Coletivo Meia Ponte

Sobre o Atelier

O projeto Coletivo Meia Ponte é uma atividade de ensino, pesquisa e extensão iniciada no âmbito da disciplina Projeto 7 (FAV/UFG) que investigou as relações entre a Cidade de Goiânia e o Rio Meia Ponte, propondo a criação de um coletivo de arquitetura e urbanismo para servir como plataforma de divulgação e desenvolvimento de alternativas sócio-espacias sustentáveis, onde a natureza funcione como elemento de integração social e mediador de conflitos socioambientais. A ênfase foi dada na produção coletiva e colaborativa do trabalho criativo, ampliando a visão restrita de trabalhos individuais de projeto de arquitetura, assim como ampliando o campo do que é considerado projeto de arquitetura. A metodologia envolveu levantamentos bibliográfico e de campo, oficinas, seminários, definição de 4 parcerias estratégicas, diretrizes gerais e desenvolvimento de quatro projetos executivos. Além disso, foram desenvolvidas intervenções artísticas, uma plataforma na internet, mapas colaborativos, workshops e seminário em parceria com a AMMA, suporte a atividades em escola da região, exposições no Espaço das Profissões da UFG e em galeria de arte, livro e uma iniciativa estudantil de formação de um coletivo (organização sem fins lucrativos com missão, valores e visão) que está sendo incubada pelo Laboratório de Processos de Projeto da FAV/UFG. Estas propostas exploram as habilidades e conhecimentos da profissão como ferramentas de transformação social. O conhecimento produzido explora campos inovadores de atuação para os futuros profissionais, tendo sido inspirados nas atividades de Live Projects da Univesity of East London e no material do curso UFG Empreende Social da CEI/UFG.

RELATÓRIO

Introdução

Os objetivos da atividade são explorar novos campos de atuação do profissional de arquitetura, desenvolvendo ferramentas colaborativas de solução de problemas socioambientais complexos e, assim, contribuir para a articulação de iniciativas de sustentabilidade e resiliência entorno do Rio Meia Ponte em Goiânia.

A iniciativa surge no contexto em que foi declarado no diário Oficial do Governo do Estado de Goiás, em 9 de março de 2018, “situação de emergência nas Bacias do Rio Meia Ponte e João Leite”. O Rio Meia Ponte é, quando entra no município, a fonte de 2/3 da água potável da cidade e apresenta, quando saí da cidade, até 90% de esgoto em sua vazão, com alta concentração de poluentes orgânicos, mas, também, manganês e cobre, cuja exposição prolongada ou aguda pode provocar falta de memória, esquizofrenia, alucinações, insônia e náuseas. Esta situação compromete os próximos 100 km do rio. Este rio recebe os efluentes de uma vasta malha hídrica que cobre toda a região urbana da cidade. A solução de sua crise envolve, portanto, a reestruturação da integração entre toda a cidade e seus rios. Ele é, portanto, o símbolo da crise socioambiental da cidade, onde a chave da sua resolução não é impossível no âmbito de um único projeto.

É neste sentido que a proposta de criação de uma plataforma (que articule iniciativas e desenvolva a imaginação de alternativas) se justifica como possibilidade latente (utópica, porém, necessária e inescapável) na direção de coproduzir as transformações socioambientais estruturantes que precisamos. Portanto, a proposta é tanto proativa quanto reativa, articulando operativamente criatividade com iniciativas já existentes.

Metodologia

A metodologia da atividade integra estratégias de ensino, pesquisa e extensão, sendo desenvolvida colaborativamente por discentes e docentes da UFG, assim como por profissionais da área interessados no tema.

Uma série de atividades ensino e pesquisa foi desenvolvida por docentes e discentes da UFG em parceria com a AMMA da prefeitura de Goiânia. As atividades de extensão envolveram a produção, divulgação e integração de conhecimento, sendo elas: (1) Oficina conflitos socioambientais na FAV (público-alvo: 35 alunos da graduação); (2) Seminário de Projetos Ambientais na AMMA em 29/05 (público-alvo: 50 alunos e técnicos do órgão); (3) Intervenção artística do dia do Meio Ambiente no Campus Samambaia da UFG (400 professores e alunos da comunidade geral da UFG); (4) Apoio técnico para projeto em feira de meio ambiente da escola municipal João Braz, na Vila Jardim São Judas Tadeu (6 professores e, indiretamente alunos ensino fundamental); (5) Exposição no Espaço das Profissões da FAV/UFG (público-alvo milhares de estudantes secundaristas de toda cidade); (6) perfil no Instagram (374 inscrições) e site na internet (com público atingido não quantificável); (7) 3 apresentações em eventos científicos; (8) Livro: Coletivo Meia Ponte (no prelo).

Quanto à metodologia de trabalho, ela pode ser dividida em três grandes estratégias: (1) modo de trabalho de pesquisa e propostas; (2) questões de ensino; e (3) campo de atuação profissional.

(1) Quanto ao modo de trabalho, foi priorizado estratégias de trabalho colaborativo. O projeto de arquitetura tradicionalmente se baseia hierarquicamente na figura de um único arquiteto (entendido como a figura de um “gênio”) que estrutura o trabalho e define as tarefas. Alternativamente, foi utilizada uma metodologia que associou assembleias deliberativas e Kanban. As decisões e estratégias foram tomadas coletivamente em assembleias quinzenais. Grupos de trabalho e coordenadores de área foram definidos coletivamente e com mandatos. Equipes temáticas coordenaram os trabalhos coletivos e definiam as atividades a serem adicionadas no quadro de Kanban, que é uma estratégia flexível (pós-fordista) de gerenciamento de projetos. Estas atividades eram realizadas individualmente ou em pequenos grupos, sendo posteriormente apresentadas e desenvolvidas coletivamente. As atividades foram divididas em: (a) conceitualização e organização; (b) exploração utópica; (c) estudos técnicos; (d) propostas preliminares; (e) definições, consolidação e execução; (f) desenvolvimento e finalização de produtos. Como o foco da metodologia foi nos produtos a serem atingidos, isto garantiu efetividade mesmo em uma atividade coletiva.

(2) Quanto às questões de ensino, a metodologia se baseou nas experiências denominadas “live projects” que tem a University of East London como uma das líderes mundiais. Esta prática de ensino envolve a integração entre prática e teoria, a ênfase no trabalho coletivo e o ateliê como um espaço de pesquisa e inovação metodológica. Assim, busca-se evitar os “ateliês simulados”, que é a prática mais difundida no ensino de arquitetura, onde ou o projeto simula condições do mercado (amarradas em sua capacidade inovadora) ou simula condições ideais (nunca existentes). Alternativamente, parte-se do pressuposto da atividade projetual no âmbito do ensino como uma atividade “concreta”. Os projetos desenvolvidos são então calibrados com a liberdade fundamental da prática do ensino universitário e com o impacto real que estas atividades podem ou não produzir no mundo real. Assim, os projetos visam, dentro de seus limites concretos, desenvolver ações práticas e propostas teóricas que efetivamente interfiram no contexto investigando. Partindo da reflexividade, ensino por solução de problemas complexos, e formação de sujeitos ativos, a proposta se estabelece em um novo âmbito educativo.

(3) Do ponto de vista da inovação no campo profissional da arquitetura, a iniciativa baseia-se em teorias de desenvolvimento como as de Mariana Mazzucato, Jeremy Till e Gilbert Simondon, em que os sujeitos coletivos são fundamentais na produção colaborativa do conhecimento criativo. Deste ponto de vista, o trabalho de design em arquitetura é sempre um trabalho coletivo e, portanto, é preciso reformatar os sistemas de ensino, programação e avaliação das atividades, criando um sistema próprio, processual e formativo. Novas habilidades de trabalho em grupo, mediação de conflitos, tomadas de decisão e divisão de trabalhos estão ainda por ser desenvolvidas no campo da arquitetura. Além disso, o campo da arquitetura é tradicionalmente confinado na ideia de um “projeto passivo-reativo”, onde um suposto cliente deve tomar a iniciativa e o arquiteto apenas responde a posteriori com o desenho/design de um projeto. Alternativamente, a proposta envolve a concepção de um projeto proativo-retroativo, onde cabe também à arquitetura criar campos de atuação, inventar demandas sociais, investigar potencialidades, mobilizar conhecimento e operacionalizar planos estagnados ou esquecidos. Isso viabiliza a ideia de novos sujeitos coletivos da arquitetura que têm um papel de transformação social muito ampliado. Neste sentido, o material do curso “UFG Empreende Social” da CEI/UFG foi fundamental para o desenvolvimento de estratégias conjuntas e sentido geral para o projeto, assim como situar essa nova prática da arquitetura em um campo mais amplo de empreendedorismo social. Com base neste material foram usados métodos para identificação e avaliação de oportunidades, desenvolvimento de “Canvas” para empreendedorismo, criação de marca e busca de estratégias e parcerias. Foram também desenvolvidas, com base nesse material, a missão, visão e valores do coletivo. A saber: sua missão é criar uma plataforma para produção colaborativa da integração entre sociedade e natureza em Goiânia. Seus valores são coletividade, sustentabilidade, reflexividade, identidade local e inovação. Sua visão é usar a natureza como mediador dos conflitos sociais, articulando iniciativas hoje dispersas para contribuir com a operacionalidade da recuperação dos recursos hídricos da cidade.

A articulação destas 3 grandes estratégias tem grande potencial para influenciar o desenvolvimento de novos campos de atuação do arquiteto, atualmente restrito à noção de um prestador de serviço (tirando-se à parte o funcionalismo público). Internacionalmente, alguns grupos como “Architectural Lobby” e “Spatial Agency” tem investigado de diferentes maneiras este novo campo, mas, a pesquisa no Brasil é ainda incipiente. O entendimento da arquitetura como um empreendimento coletivo recoloca o campo de atuação profissional na área do empreendedorismo social.

Esta proposta tem, também, um grande potencial de impacto no ensino de arquitetura atualmente em prática no Brasil. Confinados em metodologias rígidas (onde o professor atua como um mestre que transmite antigos saberes) e na concepção de projeto como serviço técnico, o ensino de arquitetura tem se restringido à formação de profissionais para um campo restrito de atuação, principalmente voltado às classes mais ricas, que podem pagar por serviços personalizados. Repensar o campo de atuação do arquiteto pode contribuir também com a reinvenção da profissão para um cenário universitário mais inclusivo. Estas ideias estão atualmente em discussão no Núcleo Docente Estruturante do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFG, e contribuíram com a proposta de reestruturação do Projeto Político Pedagógico do curso, que deve re-conceber dos ateliers de arquitetura para uma formação mais flexível e com amplo grau de autonomia por parte dos alunos. Sem esquecer das habilidades e conhecimentos essenciais que são fundamentais à profissão, isso pretende mobilizar o conhecimento produzido na pesquisa em articulação com o ensino e em uma atuação social mais ampla.

Do ponto de vista da prática do “design” de arquitetura integrado com o planejamento e urbanismo, a pesquisa sobre o Rio Meia Ponte se desdobrou recentemente em uma bolsa de pesquisa “Young Investigator” da Association of European Schools of Planning, promovido pelo grupo temático “Regional Design”, que investiga uma atualização das práticas de planejamento regional com a integração de metodologias de design. Isto possibilitou, em especial, a articulação com um grupo de pesquisa na Politecnico de Torino, onde Angiolleta Voghera e Roberta Ingaramo têm investigado na última década novas técnicas de integração entre design e planejamento, configurando grande potencial de criação de novas parcerias internacionais.

Resultados obtidos

Na UFG foi realizada uma oficina em parceria com a arquiteta Lorena Caixeta da AMMA, que investigou os conflitos socioambientais de toda rede hídrica da cidade, resultando em um “Mapa Geral dos Conflitos Sócio-Ambientais de Goiânia”, produto ainda inédito, mostrando a gravidade do problema e que ele abrange toda a cidade (público alvo foram os 35 alunos da disciplina).

Um seminário foi realizado no auditório da AMMA em 29/05, em parceria com diversos técnicos do órgão, onde projetos da AMMA e a proposta do Coletivo Meia Ponte foram apresentados e debatidos, trocando ideias, iniciativas e possíveis projetos em conjunto, tendo a participação de aproximadamente 50 pessoas, e divulgados nas mídias eletrônicas do órgão.

No dia do Meio Ambiente foi realizada uma intervenção artística no Campus Samambaia da UFG, onde foram coletadas mais de 400 assinaturas em apoio à iniciativa de revitalização do Rio Meia Ponte, tendo como público a comunidade interna da UFG.

Foi realizada um vídeo sobre a intervenção artística com tema nos dilemas da revitalização do Rio Meia Ponte, sendo exibido em exposição coletiva através de edital de chamada pública da Galeria da FAV da UFG, com público alvo aberto à comunidade em geral.

Na escola municipal João Braz, na Vila Jardim São Judas Tadeu, foi realizado apoio técnico, de concepção e fornecido material teórico para a direção e um grupo de 5 professores, que desenvolveu um projeto com alunos do ensino fundamental para uma feira estadual de meio ambiente, tendo como público alvo estudantes da região.

Durante o Espaço das Profissões da UFG foi realizada uma exposição sobre os dilemas da conservação do Rio Meia Ponte, tendo sido visitada por milhares de estudantes secundaristas de toda cidade.

Foi criado um perfil no Instagram para divulgar as iniciativas e propostas, que conta hoje com 374 inscritos. Além disso, um site foi criado na internet para divulgação do material (com público atingido não quantificável) < https://projeto7ufg.wixsite.com/comepo >.

Três TCC foram desenvolvidos no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFG desenvolvendo propostas baseadas no estudo coletivo produzido nesta atividade.

A atividade foi apresentada em um workshop na Universitá degi Studi Firenze, com público alvo de 30 pesquisadores internacionais.

A atividade foi apresentada em um seminário realizado na Politecnico di Torino, DIST - Dipartimento Interateneo di Scienze, Progetto e Politiche del Territorio, com público de 18 estudantes e professores de doutorado da instituição.

A atividade foi apresentada em uma mesa redonda no Association of European Schools of Planning Annual Meeting, realizado no Instituto Universitario di Architettura di Venezia, que contou com a apresentação de mais de 1200 artigos científicos.

Um Livro foi produzido com o conteúdo dos estudos, levantamentos e propostas, que se encontra atualmente no prelo, e terá como público alvo a comunidade acadêmica da área.


Equipe

Professor responsável: Professor Dr. Camilo Vladimir de Lima Amaral

Estagiária Docência:

Discentes:

Dados técnicos da disciplina: (° período, 20xx, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Goiás, x horas)


Produtos da disciplina:

Atelier - Coletivo_Meia_Ponte.pdf