Olá, estudante, seja bem-vindo(a) a mais uma lição da nossa disciplina de Empreendedorismo do Curso Técnico em Agronegócio. Espero que esteja compreendendo já, a essa altura, os principais conceitos do Empreendedorismo e, principalmente, as características que compõem o perfil empreendedor. Estudamos diversas características na lição passada e espero que elas estejam em sua memória ainda. Nesta lição, estudaremos, segundo alguns autores, quais são os principais tipos de empreendedores existentes e quais características os diferem entre si. Este assunto é de extrema importância para você, pois, conhecendo cada tipo de perfil, podemos atender às necessidades que surgirão de forma mais efetiva. Vamos lá?!
Você pode estar se perguntando: como existem tantas características para descrever uma pessoa? Pois bem, como tudo na vida, para entender alguma coisa, é necessário que a estudemos com a maior quantidade de informações possíveis ou disponíveis, e é isso que iremos fazer com nosso ser em análise nesta disciplina: o empreendedor.
Já parou para pensar, se ficássemos apenas nessas vagas características, como seria difícil pensar em classificar alguma pessoa como empreendedora? Por exemplo, pense em uma pessoa que você conhece e a considera comprometida e cheia de autoconfiança. Por possuir essas duas características, ela poderia ser considerada uma pessoa empreendedora? Sem especificar melhor os tipos de empreendedores, pensaríamos que todos os empreendedores são iguais, agem impulsionados pelas mesmas coisas e surgiram das mesmas condições ou situações. Com isso, trataremos todos do mesmo jeito, sendo assim, muitas vezes, errados em nossos incentivos.
Pense se uma pessoa gosta de laranja e outra, de chocolate, não adianta oferecer nem laranja as duas nem chocolate, pois cada uma delas apresenta um tipo diferente de gosto, sendo que uma gosta de fruta e a outra, de doce. O que eu quero dizer a você com isso: temos que saber muito bem o perfil de cada um ou, ainda, à qual grupo pertence, para que possamos incentivá-lo da maneira correta. Aliás, é isso que queremos, que, a cada dia mais, possam surgir mais desses seres extraordinários que são tão importantes para nossa economia e inovação.
No case de hoje, trago a você um exemplo de como podemos, entre tantas possíveis características de perfil empreendedor, agregar em alguns “poucos” tipos. Bom, se você pensou por que coloquei entre aspas, foi porque não leu ainda o material. Na verdade, não são tão poucos tipos assim que existem, mas, ainda assim, reunir diferentes empreendedores com características tão distintas em grupos não é tarefa fácil. É sobre um pouco dessa tarefa que trago, hoje, uma pesquisa feita por Nassif, Andreassi e Simões (2011), em que foram entrevistadas 13 pessoas, sete homens e seis mulheres, consideradas empresárias ou empreendedoras de sucesso, na busca de testar quais os seus tipos e, ainda, entender as principais diferenças entre empreendedores e intraempreendedores, no nosso caso, definidos como empreendedores corporativos.
Para realizar essa separação, os autores consideraram os seguintes critérios: para os empreendedores: terem empresa própria e forem os fundadores bem como estabelecerem-se em São Paulo, atuando na área de serviços ou comércio, homens ou mulheres; e para os intraempreendedores: serem profissionais de empresas, indicados pelos superiores, com perfil intraempreendedor, marcado por suas ações e, finalmente, por acessibilidade.
Como resultados, encontraram algumas diferenças e semelhanças entre os grupos, identificando que os empreendedores possuem competências distintas dos intraempreendedores e são focadas em diferentes variáveis que influenciaram suas vidas, como motivações pessoais, diferentes maneiras de gerenciarem seus negócios e apoio da família, e a construção de suas carreiras profissionais. Assim, seja no campo teórico, seja no prático, como foi o caso desse estudo de caso que apresentei a você, vão surgindo diferentes tipos de empreendedores na tentativa de agrupá-los para facilitar os estudos de suas características.
Existem muitos tipos de empreendedores, mesmo possuindo características semelhantes. De acordo com cada autor e seus enfoques, podem ser diferenciados em certo número de categorias. Apresentarei a você os principais encontrados na literatura e suas classificações. Para Dornelas (2005), os empreendedores podem ser classificados em sete tipos: o Empreendedor Nato, o Empreendedor que Aprende, o Empreendedor Serial, o Empreendedor Corporativo, o Empreendedor Social, o Empreendedor por Necessidade e o Empreendedor Herdeiro. Estudaremos um pouco das características de cada um deles.
O Empreendedor Nato, ou Mitológico, é o mais conhecido entre todos e possui histórias atraentes e motivacionais. É aquele que, muitas vezes, começa grandes impérios do nada ou de muito pouco. Geralmente, começa a trabalhar desde muito cedo, possui grandes habilidades adquiridas de negociação e vendas. São pessoas que têm visão de futuro, entregam-se de corpo e alma em seus negócios. Seguem princípios familiares e religiosos e são considerados exemplos para todas as pessoas.
Já o Empreendedor que Aprende, ou Inesperado, é aquele que não nasceu já com esse propósito de empreender. Na verdade, nunca tinha visto isto nem como alternativa, pensava, talvez, em uma carreira brilhante em alguma grande empresa, mas foi demitido ou estava prestes a ser; nesse caso, decide abrir um negócio próprio, com o propósito de mudar sua carreira e atuação profissional. Pode, na verdade, ter sido convidado para entrar como sócio com alguém em um negócio e vê aquilo como uma “oportunidade que bateu em sua porta”. Antes de se tornar empreendedor, não gostava de assumir riscos, então, demora um pouco para se adaptar com ideia do negócio próprio.
O Empreendedor Serial, ou que cria negócios, é aquela pessoa que gosta do processo de criar novas empresas, independentemente do tipo que elas sejam. Não costuma ficar muito tempo à frente das empresas que cria, mas vê uma oportunidade, cria um negócio, monta uma equipe, lidera-a e a motiva e passa para outra fase de criação de nova empresa. Pode, inclusive, criar e estar levando vários negócios ao mesmo tempo. Não tem paixão pela empresa ou ramo que cria, mas pelo ato de empreender. Costumar estar sempre atento a tudo que acontece, realizando várias atividades de network, trocas de experiências profissionais, participando sempre de palestras e outros eventos. Como toca vários negócios, é normal que seus fracassos também sejam em maior número, mas isso só serve para motivá-lo a tentar acertar em novas oportunidades no futuro.
Quanto ao Empreendedor Corporativo, Dornelas (2005) diz que, devido, nos últimos tempos, às organizações apresentarem maior necessidade de inovação e criação de novos negócios, geralmente, seus executivos, em geral, muito competentes, exercem essas funções. Possuem alto conhecimento de ferramentas e de gestão, assumem riscos e sabem defender suas ideias. São ótimos em trabalhar em equipe, conseguindo manter a equipe motivada, reconhecendo o empenho dela. Trabalham melhor com remuneração variada e metas ousadas, pois são ambiciosos. Fazem muito network, dentro e fora da empresa onde atuam, se criarem um negócio próprio, terão dificuldade de adaptação, pois estão acostumados com os recursos que tinham disponíveis em seus cargos antigos.
O Empreendedor Social já é aquele indivíduo que falamos muito em nossa matéria de Associativismo e Cooperativismo, que tem, como principal objetivo, o aumento da satisfação e bem-estar da população, isto é, deixar o mundo melhor para seus descendentes. É aquele que quer mudar o mundo e, principalmente, o acesso das pessoas às oportunidades. Está sempre envolvido em causas humanitárias, tendo papel social extremamente importante, tendo, como principal realização, o sucesso do seu próximo. Não tem, portanto, como objetivo principal, o lucro, mas, sim, a criação de negócios que ajudem no desenvolvimento das pessoas e do ambiente, acabando suprindo falhas de políticas públicas.
Segundo Baggio e Baggio (2015), o Empreendedorismo Social redesenha as relações entre a comunidade, o governo e o setor privado, seguindo modelos de parcerias. Como resultado disso, temos melhores qualidade de vida e bem-estar social, econômico, cultural, financeiro e ambiental. Ele mistura todos os traços dos perfis que vimos na lição passada, ao relacionar arte e ciência, razão e emoção, inovação e praticidade. Sua principal diferença é que ele não busca o lucro para si mesmo, não objetiva a venda de bens ou serviços privados, mas, sim, a resolução de problemas sociais, a redução da desigualdade de renda, fome, miséria e questões relacionadas à vida das pessoas e a fatores que a melhorem (BAGGIO; BAGGIO, 2015).
O Empreendedor por Necessidade, geralmente, é aquele que não tem acesso ao mercado de trabalho ou foi demitido da empresa em que trabalhava. Com isso, precisa trabalhar “por conta própria”. Normalmente, atua em setores que não necessitam de formação específica, desenvolvendo tarefas simples, prestando serviços e atuando em negócios informais. Na maioria das vezes, não contribui com impostos nem gera inovações em suas atuações. Quando não possui recursos e estrutura adequada para se desenvolver ou quando existe em grande quantidade em uma sociedade, pode representar um problema social.
Por último, mas não menos importante, o Empreendedor Herdeiro, ou de Sucessão Familiar, já sabe, desde pequeno, que possui a missão de levar avante o legado da família. Geralmente, aprende com a família a arte de empreender, podendo estar à frente da empresa ou organização ou contratar profissional habilitado para gerir a empresa e compor o conselho para opinar sobre o destino dela. Ultimamente, essas empresas familiares estão se profissionalizando, considerando que o principal intuito do herdeiro é multiplicar o patrimônio que recebeu, o que não é tarefa fácil, em muitos dos casos.
Dessa forma, não existe, para Dornelas (2005), um tipo único de empreendedor ou um modelo padrão, sendo difícil defini-lo ou categorizá-lo. Da mesma forma, qualquer pessoa pode tornar-se um empreendedor. Importante lembrar que, mesmo estando enquadrado em um tipo, pode desenvolver características de outros tipos. Por exemplo, não é pelo fato de ser um empreendedor nato que nasce pronto, mas, sim, adquire habilidade e desenvolve experiências ao longo da vida, podendo ser considerado, também, um Empreendedor que Aprende.
De acordo com cada abordagem, surgem certos tipos de classificações. É o caso de Leite e Oliveira (2007), que classificam os empreendedores em dois tipos: os Empreendedores por Necessidade e os Empreendedores por Oportunidades. Os Empreendedores por Necessidade criam negócios, por não terem alternativas, como foi tratado também por Dornelas (2005), talvez, por terem sido demitidos ou por não acharem algum emprego formal, devido a fatores da própria estrutura econômica ou situação do local em que vivem. Surgem como opção repentina e sem muito preparo, levando, muitas vezes, a atividade ou o empreendimento ao insucesso.
Os Empreendedores por Oportunidades, por sua vez, são aqueles que conseguem enxergar oportunidades de negócios lucrativos, visualizando as tendências de mercado e as necessidades não atendidas dos potenciais clientes. Surgem como possibilidade de melhorar a vida das pessoas, são inovadores e têm grandes chances de sucesso. Geralmente, são bem-preparados em questões tanto profissionais quanto pessoais.
Pessoa (2005) define três tipos: O Empreendedor Corporativo, o Empreendedor Start-Up — que seria muito parecido com o Empreendedor Serial, de Dornelas (2005) — e o Empreendedor Social.
Para finalizar, existem mais dois tipos de empreendedores que devem ser destacados nesta lição: o Ecoempreendedor e o Empreendedor Tecnológico. O primeiro se refere àquele que reaproveita materiais recicláveis para serem transformados em novos produtos, fazem artesanatos com produtos reutilizados, utilizam óleo de motor usado para fabricar lubrificantes de alta performance, transformam sedimentos e restos de alimentos em fertilizantes e corretivos de solo, por exemplo. Neste campo e em vários outros, como o do empreendedor social, surge uma grande oportunidade para se desenvolver o empreendedorismo rural, que será um assunto abordado mais à frente, em lição específica para ele (BENNETT, 1992).
Por fim, em tempos de eras tão digitais, o Empreendedor Tecnológico tem surgido como aquele que tem familiaridade com o mundo acadêmico, busca oportunidades de negócio na economia digital e do conhecimento, mesmo este setor possuindo alta competitividade e taxa de sobrevivência muito baixa (INSTITUTO EUVALDO LODI, 2010). Sendo assim, existem vários tipos de empreendedores com as mais diversas características, carregando consigo história de vidas empolgantes, emocionantes, inspiradoras e de superação. Basta acharmos nosso lugar ao sol e descobrirmos que tipo ou, ainda, em quais tipos desses nos encaixamos, pois, mesmo que, hoje, ainda não estejamos sendo empreendedores em algo em nossa vida, um dia, podemos ser levados a essa condição ou, ainda, poderemos escolher isto para a nossa vida.
Bom, espero que, ao longo desta lição, você tenha tido os conhecimentos necessários para entender os diferentes tipos de empreendedores, segundo cada autor apresentado, e, mais importante ainda, desenvolver um olhar crítico capaz de realizar a categorização de cada pessoa empreendedora, ou não, que está ao seu redor. Como proposta de aplicação, desafio você a fazer justamente isso: pegue uma folha e uma caneta ou lápis e rabisque nela os principais tipos que você se lembra dos que leu nesta lição. Não precisa se preocupar em tentar reproduzir, fielmente, o título dado àquela categoria, até porque mais importante do que lembrar o nome é saber entender o que ele representa.
Digo mais ainda: que tal criar uma nova categoria ou até mais de uma? Qual tipo de empreendedor você acha que deveria constar em nossa lista? Diga a seu professor quando cobrado em aula também, mas o mais importante: realmente, escreva aí em seu caderno, tente materializar essas ideias que apresentei a você hoje. Bom, por hoje é só, encontro você na próxima lição. Até breve!
BAGGIO, A. F.; BAGGIO, D. K. Empreendedorismo: Conceitos e definições. Revista de empreendedorismo, inovação e tecnologia, Passo Fundo, v. 1, n. 1, p. 25-38, 2015.
BENNETT, S. J.. Ecoempreendedor: oportu¬nidades de negócios decorrentes da revolu¬ção ambiental. São Paulo: Makron Books,1992.
DORNELAS, J. C. de A. Empreendedorismo na prática: mitos e verdades do empreendedor de sucesso. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2005.
INSTITUTO EUVALDO LODI. Empreendedorismo: ciência, técnica e arte. Brasília: CNI/IEL, 2010.
LEITE, A.; OLIVEIRA, F. Empreendedo¬rismo e Novas Tendências. Braga: Estudo EDIT VALUE Empresa Júnior, 2007.
NASSIF, V. M. J.; ANDREASSI, T.; SIMÕES, F.. Competências empreendedoras: há diferenças entre empreendedores e intraempreendedores? Revista de Administração e Inovação, São Paulo, v. 8, n. 3, p.33-54, jul./set. 2011.
PESSOA, E. Tipos de empreendedorismo: semelhanças e diferenças. Administradores, 27 jun. 2005. Disponível em: https://administradores.com.br/artigos/tipos-de-empreendedorismo-semelhancas-e-diferencas. Acesso em: 3 nov. 2022.