Olá, estudante do Novo Ensino Médio Técnico do Paraná! Seja bem-vindo(a) à mais uma lição do curso Técnico em Agronegócio, da disciplina de Empreendedorismo. Espero que esteja gostando dos assuntos até aqui abordados e que tenha conseguido fixá-los em sua mente, acumulando-os a cada lição. Já aprendemos bastante coisas sobre os empreendedores, seus tipos, suas habilidades necessárias, entre outros assuntos.
Sendo assim, o objetivo desta lição é enfatizar a real importância do empreendedor para a localidade onde atua, sua região ou país. Demonstraremos porque o processo do empreendedorismo deve ser cada vez mais difundido entre cursos, faixas etárias ou regiões. Venha comigo ver um pouco dessa relevante contribuição do empreendedor.
Imagine se não existe o empreendedor. Se não existe o empresário visionário, inovador, que, a todo o momento, estivesse atrás de novos produtos, tecnologias, técnicas e processos para otimizar sua produção e a utilidade dos produtos para as pessoas. Como seria?
Mesmo que, em primeiro momento, pareça uma atitude egoísta da parte do empresário querer sempre um aumento no número de unidades vendidas ao menor custo e maior lucro, se parar para olhar os detalhes, pode ser uma coisa boa para o consumidor. Isso porque, geralmente, ao se reduzirem os custos para o empresário, o preço repassado ao consumidor final, também, reduz — ainda que não na mesma proporção.
Nesse processo, portanto, o empreendedor aparece como motor propulsor, mesmo que indireto, da melhoria da qualidade de vida das pessoas. Da maior gama de produtos disponíveis ao público aos menores custos para realização de processos produtivos, tudo se reflete em ganhos bidirecionais: ao empresário empreendedor e ao cliente consumidor. Vamos ver um pouco mais sobre esse assunto comigo?
No estudo de caso de hoje, trarei duas situações, exemplificando como atuações empreendedoras podem, ao mesmo tempo, beneficiarem os consumidores e gerar lucros extraordinários a seus executores. Da mesma forma, aproveitarei para demonstrar como as empresas são extremamente carentes de iniciativas empreendedoras, que, muitas vezes, são vitais à empresa e podem definir seu sucesso ou falência.
Começo citando o exemplo real de uma empresa de locação de vídeos VHS, a Blockbuster, que, até tempos atrás, possuía milhares de unidades físicas, mas, por permanecer com posturas tradicionais e resistir ao espírito empreendedor, acabou falindo. Ocorre que serviços mais sofisticados, como a Netflix, que, a princípio, atuava como serviço de delivery de DVDs, inclusive podendo ser comprada pela Blockbuster, surgiram no mercado. Esta, há alguns anos, fechou todas as suas lojas e perdeu para a concorrente, que, mais tarde, estendeu seu leque de produtos para o aluguel por assinatura de milhares de filmes, inclusive originais, por valores simbólicos, comparados ao sistema antigo, que cobrava por unidade emprestada. A empresa até tentou se posicionar no mercado nesse novo setor, porém sem sucesso, indo à falência.
Em que isso se relaciona com a importância do empreendedor? Nesse caso, o empreendedorismo possibilitou que o mercado tivesse sua estrutura totalmente modificada. A partir dessas mudanças, o cliente passou a ter uma melhora extrema de utilidade e de acesso aos produtos, com maior comodidade. Ao mesmo tempo, tais melhorias indicaram que esse sucesso da empresa Netflix partiu de ações visionárias, muitas vezes, desacreditadas pela maioria das pessoas ou concorrentes, mas que possuíram potencial empreendedor de tamanha transformação.
Podemos relacionar, também, o que vemos aqui no case com a “destruição criativa”, do autor Schumpeter — que você entenderá melhor no decorrer da lição —, em que empresa que não inova tem seus produtos retirados do mercado, e a inovadora toma conta de todo o mercado, impondo seu novo produto em detrimento do antigo, que passa a ser inviável e sai do mercado.
O empreendedor é importante não apenas para esta disciplina, que está focada nesta temática, tampouco para esta lição apenas, mas para toda a comunidade e, até mesmo, para os próprios países, ao passo que eles desenvolvem, inclusive, políticas voltadas para esse público, criam programas, agências e comitês para fomentar o desenvolvimento desse tipo de atividade.
Conseguimos ver um pouco dessa grande ênfase, por exemplo, nas palavras de alguns autores, como Fabrete (2019, p. 3), que diz que: “O empreendedor está no epicentro de toda a economia, pois é a partir dele que nascem novos negócios que impulsionam os negócios atuais”. Isso deixa bem clara a posição de destaque que ele possui em relação ao crescimento e ao desenvolvimento de um país ou região. Mas será que isso se aplica a todo tipo de empreendedor?
A resposta para essa pergunta é simples, clara e objetiva: não. Apenas aplica-se àquele que traz consigo a inovação, melhorias em produtos, serviços ou processos. Até porque fazer mais do mesmo não é empreender. Para que se desempenhe um papel tão importante assim na sociedade, é necessário que sua atuação seja um agente da transformação, seja influenciadora, e portadora de melhorias para a qualidade de vida das pessoas. Sendo assim, alguns tipos de empreendedores podem, inclusive, não serem incentivados por representarem uma espécie de efeitos contrários aos demais, no sentido de não contribuírem com o desenvolvimento ou crescimento econômico, mas para a sua recessão ou retrocesso.
É o caso descrito a seguir: “O empreendedor por necessidade não é considerado agregador de valor na economia do país, pois na maioria das vezes os empreendimentos constituem negócios informais ou trabalhos no setor primário e secundário” (FABRETE, 2019, p. 24). Por meio desse trecho, podemos ver que a posição é muito clara, só contribui e tem sua elevada importância aquele empreendedor que agrega valor à sociedade, e não aquele que o faz sem nenhum preparo, esforço de aprendizado, melhoria, mas, sim, apenas por sobrevivência.
Já o empreendedor por oportunidade, como já dito anteriormente, representaria o tipo de empreendedor ideal para o desenvolvimento social e local e, até, mesmo, para a maior taxa de sobrevivência das empresas no médio e longo prazo. Além disso, esse tipo de empreendedor, geralmente, desenvolve-se em regiões de alto crescimento e inovação, atuando, sobretudo, no setor terciário e tecnológico. Ou seja, contribui para o desenvolvimento e é um propulsor dele, além de ser retroalimentado pelas condições em que atua.
Dornelas (2014) destaca que o fator que diferencia um empreendedor é a inovação tecnológica, que, por sua vez, tem sido o diferencial de desenvolvimento no mundo. Para se adaptar às mudanças que acontecem a todo instante no mundo em que vivemos, faz-se necessário que se desenvolva, a todo momento, inovação, e o empreendedor aparece como peça-chave nesse processo.
A chance de sucesso de um empreendedor está atrelada a alguns fatores de extrema importância para o desenvolvimento econômico (SMILLOR; GILL, 1986 apud DORNELAS, 2014), tais como:
Talento: é o que impulsiona a abertura e promove a criação do novo empreendimento.
Tecnologia: é aqui que surgem novas ideias, sem as quais, não existiriam novos negócios; a tecnologia é, sem sombra de dúvidas, o diferencial e o sucesso do empreendimento.
Capital: sem capital, o empreendimento não sai do papel; é ele que dá respaldo para que a ideia seja efetivada.
Know how: trata-se da habilidade e do conhecimento que o empreendedor deve possuir.
Tais fatores impõem ao processo de empreender incentivo, monitoramento e cultivo, para que, ao serem combinados, proporcionem uma real chance de sucesso cada vez maior. Segundo Drucker (1987), é a inovação que faz com que os empreendedores sejam seres com ferramentas diferenciadas. É por meio dela que os indivíduos conseguem explorar mudanças que acontecem no ambiente ao longo do tempo e transformá-las em oportunidades para um novo negócio ou serviço.
A inovação, no entanto, pode ser considerada uma disciplina. Isso significa que, segundo o autor, pode ser aprendida, ensinada e praticada. Isso abre mais espaço para que sejam, amplamente, difundidos a prática e o ensino nos mais diversos níveis de educação (escolas, faculdades, cursos de níveis básicos ou superiores etc.) para que se possa criar uma cultura difundida e transformada em hábito.
Schumpeter (1982) defende, com bastante entusiasmo, o papel da inovação na transformação da sociedade e de seu progresso. Para tanto, apresenta o empreendedor como ator principal desse processo, ao lado de um sistema bancário de crédito e de um desenvolvimento de novas tecnologias. Segundo o autor, o empreendedor representa um importante agente de criação de novos negócios e, por isso, contribui, efetivamente, para o desenvolvimento econômico. Na verdade, ele, ainda, é um tanto quanto mais enfático ao dizer que a existência de empresários inovadores, empreendedores, é uma condição não apenas ideal, mas necessária para o processo de desenvolvimento econômico.
Gomes (2005) destaca, com certa ênfase, o papel do empreendedorismo, também, sobre o desenvolvimento local ou regional. Segundo a autora, ultimamente, tem-se discutido muito essa temática, sobretudo pelo fato de que esse é considerado, por vários autores, um importante requisito para que os países alcancem maior desenvolvimento econômico.
Também há de se destacar que, com a globalização, muitos dos empregos tradicionais deixam de existir muito rapidamente, tendo de ser substituídos por outros mais modernos, especializados, mecanizados e digitais, por exemplo. Isso faz com que ocorra o fenômeno chamado, na literatura, “destruição criativa”, denominado, primeiramente, por Schumpeter e, amplamente, aceito nas literaturas atuais, que, em poucas palavras, significa o ato de um produto novo criado substituir algo já existente no mercado. É como se o produto inovador fosse tão mais superior que o já existente, automaticamente, torna-se obsoleto, ultrapassado, deixando de haver uma razão para a continuidade de seu uso. Sobre isso, recorrem aos casos apresentados no case desta lição sobre as empresas Blockbuster e Netflix.
É claro que já se conhecem as dificuldades de se empreender, assim como alguns programas de apoio, que serão apresentados, mais à frente, nas próximas lições. Também, aparece, recorrentemente, na literatura, a importância principal das micro e pequenas empresas nesse processo, bem como fazem-se necessárias parcerias para facilitar esse acesso ao mercado, às linhas de crédito etc. Isso, contudo, você certamente já estudou muito bem na disciplina de Associativismo e Cooperativismo, não é mesmo?
Segundo Dolabela (1999), o empreendedor defendido por Schumpeter se tornou uma visão predominante, sendo considerado o motor que gira a economia, o agente que é capaz de mudar o mundo e a vida das pessoas, não só onde atua, mas também de outras comunidades, regiões ou, até mesmo, países. Ele seria capaz de desencadear todo um processo de crescimento e, consequentemente, desenvolvimento econômico, por meio do qual possam ser alteradas, inclusive, as condições de estagnação da economia e sociedade, possibilitando ganhos sociais de bem-estar maiores por meio de suas atividades inovadoras.
Carpintéro e Bacic (2001) destacam a relação entre o empreendedorismo e o desenvolvimento econômico. Enquanto muitos trabalhos estão relacionados com o crescimento econômico, os autores chamam atenção sobre o papel dos empreendedores na melhoria da qualidade de vida da população. É importante lembrar que o crescimento econômico é representado por variáveis numéricas, e o desenvolvimento se atenta às qualitativas, ou, ainda, enquanto o crescimento se preocupa com o valor agregado da economia, o desenvolvimento se preocupa com questões de distribuição desigual de renda, de acesso aos serviços, entre outros.
Dessa forma, a importância do empreendedor pode ser maior ainda sob essa visão, pois, se por um lado ele agrega valor à economia na geração de novos empregos por desenvolver novos negócios, por outro, esses mesmos negócios recém-criados são, em geral, serviços ou produtos melhorados.
Se olharmos para o setor do agronegócio, uma nova variedade de determinado produto pode, ao mesmo tempo, permitir maior produtividade, a qual, a longo prazo, implicará em redução dos preços, devido ao aumento de oferta disponível na economia, e, consequentemente, resultará em uma situação melhor tanto para o produtor rural quanto para os consumidores. Da mesma maneira, com uma maior variedade de produtos ofertados, o acesso das pessoas aos alimentos, por sua vez, também será maior, o que impactará, inclusive, em sua segurança alimentar e nutricional. Viu como o empreendedor tem papel fundamental em todos os setores em que atua?
Com os conhecimentos adquiridos na lição de hoje, acredito que seja possível perceber um pouco mais a real importância do empreendedor para a economia como um todo, para a região em que se habita ou atua bem como para seu país.
Espero que, nesse momento, você consiga já olhar ao seu redor e enxergar vários empreendedores, mesmo que inconscientemente de sua atuação, bem como perceber sua atuação e os impactos na vida das pessoas que a cercam. Se quiser, volte ao velho papel e caneta: anote em um rascunho, faça uma lista de, pelo menos, dez nomes de pessoas que você considera empreendedor e tente aplicar os conhecimentos repassados até aqui. Isso ficará ainda mais completo se você conhecer a história de cada uma dessas pessoas ou de suas empresas, para que possa classificá-las quanto a seu tipo de empreendedorismo e conhecer se exercem impacto sobre a sociedade e em qual sentido ou intensidade.
Será que essas pessoas, que abriram seus negócios, contratam e contribuem para que a economia gire, possuem algum tipo de trabalho social, que transborde sua atuação profissional para a região em que estão inseridas? Pesquise, anote e aplique o máximo de assuntos que conseguir, o principal beneficiado será sempre você e aqueles que utilizarão seus serviços depois de formado(a).
CARPINTÉRO, J. N. C.; BACIC, M. J. Empreendedorismo e desenvolvimento. World Conference no Business Incubation, Rio de Janeiro, out. 2001.
DOLABELA, F. Oficina do Empreendedor. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1999.
DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 5. ed. Rio de Janeiro: Empreende/LTC, 2014.
FABRETE, T. C. L. Empreendedorismo. 2. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2019.
GOMES, A. F. O empreendedorismo como uma alavanca para o desenvolvimento local. Revista Eletrônica de Administração, v. 2., n. 4, 2005.
SCHUMPETER, J. A. Teoria do Desenvolvimento Econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982.