A Fiocruz possui a missão de produzir, disseminar e compartilhar conhecimentos e tecnologias voltados para o fortalecimento e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS). Sua atuação visa à promoção da saúde, à qualidade de vida da população brasileira, à redução das desigualdades e à inovação. Seu compromisso institucional é de caráter público e estatal e compreende a educação como processo emancipatório. Entre as ações mais conhecidas da fundação, estão: produção de vacinas, formulação de medicamentos a base de plantas, criação de novos métodos diagnósticos, aumento no número de patentes brasileiras, financiamento de pesquisas científicas e aprimoramento do SUS.
A história da Fiocruz tem início em 1899, ano em que a peste bubônica chegou a Santos. As autoridades sanitárias decidiram organizar dois laboratórios para a produção de vacina e soro contra a peste: Instituto Butantan, em São Paulo, e Instituto Soroterápico Municipal, no Rio de Janeiro. Oswaldo Cruz, responsável pela direção técnica do segundo Instituto, tinha acabado de voltar de um estágio no Instituto Pasteur, em Paris. Foi exatamente neste Instituto que a vacina e o soro contra a peste tinham sido criados por Alexandre Yersin, Henri Carré e Waldemar Haffkine, alguns anos antes. Além de produção de vacinas e soros, o Instituto Soroterápico coloca-se como um centro de investigação científica. Em 1908, o Instituto Soroterápico passou a ser chamado de Instituto Oswaldo Cruz (IOC), assumindo as tarefas de pesquisa, ensino e extensão.
Faz-se oportuno mencionar que a criação do IOC ocorreu em um contexto de maior formalização das ações de saúde pelo Estado e antecedeu o movimento sanitário-campanhista que ganhou força no Brasil na década de 1910, fortemente influenciado pelos especialistas que ocupavam as cadeiras do Instituto.
As primeiras iniciativas expositivas e de divulgação do IOC aconteceram em exposições de higiene na Alemanha nos anos de 1907 e 1911. As exposições incluíam plantas e imagens do Castelo Mourisco; espécimes de insetos; a descoberta da doença de Chagas; e o combate à febre amarela. Em 1907, a exposição brasileira foi premiada com a medalha de ouro.
Após a morte de Oswaldo Cruz em 1917, seu escritório foi conservado e deu origem ao Museu Oswaldo Cruz. Objetos de uso pessoal e científico de Cruz passaram a ser exibidos para valorizar a sua memória.
Após a finalização do Castelo Mourisco em 1918, esse Museu foi criado para expor as coleções científicas do IOC. Nesse momento, só havia seis museus de Ciências no Brasil e nenhum deles tinha um acervo considerável de anatomia patológica.
Até 1964, a história do IOC foi marcada pelo receber eventos de grande relevância científica, como a visita do físico alemão Albert Einstein (1925) e o V Congresso Internacional de Microbiologia (1950), com participação de Alexander Fleming, descobridor da penicilina. As décadas que antecederam a ditadura militar também marcaram a expansão dos limites físicos do IOC e a criação de diversos outros institutos, incorporados à Fiocruz anos mais tarde, como é o exemplo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), do Núcleo de Pesquisa da Bahia e do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM).
Albert Einstein no IOC (1925)
No chamado "Massacre de Manguinhos", vários pesquisadores foram cassados, laboratórios, fechados e cientistas, transferidos. Além disso, grande parte do acervo do IOC foi destruída. Em 1970, o governo reorganiza por decreto a IOC, que passou a chamar-se em 1974 Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Nesse período, dois museus foram criados: o Museu Científico do Instituto Oswaldo Cruz e o Museu Didático Marquês de Barbacena, ambos abertos à visitação escolar.
Apresentava uma síntese da história da saúde pública no Brasil, com foco nos estudantes.
Fornecia uma breve visão dos trabalhos da Fiocruz, tendo como objetivos de educar, informar e motivar.
Com a redemocratização do Brasil, a Fiocruz passou por um processo de reorganização, com a criação de novas unidades técnico-científicas, como a Casa Oswaldo Cruz. Seu pioneirismo influenciou a reforma sanitária do país e consequentemente a criação do Sistema Único de Saúde. Atualmente, a Fiocruz está incorporada ao SUS e contribui com a formação de profissionais altamente qualificados para a assistência e gestão no sistema de saúde brasileiro. Além disso, a fundação é responsável pela condução de pesquisas em níveis nacionais e internacionais e tem parcerias sólidas com países como a França, Estados Unidos e Moçambique.
O Museu da Vida é mantido pela Casa Oswaldo Cruz, uma unidade da Fiocruz criada em 1986 e "dedicada à preservação da memória da Fiocruz e às atividades de pesquisa, ensino, documentação e divulgação da história da saúde pública e das ciências biomédicas no Brasil" (COC/Fiocruz, 2021).
A proposta de criação do Museu da Vida tem como base o II Congresso Interno da Fiocruz, que aconteceu em 1993. Nele, decidiu-se que o novo museu deveria ter como missão criar uma ponte entre os especialistas e o público em geral, que devem ter acesso aos resultados das pesquisas científicas.
Uma fonte de inspiração para o Museu foram os centros de ciência interativos, que tiveram como base a experiência do Exploratorium, criado em 1969 em São Francisco, nos Estados Unidos.
Entre 1993 e 1999, algumas exposições temporárias foram criadas, como "Imagens da Peste Branca - Memória da Tuberculose", “Revolta da Vacina – Da varíola às campanhas de imunização”, e "Vida".
Instituto Butantan
Instituições historicamente vinculadas a produção de conhecimento ocuparam ao longo das décadas um papel de destaque na institucionalização das ciências no Brasil. Em nosso país, bem como em outras partes do mundo, era comum que pesquisas fossem realizadas nos espaços dos museus, antes do surgimento de institutos especializados e de laboratórios de estudos experimentais, para onde essas atividades foram pouco a pouco deslocadas. Nesse contexto, o Museu Nacional emerge como um dos principais representantes do processo de institucionalização das ciências no Brasil.
No entanto, se enxergamos em nosso processo histórico a influência dos museus no desenvolvimento das ciências naturais e na profissionalização dos cientistas, podemos notar também a importância das fundações e institutos na museologia brasileira, sobretudo no século XX.
Assim como a Fiocruz, com o Museu da Vida, em São Paulo o Instituto Butantan é responsável por gerenciar o Museu Biológico, o Museu Histórico, o Museu de Microbiologia e o Museu de Saúde Pública Emílio Ribas.
Assim como o Museu da Vida, o Museu Histórico do Instituto Butantan tem como objetivo a pesquisa, a preservação e a divulgação da história da ciência e da saúde.
As semelhanças continuam no Museu Biológico e no Museu de Microbiologia, em que o papel educativo da instituição se mostra presente em suas ações. Na imagem, crianças no Museu de Microbiologia do Butantan.
REFERÊNCIAS
CASAZZA, Ingrid Fonseca. O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as ciências naturais no século XIX. Cadernos de Saúde Pública. 2012, v. 28, n. 3 pp. 605-606. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-311X2012000300021>. Acesso em: 22 jul. 2021.
BEVILAQUE, Diego Vaz; RAMALHO, Marina; ALCANTARA, Rita; COSTA, Tereza (Org.) Museu da Vida: ciência e arte em Manguinhos. Rio de Janeiro: Fiocruz / Casa de Oswaldo Cruz, 2017. 120p. Disponível em: <https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/28050>. Acesso em: 16 jul. 2021.
BEVILAQUE, Diego Vaz. Museu da Vida – um século de museus na Fiocruz. In: COSTA, Ana Lourdes de Aguiar; LEMOS, Eneida Braga Rocha (Org.). 200 ANOS DE MUSEUS NO BRASIL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS, 2018, Brasília, DF, Anais 200 anos de museus no Brasil: desafios e perspectivas. Brasília, DF: IBRAM, 2018. p. 216-230. Disponível em: <https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/36709>. Acesso em: 16 jul. 2021.
FIOCRUZ. A Fundação - História. Disponível em: <https://portal.fiocruz.br/historia>. Acesso em: 19 jul. 2021.
INSTITUTO BUTANTAN. Atrações. Disponível em: https://butantan.gov.br/atracoes. Acesso em: 22 jul. 2021.
MUSEU DA VIDA. Museu da Vida/Fiocruz. Disponível em: <http://www.museudavida.fiocruz.br/>. Acesso em: 16 jul. 2021.