidades e público em geral
Materiais audiovisuais para divulgação científica: A Incubadora utiliza uma variedade de materiais audiovisuais para disseminar conhecimento científico. Nas redes sociais, são compartilhados carrosséis informativos, vídeos curtos e infográficos que simplificam temas complexos, tornando-os acessíveis ao público. No site do INCT Caleidoscópio e na homepage da Incubadora, são publicados boletins científicos detalhando iniciativas, além de vídeos institucionais que destacam pesquisas e entrevistas com cientistas mulheres, evidenciando seus impactos na sociedade. Em podcasts, abordamos temas de interesse acadêmico e social, promovendo diálogos entre pesquisadoras em diferentes estágios de carreira. Para formatos de imprensa, produzimos releases com entrevistas, artigos e reportagens em revistas científicas, complementados por pôsteres e infográficos para conferências, ampliando o alcance e a relevância das descobertas científicas.
PodCast: O programa "Mulheres Quilombolas nas Ciências: de quilombola para quilombolas" é parte do Podcast INCT Caleidoscópio, disponível nas plataformas Spotify e YouTube, se dedicada à divulgação científica, destacando as significativas contribuições das mulheres quilombolas no campo das ciências. O programa apresenta entrevistas virtuais com intelectuais negras quilombolas de diversas regiões do Brasil, proporcionando um espaço para as pesquisadoras compartilharem suas pesquisas, impactos e trajetórias formativas diretamente com o público interessado.
Para a Educação Escolar Quilombola e Gestão do Ensino Superior
Meninas Quilombolas nas Ciências! Podcast na Sala de Aula: guia para implantação de oficinas que visam integrar o podcast "Mulheres Quilombolas nas Ciências: De Quilombola para Quilombolas" ao contexto educacional quilombola. Destinado a professoras que atuam na educação escolar Quilombola e para aquelas escolas que recebem alunos e alunas quilombolas fora de suas comunidades de origem. O material pedagógico pretende inspirar e engajar novas gerações de meninas quilombolas no campo das ciências.
Desafios e Potencialidades das Tecnologias Sociais em projetos de ciência cidadã feminista antirracista
As Tecnologias Sociais apresentam um potencial transformador significativo, especialmente, para comunidades historicamente marginalizadas como as quilombolas, há, entretanto, desafios a serem enfrentados para sua ampla adoção e impacto nas políticas públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). É crucial um esforço integrado entre universidades, movimentos sociais e institutos de pesquisa para fortalecer o conhecimento local e aumentar a relevância das tecnologias sociais no cenário nacional (Kahlau, Schneider e Souza-Lima, 2019).
As Tecnologias Sociais representam um caminho alternativo e promissor para o desenvolvimento inclusivo e sustentável no âmbito do ensino superior, integrando saberes diversos e promovendo autonomia nas comunidades. Para a Incubadora Social Feminista Antirracista Norte, Nordeste e Amazônia Legal, essas tecnologias são instrumentos de transformação social e expressões concretas do compromisso com a equidade étnica, racial ,de gênero e promoção de justiça social.
O que diz a legislação sobre as Tecnologias sociais?
Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei 13.243/2016) e seu Impacto na Educação
A Lei 13.243/2016, conhecida como o novo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, traz mudanças significativas nas normas que regulam a inovação no Brasil. Esta legislação pretende criar um ambiente mais favorável e dinâmico para a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias. Compreender os princípios desse marco legal é essencial para que pesquisadores e instituições acadêmicas possam aproveitar plenamente as oportunidades que ele oferece, promovendo a integração das tecnologias sociais no campo educacional. A lei incentiva a produção e a disseminação de inovações que atendam às necessidades específicas das comunidades, ampliando o acesso ao conhecimento e às novas tecnologias.
Tecnologias Sociais segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI): Definições e Aplicações
Conforme o MCTI, as Tecnologias Sociais (TS) representam um conjunto de técnicas e metodologias desenvolvidas em interação com a população e apropriadas por ela, visando à inclusão social e à melhoria das condições de vida. No Brasil, essas tecnologias são conhecidas por promover soluções sustentáveis e eficazes para diversas demandas sociais, incluindo renda, trabalho, educação, saúde, habitação, e igualdade de gênero e raça.
As TS são caracterizadas por quatro dimensões principais:
Conhecimento, Ciência e Tecnologia:
Baseiam-se em problemas sociais específicos.
São organizadas e sistematizadas.
Introduzem ou geram inovações nas comunidades.
Participação, Cidadania e Democracia:
Enfatizam a cidadania e a participação democrática.
Utilizam metodologias participativas em seus processos.
Facilitam a disseminação e reaplicação das soluções.
Educação:
Promovem um processo pedagógico completo.
Fomentam o diálogo entre saberes populares e científicos.
São apropriadas pelas comunidades, proporcionando autonomia.
Relevância Social:
Eficazes na solução de problemas sociais.
Sustentáveis ambientalmente.
Capazes de provocar transformações sociais significativas.
Para uma compreensão mais detalhada sobre Tecnologias Sociais e sua aplicação, sugerimos a leitura completa do material fornecido pelo MCTI. Conheça os projetos da Incubadora Social Feminista Antirracista Norte, Nordeste e Amazônia Legal, incluindo o desenvolvimento de Tecnologias Sociais para apoiar mulheres negras quilombolas nas ciências, explore essa página e acompanhe nossas iniciativas no Instagram do INCT.
Referências Bibliográficas
KAHLAU, C. A.; SCHNEIDER, A. H.; SOUZA-LIMA, J. E. Tecnologia Social como Alternativa ao Desenvolvimento: indagações sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade. R. Tecnol. Soc., Curitiba, v. 15, n. 36, p. 190-213, abr./jun. 2019.
DAGNINO, Renato; BRANDÃO, Flávio Cruvinel; NOVAES, Henrique Tahan. Sobre o marco analítico-conceitual da tecnologia social. In: Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil, 2004.