JORGE FEIJÃO
12.01.07/12.02.07
JORGE FEIJÃO
12.01.07/12.02.07
"Ali, na cena que espreito, o corpo sob a luz irradia um espaço público puro, utópico, liberto de uma perspectiva limitada, completamente aberto, exposto à multiplicidade infinita dos olhares possíveis. É esta multiplicidade que o olhar do voyeur percorre vertiginosamente: ser todos os olhares, ser o único olhar total de todos os olhares, é possuir magicamente aquele corpo só para mim. O máximo da subjectivação confunde-se com a dessubjectivação máxima de um devir-outro do olhar. (...) De certo modo, pois, toda a pintura é um exercício de voyeurismo-exibicionismo, como toda a representação um exemplo alargado de auto-representação. Porque o corpo inscreve o mundo e este, representado, é a projecção dos poderes daquele. Reflexão do mundo no corpo que, por sua vez, se acentua e se sintetiza no olhar que desvela sem ser visto o que, da tela, o olha sem saber."
GIL, José – "Sem Título", Relógio D' Água, Lisboa, 2005, pp. 48,49
MORANDI: UM EXEMPLO
"Anoitecera. Eu falava de Morandi como exemplo de uma arte poética que, apesar da desmaterialização dos objectos e da aura de silêncio que os imobilizava na sua pureza, não se desvincula nunca da realidade mais comum e fremente, quando alguém me interrompeu: - Eu conhecio-o, era intratável, vivia em Bolonha com duas irmãs, quase só saía de casa para ir às putas. - Está bem, volvi eu, se ele precisava disso para depois pintar como Vermeer e Chardin, abençoadas sejam todas as putas do céu e da terra. Ámen."
21.11.84
Eugénio de Andrade /19
Vertentes do Olhar
Fundação Eugénio de Andrade, Porto - 2003