Lição 12: Sazonalidade,
situação política e econômica
situação política e econômica
Olá, estudante! Espero encontrá-lo(a) bem e pronto(a) para mais uma lição dessa matéria de Empreendedorismo, do segundo ano do Novo Ensino Médio Técnico do Paraná. Espero que você já esteja se sentindo um(a) profissional da área, pois, em breve, você será um(a) Técnico(a) em Agronegócio habilitado(a).
Em nossa caminhada até aqui, já vimos muita coisa, não é mesmo?! Na lição de hoje, meu objetivo é que você entenda o que é sazonalidade e saiba identificá-la, ver qual sua causa provável e como ela afetará seu negócio ou seu potencial investimento ou de quem o(a) tiver contratado para realizar esse serviço. Também comentarei, mesmo que brevemente, outras questões que possam afetar suas decisões empreendedoras, sobretudo em relação a condições políticas e econômicas. Venha comigo nesta jornada!
Entender como as questões em que se encontram a sociedade e o ambiente em que atuará ou em que já atua é de extrema necessidade. Da mesma forma, entender como funciona a demanda pelo seu produto ou oferta dos insumos que você precisará se tornará assunto de extrema relevância nas análises. Tanto que, hoje, já existem especializações ou, até mesmo, algumas faculdades especializadas em parte desses processos. No entanto cabe a cada profissional envolvido no processo entender, ao menos superficialmente, sobre os principais aspectos que possam impactar nas decisões que precisará tomar e, sempre que possível, auxiliar a equipe da qual faça parte, ou, nesse caso, o produtor rural, a tomar suas decisões de maneira mais assertiva possível.
Nesse cenário de projeções e decisões a serem tomadas em relação a situações futuras, entender assuntos, como demanda e oferta em relação à variação temporal, bem como aspectos econômicos e políticos é vital na vida do empreendedor, empresário ou produtor rural.
Para ilustrar essa situação, imagine a seguinte cena (fictícia): o Sr. João é dono de uma área plantada e decide realizar um estudo de análise de viabilidade econômica para a produção de soja. Para isso, além de realizar todos os cálculos necessários, decide incluir que a colheita será realizada com trator e maquinários próprios.
Perceba que, nessa condição, o montante necessário para realizar a colheita não será obtido apenas se dividindo a safra pelo potencial do trator colher ao longo dos anos. Nesse caso, muito provavelmente, seria necessária a compra de vários tratores para realizar a colheita, mesmo que ficassem ociosos durante o ano. Isso devido a um fator de extrema importância aqui: não é possível plantar soja em qualquer época do ano e, portanto, não será possível ter soja pronta para ser colhida a todo o momento para se utilizar esse equipamento adquirido com máxima potência.
Isso foi o caso do milho durante muito tempo, até que se desenvolveu a possibilidade de aumentar o número de safras, o que pode ser possível para a soja ou outras culturas também. Mas, para efeito de exemplificação, considere um plantio por ano como possibilidade. Isso reflete a sazonalidade definida nesta lição e as condições tecnológicas envolvidas também.
Para analisar onde se deve empreender ou como é o funcionamento de cada setor, vários fatores deverão ser observados. Um deles é a variação da oferta de produtos em determinadas épocas ou períodos do ano, por exemplo. Outra diz respeito às variações climáticas representadas pelas estações do ano. Essa mudança recebe o nome de sazonalidade e é muito presente em questões relacionadas ao agronegócio, podendo interferir na decisão de empreender em determinada atividade em certo período ou estação. Mas não se prende somente a isso, ou a esse setor da economia. Isso pode ser aplicado, mesmo que em menor grau, a todos os setores da economia. Um exemplo são os feriados e as datas comemorativas, que podem receber demandas de produtos específicos, que, muitas vezes, não são demandados em outros períodos do ano.
Para definir, formalmente, a palavra sazonalidade, ela deriva do latim e remete a algo como estações ou variações, períodos regulares diferenciados. De forma geral, podemos defini-la como ocorrência de situações que se repetem em séries, ou intervalos de tempo, como dias semanas, meses ou anos. Porém é importante estudar o que as causa, e, para isso, uso as palavras de Pino et al. (1994, p. 124): “[...] as causas da sazonalidade podem estar reunidas em dois grandes grupos: as provocadas direta ou indiretamente pela existência das estações do ano, e as relacionadas ao calendário”, ou, ainda, ocorrem por variações climáticas ou fatores culturais relacionados a efeitos calendários.
Sobre os negócios sazonais que possuem relação com o calendário, podemos citar que épocas festivas, como Natal e Dia das Crianças, interferem na venda e, consequentemente, na indústria de produção de brinquedos e presentes. Isso interfere, diretamente, nos custos de produção dessas indústrias e nas demandas por seus produtos, devido a oscilações durante o ano. Imagine se você empreender nesses setores. Teria de ter isso em mente, não é mesmo?!
Da mesma forma, pense na agroindústria de produção de peixes, em épocas, como quaresma, ou, então, nas de aves, como perus, próximo ao Natal, entre tantos outros produtos. Isso tudo está relacionado a eventos festivos, demandas irregulares dentro do ano. Soma-se isso fatores específicos ao agronegócio que estão muito relacionados a condições climáticas para sua produção de modo que ela precise ser concentrada em certos períodos do ano e inviável em outros.
Sobre esse assunto, Giustina (1995) comenta que variações dos padrões climáticos ocorrem no mundo todo, fazendo com que se escolha produzir em cada período os produtos que melhor se adaptem a ele e que gerem maior produtividade relativa. No entanto as novas tecnologias permitem que o produtor “contorne” essa sazonalidade ao passo que algumas culturas podem ser realizadas em estufas ou ambientes controlados, por exemplo. Giustina (1995), também, comenta que esse fator eleva a necessidade de investimento na propriedade ou empresa pelo fato de se utilizar de vários recursos ao mesmo tempo em certos períodos, ainda que fiquem ociosos ao longo de outros períodos. Sendo importante destacar três aspectos relevantes:
a) A sazonalidade pode limitar a produção: pode reduzir pela falta de disponibilidade dos fatores de produção necessários com a qualidade ou quantidade requerida.
b) Ao se minimizar a sazonalidade, ocorrem benefícios econômicos: os efeitos sociais gerados dependem dos benefícios alcançados e das ações desenvolvidas, sendo que, se resultar em maior produção e menor variação dela, pode ser positiva e, se resultar em menor contratação de mão de obra, pode ser menor ou, até mesmo, negativo.
c) Ao olhar dados, sobretudo relacionados ao agronegócio, deve-se atentar à sazonalidade para analisá-los.
Slack (1997), também, destaca algumas das causas da sazonalidade, sendo elas: climáticas, festivas, comportamentais, políticas, financeiras e sociais. Além disso, dá-nos alguns exemplos de eventos sazonais, como:
Materiais de construção, Bebidas (cerveja, vinho), Alimentos (sorvetes, doces natalinos), Vestuário (maiôs, sapatos), Itens de jardinagem (sementes, fertilizantes), Fogos de artifício, Hotéis veranistas, Serviços de viagens, Saúde (gripe epidêmica), Chocolates (época de Páscoa), Brinquedos (Natal, dia das crianças), Flores (dias das mães, namorados, finados) (SLACK, 1997, p. 350).
Mesquita et al. (2016) destacam que a sazonalidade afeta diversas atividades econômicas, podendo provocar variações de estoques não previstos, tendendo a ser fator de decisão de investimentos, pois influencia no retorno esperado pelas empresas ou pelo produtor rural. Em sua pesquisa, foi possível comprovar que empresas ou setores com maior sazonalidade foram os que tinham maior necessidade de estoque e, consequentemente, menor taxa de retorno, devido a variações acentuadas de produção nos diferentes períodos do ano.
Além de ações climáticas ou festivas, outras condições podem interferir no ambiente geral das organizações, ou condições enfrentadas pelo produtor rural, são as chamadas forças macroeconômicas. São apresentadas em alguns grupos como questões tecnológicas, econômicas, político-legais, socioculturais e internacionais (SILVA, 2013).
Sobre as questões tecnológicas, Silva (2013) destaca que são as influências de inovações em outras organizações em relação a técnicas, novos produtos ou serviços oferecidos. Elas exigem que o empreendedor ou o profissional à frente do negócio ou empresa, assim como o produtor rural, mantenha-se atualizado sempre e incorpore, quando possível, os avanços, a fim de manter sua competitividade no mercado.
Sobre as questões econômicas, pode-se afirmar que elas refletem condições, como inflação, desemprego, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), taxas de juros do mercado ou níveis de riscos. Muitas dessas questões já foram desenvolvidas na disciplina de Administração e Economia rural I, no ano passado. Você se lembra, não é mesmo?!
Sendo assim, mudanças econômicas podem indicar oportunidades ou ameaças às organizações. Isso dependerá da reação que elas tiverem ou, ainda, se o produtor rural ou Técnico em Agronegócio saberá usá-las a seu benefício enquanto empreendedor. Dessa maneira, se a economia se encontra aquecida, as condições de acesso a financiamentos e investimentos se tornam mais atraentes e podem apresentar oportunidades de empreender. Por outro lado, com a economia retraída, com recessões, pode representar altas taxas de desemprego, queda da renda da população, redução da margem de lucro das empresas, entre outros fatores que, como você já viu na lição anterior, podem representar fator inibidor ou desincentivador de empreender nesse ambiente, lembra?!
Sobre as questões político-legais, podemos destacar algumas, sem pretender nos aprofundarmos no assunto aqui. O que faz uma empresa abrir uma filial em determinado local, muitas vezes, são os incentivos legais e políticos que ela recebe bem como as isenções financeiras decorrentes dessa relação. São inúmeras as leis e obrigações das empresas, e as influências que elas exercem sobre os caminhos percorridos pela empresa são gigantes. Eles podem, novamente, exercer papel tanto de inibidoras da atividade empreendedora quanto de incentivadoras/impulsionadoras dessa prática.
São também essas leis e exigências que controlam a qualidade dos produtos, as informações disponíveis ao público, suas regras de produção, entre diversos outros aspectos. Dá para ver, então, o tamanho da influência sobre as decisões das empresas, dos potenciais empreendedores ou, ainda, do empresário rural que elas possuem.
Importante ressaltar, mais uma vez, que, sobre esses aspectos, seria necessária uma disciplina inteira. Nesta lição, atentei-me, apenas, a citá-los em relação à decisão de empreender ou não.
Além disso, Silva (2013) destaca o papel das condições socioculturais, relacionadas ao comportamento da sociedade em relação a determinados produtos ou serviços, principalmente com relação a crenças e valores, e, também, o papel de questões internacionais, como relação com fornecedores e concorrentes, competição com importados ou possibilidade de abertura de mercado para exportações.
Por fim, sobre os aspectos internacionais, o autor comenta sobre o apoio que as organizações têm de fornecedores estrangeiros em relação a recursos ou ao seu papel de concorrência com competidores internacionais. Esses importantes fatores estão, ainda mais, presentes se a organização decide internacionalizar ou expandir seus produtos e serviços para o mercado externo. Por meio dessa maior competição existente nas últimas décadas e da dependência de recursos estrangeiros, isso tem se tornado um importante objeto de estudo ultimamente (SILVA, 2013).
Esses assuntos já foram mencionados em lições de outras disciplinas no ano passado e cabe a você se recordar ou revê-las, se necessário. De maneira geral, tanto questões sobre sazonalidade quanto de relações políticas ou econômicas afetam as decisões de empreendedorismo e merecem, portanto, atenção e estudo em suas análises. Espero que tenha ficado claro isso nesta lição.
Com os conhecimentos desta lição, será possível que você olhe ao seu redor e reflita sobre as condições políticas e econômicas que estão ocorrendo, sobretudo as que tenham relação ao seu setor ou negócio desenvolvido ou à sua intenção de empreendimento. Tente encontrar quais são potencializadoras ou inibidoras dessa prática empreendedora. Da mesma forma, olhe em um supermercado ou na propriedade onde mora produtos que não são oferecidos durante todo o ano ou que recebem maior importância em determinadas datas comemorativas, para que possa verificar na prática os efeitos da sazonalidade que você aprendeu nesta lição.
Sempre tente observar as coisas, não mais como uma pessoa leiga no assunto e desinteressada, mas, sim, como alguém que já recebeu conteúdos importantíssimos que já permitem olhar, de forma mais crítica, sobre a situação, e tente ver os conceitos que já aprendeu até aqui nas mais diversas situações de seu cotidiano.
GIUSTINA, J. S. D. Um sistema de contabilidade analítica para apoio a decisões do produtor rural. 1995. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1995. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/157949/PEPS0410-D.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 27 mar. 2023.
MESQUITA, J. M. C. de. et al. Impactos da sazonalidade da produção sobre os estoques e lucratividade: análise do segmento industrial brasileiro. Revista Contabilidade Vista e Revista, Belo Horizonte. v. 27, n. 3, set./dez. 2016.
PINO, F. A. et al. Sazonalidade em séries temporais econômicas: Um levantamento sobre o estado da arte. Agricultura de São Paulo, v. 41, n. 3, p.103-133, 1994.
SILVA, R. O. Teorias da administração. 3. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.
SLACK, N. et al. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 1997.