LIÇÃO 1: Empreendedorismo:
Alguns conceitos básicos
Alguns conceitos básicos
Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à primeira lição da disciplina de Empreendedorismo. Antes de tudo, queria parabenizá-lo(a), pois, se você está lendo esta lição, significa que concluiu o primeiro ano com sucesso e já está iniciando o segundo. Parece que foi ontem que as aulas do Ensino Médio e, consequentemente, as das disciplinas técnicas iniciaram e já concluímos a primeira fase. Digo a você mais ainda: logo em breve, cruzaremos a linha de chegada do terceiro ano, digo isto porque essa disciplina se estenderá até o final do curso.
Pretendo contribuir para que você possa alcançar seu querido diploma e ter um futuro todo a conquistar com a segurança do diferencial de possuir um nível de conhecimento técnico, muitas vezes maior do que o de seus colegas da mesma faixa etária ou região geográfica. É sobre esse diferencial que digo a você que, na lição de hoje, entenderemos alguns conceitos básicos e fundamentais que nos darão base suficiente e necessária para entender as próximas lições. Abordaremos o significado da palavra empreendedorismo e o que faz um empreendedor, veremos como se dá esse processo de decisão e faremos uma introdução para temas mais aprofundados a serem estudados ao longo do curso. Dito isto, convido-o a empreender comigo nesta jornada, já fazendo um trocadilho proposital, para que você se sinta instigado(a) a entender, enfim, o que é esse tal empreendedorismo que estudará ao longo dos próximos dois anos nesse curso. Vamos lá?!
No mundo em que vivemos, não existe oportunidade de emprego para todos nem condições, muitas vezes, tão favoráveis à sobrevivência ou à qualidade de vida. Nesse sentido, saber se destacar ou correr atrás de um objetivo diferente das condições em que se encontra torna-se uma obrigação, e não um mero luxo. Ao se decidir mudar uma coisa ou situação já estabelecida, surgem vários desafios que veremos ao longo desta lição e no curso como um todo. Afinal, serão dois anos falando sobre esta temática tão importante.
Então, peço a você que olhe as coisas em sua volta e responda às seguintes perguntas: será que, se quem inventou isto, dessa forma como estou vendo agora, estivesse confortável com a situação em que se encontrava ou, ainda, sem perceber a necessidade de diversificação ou melhoria de algo em que tinha acesso ou contato, haveria, hoje, este objeto que estou olhando? Será que, se fossemos apenas reprodutores daquilo que aprendemos de nossos pais, sem nenhum tipo de avanço ou melhorias, teríamos evoluído a ponto de podermos contar com tantas tecnologias diferentes e, até mesmo, com inteligências artificiais? Ou estaríamos, ainda, acendendo fogo com pedras e caçando com flechas e nos cobrindo com peles de animais? A resposta, muito provavelmente, será não, pois a mudança só ocorrerá quando percebermos sua necessidade e a fizermos acontecer. Então, vamos fazer a mudança que queremos que aconteça com o mundo? Até porque o mundo pode até mudar sozinho, mas, talvez, não na direção e no sentido que queremos. Que tal sermos e fazermos parte desta mudança?
Imaginemos, agora, uma situação fictícia, mas que poderia, tranquilamente, ser real. Vitor é um estudante do Ensino Médio Técnico do Paraná. Após um período estudando sobre como se dá o funcionamento das empresas, como atrair bom público para seu negócio e como ter muitos conteúdos na cabeça sendo retidos na memória, ainda não consegue visualizar nenhuma aplicação para aquilo. Seu professor, no entanto, espera confiante que, certo dia, ele retorne de suas férias e o surpreenda com uma comovente história que transforme sua vida e percepção sobre seus estudos.
Enfim, após retornar às aulas, Vitor encontra seu professor e relata a seguinte situação: estava na casa de meus avós, e minha avó materna estava com dificuldades de locomoção, devido a sua idade avançada e, com isso, à fragilidade de seus ossos. No entanto ela não gostava de ser carregada nos braços até os locais nem, ao menos, na cadeira de rodas, visto que não possuía deficiência física grave, apenas fraqueza nas pernas. Olhando isto, Vitor se lembrou das aulas que teve e pensou: o eu posso fazer algo para melhorar essa situação? Será que consigo encontrar um meio de fazer com que ela se sinta melhor, possa conseguir andar com apoio e sentir-se motivada a sair da cama, tomar um sol ou, mesmo, almoçar na mesa com a família? Foi nessa hora de necessidade, de visão de oportunidade, que ele, então, desenvolveu um método, ainda que simples, mas que resolva esta situação. Vitor viu alguns canos deixados no fundo do quintal da casa e, após alguns minutos, transformou-os em um andador, que permite auxiliar sua avó a se locomover pela casa, e percebeu, na hora, o semblante da avó muito mais alegre.
Ele tem duas opções agora: pode, apenas, se sentir feliz e viver com sua família ou ir atrás de ajuda, fazer parcerias com engenheiros ou outros profissionais e desenvolver um produto, ganhar dinheiro com isso e, ainda, fazer a vida de muitas famílias melhores. O fato é que, independentemente da escolha que fizer, ele já empreendeu, isso porque desenvolveu uma solução para um problema que encontrou, o que fará a diferença será apenas o tamanho do impacto que sua descoberta terá ou a oportunidade que ele terá em fazer isto se transformar em renda e solução para outras pessoas também.
Para começar a definir alguns conceitos, faz-se necessário iniciar pela própria palavra que define o título de nossa matéria: empreendedorismo. Bom, para tanto, talvez, devemos voltar um pouco e pensar: o que significa empreender? É nesse ponto que iniciamos nossa análise. Antes de ler os próximos parágrafos, pense o que você acredita ser empreender, o que significa palavras, como empreendedorismo, inovação, perseverança, visão de futuro, entre outras tantas que veremos ao longo da lição e do curso.
Segundo Schneider e Branco (2012), empreender significa sair da zona de conforto, representa o ato de tentar, experimentar, decidir fazer algo, resolver ou pôr em execução alguma coisa. Há, no entanto, segundo o autor, várias conotações ou sentidos para as definições dessa palavra ou atitude. Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, empreendedor deriva de imprendere, do latim, que significa decidir, realizar tarefa difícil e laborosa (HOUAISS; VILLAR; FRANCO, 2009), e, de acordo com o Dicionário Aurélio, empreender refere-se a como colocar em execução (FERREIRA, 2009). Nesse caso, entendemos que não será fácil a tarefa do empreendedor e veremos, muito em breve, por quais motivos. No entanto veremos, também, que, seguindo algumas direções rumo a esta caminhada empreendedora, é possível que esse caminho seja um tanto quanto mais fácil e possível. Podemos seguir com muitas definições do que é ser um empreendedor, de acordo com diferentes vertentes.
Se olharmos pelo lado econômico, o empreendedor seria aquele que é responsável por observar todos os recursos ou fatores de produção e descobrir, no valor dos produtos, a melhor maneira de alocá-los, sejam eles relacionados à renda, a salários, a aluguéis, a produtos, a trabalho ou a outros fatores. Também está interessado na maximização da utilização e retorno que pode obter na melhor combinação desses fatores, de forma que realiza vários testes até encontrar essa combinação ideal (SAY, 1986).
Também, é possível destacar aos olhos de outros economistas, como Schumpeter (1982), que o empreendedor, associado ao seu papel na inovação, é aquele que percebe as necessidades de mudança ou, ainda, as novas oportunidades de negócios. Não, necessariamente, precisa ser criado um produto novo, mas, talvez, um processo de trabalho diferente, mais efetivo ou, até mesmo, mais simples e de fácil aplicação. Também pode estar relacionado a modificações nos produtos de forma que atendam, cada vez mais, às necessidades do público.
Talvez, agora, você esteja se perguntando: como fazer para desenvolver, vender ou inventar e colocar no mercado um produto novo ou um processo? Existem, sim, maneiras de melhor chegar até determinado público, e é o pessoal de marketing que trabalha bem esse aspecto com suas ideias de lançamento, campanhas de divulgação, entre outros fatores.
Considerando, porém, que você está sendo formado(a) na área de Agronegócio, pense: talvez, eu possa desenvolver algum produto novo, como uma semente melhorada, uma técnica nova de cultivo, uma forma de gerenciar melhor os custos de uma propriedade, enfim, tudo isto seria considerado uma inovação e você, um empreendedor(a). Neste caso, então, o empreendedorismo se remete sempre à ação, sendo que os empreendedores são as pessoas que realizam esta ação, mobilizam os recursos e, também, correm os riscos ao iniciar suas atividades, empreender em seus novos negócios. Sendo assim, empreender é sair da área de sonhos e planos abstratos e colocar em prática seus planos para alcançar seus objetivos. Por fim, existe possibilidade em empreender no sentido de conhecer algo novo até mesmo sobre si próprio (SCHNEIDER; BRANCO, 2012).
Segundo Sertek (2012), a decisão de empreender é necessária frente à grande concorrência dos últimos anos. O tempo entre uma inovação e ideias parecidas surgirem está cada vez menor, de modo que o empreendedor precisa estar em constante processo de evolução. Nem sempre sabe o que não sabe, ou seja, não reconhece o tamanho da sua ignorância, nem consegue enxergar aquilo que tem necessidade de melhor aperfeiçoamento. Então, o primeiro passo, para que se possa desenvolver esse espírito empreendedor, é investir em si mesmo, ou seja, investir em conhecimento, em autoavaliação e em leituras, além de buscar habilidades desconhecidas. Só assim, então, poderá olhar o mundo ao seu redor e encontrar as oportunidades de desenvolver novos negócios ou produtos.
Às vezes, depois deste investimento que está fazendo em si mesmo, ao cursar esse novo modelo de Ensino Médio Técnico e receber os conhecimentos que as disciplinas do Curso de Agronegócio o(a) proporciona, você que esteja olhando as coisas ao seu redor de maneira diferente. Talvez, já perceba, e espero realmente que sim, que algo, no ambiente em que frequenta, pode ser mudado, alguma coisa em sua comunidade esteja faltando ou, até mesmo, se você mora em uma área rural, perceba as necessidades de seus vizinhos e familiares e comece a visualizar possíveis soluções para eles.
Isto já é um bom começo, até porque, segundo Sertek (2012), existem três fatores-chave para desenvolver as competências empreendedoras: saber, querer e fazer. É nesse processo que muitas ideias se perdem, pois nem sempre aquele que sabe o que precisa ser feito vai lá e faz. Por outro lado, há alguns, ainda que não saibam, têm vontade enorme de fazer algo e fazem, mesmo sem saber fazer direito, e, ainda, há pessoas que sabem, mas há uma relutância em sair da zona de conforto e colocar a ideia em ação.
Para colocar um projeto em execução, é necessário entender o perfil empreendedor a ser desenvolvido e o perfil do cliente que receberá este produto ou serviço bem como calcular, corretamente, as previsões de fluxos financeiros que aquele empreendimento trará no futuro. Sendo assim, pode ser que seja necessário, e muitas vezes é, muitas tentativas com possíveis erros até que uma ideia saia do papel da maneira que necessita chegar até o cliente final. Mas estas já são cenas dos próximos capítulos, no nosso caso, das próximas lições.
Uma série de fatores impactarão as decisões do empreendedor e suas atitudes, como veremos mais a frente, mas cabe aqui destacar a Tríade Empreendedora, composta pelas seguintes faces:
Pessoal.
Técnica.
Gerencial.
Na verdade, em tudo que fizermos na vida, iremos nos deparar com esses três pilares. Para toda atitude tomada ou cada decisão a ser escolhida, precisamos considerar fatores de cada um desses campos, de forma que, se um deles falhar, pode se estar correndo perigo em sermos assertivos em nossas ações. Por exemplo, ao considerarmos apenas o lado pessoal, podemos deixar passar ótimas oportunidades ou, mesmo, insistirmos em algo que não seja viável, econômica ou financeiramente. Por outro lado, se olharmos apenas a parte técnica, operacional, e não a pessoal, podemos não obter sucesso devido a alguma dificuldade que se apresentar, pois um dos lados mais importantes do empreendedor que você verá é a paixão pelo que faz e sua capacidade de se arriscar pelo seu objetivo proposto. Por fim, a parte gerencial, que será abordada, de maneira mais aprofundada, em algumas lições a frente, necessita de conhecimento das demais faces para que seja feita de maneira efetiva e eficiente.
A caminhada empreendedora, nome dado à série de ações comuns desenvolvidas pelos empreendedores, pode ser agrupada em seis diferentes fases, segundo Schneider e Branco (2012):
Querer: fase classificada como de caráter pessoal, auto avaliativa e decisória. Momento em que se decide ser a diferença, fazer algo acima da média ou inovar. Ser alguém que se diferencia por aquilo que faz ou pela forma como faz.
Criar: fase em que se identifica o alvo, momento de ser criativo, inovador, diferenciar. Descobre as características necessárias para ser um empreendedor e vai atrás delas.
Inovar: enxerga, dentre as infinitas ideias possíveis, as que têm potencial inovador, passa a tentar entendê-las e analisá-las.
Consciência DLS: considera o ambiente e o contexto da época e, também, seu compromisso social. Chamado desenvolvimento local sustentado (DLS), foca em um mundo sustentável e com menos injustiças, composto por três frentes: social, ambiental e econômica.
Planejar: nessa fase, são feitos o planejamento e a construção de um plano de negócios.
Empresariar: momento pelo qual a habilidade de gerenciar do empreendedor atua colocando o plano em ação e fazendo as adaptações que forem sendo necessárias.
Esse processo se repete novamente, visto que, agora, o empreendedor já desenvolve diversas habilidades. Porém algumas etapas não são mais necessárias, e o ciclo fica mais reduzido. Permanecem principalmente, então, seguintes fases: inovar, planejar e empresariar. A construção de um plano de negócios será tratada, de forma exaustiva e super prática, na disciplina de Empreendedorismo 2, em 2023, em que veremos, com bastante detalhamento técnico, como se dá a elaboração de um plano de negócio, todos seus componentes e sua aplicação no contexto das empresas e da prática empreendedora.
Sei que já devem ter surgido várias cenas em sua cabeça, do tipo: será que eu já nasci um(a) empreendedor(a)? Será que tenho como aprender a ser um(a) empreendedor(a)? Como faço para empreender se não possuo recursos disponíveis? Na verdade, esta foi a primeira lição de uma disciplina de dois anos. Sendo assim, você terá muito mais dúvidas do que estará apto(a) para aplicar algum conhecimento que acabou de receber. Mas, se você chegou aqui cheio de dúvidas, então, minha missão está, parcialmente, cumprida. Digo parcialmente, porque ela só estará totalmente cumprida quando sanar essa dúvida que criei em sua cabeça, e assumo aqui este compromisso com você.
Talvez, porém, ter dúvidas e ir atrás das respostas seja a principal aplicação como orientação a você nesta lição. Tentar olhar para cada objeto ao seu redor e para cada negócio, produto ou serviço e se perguntar qual foi a motivação para sua fabricação, para ser desenhado ou imaginado na cabeça de alguém, fará com que você seja esse tipo de pessoa que faz do mundo um lugar melhor. Se, hoje, você conseguiu se interessar pela matéria e achar este assunto interessante e atrativo, digo-lhe que ficará muito melhor a cada lição. Por enquanto, exercite o benefício da dúvida, pois já adianto que um papel importante do empreendedor é olhar para as coisas e pensar: como melhorar isto? Como posso fazer isso de uma forma diferente, que traga maior satisfação para seu usuário?
Que tal escolher algo do seu cotidiano e desenvolver uma maneira de melhorá-lo? Pode ser que ele se torne seu plano de negócio de um momento futuro. Pensa que legal seria? Torço por você. Vai lá e faça o seu melhor.
FERREIRA, A. B de H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 4. ed. Curitiba: Positivo, 2009.
HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S.; FRANCO, F. M. de M. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
SCHNEIDER, E. I.; BRANCO, H. J. C. A caminhada empreendedora: a jornada de transformação de sonhos em realidade. Curitiba: Intersaberes, 2012.
SAY, J. Tratado de Economia Política. São Paulo: Nova Cultural, 1986. (Coleção Os Economistas).
SCHUMPETER, J. A Teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
SERTEK, P. Empreendedorismo. Curitiba: Intersaberes, 2012.