SOBRADO: SESMARIA E ENGENHOS

CARTOGRAFIAS PARA A HISTÓRIA DE SOBRADO


Por Edno Paulino de Luna

Prof. de Geografia

Mestre em Educação

Diretor de Cultura


Para demarcar o período pelo qual se pode detectar a presença dos primeiros aglomerados humanos de colonizadores neste território - que faz parte do município de Sobrado e circunvizinhança -, bem como, suas atividades econômicas, sobretudo, da presença dos engenhos e seus canaviais, faz-se necessário buscar resquícios desta história dentro das antigas sesmarias.

Com este fim, selecionamos os fragmentos, a seguir, para começarmos o que chamaremos, por hora, de cartografia da história do município de Sobrado. Na pesquisa de Adauto Ramos, podemos detectar denominações de espaços que compreendem comunidades que mesmo após sequências de subdivisões, ainda permanecem dentro do território do município de Sobrado.

O texto, na íntegra, elenca todo o processo de fragmentações que as terras dos Engenhos Melancias e Antas sofreram, citando com fidelidade os nomes dos seus proprietários. Esta fora a primeira demarcação, o nascedouro do território de Sobrado., cujo rio Gurinhém, e seus engenhos, tornaram-se símbolos da nossa origem e marco territorial.


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Para consultar os textos completos, dirigir-se à biblioteca municipal.

Planta dos Terrenos do

Engenho Melancias - Setembro de 1869

Por Adauto Ramos

Cirurgião Dentista/UFPB

Genealogista, poeta, membro do IHGP.

Membro do IPGH


O engenho Melancias ou São Sebastião de Melancias, ficava localizado no atual município de Sapé. Possuía uma capela cujo orago era São Sebastião. Este engenho foi construído na data de sesmaria doada no ano de 1616 pelo então Capitão Mor governador da Paraíba, Francisco Nunes Marinho de Sá a Balthazar Freire e Gaspar Dias Beco.

[...] No ano de 1766 encontramos uma escritura de venda de meia "légoa" de terra no lugar Antas, do rio Gurinhém a qual "começava na testada dos religiosos de S. Bento".

[...] Os engenho Melancias e Antas foram construídos nas terras daquela sesmaria doada a Balthazar Freire e Gaspar Dias Beco. O Melancias limitava-se ao nascente com Antas. [...] Concluímos que a sesmaria doada a André de Albuquerque hoje fazem parte do território de Sobrado na sua parte leste, isto é, entre a cidade e as terras dos antigos frades de São Bento, no engenho Maraú.

[...] Os engenhos Melancias e Antas estariam localizados em terras destas sesmarias, construídos possivelmente no século XIX. Não sabemos quem edificou estes engenhos, nem quando. [...] ao longo dos anos [a sesmaria] foi sendo subdividida em pequenas propriedades.

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Fonte: RAMOS, Adauto. Engehno Melancias: roteiro para sua história. João Pessoa: Sal da Terra, p. 5-7.

Os Engenhos

Bacharel em Ciências Jurídicas e

Ciências Sociais pela UFPB.

Ex-assessor jurídico do Município de Sobrado


A presença de engenhos na vasta área territorial do Estado da Paraíba começou com a construção do Tibiri, em terras do atual Município de Santa Rita, 1585, pela Coroa Portuguesa. O local escolhido foi à margem do rio Paraíba, em terras consideradas férteis, onde posteriormente, na direção nascente daquele rio se construiu mais de uma dezena de outros daquela espécie.

No caso das terras atualmente integrantes do Município de Sobrado, talvez em razão de ficar apenas a cerca de 30 quilômetros da várzea do Paraíba, também, bom tempo depois, contaram com a presença de uma boa quantidade desses engenhos, os quais, mesmo dispondo de menor estrutura, tinham como função natural produziram ora a cachaça, ora o açúcar mascavo (bruto) ou a rapadura.

Há de se levar em conta, ainda, que se for tomar como base a época em que Sobrado foi transformado em Distrito de Paz, ou seja, e 31 de dezembro de 1890, a presença dessa atividade ligada diretamente à cana-de-açúcar em seu ambiente chegou a ser desenvolvida com maior intensidade.

Segundo preceitua o texto original do decreto 46, que criou o mencionado Distrito, em seu artigo único ficou explicitado que os limites de sua jurisdição seria o mesmo da subdelegacia de policia já existente. Dessa maneira, naquele tempo, o espaço territorial de Sobrado era bem mais amplo, inclusive, por envolver todas as terras dos atuais Municípios de Riachão do Poço e Sapé onde, também, existiu considerável quantidade daquelas pequenas indústrias.

No entanto, no caso em apreço, queremos simplesmente, em sentido histórico, tecer considerações em tono dos engenhos que existiram em terras do Sobrado de certo tempo pra cá, ou seja, antes de ser Município, concorrendo assim para que não se tenha qualquer dúvida em torno do assunto. É que, às vezes, por uns desses engenhos haver existido próximo a então povoação, certas pessoas pensam que eram localizadas em terras de Sobrado. De modo algum. Como exemplos se pode citar os engenhos Melancias e Sapucaia que, apesar de terem existido a pouca distância da sede do Distrito sempre integraram o Município de Sapé.

Na verdade, os engenhos que existiram em terras do antigo Município de Sobrado foram em número nove. O primeiro deles, o Engenho Antas do Sono, que pertenceu ao coronel Joaquim Correia de Lima, onde se produzia cachaça, o açúcar bruto e a rapadura, ficava nas proximidades do Rio Gurinhém, perto da embocada deste com o rio Paraíba. Apesar de uma existência secular, nos primeiros anos da segunda metade do século XX, veio a ser desativado.

Outro que existiu por trás da Rua do Fogo da então Povoação do Sobrado, foi o engenho São José, pertencente ao senhor José Holmes, pai do professor Valter Holmes, de todos conhecido naquele meio como Ota Holmes. Ali se fabricava aguardente e rapadura, que, no início, tinha o funcionamento exercido por animais e depois sob a força de motor a carvão. Sua existência ocorreu, mais ou menos, a partir de 1912 e só veio a terminar em 1948, quando foi demolido por seu novo proprietário.

Próximo a sede do Distrito de Sobrado, num trecho em direção a Sapé, existiu por muito tempo o engenho Bonito, que pertenceu por muitos anos ao cidadão de nome Marcílio Coutinho, mas antes pertencera a Mario Leão. Nele se fabricava uma boa cachaça denominada de Dragão e que adquiriu lugar de destaques entre muitas outras até os fins dos anos sessenta do século passado, quando deixou finalmente de ser produzida.

O engenho Cordeiro, de propriedade de Júlio Ferreira, conhecido por Júlio Braz, na localidade rural de igual nome pertencente a Sobrado, também, por muitos anos, ali funcionou produzindo unicamente rapadura. Sua desativação só veio a ocorrer após o falecimento do seu dono, isso mais ou menos no começo dos anos setenta do século passado.

Bem próximo à sede do Distrito em referência, em 1948, foi construído por Oliveiros Soares de Oliveira o engenho Santa Maria. Fabricava cachaça e rapadura e ali permaneceu até os primeiros anos da década de 1960, quando, finalmente, foi desativado e no lugar instalada uma pequena indústria, destinada ao fabrico de tijolos e telhas. Em 08 de março de 1977, tudo foi vendido ao senhor João Henrique Wahrlich, conforme registro de escritura pública existente junto ao Cartório competente de Sapé.

Na localidade de Pedras Altas, zona rural de Sobrado, existiu um engenho de igual nome, cujo dono era o senhor Manoel de Mello, de todos conhecido por Neco Mello. Sua existência foi quando foi vendido finalmente ao senhor José da Cunha, que o desativou. Nele se produzia tanto a aguardente de cana, como o açúcar bruto e a rapadura.

Ainda na zona rural de Sobrado, em 1933, foi construído o engenho Cafundó por Cândido de França Ramos, seu "Nô Ramos", cidadão vindo do vizinho Município de Cruz do Espírito Santo e aqui se fixou comprando consideráveis partes de terras. Seu engenho, até 1964, fabricava tanto a aguardente quanto a rapadura. Dado o falecimento e certas dificuldades surgidas, mais de dez anos depois, finamente, veio a ser desativado. Mesmo assim, atualmente, o prédio encontra-se bastante conservado, tudo em razão do zelo que o historiador Adauto Ramos, filho daquele senhor, continua tento para com os bens deixados pelo seu pai.

Concluindo, vale dizer que mais dois pequenos engenhos existiram em Sobrado. Amos fabricavam apenas aguardente. Um na sede do Distrito, que era de propriedade de João Henrique Wahrlich, conhecido por João, o Gaúcho. Ficava ali nas proximidades do Conjunto Paulo Rolim. Já o outro, inclusive, tendo sido o último a desaparecer, ficava localizado na região de Caruçu, onde se fabricava uma aguardente com esse nome e pertencia ao senhor Ednaldo Trocolli, conhecido pela alcunha de Atrope.

Como se vê, em função do que acabamos de relatar, atualmente Sobrado já não dispõe de nenhum daqueles seus engenhos em funcionamento. A verdade é que tudo isso veio a ocorrer, em grande parte, por causa d nova tecnologia que passou a ser implantada no setor da industrialização dos produtos derivados da cana de açúcar, coisa essa que, infelizmente por uma razão ou outra, não chegou a ser assimilada pelos proprietários dos nossos engenhos e engenhocas do passado.

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Fonte: FERREIRA, Juraci Marques. Sobrado dos meus ancestrais. p. 67-72. João Pessoa: F&A Gráfica e Editora, 2010.

Visão do que restava do último engenho que existiu na Cidade

Vista lateral do Engenho Cafundó

Parte frontal do Engenho Cafundó