Fogo Sagrado de Itzachilatlan

Foto: @segalquia 

O Fogo Sagrado de Itzachilatlan é uma tradição ameríndia no Brasil, ou seja, ela segue as culturas dos primeiros povos que habitaram as terras brasileiras. O nome “Fogo Sagrado”, inclusive é dado por ser a fonte de luz e calor, é o centro da vida e símbolo da sabedoria para os seus seguidores. Além disso, a palavra “Itzachilatlan”, que vem do idioma Nahuatl, falado pelo povo mexicano (povo Azteca), quer dizer “Terra dos Gigantes Vermelhos”, sendo uma maneira de se referir ao continente americano.

Seus valores são enraizados nas tradições espirituais das quatro raças humanas (vermelha, amarela, negra e branca), pois segundo o site Filhos da Terra (espaço xamânico aos crentes dessa tradição, próxima à São Paulo) o fundamento do espírito da vida é um só, ainda que possa ser interpretado de diferentes maneiras. Logo, a unidade para eles é importantíssima. Bem como, a natureza, nomeada como a Pachamama, que é morada comum e provedora da vida no planeta. Logo todos estamos relacionados à terra “...todos têm uma mesma origem e um mesmo fim” (Tekpankalli, 2007).

A MENSTRUAÇÃO NO FOGO SAGRADO

Há algumas simbologias interessantes de serem analisadas na tradição que são explicadas no artigo “EM CONEXÃO COM A TERRA: PRÁTICAS RITUAIS E CONCEPÇÕES SOBRE O “FEMININO” NO FOGO SAGRADO”. Primeiramente a Dança do Sol, para os adeptos existe um destaque da mulher e o feminino neste ritual. É válido frisar que possui uma predominância de homens na participação desse rito, o que é muito interessante. Visto que é feito jejum (de alimentos, água, relação sexual), durante quatro dias, bem como eles dançam do nascer ao pôr do sol. Além disso, os homens e mulheres fazem escarificações em suas peles como oferenda do seu sangue à terra, sendo uma forma de reconhecer e agradecer pelas mulheres que fazem um sacrifício todos os meses, ou seja, eles honram a dor do parto e o ciclo menstrual. Um destaque sobre esse rito, é que ele é uma condição para se casar no Fogo Sagrado de Itzachilatlan, o homem precisa ter dançado ao menos uma vez.

Um outro símbolo marcante é a Lua, nome utilizado para se referir a menstruação. O papel desse momento na vida das mulheres é relevante para a cosmologia no Fogo Sagrado, pois é considerado um período de poder, recolhimento e limpeza. Além disso, há alguns ritos que as mulheres fazem nesse momento. Como por exemplo, elas não podem participar do temazcal (local construído para banhos a vapor, significa purificação por meio dos elementos sagrados: fogo e água). Ademais, as mulheres usam um cordão de rezos e amarra ele na região do ventre durante uma cerimônia de medicina. Existem várias explicações, porém a mais enfatizada é que ao seguir esses ritos, em primeiro lugar, a mulher irá reconhecer e sentir o que acontece com ela nesse dias, bem como ao reservar-se de algumas atividades, ela acaba alinhando-se com o poder do feminino, reconhecendo que nesse momento, já se encontra em uma cerimônia. Assim, deixar de ir a uma cerimônia é honrar o ciclo. Somando-se a isso o temazcal é relacionado com o útero, e quando o ritual está em andamento, simboliza o ventre com vida, em contrapartida a mulher durante a menstruação estaria no momento em que o óvulo não foi fecundado, portanto simbolizando um processo contrário. Por esse motivo é preferível que a mulher vivencie esse momento de própria cerimônia que possui também uma dimensão sagrada.

O momento de honrar o ciclo significa renovar as energias das mulheres que passam os dias cuidando dos filhos, da casa e do trabalho. Portanto, o grupo dos adeptos sempre sabem quem “está na lua”, e tratam com naturalidade. Se comparado a cultura ocidental, é bem diferente, pois muitas mulheres têm vergonha de falar que estão no período menstrual.

Outra questão levantada no artigo é que as mulheres são consideradas sensíveis a determinadas energias neste momento do ciclo. A relação que se estabelece entre o “desenho” (categoria êmica que engloba diversas questões associadas ao que se referem como a “tradição do Caminho Vermelho”, e designa o conjunto de rituais, a forma como são conduzidos (seus elementos estéticos e semânticos), a forma como se estrutura o movimento) e a menstruação, mobilizando novas práticas, como uma citada no texto de deitar-se no chão ou abaixar de cócoras pedindo para a Terra um bom ciclo. Ademais, também há formas de cuidado, por exemplo, dar prioridade a usar absorventes de algodão que possam ser lavados e a água ser jogada nas plantas.

Imagem retirada do site "Aos Filhos da Terra"

Símbolo do Fogo Sagrado de Itzachilatlan de São Paulo, espaço cerimonial "Aos Filhos da Terra".