Olá, estudante, seja bem-vindo a mais uma lição. Espero que você já tenha alguma noção do que significa ser um empreendedor e imagino que, também, deve estar se perguntando muitas coisas sobre o que estudará em empreendedorismo. Bom, digo a você que serão muitas coisas ao longo de todo o período. Algumas mais fáceis, outras nem tanto, assim como a vida realmente é também, não concorda comigo? Sendo assim, cada passo em seu devido local e período. Na lição de hoje, entenderemos um pouco sobre o que é esse ser tão especial que estamos começando a descrever.
Como se fosse em um programa de TV, como o Discovery Channel, que, talvez, você não assista, mas já deve ter ouvido falar, responderemos às seguintes perguntas: quem são os empreendedores? Onde habitam? De onde vêm? O que fazem? Veremos tudo isto e mais um pouco, a fim de termos base para responder ao objetivo principal da lição: qual o perfil do empreendedor? É algo natural ou pode ser apreendido? Você verá, ainda, nesta lição, a opinião de alguns autores sobre quais fatores comportamentais levam uma pessoa a empreender com maior facilidade que outras e como se destacar ao decidir empreender. Convido-o(a) a vir comigo nesta busca por esses seres especiais, que são tão importantes na nossa sociedade. Bora lá?!
Sei que você deve estar se perguntando: será que existe determinado perfil que posso dizer se a pessoa é ou se tornará uma empreendedora? Bom, assim como tudo na vida, olhamos as estatísticas e o passado e tentamos imaginar alguma relação ou semelhança entre pessoas parecidas que tomaram ações semelhantes e obtiveram retornos de suas ações com a mesma direção. Já digo assim, porque nem sempre, quando se reproduz alguma coisa, ela será totalmente igual em intensidade e resultados do modelo seguido, por diversos fatores, não conseguimos explicar nem tampouco reproduzir fielmente.
Faça o teste: tente imaginar as pessoas de sucesso que você admira, sobretudo aquelas que abriram uma empresa ou criaram algum produto novo/metodologia nova de fazer alguma coisa tradicional (sabe onde quero chegar, né? Algum empreendedor de sucesso). Veja se encontra algo semelhante em seus comportamentos, ações, perfil, carácter, enfim, seja criativo(a).
Às vezes, você não vê alguma coisa, mesmo que esteja tão próximo a você, simplesmente porque nunca reparou nela. Mas, agora, sabendo que o colega que vende bombom no recreio, a tia que vende produtos de beleza para as colegas, o pai que anuncia produtos na Internet para vendas online, o parente próximo que decidiu se aventurar em uma nova atividade agrícola, isto é, plantar um produto diferenciado ou de forma totalmente diferente, e muitas outras pessoas que estão ao seu redor são consideradas empreendedoras, talvez, você comece a deixar aquela velha ideia de que empreendedor ou empresário de sucesso é aquele que abriu uma empresa ou uma grande loja física de algum produto. Faça isto, de preferência antes de ter lido a lição, pois várias dessas perguntas, na verdade, espero que todas, serão respondidas ao longo desta lição. Então, vamos lá, agora, entender um pouco mais sobre essas características que um empreendedor possui e qual é o seu perfil?!
Contarei uma história fictícia, mas que poderia muito bem ser uma história real, que se aproxima muito bem de algo aí do seu cotidiano. José, hoje em dia, é um empresário de sucesso no meio rural. Possui uma propriedade, onde estão dispostas cerca de 6.000 placas fotovoltaicas, gerando energia solar, que se transforma em potencial consumo para grande parte da cidade pequena e pacata do interior do Paraná onde mora. Mas ele já teve um passado brilhante desde jovem.
Na sua época de escola, empreendedorismo e disciplinas práticas, como Economia Rural ou Administração, não eram ensinados e não se ouvia falar de Associativismo ou Cooperativismo. No entanto, desde jovem, já tinha um olhar diferenciado sobre as questões que estavam à sua volta, na sua comunidade.
Desde os anos iniciais, toda vez que a professora pedia para a classe desenvolver uma atividade, ele se empenhava, tentava fazer sua melhor versão do trabalho, sempre tentava algo novo ou chegar ao resultado proposto igual aos demais da turma, mas de maneira diferente, mais prática, fácil e eficiente. É claro que os tempos eram outros, e as orientações que recebia não lhe davam condições de perceber suas ações como atos empreendedores. Mas, com o passar dos anos, José foi adquirindo várias experiências, abrindo lojinhas na sua vila, tentando novos tipos de atividades na propriedade da família, e a vida foi passando.
Este ano, José ouviu falar sobre energia solar, interessou-se pelo assunto, fez boas abordagem e análise da região, contratou um Técnico em Agronegócio, recém-formado numa escola pública paranaense de prestígio, e desenvolveu um plano de negócio, que uniu sua ambição empreendedora, que nem tinha noção que possuía, e uma parte da sua propriedade que estava sem uso, e montou sua fábrica de energia solar, como gosta de chamar.
Agora, para concluir essa possível realidade ilustrada anteriormente: imagine se José fosse você, com todo o potencial que está acumulando no decorrer do curso, com todo o universo de conhecimento disponível para você, por meio das redes sociais e da Internet. Com as possibilidades infinitas que possuiria, acumuladas ao perfil empreendedor, que, com certeza, ele sempre possuiu, José faria muito mais coisas boas e inovadoras acontecerem no mundo.
Vivemos em um mundo onde as coisas mudam a todo momento, então, já posso dizer de cara: não acharemos, aqui, nesta lição, um perfil engessado de um empreendedor, mas, sim, traços do que costumam ser as principais características desse ser que está em constante evolução e mudanças. Mas, talvez, essa seja uma das primeiras características que posso apresentar a você: a adaptação. Bom, quando se diz sobre um mundo de mudanças, adaptar-se é o que nos mantém vivos, e não seria diferente no mundo dos negócios, não acha?!
Mesmo considerando essa evolução temporal, porém, algumas coisas ainda permanecem, independentemente do período ou situação analisada. Schneider e Branco (2012) descrevem alguns traços comuns encontrados nos empreendedores e é por eles que iniciaremos a nossa análise. Digo “nossa”, porque o(a) convido a encontrar ligações entre as definições e moldar esse perfil comigo. Para Schneider e Branco (2012), o empreendedor possui os seguintes traços:
Ser artista — moldar ideias, transformando uma ideia bruta em algo interessante, que faça sentido para seu público, seus clientes.
Ser determinado — buscando, a todo instante, oportunidades para empreender.
Ser comprometido e persistente
Ser alguém que preza e busca pela qualidade e eficiência.
Saber estabelecer metas e calcular os riscos do empreendimento.
Ser capaz de convencimento e persuasão.
Ter grande rede de relacionamentos — network.
Ter autonomia, autoconfiança e independência.
Ter domínio técnico: planejar, controlar e monitorar seu projeto.
Ter autocontrole, autodomínio e equilíbrio pessoal.
Todas essas definições, talvez, mesmo que pareçam vagas, são necessárias, e digo mais, virão muito mais ainda nesta lição. Mas alguns autores tentaram colocar essas características em grandes grupos, como foi o caso de Cassia (2007), que definiu o perfil empreendedor baseado num tripé necessário, onde a pessoa que decide ser um empreendedor necessita desempenhar três diferentes e complementares papéis:
Empreendedor: relaciona-se ao seu papel visionário de encontrar novas ideias, propor novos produtos ou novas técnicas.
Administrador: relaciona-se ao papel de planejar e organizar tantos os planos e as metas quanto os recursos disponíveis ou necessários ao empreendimento.
Técnico: no sentido de conseguir executar a tarefa que foi proposta, entendendo todo o processo da atividade em que se propôs.
Simões (2005) realizou um estudo interessante, ao coletar informações de 30 empreendedores que se destacaram, em seus setores, como empresários de sucesso. A partir disso, ele conseguiu reunir as características comuns a eles, chamando esse trabalho de “o DNA dos vencedores”, em uma lista de 18 itens, descritos a seguir:
Capacidade de sonhar: o poder das ideias.
Curiosidade: sempre querer saber “o porquê” de as coisas serem assim.
Intuição e visão de futuro: deixar seus sentimentos bem acessíveis.
Detectar oportunidades: encontrar os caminhos das grandes descobertas.
Criatividade e inovação: deixar livres e disponíveis as diferentes ideias.
Iniciativa: focando no “fazer”, na “mão na massa”.
Coragem e ousadia: enfatizando que, se não nos arriscarmos, talvez, não se conseguisse chegar a grandes oportunidades, sair da zona de conforto, em busca do bem maior.
Objetivos bem definidos: principalmente, seguir à risca esses objetivos, pois seus desvios poderiam representar falhas e, até mesmo, insucesso.
Paixão pelo negócio: motivação de estar fazendo algo por amor, com objetivos e interesses não apenas monetários, mas, sim, de realização profissional e pessoal.
Disciplina: trabalhar sempre mantendo o foco e a disposição em primeiro plano.
Persuasão: fazendo com que as pessoas acreditem nas palavras que direciona a elas, mas, para tanto, é preciso acreditar no seu próprio negócio ou propósito para, depois, conseguir convencer alguém.
Persistência: não desistir após algumas tentativas frustradas, mas insistir no propósito até alcançar os objetivos propostos.
Humildade: não se deixar levar pelo sucesso ou mudança brusca de situação ou patamar financeiro, mantendo seus valores, sobretudo em relação às demais pessoas com as quais interage constantemente.
Superação: sempre transpor os obstáculos que, com certeza, surgirão no meio do caminho.
Autoconfiança: mesmo sendo humilde, é preciso confiar no seu próprio potencial.
Habilidade comercial: procurar aprender e entender técnicas e práticas sobre vendas, para encantar seu público ou cliente.
Rede de relacionamentos: estabelecer relações com pessoas que atuam em atividades correlacionadas a sua, para troca de experiências, bom relacionamento com clientes e fornecedores.
Liderança: sempre pensando em crescer seu negócio e, assim, ao se relacionar com uma equipe de vendas ou funcionários, é preciso demonstrar perfil de trabalho em grupo.
Em suas definições do perfil empreendedor, Sertek (2012) relaciona o empreendedor com duas grandes competências: inovação e criação. A competência criadora estaria na habilidade criativa do empreendedor em desenvolver novos produtos ou serviços. É ela também que auxilia na capacidade de persuasão e iniciativa das pessoas. Esse tipo de competência é bem-visto em todas as empresas e cargos, desde os do alto escalão, como diretores, supervisores e gerentes, até os funcionários operacionais, setor de desenvolvimento de produtos, atendimento ao cliente, entre outros.
A competência inovadora, por sua vez, remete à ideia de Schumpeter (1982), que já dizia que o empreendedor deve ser aquele que não quer ser mais um na multidão, mas, sim, “aquele um”, aquele que apresenta um serviço ou produto inovador, que traz a seus clientes um nível de utilidade maior. Importante lembrar que utilidade, nesse contexto, significa grau de satisfação maior, poder resolver seus problemas de forma mais eficiente, trazer, portanto, maior prazer, alegria, contentamento ao consumidor. Empreendedor, no caso, seria aquela pessoa que fosse habilitada ou que apresentasse característica de procurar a inovação nos processos e produtos e, assim, desenvolver a sociedade e a economia. Dessa forma, para caminhar rumo à inovação, o empreendedor deve, segundo Schumpeter (1982):
Procurar criar produtos novos, combinar produtos existentes ou, ainda, melhorar os que já existem, adicionando funcionalidades.
Melhorar a qualidade dos produtos, utilizando-se dos melhores materiais e tecnologias disponíveis.
Perceber os canais para possíveis transmissões tecnológicas, por exemplo, os fornecedores que podem não só ofertar novos produtos, matérias-primas diferentes, como também tecnologias e processos inovadores.
Seguindo estes autores e suas teorias ou pesquisas baseadas na realidade, podemos, então, chegar a muitos traços de perfil ideais ou recorrentes dos empreendedores de sucesso. De tudo que foi apresentado a você no decorrer desta lição, talvez, a principal característica do empreendedor seja estar disposto a correr riscos calculados por ele, por amar tanto a sua profissão ou projeto que desempenha, com o intuito de melhorar a sociedade que o cerca e solucionar os problemas das pessoas, e é lógico que, ganhando, se tudo der certo, muito dinheiro ao longo do processo.
Vale destacar, ainda, que o empreendedor na área rural, talvez, enfrente desafios ainda maiores e, portanto, possua um perfil um tanto quanto diferenciado, o que nos leva a dedicar uma lição específica a este empreendedor, ao que chamaremos de empresário rural empreendedor. Da mesma forma, o empreendedorismo deve se apresentar como importante aliado ao Agronegócio. Trataremos mais à frente desse impacto, enfatizando como você, enquanto Técnico(a) em Agronegócio, pode ser um(a) excelente empreendedor(a) e trazer inovação e desenvolvimento para sua atividade e para toda a comunidade em sua volta.
Espero que você, ao longo desta lição, tenha se descoberto um(a) empreendedor(a), e já digo que veremos, nas próximas lições, os tipos de empreendedores, as motivações, os motivos pelos quais as pessoas se descobrem como empreendedoras, mas já adianto e torço para que, ao ler essas definições do perfil empreendedor, você tenha se descoberto um(a) empreendedor(a) nato(a), que é um tipo de empreendedor que já nasce com instinto e traços estudados na lição de hoje. Porém, do mesmo modo, espero que, se você não enxergou muitas destas características em si mesmo(a), pelo menos, eu tenha gerado em você um desejo de tentar desenvolvê-las, ao longo deste nosso curso, nesta disciplina.
Você viu muitas características de empreendedores de sucesso e, se você olhar agora ao seu redor, é muito provável que você veja várias pessoas que possuem algumas dessas características. E aqui cabe apenas um lembrete do que já vimos nestas duas primeiras lições: nem todo mundo precisa ter todas as características desse perfil juntas para obter sucesso, e apenas o fato de tê-las não é suficiente para obter sucesso na jornada, até porque posso ser uma pessoa com todos os traços e condições necessárias para ser um empreendedor de sucesso, mas, simplesmente, não as aplicar.
Sabe aquela velha história de “você está com a faca e o queijo na mão”, pois é, mas de nada adianta se você não souber usá-la ou, simplesmente, mesmo sabendo, não querer ou não a usar de fato. Espero que você encontre motivação, ao longo desta caminhada, para fazer acontecer e correr atrás do objetivo, porque as suas chances de sucesso serão muito maiores do que as daqueles que não colocam em prática os conhecimentos obtidos e ficam acomodados e parados à beira do caminho.
CASSIA, S. de. Perfil empreendedor: você tem? Meu próprio negócio, São Paulo. n. 49, p. 32-39, mar. 2007.
SCHNEIDER, E. I.; BRANCO, H. J. C. A caminhada empreendedora: a jornada de transformação de sonhos em realidade. Curitiba: Intersaberes, 2012.
SCHUMPETER, J. A teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
SERTEK, P. Empreendedorismo. Curitiba: Intersaberes, 2012.
SIMÕES, K. O DNA dos vencedores. Pequenas Empresas & Grandes Negócios, São Paulo, n. 195, p.37-51, abr. 2005.