Nepre-UFMT promove a XVIII Jornada de Desigualdades Raciais e mesa redonda apresenta o projeto de pesquisa "Mulheres Quilombolas nas Ciências: Políticas de Permanência nas Universidades e Produção de Subjetividades"
Nepre-UFMT promove a XVIII Jornada de Desigualdades Raciais e mesa redonda apresenta o projeto de pesquisa "Mulheres Quilombolas nas Ciências: Políticas de Permanência nas Universidades e Produção de Subjetividades"
No dia 13 de novembro de 2024, A Incubadora participou da mesa redonda dedicada à temática "Mulheres Quilombolas nas Ciências", durante a XVIII Jornada de Desigualdades Raciais na Educação Brasileira, evento paralelo à 32ª edição do Seminário de Educação (SemiEdu 2024), realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação (Nepre-UFMT). Este seminário integra atividades do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMT e visa fomentar a troca de experiências entre educadores e pesquisadores sobre inovações na educação.
Organizada pelo Nepre-UFMT há 18 anos , a jornada deste ano tem como tema “O Brasil também é Quilombola: currículo, práticas pedagógicas e experiências interdisciplinares”. Há 18 anos, o evento científico, aberto a toda a comunidade — incluindo intelectuais, docentes da educação básica, estudantes de graduação e pós-graduação, além de militantes dos movimentos sociais e do movimento negro — procura discutir a valorização da herança africana no Brasil, abordando a intersecção entre educação, raça e gênero.
Com este tema, a jornada visa promover um espaço de reflexão crítica sobre a educação escolar quilombola, enfocando o currículo e as práticas pedagógicas que são essenciais para a socialização de experiências inovadoras. O objetivo é abordar como essas práticas podem enfrentar as desigualdades étnico-raciais, explorando suas interseccionalidades e contribuindo para a valorização da diversidade cultural nas escolas.
A mesa redonda "“Mulheres Quilombolas nas Ciências - Incubadora Social Feminista e Antirracista Norte, Nordeste e Amazônia Legal” teve como foco os estudos relacionados ao projeto de pesquisa "Mulheres Quilombolas nas Ciências: Políticas de permanência nas universidades e produção de subjetividades". Coordenado pela Profa. Dra. Dolores Galindo, o projeto reúne grupos de pesquisa de diversas universidades, incluindo a UFMT, UFCG, UFBA, UNEB, UFPE, UFRB, UFRN e UFPA. Ele se dedica a estudar as trajetórias de profissionalização acadêmica de mulheres pesquisadoras negras quilombolas, buscando identificar os principais desafios enfrentados no acesso ao ensino superior em níveis de graduação e pós-graduação, além de levantar boas práticas já existentes para facilitar essa inclusão, conforme pontuou a Profa. Dra. Dolores Galindo (UFCG).
Coordenada pela pesquisadora, Profa. Dra. Candida Soares da Costa que integra o projeto, a mesa redonda trouxe à tona contribuições da Profa. Dra. Dolores Cristina Gomes Galindo e da Profa. Dra. Zizele Ferreira dos Santos, além da advogada e mestra Naryanne Cristina Ramos Souza.
Acerca da presença das mulheres quilombolas nas ciências, Dolores Galindo destacou que essa presença não é ainda evidente nos bancos de dados em ciência e tecnologia, nem no corpo docente das instituições, "Nós vivemos um momento onde precisamos de um diagnóstico preciso sobre a presença das mulheres quilombolas como docentes nas universidades, sobretudo nas universidades públicas, federais e estaduais, e igualmente sobre a presença delas na pós-graduação, mestrado e doutorado como pesquisadoras. O mesmo se mostra em relação à fixação das doutoras quilombolas nas universidades. Essa produção de invisibilidade deve ser diferenciada da invisibilidade, pois toda a invisibilidade é produzida ativamente". Em seguida, ela apresentou alguns dados gerais sobre como se produz essa invisibilidade de mulheres quilombolas nos sistemas de ciência, tecnologia e informação.
Naryanne, que é também representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas (CONAQ), iniciou sua fala destacando a importância do reconhecimento da presença quilombola na sociedade brasileira, um feito recentemente corroborado pelo censo do IBGE. Em sua visão, o reconhecimento é um reflexo de lutas históricas e um sinal de que a comunidade quilombola não está sozinha em sua busca por visibilidade e direitos.
A advogada enfatizou que as mulheres quilombolas são fundamentais para a produção de conhecimento e que, por muito tempo, suas vozes estiveram silenciadas. Ela lembrou as contribuições passadas de suas ancestrais, que já eram cientistas em seus tempos. "Pautar sobre a importância de reconhecer Mulheres Quilombolas nas Ciências, é dizer sobre a valorização e preservação dos saberes tradicionais, promover justiça social e equidade, fortalecer a autonomia das nossas comunidades quilombolas, produzir reconhecimento representativo e humanizar a ciência. Pois, trazemos abordagens interdisciplinares que integram a ciência moderna aos saberes tradicionais, oferecendo soluções mais abrangentes para questões globais, como a crise climática e a sustentabilidade”, afirmou.
Na mesa, Zizele Ferreira reforçou a importância de políticas afirmativas e contou sobre suas experiências como pesquisadora do estudo de caso “Trajetórias formativas de mulheres quilombolas e boas práticas de Políticas de Ações Afirmativas no ensino superior“ , por meio de oficinas no CDSA-UFCG que visam mapear obstáculos enfrentados por mulheres quilombolas no acesso ao ensino superior.
A proposta do INCT, reforçada por Zizele de desenvolver guias, foi relembrada de que será o "Guia de Boas Práticas Acadêmicas para Mulheres Quilombolas" visa proporcionar ferramentas e estratégias que apoiem essas mulheres em suas trajetórias educacionais para se tornarem cientistas. Sobre trajetórias, ela reforçou que, “As trajetórias formativas são vidas que nos interessam no sentido de agências. Sob a perspectiva da agência, as mulheres quilombolas, discentes ou já doutoras, emergem como agentes ativas em suas trajetórias formativas de vida profissional, dotadas da capacidade de forjar suas próprias narrativas e recontextualizar as condições estruturais que permeiam suas vidas. A agência, nesse contexto, se refere à habilidade das pessoas de intervir no mundo e provocar transformações, mesmo quando confrontados com adversidades e desigualdades estruturais que permeiam o seu caminho.”
O evento culminou com um apelo à ação coletiva, reafirmando que o futuro das comunidades quilombolas deve ser construído com a participação ativa de suas mulheres, reafirmando a diversidade e a riqueza cultural que elas trazem ao campo científico. A mesa redonda destacou a necessidade urgente de promover a justiça social e o reconhecimento das trajetórias de mulheres quilombolas em diversos âmbitos da sociedade e da academia.