Nono e Nona

O neto ligou para a avó, a quem não via há mais de dois anos.

— Nona: tudo bem? É Pierino, seu neto.

Eu sei. Pensei que não tivesse mais neto… Se eu morro, você fica sabendo pelo anúncio no jornal.

A vida está corrida. Mas estou indo aí, para visitá-la. Vou levar a Jussara para a senhora conhecer.

Quem é essa?

Minha nova mulher.

Coitada. Mais uma vítima. Mas venham.

Daqui a meia hora estaremos na sua casa.

No prédio, as coisas mudaram um pouco. Quando você chegar, aperta com o cotovelo o botão do porteiro eletrônico. Abro a porta aqui de cima. Depois, no elevador, aperta com o cotovelo o 3. Moro no 32. Quando chegar, toca com o cotovelo a campainha. Entendeu?

Entendi, entendi, Nona. Só não entendi por que tenho que apertar todos os botões com o cotovelo.

Puta que o pariu. Você fica sem aparecer mais de dois anos e me vem com as mãos abanando?

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O Nono estava no bico do corvo. O médico chamou a família:

O quadro do Nono é gravíssimo, irreversível. Não temos mais nada a fazer por ele. Melhor levá-lo para casa, para que ele possa ficar perto dos filhos, netos, bisnetos… Segundo me disse, gostaria de morrer em casa.

E assim foi feito.

A casa do Nono parecia um Corinthians X Palmeiras, em final de campeonato, de tão lotada.

Embora moribundo, o Nono mantinha faro apurado. Chamou um dos bisnetos e lhe disse:

Vá até a cozinha e peça dois pastéis pra Nona: um de carne e um de queijo. Adoro pastéis.

O pirralho foi e voltou de mãos abanando.

Cadê os pastéis? quis saber o Nono, impaciente, lutando contra o tempo.

O bisneto foi direto ao ponto:

A Nona me disse que os pastéis são para o seu velório.