Olá, aluno(a)! Espero que esteja bem e que tenha gostado dos conteúdos apresentados até aqui. Quanta coisa você já viu desde o início do curso, ou da disciplina de Empreendedorismo, não é mesmo? Já vimos as habilidades necessárias para que o empreendedor obtenha sucesso em sua caminhada empreendedora bem como seu perfil e algumas características mais comuns, além das características de negócio inovadores e competitivos. Na lição de hoje, aprenderemos um pouco sobre alguns fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da prática empreendedora e alguns que surgem como inibidores dessa atividade. Venha comigo dar mais um passinho nesta caminhada!
Entender as motivações que contribuem para o desenvolvimento da atividade empreendedora é extremamente importante para que se possa incentivá-lo, seja com políticas públicas, seja com ações coletivas privadas. Nesse sentido, ao analisar tais fatores, é possível que não apenas situações motivacionais ou potencializadoras sejam desenvolvidas, mas também se reduzam, se possível, a zero, as ações que apresentam uma redução ou desmotivação a essa prática.
Como, em todo caso, um maior número de informações leva a decisões mais assertivas nas nossas ações, aprender um pouco mais sobre o que nos espera em nossa atuação profissional, seja como Técnico(a) em Agronegócio, seja como empreendedor(a), rural ou não, mostra-se extremamente relevante para que tenhamos uma taxa de sucesso ou assertividade em nossas ações futuras. Venha entender um pouco mais sobre esses fatores na lição de hoje.
Como estudo de caso de hoje, apresento a seguinte situação (fictícia): imagine que o Sr. João seja um conhecido empresário rural do setor leiteiro da sua região. Mas imagine que, para inovar em seu negócio e ampliar sua atuação, ele automatize sua linha de produção inteira em determinado ano. Para incrementar um pouco mais nossa história, a ponto de deixá-la mais próxima da realidade, imagine que, no mesmo município, exista apenas mais um produtor leiteiro, o Sr. José, e que, portanto, eles concorram pelo mesmo mercado, porém o Sr. João não automatizou sua produção ainda, devido à falta de recursos para tanto.
Nessa situação, podemos já perceber alguns fatores: o Sr. João, ao automatizar sua produção, pôde ter sido considerado uma ameaça externa para o Sr. José, que deverá inovar também para não perder mercado ao seu concorrente, que, provavelmente, conseguirá reduzir seu custo e, possivelmente, seu preço de venda. Da mesma forma, as motivações para que seu João fizesse este investimento, também, podem ser fatores potencializadores empreendedores, por exemplo, se ele recebeu uma linha de crédito para isso, percebeu um aumento de demanda futura em sua região e se antecipou a isso, visualizou a oportunidade, entre tantos outros que você, se já leu a lição, já conseguiu visualizar. Porém, se ainda não leu, aconselho-o(a) a ler e retornar aqui mais tarde e tentar encontrar mais fatores nesta simples situação, que, possivelmente, poderia ser real.
Em geral, em tudo o que se deseja fazer, existem fatores que contribuem e outros que desestimulam aquela prática, e isso não é diferente no empreendedorismo. Nele, existem fatores que contribuem para seu desenvolvimento, chamados potencializadores, e fatores que desestimulam essa atividade, chamados inibidores.
Sobre os fatores potencializadores, podemos citar vários ao longo desta lição, eles se tratam de ações, acontecimentos ou estruturas que permitem que o empreendedorismo se desenvolva mais facilmente. Isto é extremamente relevante e deve ser observado, seja pelo mercado, seja por agentes públicos, principalmente devido à importância que os empreendedores possuem em relação ao crescimento e ao desenvolvimento econômico, que já abordamos em lições anteriores.
Sobre os fatores inibidores, da mesma forma, torna-se importante estudá-los, pela mesma motivação apresentada anteriormente: se o empreendedor é um agente importante de transformação e gerador de crescimento e, principalmente, de desenvolvimento econômico, então, deve-se minimizar, ou, se possível, até eliminar, os fatores que inibem tais práticas. Repito novamente, este interesse é tanto público quanto privado.
O empreendedorismo se destaca tanto na abertura de novas empresas, ou atividades agrícolas, por exemplo, quanto no interior das próprias empresas ou propriedades rurais. Sobre este tema, Sertek (2012) elenca três importantes fatores impulsionadores de mudanças nas empresas (lembre-se que empresa e propriedade rural, em nossa visão aqui, são sinônimas):
Ameaças externas: referem-se a fatores que afetam a sobrevivência da empresa.
Oportunidades externas: relacionam-se a oportunidades em novos segmentos.
Rapidez de resposta: são as reações da empresa às demandas de mercado.
Essas questões precisam ser levadas em consideração por um empreendedor, ao abrir um negócio novo, ou por um líder de uma empresa já estabelecida, ou, ainda, por um empresário rural ou profissional da área, pelos seguintes fatos, de acordo com Sertek (2012):
As ameaças externas podem representar uma necessidade de inovação a ser feita, pela qual a empresa pode ser levada à extinção se não optar por ela, e a inovação dos concorrentes em relação a atender melhormente às necessidades de seus clientes pode fazer com que haja uma migração dos clientes da empresa em questão, que não inovou, para as suas concorrentes, que inovaram.
As oportunidades externas permitem à organização ou ao empreendedor antecipar demandas e solucionar problemas, que, muitas vezes, ainda nem foram percebidos pelos potenciais clientes, levando a atuação em novas áreas ou serviços.
A rapidez de resposta dita a capacidade do empreendedor ou empresário em atender às diferentes demandas da sociedade, à velocidade de ajuste às mudanças que ocorrem na economia.
Alguns fatores — na verdade, uma série deles — podem influenciar e impactar diretamente na decisão de se empreender. Alguns podem ser vistos como os “sonhos” do empreendedor. São exemplos desses fatores:
a) Ser dono do próprio negócio: tem a visão de que sendo dono de sua própria empresa poderá decidir os caminhos pelos quais ela trilhará.
b) Alcançar a independência financeira: sentir-se seguro em relação à demissão, possuir entradas financeiras regulares e substanciais, não estar limitado por um salário fixo mensal.
c) Não ter patrão: não estar subordinado a outra pessoa, podendo decidir seus horários, tarefas e atitudes a serem tomadas.
d) Melhorar sua qualidade de vida e de sua família: pelo fato de não estar limitado a um salário, sonha em alcançar cada vez mais remunerações mais altas e usufruí-las para adquirir bens e serviços de maiores quantidades e/ou qualidades.
e) Possuir uma equipe para liderar: não sendo mais subordinado, mas possuindo subordinados para guiá-los em suas tarefas.
f) Tornar-se um empresário de sucesso: tornar-se dono de uma grande empresa, por meio do crescimento e da sobrevivência do negócio aberto, conquistando cada vez mais mercado e atingindo novos públicos e potenciais clientes.
Em todo o processo empreendedor, sempre, existe algo que impulsiona os indivíduos a abrir seu próprio negócio, que são os fatores impulsionadores. Da mesma forma, existem resistências encontradas, dificuldades, que são os fatores inibidores. Sobre os fatores impulsionadores da atividade empreendedora, podemos destacar que os fatores externos, ambientais e sociais e as aptidões pessoais, ou, ainda, a combinação desses fatores, são fundamentais para a abertura e a sobrevivência da firma (DORNELAS, 2014).
Para Baggio e Baggio (2014), esses fatores são resumidos em três grupos, sociais, ambientais e sociológicos, e divididos da seguinte maneira:
Realização pessoal, mudança de padrão de vida, demissão, falta de satisfação com o trabalho, nível de rendimento, propensão ao risco, idade, entre outros.
Oportunidade de negócio, realização de novos projetos, criatividade e competições.
Interação com grupos, influência familiar ou sucessão, rede de contatos profissionais ou acadêmicos.
Robichaud, Lebrasseur e Nagarajan (2010) dividem esses fatores em pull e push, em que:
Representa o empreendedorismo por oportunidade, busca da liberdade ou independência, sobretudo financeira ou econômica.
Representa o empreendedorismo por necessidade, sendo impulsionado por fatores externos, como perda de emprego.
Moore (1986 apud DORNELAS, 2014) categoriza os fatores em três grandes grupos, pessoais, sociológicos e organizacionais, e os relaciona com as fases do processo empreendedor, a saber: inovação, evento inicial, implementação e crescimento.
Na fase de inovação, os fatores pessoais que influenciam o processo são: realização pessoal, assumir riscos, valores pessoais, educação e experiência. Já na fase do evento inicial, ocorre a atuação de fatores pessoais, como assumir riscos, insatisfação com o trabalho, ser demitido, educação e idade, bem como de fatores sociológicos, como networking, equipes, influência dos pais, família e modelos de sucesso. Esses fatores sociológicos entremeiam as fases de evento inicial e implementação.
Na fase de implementação, há, ainda, a atuação dos fatores pessoais relacionados à visão e competências empreendedoras, de liderança e de gerência. Por último, na fase de crescimento, continua-se tendo a repercussão das habilidades mencionadas na fase anterior e a ação de fatores organizacionais, como equipe, estratégia, estrutura, cultura e produtos. Em todas essas fases, Moore (1986 apud DORNELAS, 2014) aponta a atuação do ambiente em relação às oportunidades, à criatividade, aos modelos de sucesso (na fase de inovação); à competição, aos recursos, às incubadoras, às políticas públicas (nas fases de evento inicial e de implementação); e aos competidores, aos fornecedores, aos clientes, aos investidores, aos bancos, aos advogados, aos recursos e às políticas públicas (nas fases de implementação e crescimento).
Por fim, podemos ver esses fatores por meio de uma teoria proposta por Silva (2020), conhecidas como as cinco forças de Porter, sendo elas:
A rivalidade entre as empresas existentes.
As ameaças de novos entrantes.
O poder de negociação dos compradores.
O poder de negociação dos fornecedores.
As ameaças de serviços substitutos .
Essas forças podem ser olhadas, pelo lado da empresa, como potencializadoras, ou inibidoras, do espírito empreendedor e de sua atuação. Elas se tornam importantes, pois, ao abrir um negócio novo, é necessário entender quem são os participantes do mercado (teremos lições específicas sobre isso mais a frente) e os concorrentes, definir seus diferenciais competitivos, entre outros fatores. Sendo assim, ao adentrar um mercado, a condição de cada um desses indicadores, ou as forças de Porter presentes nesse setor, pode definir as taxas de sucesso e fracasso de um empreendimento.
Além disso, é necessário avaliar a dificuldade que se tem de adentrar esse mercado. Da mesma forma que uma alta resistência dificulta a sua entrada em um primeiro momento, ela fará o papel de proteção do seu negócio em um momento futuro. Em relação ao poder de negociação dos fornecedores ou compradores, se ele for alto, pode representar um fator inibidor da entrada ou permanência empreendedora. Se a oferta de produtos necessários ao empreendimento, ou a demanda pelos serviços e/ou produtos oferecidos pela empresa, for dependente de um pequeno número de pessoas, isso representará uma grande ameaça, seja pelas ameaças e negociações desvantajosas, seja pelas variações de demanda ou oferta serem muito grandes, imprevisíveis e dependentes dos agentes com alto poder de negociação, fornecedores ou compradores.
Dessa forma, ao analisar as cinco forças de Porter em relação aos fatores inibidores e potencializadores do empreendedorismo, é possível compreender a concorrência do mercado em que se atua e suas características bem como as de seus clientes e fornecedores, identificando suas ameaças ou oportunidades.
De maneira geral, tudo que contribua para o desenvolvimento da atividade empreendedora pode ser considerado um potencializador, e tudo que desmotiva sua prática pode ser considerado um inibidor. O que vimos aqui foram exemplos de fatores encontrados na literatura, sobretudo nas mais recentes. No entanto, a cada momento ou em cada localidade ou setor, esses fatores podem se apresentar de intensidades ou maneiras diversas, sendo necessário que você, enquanto Técnico(a) em Agronegócio, saiba visualizá-las e as utilizar de acordo com seus objetivos.
Com os conhecimentos adquiridos nesta lição, acredito que seja possível que você saiba olhar ao seu redor e perceber quais fatores podem ser considerados potencializadores do desenvolvimento da atividade empreendedora e, da mesma forma, perceber os que poderiam ser observados e entendidos como inibidores.
Então, como sugestão de aplicação desses conhecimentos aprendidos hoje, minha sugestão seria exatamente essa: pegue o tradicional papel e caneta, ou registre em seu celular ou computador. Faça uma lista elencando, pelo menos, cinco fatores que considere potencializadores do empreendedorismo e compartilhe com seus colegas ou professores. Da mesma forma, anote, ao menos, cinco fatores que considere inibidores ao empreendedorismo e os compare com de seus colegas. É bem possível que haja divergências entre suas anotações. Converse entre si e defenda seus posicionamentos. Mão na massa e até a próxima lição!
BAGGIO, A. F.; BAGGIO, D. K. Empreendedorismo: conceitos e definições. 5. ed. Rio de Janeiro: Empreende/LTC, 2014.
DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 5. ed. Rio de Janeiro: Empreende/LTC, 2014.
ROBICHAUD, Y.; LEBRASSEUR, R.; NAGARAJAN, K. V. Necessity and oportunity-driven entrepreneurs in Canada: na investigation into their characteristics and an appraisal of the role of gender. Journal of Applied Business and Economics, v. 11, n. 1, 2010.
SERTEK, P. Empreendedorismo. Curitiba: InterSaberes. 2012.
SILVA, M. R. da. Empreendedorismo. Curitiba: Contentus, 2020.