Os alunos do Ensino Médio – futuros universitários, pesquisadores, profissionais das diferentes áreas e, acima de tudo, cidadãos num mundo em constantes e intensas transformações – precisam desenvolver o espírito investigativo, com criticidade, fundamentação metodológica e rigor acadêmico.
Assim nasceu o Programa de Iniciação Científica Júnior do Colégio Santo Américo, um curso que busca instrumentalizar os alunos para que desenvolvam procedimentos necessários para pesquisas, preparando-os da melhor forma para o prosseguimento de estudos no Ensino Superior.
Durante o período escolar, a iniciação introduz os alunos no ambiente da pesquisa e procura despertar a vocação científica de cada um. Com isso, auxilia na construção de novos conhecimentos, desenvolve o senso crítico e a criatividade, aprimora habilidades e transforma o ensino-aprendizagem em algo mais dinâmico e reflexivo. Esse tipo de atividade deve ser incentivado nas escolas brasileiras visto que recentes pesquisas mostraram o baixo letramento científico da população ativa e, principalmente, dos jovens em idade escolar.
Nos últimos 5 anos foram desenvolvidos mais de 30 projetos em diferentes áreas que envolveram em torno de 70 alunos do 9º ano do Ensino Fundamental 2 e 1º e 2º anos do Ensino Médio sob supervisão da Profa. Leila M. Stávale. É importante salientar que todos os trabalhos surgiram de ideias dos próprios alunos que se engajaram em buscar soluções para problemas do cotidiano. Reuniões semanais, leitura de artigos, experimentos com pesquisadores de universidades e discussões de metodologias com diversos professores fizeram parte da rotina desses estudantes. O aprendizado adquirido neste processo vai muito além daquele visto em sala de aula: programação de computadores, cultivo de bactérias, noções de física quântica, desenhos em 3D são alguns exemplos de ensino gerado neste programa de iniciação. Também é importante ressaltar a melhora na escrita e interpretação de textos devido a leitura de muitos textos científicos e produção de relatórios e artigos sobre o seu projeto. Por fim, mas de grande valia, é a formação humana que os alunos obtêm ao se preocuparem com um problema que afeta pessoas e/ou ambiente ao seu entorno, demonstrando a solidariedade e empatia necessárias para se viver em uma sociedade mais justa e sustentável. Muitos desses trabalhos participaram de feiras de ciência nacionais e internacionais e ganharam prêmios por sua excelência.
Destaco neste ano o projeto Vitágua desenvolvido por três alunas do II ano. Como forma de amenizar o problema da falta de sustentabilidade no planeta e a destruição de ambientes aquáticos e ecossistemas danificados devido a problemas socioambientais, o projeto, começando pela cidade de São Paulo, tem o objetivo de eliminar o principal problema do Rio Tietê: o esgoto doméstico. Para resolver isso, portanto, foram conciliados e aprimorados diversos projetos já feitos até que fosse possível criar um dispositivo para amenizar a poluição do Rio Tietê e garantir a seguinte meta: oxigená-lo em, pelo menos, 5%, auxiliando, assim, a eliminação dos dejetos originados no esgoto doméstico. Cada etapa do projeto, feito de modo econômico e acessível, tem substâncias específicas. A primeira delas é composta por casca de banana, a segunda pela bactéria Bacillus subtilis e, por fim, a terceira possui um detergente biodegradável. Cada uma dessas fases do tratamento têm recipientes de plástico (potes de 36L) interligados por canos de pvc, que possuem aberturas, onde será possível inserir as substâncias que farão parte do procedimento. Em suma, o dispositivo será conectado ao encanamento das casas, atingindo, a princípio, a melhoria no tratamento do esgoto doméstico e, posteriormente, o próprio rio em questão, possibilitando a existência de vida aquática e contribuindo com o desenvolvimento social. Dessa forma, com uso de recipientes de plástico, canos e outros objetos, o Vitágua começou a ser construído a fim de impactar positivamente o meio ambiente. Levando-se em conta os diversos aspectos envolvidos no projeto, pode-se citar: baixo custo pelo uso de materiais sustentáveis, implantação e manutenção de um sistema simples de saneamento básico para áreas periféricas e pessoas de baixa renda e ambientalmente correto, pois não utiliza produtos químicos ou produz resíduos danosos. Por fim, o projeto é social e essencial quanto ao implante em casas que não possuam o sanemento básico, trazendo mais dignidade para essas pessoas e menor despejo de esgoto não tratado em córregos locais.
Este projeto teve um grande destaque pois participou de feira de ciência nacional (FFNADANTE, 2019) e congresso internacionais na área de saneamento básico (Wolrd Toilet Summit, 2019) e neste ano ganhou medalha de bronze no I-FEST², feira de ciência da África organizada pela ATAST, a Associação Tunisina para o Futuro da Ciência e Tecnologia e aberta a todos os estudantes entre 14 e 24 anos. Ao ser divulgado por diversas mídias atingiu diferentes públicos ao mostrar como uma ideia simples pode auxiliar muitas pessoas que não tem acesso a uma rede de esgoto. Abaixo a reportagem feita com a professora Leila Stávale sobre o projeto para a revista Galileu:
Também neste ano publicou-se o primeiro artigo em uma revista científica oriundo de um projeto desenvolvido no CSA pelos alunos Caroline Moura e João Pedro de Jesus Pereira com orientação da professora Leila Stávale e coorientação da professora Claudia Ayres na Revista Virtual de Química. O trabalho teve o intuito de identificar a presença do BPA (Bisfenol A), um composto que apresenta alto grau de toxicidade à saúde humana e atua como um desregulador hormonal em diferentes tipos de plásticos. Para isso, utilizou-se uma solução de 5% de Cloreto Férrico (FeCl3) diluído em álcool absoluto e colocado em um papel filtro em contato com as seguintes amostras: Copo descartável feito de Polipropileno; Copo descartável feito de Poliestireno; Vasilha Free BPA; mamadeiras e uma embalagem alimentícia revestida com resina plástica. Os testes foram feitos a temperatura ambiente (27ºC) e a um intervalo entre 80ºC e 98ºC. O procedimento foi repetido quatro vezes em cada amostra e os resultados obtidos após dois dias (tempo de oxidação completa do ferro presente no FeCl3) foram classificados em positivos ou negativos. Os copos plásticos mostraram os resultados mais contundentes em relação a coloração, apresentando marcações fortes quando submetidos a altas temperaturas. A vasilha plástica, apesar de “Free BPA”, e as mamadeiras deram resultados positivos quando aquecidas em alguns testes, sugerindo a presença de BPA em sua composição. Já a embalagem de cereal não evidenciou a coloração esperada mesmo em temperaturas acima de 80ºC, tornando seus dados inconclusivos. Apesar disso, os resultados obtidos em geral foram muito satisfatórios diante dos objetivos iniciais, demonstrando que em altas temperaturas materiais plásticos são capazes de liberar compostos tóxicos como o BPA para a solução contida em seus recipientes, um risco a saúde dos consumidores.
Professora Leila Stávale e alunas Júlia Rodrigues da Silva, Anally Nunes de Souza e Keiko Moura Hanasiro do projeto Vitágua no laboratório de Biologia do Ensino Médio.
Alunas Anally Nunes de Souza, Júlia Rodrigues da Silva e Keiko Moura Hanasiro durante participação na feira de ciências do Colégio Dante Alighieri (FENADANTE)
Alunas Anally Nunes de Souza, Júlia Rodrigues da Silva, Keiko Moura Hanasiro e professora Leila Stávale no congresso internacional World Toilet Summit
Professora Claudia Ayres, alunos João Pedro de Jesus Pereira e Caroline Moura e professora Leila Stávale durante a feira de ciências da USP (FEBRACE).
Experimento com copo plástico e cloreto férrico para detectar presença de bisfenol A dos alunos João Pedro de Jesus Pereira e Caroline Moura