Fonte: CLACSO
A participação da Incubadora de Pesquisas Feministas Antirracistas Norte/Nordeste e Amazônia Legal no Seminário-Taller "Interrogando las Materpaternidades en América Latina hoy", organizado pela CLACSO, foi marcada por debates sobre as dinâmicas contemporâneas de maternidade e paternidade em contextos de marginalização. Realizado virtualmente em 3 de julho, o evento começou com a conferência de Isabella Cosse sobre "La ‘niña madre’: dilemas em torno da maternidade, infância e abuso sexual", seguida por um conversatório sobre os desafios neste campo. Após uma pausa, os participantes se envolveram em diversos talleres participativos.
Destacou-se o Taller "Materpaternidades y mujeres negras quilombolas: contribuciones para repensar las universidades", coordenado por Profa. Dra. Dolores Galindo da Universidade Federal de Campina Grande, Membra do GT Estudios Críticos en Materpaternidades da CLACSO (2023-2025). Este espaço enfatizou a relevância das contribuições das mulheres negras quilombolas para o ambiente acadêmico, explorando como seus saberes tradicionais podem enriquecer os currículos universitários e promover uma educação mais inclusiva.
Durante o evento, Nirda Rosa de Oliveira, professora quilombola e mestranda em Estudos Contemporâneos na Universidade Federal de Mato Grosso (ppgecco-ufmt), orientanda da Profa. Dra. Dolores Galindo, compartilhou suas experiências na Comunidade Quilombola do Chumbo em Poconé, MT. Ela apresentou o tema "Vivências na Maternidade: Partos e Cuidados na Comunidade Quilombola do Chumbo", focando nos saberes tradicionais das mulheres quilombolas nos cuidados medicinais durante a maternidade.
Nirda destacou a importância desses saberes, especialmente o uso de ervas medicinais transmitidas oralmente ao longo das gerações, desde os rituais de parto até os cuidados pós-parto, resgatando memórias e práticas ancestrais essenciais para a preservação cultural. "A participação no evento foi uma oportunidade de compartilhar a riqueza dos saberes tradicionais das mulheres quilombolas na maternidade. É fundamental reconhecer como essas práticas, como o uso de ervas medicinais e os rituais de parto, cuidam não apenas da saúde física, mas também mantêm viva nossa cultura. Foi uma chance de mostrar como esses conhecimentos são transmitidos de geração em geração e são essenciais para nossa comunidade no Chumbo, em Poconé", destacou a mestranda.
Zizele Ferreira, professora e Pós-Doutoranda Júnior, bolsista CNPQ na UFCG-INCT Caleidoscópio, abordou o tema "Biografias e Concepções de Mães Quilombolas sobre a Educação: Trajetórias Formativas de Mulheres Quilombolas nas Ciências". Zizele iniciou sua apresentação contextualizando o reconhecimento das comunidades quilombolas, o reconhecimento legal da Educação escolar quilombola e as maternidades negras e quilombolas: regras de etiquetas raciais no Brasil.
Ela destacou as maternidades quilombolas e trajetórias formativas, evidenciando os desafios enfrentados no acesso à educação formal e a necessidade urgente de políticas públicas inclusivas que reconheçam e valorizem os conhecimentos dessas mulheres que atuam nas comunidades. "Minha participação no evento foi uma oportunidade crucial, no contexto da América Latina, para discutir como as trajetórias educacionais das mães quilombolas são moldadas por desafios significativos, mas também por uma determinação extraordinária em perseguir o conhecimento e contribuir para suas comunidades. Ao destacar as maternidades quilombolas, pude evidenciar como essas mulheres enfrentam barreiras educacionais e lutam pela valorização de seus saberes ancestrais e garantia do direito à educação em seus territórios", ressaltou a pesquisadora.
A Profa. Dra. Dolores Galindo, propositora do taller e uma das coordenadoras da Incubadora, avaliou que "a contribuição das jovens pesquisadoras, incluindo uma delas quilombola, foi fundamental para ressignificar as práticas sociais sem exotização e discutir a importância dos estudos para políticas afirmativas nas universidades brasileiras. Também abordamos a urgente preocupação com a violência racial contra jovens negros na pesquisa sobre materpaternidades, e a conexão dessas práticas com a biodiversidade e dimensão ecológica nos territórios quilombolas".
A pesquisadora enfatizou a necessidade de co-investigações prolongadas sobre as trajetórias formativas de mulheres quilombolas mães nas universidades, junto à importância de políticas reparadoras, destacando ainda a urgência de mudanças estruturais nas instituições acadêmicas.
A Profa. Dra. Dolores Galindo a partir dos seus estudos e pesquisas sobre maternidades negras e quilombolas, após uma densa exposição sobre maternidade na arte negra contemporânea, destacou os seguintes pontos em sua apresentação:
A importância da ampliação dos estudos sobre materpaternidades em direção à historicidade das mulheres negras e quilombolas, para o redimensionamento de alguns dos eixos centrais do campo dos estudos sobre maternidade, como, por exemplo, as reflexões sobre o amor materno;
Os estudos sobre as materpaternidades negras e quilombolas no Brasil enfrentam o problema da história lacunar derivada da escravização, onde restam poucos registros em primeira pessoa de mulheres negras ao longo do século XIX;
Pesquisas sobre as materpaternidades com a participação de pesquisadoras quilombolas que articulam territorialidade e memória podem contribuir para uma reescrita da memória das práticas sociais sem a produção e exotificação das mulheres quilombolas;
Os estudos sobre materpaternidades quilombolas são fundamentais para a construção de políticas afirmativas nas universidades brasileiras, considerando que o exercício da maternidade negra foi um direito negado às mulheres durante a escravização, o que segue sendo reiterado por meio da dificuldade de acesso às políticas públicas de saúde e educação;
A questão da violência racial contra a juventude negra no Brasil é um tema importante para a agenda de estudos sobre materpaternidade no Brasil.
O Taller 1 "Materpaternidades y mujeres negras quilombolas: contribuciones para repensar las universidades" ocorreu dentro do cronograma planejado, com participação de 18 pessoas no início e média de 13 pessoas ao longo do tempo. Estiveram presentes na apresentação a Profa. Dra. Dolores Galindo (UNESP), Profa. Dra. Zizele Ferreira (UFCG) e Nirda Rosa (Licenciada em Pedagogia e Mulher Quilombola do Chumbo).
As palestrantes destacaram a importância da co-pesquisa de longo prazo sobre as trajetórias educacionais de mulheres mães quilombolas em universidades, como as realizadas pela Incubadora Feminista Antirracista do Norte, Nordeste e Amazônia Legal no Brasil.
A palestrante quilombola destacou a relevância do espaço criado pelo GT Materpaternidades com a presença de mulheres negras quilombolas entre os palestrantes e que ainda há um longo caminho a percorrer para a implementação de políticas de reparação nas universidades.
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