O verbo “zelar” tem vários significados, dentre eles, "vigiar", "tomar conta", "velar", "proteger", etc. Quando se pensa no zelo pela doutrina espírita, percebe-se dois extremos de opinião: i) a de negar prontamente tudo o que está fora dos textos das obras fundamentais de Kardec; ii) e a de considerar que a doutrina espírita não precisa de defesa, cuidado ou vigilância. A primeira, embora prudente até certo ponto, é incondizente com o caráter progressivo da doutrina espírita. A segunda, embora aberta ao progresso, pode abrir brechas para conceitos e práticas incoerentes com a doutrina espírita e que desviam as pessoas dos seus objetivos. Neste artigo, apresentamos e discutimos a respeito de três exemplos de zelo pela doutrina espírita demonstrados por Kardec, através de "nãos" que ele deu a três propostas ou ideias. Embora sérias, inovadoras e muito bem apresentadas, essas propostas foram rejeitadas por Kardec por serem incoerentes com a ciência, com a moral e/ou com a própria doutrina espírita. Cumpre destacar que essas propostas ou ideias continham conceitos cujas nuances de interpretação não eram triviais, o que faz ressaltar a atenção e o cuidado por parte de Kardec. Por isso, elas não pareciam ser estranhas à doutrina espírita ou, ainda, as suas recomendações de andar de par com o progresso. Por terem partido, cada proposta, de personalidades importantes, respeitadas, e que poderiam ser consideradas como verdadeiras autoridades nos respectivos assuntos, esses "nãos" de Kardec exemplificam a prioridade que devemos dar antes ao conteúdo das ideias do que aos seus autores. Os "nãos" de Kardec exemplificam o sentimento de caridade que se deve ter na forma de expressar discordâncias, com destaque para o respeito ao direito de livre pensamento. Por tudo isso, concluímos que o zelo de Kardec para com a doutrina espírita é, na verdade, um zelo conosco pois, como dedicado educador, revela o respeito, o cuidado e a responsabilidade que ele tinha para com as futuras gerações de adeptos do Espiritismo.