Florêncio Medina Ribas
(Corunha-1829, Pará-1850)- Pianista
Uma Dinastia de músicos no Porto do século XIX
1.1 - José Maria Ribas
1.2 - João António Ribas
1.2.1 - João Vitor Medina Ribas
1.2.2 - Eduardo Medina Ribas
1.2.3 - Hipólito Medina Ribas
1.2.4 - Teófilo Medina Ribas
1.2.5 - Florêncio Medina Ribas
1.2.6 - Carolina Medina Ribas
1.2.7 - Nicolau Medina Ribas
1.2.8 - Judite Riche Ribas
Nasceu na Cidade da Corunha, Espanha, provavelmente em 1829, quando o seu pai teve que abandonar Portugal, devido ás suas convicções Liberais.
Tocava Piano e Violoncelo, dos quais era bom executante, acompanhando a família como pianista em numerosos concertos.
Em 1850 parte para o Brasil onde pouco tempo depois de chegar, morre em Belém do Pará, atacado por doença tropical, com 20 anos de idade.
Deixo aqui uma Poesia a ele dedicada e publicada por Manuel José da Silva Rosa Júnior in O PIRATA., Jornal Crítico-Literário, N.º 20, Sábado 13 de Julho de 1850, 1.º Ano
UMA LÁGRIMA POR TRIBUTO.
À memória do meu finado amigo
Florêncio T. M. Ribas.
Tão distante da pátria, em longes terras,
Foi-te a morte ceifar,
Sem ao menos lá teres um amigo
P’ra teus olhos cerrar.
Mancebo, p’ra que foste assim tão longe
Mais louros a colher?
De menestrel a c’roa já não tinhas,
Linda a reverdecer....
E a vida que vivias, tão mimosa
De poesia e de amor,
Para que foste enegrecer, no exílio,
Da saudade na dor.
Das lindas margens do teu pátrio Douro
P’ra que fugiste alfim,
Das plagas do Brasil à doce vida
Buscando o negro fim?!...
Mancebo tu não sabias
Que distante do rosal
Perde os encantos a rosa,
Perde o brilho angelical,
E murcha, como se fora
Soprada do vendaval?
Não vias do mar bem longe
Vir a vaga a referver.
E depois contra os escolhos
Espadanar e morrer,
Triste imagem da existência,
Não lhe escutaste o gemer?
Não te dizia o ribeiro
As veigas a namorar:
Que no fundo do mar da vida
Vai-se o génio a soçobrar?
Não te dizia que a morte
Ias bem longe buscar?
Não vias nos quadros d’ouro
Da galeria do céu,
Um laurel puro e viçoso
A c’roar um mausoléu,
Até o levarem anjos
P’ra glória como em troféu?...
Não te dizia esse arcanjo
Criado p’ra te inspirar,
Qu’ias da pátria distante
Da vida o fogo apagar,
Da vida que assim vivias
Toda a esp’rança... de encantar?
Mas tu achaste ser pequeno espaço
Do mundo essa amplidão,
Para teu génio imenso e nobre e altivo,
Buscaste a glória então.
E a glória acompanhou-te prazenteira,
Foi-te escrava fiel,
De perpétuas c’roou-te a jovem fronte,
Saudou-te menestrel.
Saudou-te, porém Deus nos coros d’anjos
Guardara-te um lugar,
E não quis por mais tempo, cá na terra,
Ver teu génio a medrar.
Tu voaste para o céu. Nas cordas d’ouro
De formoso nebel,
Foste a Deus dedilhar mimosos hinos,
Dos anjos menestrel.
Do pinác’lo do monte esvoaçando
As nuvens a fender,
Águia formosa da amplidão rainha,
Da terra não quer ser.
E lá vai sem pavor o céu buscando
Da vista se escondeu:
Também tu’alma assim fugiu da terra
Voando para o céu!...
A águia já voltou pairando altiva,
E tu não voltas... não!
Se eu pudera mandar-te uma saudade,
Dos justos à mansão!
Mas não posso... vedados são aos homens
Os mistérios de Deus!
Se o liminar do céu galgar pudessem
Estes suspiros meus!...
Ao menos uma lágrima saudosa
No mundo te hei-de dar
Já que teus mortais restos não me é dado
Com meu pranto regar.
Uma lágrima só – mas filha d’alma,
Filha do coração,
Em prova da que outrora nos unira
Mui cândida afeição.
E quando o débil fogo d’esta vida,
Apagado já for,
Irei inda encontrar-te, amigo sempre,
Lá junto do Senhor.
S. João da Foz, 18 de Junho de 1850.
S. Rosa.
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