Ambientação
Ambientação
A vida em Londres nos anos 1920 era um mosaico de contrastes. A cidade ainda carregava as marcas da Grande Guerra: viúvas de preto caminhando lado a lado com jovens oficiais de uniforme impecável, veteranos marcados pelas trincheiras tentando se reintegrar, enquanto uma nova geração buscava esquecer os horrores recentes em meio ao brilho das novidades.
Nos bairros mais abastados, a alta sociedade encontrava diversão em clubes privados, bailes elegantes e espetáculos no West End. O jazz, recém-chegado da América, incendiava salões e pubs, trazendo um ritmo exótico e quase escandaloso. As mulheres começavam a desafiar convenções: saias mais curtas, cortes de cabelo ousados, cigarros entre os dedos e uma postura que escandalizava os mais tradicionais. Já nas áreas operárias, a diversão era mais simples — uma caneca de cerveja no pub local, corridas de cavalos, o boxe e o futebol, sempre acompanhados de apostas e gritos entusiasmados.
O trabalho também variava muito. Enquanto alguns se beneficiavam da expansão industrial e do comércio marítimo, muitos ainda viviam em condições precárias em fábricas e docas. O setor de serviços crescia, com escritórios abarrotados de funcionários de colarinho branco, lidando com pilhas de papel e máquinas de escrever. O papel da mulher mudava lentamente: algumas começaram a ocupar cargos fora do lar, ainda que mal vistas por setores mais conservadores.
A visão de mundo estava em transformação. Havia um fascínio por ciência e tecnologia — automóveis, cinema, rádio — ao mesmo tempo em que o ocultismo e o espiritismo ganhavam popularidade, especialmente entre os que buscavam contato com entes perdidos na guerra. Entre racionalidade e superstição, progresso e tradição, Londres se movia em um equilíbrio instável. Para uns, era uma época de esperança e modernidade; para outros, um tempo sombrio em que forças invisíveis espreitavam por trás do cotidiano.