LIÇÃO 6: Perspectiva gerencial
local e internacional
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Olá, estudante! Seja muito bem-vindo à mais uma lição. Tratamos, na lição passada, os pontos principais sobre a globalização e como seria o papel do empreendedor nesta transformação tão ampla, seja como agente transformador da sociedade em que atua, seja como reagente a essa mudança, tendo que se atualizar e se desenvolver a todo o momento, para que possa se adequar melhor à cada realidade que esteja vivendo em determinado período do tempo. Sendo assim, torna-se necessário estudar um pouco mais sobre como esta mudança vem ocorrendo no mundo, sobretudo no Brasil.
O objetivo desta lição é demonstrar a você uma abordagem gerencial sobre a globalização e apresentar algumas características da economia brasileira e alguns fatores que modulam as ações dos empreendedores, tanto na perspectiva gerencial local quanto na internacional. É de extrema importância que, em sua atuação, você reconheça essas mudanças, as diferentes abordagens e como se relacionar com os diversos agentes que farão parte do seu dia a dia, seja atuando na área gerencial rural, ou não, seja trabalhando para alguém, seja empreendendo em um negócio próprio. Então, vamos aprender mais sobre esses assuntos?!
Você já parou para pensar em como o mundo tem mudado ao longo dos últimos anos? Já pensou em como as pessoas precisam mudar e evoluir em relação a características profissionais e habilidades? Pense em uma empresa agropecuária que sempre teve seu arquivamento de dados em formato físico, guardado em enormes prateleiras catalogadas, com uma série de pilhas de papel sendo impressas ao decorrer de cada dia. De repente, surgem os recursos de armazenamento em nuvem, em que, por meio de uploads rápidos, consegue-se organizar todos esses papéis sem necessidade de espaço quase que nenhum.
Além disso, acrescente o fato que, para ter acesso a esses documentos, antes era necessário um grande deslocamento (considerando o tamanho de uma fazenda, por exemplo), e, agora, não é preciso se deslocar até o local físico guardado nem realizar várias cópias para que possam ser consultados por diversas pessoas ao mesmo tempo. Agora, é possível diferentes pessoas acessarem esses documentos e de qualquer parte do mundo. Isso também ocorreu com o processo de trabalho, com as habilidades necessárias dos funcionários de cada empresa. Tudo mudou, bruscamente, ao longo do tempo. Por isso, torna-se altamente relevante entender essas características empreendedoras desenvolvidas, por várias perspectivas diferentes. Apresentaremos, então, a abordagem gerencial, venha comigo?!
No estudo de caso de hoje, trago a você uma situação real: trata-se do caso da empresa 3M Company, tratado por Reincke (1998). Um dos objetivos principais anuais da empresa é fazer com que, pelo menos, um terço do faturamento venha de novos produtos. São considerados como novos os lançamentos realizados nos últimos três anos. Com essa estratégia, ela objetiva sempre estar à frente de seus concorrentes, pois sempre estará com produtos de última geração, com as mais desenvolvidas tecnologias de seu tempo, conseguindo, assim, manter-se com bom posicionamento de mercado ao longo do tempo.
Isso tem dado muito certo para empresa nos últimos anos, trazendo competitividade em seu nicho de mercado, visto que os produtos têm se tornado, cada vez mais, obsoletos, ou seja, ultrapassados, desatualizados, e, com isso, as empresas têm, cada vez mais, necessidade de constantes inovações, não apenas para ganharem novos mercados, mas, simplesmente, para, ao menos, manter-se no mercado em que atuam.
Essas decisões, segundo Kotter (2000), têm sido, cada vez mais, delegadas, passadas e realizadas por todos os níveis dentro de uma empresa, podendo essa ser voltada ao agronegócio, ou não. Com isso, as decisões gerenciais concentradas, anteriormente, nas mãos do alto escalão, dos executivos da empresa, agora estão distribuídas até aos níveis hierárquicos mais baixos, como forma de incentivar a criatividade, a proatividade e o desenvolvimento de serviços de excelência. Porém todas essas inovações necessitam de conhecimentos para que possam se adequar melhor às mudanças. Com isso, os empreendedores com suas características inovadoras são muito bem vistos pelos gestores das empresas ou pelas pessoas que contratam seus serviços para, por exemplo, realizarem um projeto de determinada atividade, que pode ser rural, ou não.
Já olhamos a globalização sob a sua forma histórica, suas fases de implantação, com suas características distintas no tempo. Agora, nosso foco é entender, sob a perspectiva gerencial, como se dá esse processo, até porque a primeira definição que eu poderia trazer a você na lição de hoje seria: globalização não é um fato passado, histórico, que veio/aconteceu, e, agora, estudamos sobre ele sem nos preocuparmos com efeitos na vida real em nosso dia a dia. Pelo contrário, vivemos esse processo, constantemente, em nossa rotina diária.
Bom, primeiramente, gostaria de dizer que falaremos mais dos itens que estimulam ou inibem a ação dos empreendedores em lições mais a frente, porém alguns deles já adiantamos aqui, pela sua forte ligação com o olhar gerencial do processo e por esses fatores serem propulsores de mudanças nas organizações, seja nas estruturas organizacionais, seja na composição do próprio trabalho.
Em um olhar da empresa, sob a ótica gerencial, todos os trabalhadores devem estar envolvidos no processo de mudanças que ocorrem nas empresas, tendo bom nível de adaptação e iniciativa (SERTEK, 2012). Sendo assim, segundo Kotter (2000, p. 25): "As posições no alto da hierarquia, principalmente, requerem bastante liderança para lidar com um ambiente altamente volátil na empresa. As pessoas nestes cargos têm de ser capazes de lidar com controles e sistemas de planejamento, sistemas de recursos humanos e estruturas organizacionais complexas".
É de interesse dos gestores, sobretudo nas empresas, em que a inovação e a criatividade se mostrem importantes, que os seus trabalhadores tenham as habilidades necessárias de um empreendedor. Com isso, saímos de um papel empreendedor apenas relacionado à abertura de novas empresas e passamos a dar maior importância às habilidades empreendedoras em todos os tipos de pessoas/funcionários e em todos os tipos ou ramos de negócios também.
Quanto mais especializada for a atividade desenvolvida, maior domínio será exigido sobre certos conhecimentos aos empregados e maiores, portanto, serão as oportunidades de se desenvolver as habilidades empreendedoras. É daí que surgem os líderes em meio aos demais funcionários, é ele quem conduz, com capacidade e qualidade, as mudanças nas instituições (SERTEK, 2012).
É claro que somos propensos a resistir às mudanças e podemos reagir a elas. Quando isso acontece, há a chamada resistência ativa, mas, quando não, temos a chamada resistência passiva. Não significa apenas achar que tudo que é diferente não funcionará bem ou, ainda, dará tudo errado. Também se trata de sair da zona de conforto, sentir-se desafiado, dispor-se a trabalhar pesado por um longo tempo até ver o retorno de suas ações. Trata-se de deixar velhos hábitos que estão enraizados em nossas ações do dia a dia (SERTEK, 2012).
É nesse momento em que o líder ou o nosso empreendedor entra em ação, pois é ele que, em geral, é o responsável pelas mudanças nas empresas, fator que representa, muitas vezes, a própria capacidade de sustentabilidade da empresa frente a esses cenários. De acordo com Sertek (2012), podemos destacar três fatores propulsores dessas mudanças: ameaças externas, oportunidades externas e rapidez de resposta.
Ameaças externas: refere-se a fatores capazes de afetar a sobrevivência das empresas.
Oportunidades externas: relacionadas a oportunidades em outros segmentos.
Rapidez de respostas: relacionadas às reações que a empresa tem às demandas existentes no mercado.
Com o advento da globalização, trabalhos manuais e repetitivos deram lugar a sistemas autocontrolados, exigindo dos trabalhadores um nível de conhecimento muito maior e com constante atualização. Isto teve efeitos no mercado de trabalho, porque, ainda, continuam existindo fluxos de trabalhadores rurais com baixo nível de conhecimento e que encontram dificuldades em conseguir empregos em níveis mais básicos e, cada vez mais, escassos.
Com isso, principalmente no Brasil, tem surgido o desemprego, pois a velocidade com que ocorrem as mudanças é maior do que a capacidade de adaptação, capacitação e aprendizagem dos trabalhadores. Com essas constantes mudanças no mercado de trabalho, nas profissões e na percepção gerencial dos gestores, torna-se, cada vez mais, importante que se desenvolvam mecanismos de incentivos à capacitação dos profissionais, seja quanto a iniciativas criadoras, seja quanto a lideranças, para fazer as mudanças ocorrerem.
Nesse contexto, podemos incluir assuntos, como as mídias sociais e a própria mecanização do campo, com suas tecnologias de rastreio, monitoramento, agricultura de precisão e substituição de trabalhos manuais por mecânicos ou automatizados. Os setores que se destacaram foram a tecnologia da informação, a logística e a tecnologia de produção agrícola e animal.
Tanto internacional quanto nacionalmente, o perfil gerencial tem sido voltado a iniciativas que dão maior grau de flexibilidade às pessoas. É o que já foi dito por Fitte (1996, p. 40):
As pessoas conseguem um autêntico desenvolvimento pessoal só quando encontram os espaços de liberdade necessários para poder desenvolver-se através do exercício da sua liberdade. Os homens, de acordo com o princípio personalista, são “respeitados” e “promovidos” como pessoa quando se permite atuar com responsabilidade. Na empresa personalista haverá uma busca de equilíbrio entre a maior liberdade e possível e o menor controle necessário.
Em seu livro sobre a caminhada empreendedora, Schneider e Branco (2012) colocam uma analogia sobre o Homem Vitruviano, pintura famosa de Leonardo da Vinci, onde retrata uma figura com um homem separadamente e simultaneamente sobreposto em duas posições. Nessa analogia com a obra de arte, os autores dizem que o empreendedor precisa se equilibrar entre questões sentimentais e racionais, como se fosse duas pessoas em uma só e destacam algumas características que seriam importantes que ele tivesse, espaços que ele deveria ocupar. Dentre esses espaços, 13, no total, destacam a importância da competência técnica e gerencial. Como condição necessária para obter o sucesso nessa caminhada, é necessário que os traços de comportamento gerencial sejam incorporados ao empreendedor, tais como descrito por Schneider e Branco (2012, p. 25):
Planejamento: preparar para a ação e a medição de resultados; planos, programas, metas e objetivos ajudam a construir um ambiente sólido a ser construído;
Criatividade: buscar o novo, as soluções para os problemas, as alternativas de combinações de produtos e serviços inovadores;
Inovação: criar novos produtos, processos e formas de negociar e empresariar;
Perseverança: não desistir diante dos primeiros obstáculos, visto que o trabalho será árduo e contínuo;
Otimismo: acreditar em seu próprio negócio, em suas potencialidades;
Entusiasmo: saber que, no início, os erros serão maiores que os acertos, mas aqueles resultam em experiência e conhecimento, subsídios importantes para o enfrentamento de problemas futuros;
Ação: fazer acontecer é o papel principal do empreendedor.
Todos esses itens destacam a importância de o empreendedor ter um olhar gerencial sobre sua atividade, podem ser de forma geral, regional, nacional ou, até mesmo, internacional, considerando as mudanças mais estruturais, como a globalização, as mudanças na estrutura do mercado de trabalho e as reações das leis de oferta e demanda de seus produtos ao longo do tempo. Em suma, é importante e extremamente necessário que o empreendedor trabalhe considerando a perspectiva gerencial em suas decisões.
Bom, com os conhecimentos que você aprendeu na lição de hoje, espero que consiga ter uma noção cada vez mais próxima da realidade em que se encontra. Já vimos sobre as características dos empreendedores, voltadas para o lado de serem agentes transformadores da sociedade e criadores de novos produtos, de se aventurarem e assumirem riscos calculados ao empreender em uma nova atividade ou em desbravar novos mercados em um mundo em constante transformação.
Hoje, vimos o mesmo ser entusiasmado, pelo lado, agora, da perspectiva gerencial, como um recrutador ou gestor de uma empresa que olha para as características empreendedoras de seus funcionários ou colaboradores. Como aplicação, você poderá se imaginar como essa pessoa, que olha, em seu grupo de subordinados, características distintas e a melhor forma de explorá-las ou, ainda, usando as palavras que você aprendeu em economia, encontrar “uma forma mais eficiente de alocar seus recursos”. Lembrando que trabalhadores são recursos ao olhar das empresas, pois eles representam parte de seus gastos com insumos, a mão de obra.
Você, também, pode se imaginar como esse trabalhador, seja prestando um serviço como Técnico(a) em Agronegócio, seja trabalhando em uma grande empresa. Pense: como poderia contribuir com as habilidades que tenho para esse processo criativo e inovador, para um olhar sob a perspectiva gerencial mais adequada? Vemo-nos em breve, na próxima lição.
FITTE, H.. La primacia de las personas en el gobierno de la empresa. In: MELÉ CARNÊ, D. Ética en el gobierno de la empresa. Pamplona: Ediciones Universidad de Navarra 1996.
KOTTER, J. P. Afinal, o que fazem os líderes? Rio de Janeiro: Campus, 2000.
REINCKE, M. As ideias em primeiro lugar. HSM Management, São Paulo, 1998.
SCHNEIDER, E. I.; BRANCO, H. J. C. A caminhada empreendedora: a jornada de transformação de sonhos em realidade. Curitiba: InterSaberes, 2012.
SERTEK, P. Empreendedorismo. Curitiba: InterSaberes, 2012.