03 UTFPR - Uma Análise da Face Oculta da Escola

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(c)2013 Professor Angelo Antonio Leithold

(c) py5aal Na antiga Grécia, Sócrates, Platão e Aristóteles, se pode dizer, foram o sustentáculo do pensamento daquela época. Esparta e Atenas eram os dois pólos organizacionais em que ocorriam duas concepções antagônicas, porém complementares da educação como um todo. Em Esparta, por exemplo, a educação tinha uma base totalitária, rígida, repressiva, onde tudo orbitava em torno do Estado. Atenas, em tese, democrática, o processo educativo era modulado utopicamente para o belo, o bem e a verdade, embora estes conceitos à época poderiam ser considerados também repressivos. Sócrates, pelo diálogo, reconheceu na educação, o valor da personalidade humana como caráter universal.

(c) py5aal Em Roma, havia a consideração da parental, onde o pai exercia papel preponderante. Marco Fábio Quintiliano enxergava na educação seu valor humanístico e espiritual. Com o advento do cristianismo, por longo tempo o ensino ficou relegado ao obscurantismo, a cultura durante cerca cinco séculos, foi amalgamada entre o Império Romano e o Cristianismo. A comunidade cristã primitiva promovia a educação, que, lentamente foi se organizando entre a Igreja e a família, os dois núcleos fundamentais à posterior institucionalização da Igreja. Se iniciou um movimento em direção a educação elementar catequista. Os padres passaram a constituir a "patrística". Santo Agostinho, educado na tradição helênica, na escola de retórica de Cartago, estudioso de Cícero, deixou muitas obras, dentre estas: Confissões e a Cidade de Deus. Em Confissões, a ênfase é o valor da formação humanística, e em Cidade de Deus é enfatizado ascetismo. Onde se enfatiza a profundeza espiritual, esta, ilumina a inteligência e faz reconhecer a lei divina eterna.

(c) py5aal Agostinho também enfatiza o valor da cultura física, a eloquência e a retórica. De acordo com Gadotti, aquele propunha que a igreja foi bem sucedida na educação para o povo, mas, também, seria catequética, dogmática, ou seja, para o clérigo, humanista. Quanto aos estudos medievais, o trivium (gramática, dialética e retórica) e o quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música) eram as bases da educação. A partir do século IX, Carlos Magno fundamenta a base da educação elementar, ministrada pelos sacerdotes em escolas paroquiais, com ênfase na doutrina das massas camponesas, em mantê-las dóceis. A educação secundária era ministrada nos conventos e a educação superior, ministrada nas escolas imperiais. No final do século X, a escolástica buscou organizar o ensino entre a razão filosófica grega e a fé cristã. São Tomás de Aquino sintetizou a educação cristã e a greco-romana. No século XV, houve uma mudança radical a partir das grandes navegações, do uso da bússola, trazida do Oriente, e da tipografia de Gutenberg, além de outros avanços tecnológicos. Surgiram novas concepções educacionais, no caso dos anglo-saxões, no século XV, os filhos e filhas eram mantidas em casa até sete ou nove anos, após iam trabalhar em casas de outras pessoas. Desempenhavam funções servis e não ficava muito clara a fronteira entre os serventes propriamente. Vem daí que os livros que ensinavam boas maneiras se chamavam "babees books". O serviço doméstico e aprendizagem se misturavam entre a profissão e a vida privada.

(c) py5aal O movimento burguês se iniciou a partir do monge agostiniano Martinho Lutero com a Reforma Protestante. Nesta, o ensino passou a ser administrado pelo Estado, nos países protestantes, onde escola pública por si não era laica, mas religiosa e elitista, ou seja, para as classes superiores burguesas. Desta forma, a educação tinha um papel secundário às massas, isto é, os ensinamentos deveriam ser apenas o mínimo necessário. Na mesma época, se iniciava o processo de industrialização, o povo empobrecido devido ao processo Industrial e marginalizado das relações dominantes de produção, era internado com o intuito de servir como mão de obra barata para as recém criadas indústrias.

(c) py5aal As crianças, mão de obra mais barata ainda, eram, devida sua estatura, ideais para entrar nos mecanismos, principalmente teares, para executar pequenos serviços de manutenção. Além de se tornarem futuros operadores das máquinas ao atingir idade adulta, aquelas eram moldadas de acordo com os desejos do patrão. Nos séculos XVII e XVIII, há um movimento conflituante entre o renascimento e o iluminismo. Também, o empirismo de Francis Bacon e o racionalismo de Descartes se embatem. Os pensamentos de Galileu, Kepler e Copérnico passam a influenciar a sociedade científica, consequentemente a sociedade como um todo. Começam a ocorrer movimentos em favor de JeanJacques Rousseau e Johann Heinrich, e, a partir da Revolução Francesa, Condorcet e Lepelletier apresentaram planos para a organização de um sistema nacional de educação. Surge assim, sistematicamente a educação pública estatal e se inicia a educação nacional. Concomitante, a pirâmide social, passa a ter uma redistribuição, surge uma nova classe dominante. Em seu topo aparece a classe capitalista, na altura média, aparece a escola da socialização do trabalho assalariado, e na base, o trabalho propriamente dito. Começa a ocorrer a dominação do capitalismo na sociedade produtiva por intermédio da educação. As relações sociais implicam e dependem da autoridade e hierarquia. A primeira, paternalista, família, a segunda burocrática, relação empregado empregador.

(c) py5aal Por causa da industrialização e do crescimento rápido da produção, começaram a ocorrer novas atividades totalmente diversas para o camponês analfabeto e ignorante, foi necessário assim a escola intervir. A industrialização, acabou por se desenvolver na propriedade privada do capital, assim, a conexão entre as relações educacionais e as relações sociais de produção capitalista, passaram a ser generalizáveis às relações sociais de produção sobre outras formas de industrialização não capitalistas. Assim, a ordem e a disciplina passaram a vigorar, e, concomitantemente, passaram a vigorar a autoridade e a submissão. Começa a ocorrer a partir da, e pela educação, um processo de alienação. O trabalhador passa a fazer parte da máquina, sendo peça substituível, e começa a ocorrer rotatividade laboral, o que obriga a escola a preparar o trabalhador para exercer tarefas específicas. A receptividade de ações, tolhe a criatividade, assim, imbeciliza o trabalhador. O mesmo ocorre a partir da escola, onde o aprendiz não é ensinado a pensar, mas a cumprir tarefas no tempo pré-determinado, e repetitivas, ou seja, o indivíduo passa a ser peça alienada ao significado e objetivo da ação. O aluno da mesma forma, passa a ser alienado do significado e objetivo de seu aprendizado. Ou seja, cada aluno é livre para pensar, desde que pense o que lhe foi dito para pensar.

(c) py5aal As experiências na escola podem ser oriundas da transversalidade e da multidisciplinaridade, sendo paritárias, frutos da sociedade e de seus usos e costumes. Na história da educação, os movimentos obedecem à pressão social do momento histórico, evoluindo juntamente com a realidade político-econômica temporal. Desta forma, é possível fazer um link entre o ensino medieval, e o da época do início da Revolução Industrial de modo a formar pessoas obedientes. No ocidente, os movimentos educacionais eram paralelos e complementares com o movimento cristão, evoluindo, num segundo tempo a partir da Revolução Industrial, em que pessoas eram nada mais do que peças de reposição para a produção que aumentava em escala. Partindo deste princípio, também se pode linkar com a atualidade, pessoas são treinadas por sistemas socio-educacionais da indústria, comércio, transportes, etc, para servir à máquina "fabril". É claro que atualmente as leis "protegem" o trabalhador, etc, da mesma forma que "protegem" o educando, mas, embora tenham ocorrido avanços substanciais, o link trabalho-escola continua intacto da mesma forma que nos séculos XIX e XVIII. A obediência, o pensamento moldado dentro de recipientes pré concebidos, ainda é peça fundamental do ensino, que tem domínio cartesiano. A obsolescência do aprender e apreender o conhecimento, ainda seguem moldes do século XV. As escolas, infelizmente, ainda não ensinaram a pensar, a criar, a produzir conhecimento por si só, em que o educando deveria ser livre, a seu tempo, para aprender no seu próprio ritmo e criar seu próprio futuro. Ou seja, repetindo o afirmado anteriormente, cada aluno é livre para pensar, desde que pense o que lhe foi dito para pensar.

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