Genealogia

Quando falamos em genealogia - esta palavra não muito usual - é comum encontrarmos pessoas que logo associam este vocábulo com a área da ciência médica que trata da prevenção de doenças em mulheres em estado de gravidez.

Folclore à parte, genealogia define-se como o estudo das origens da família, o estudo de nossas raízes étnicas. Por um bom tempo genealogia foi um assunto restrito a alguns círculos nobres, principalmente entre as famílias com sangue real que cultivavam, de geração em geração, as tradições de linhagem, procurando passar aos descendentes as informações do tronco familiar.

Mais recentemente, com o aprimoramento e difusão dos diversos meios de comunicação, a história da família passou a despertar interesse também entre a população em geral, levando muitas famílias a realizarem os "encontros da família", tendo muitas, inclusive, publicado livros ou crônicas sobre sua família. As memórias e biografias dos patriarcas e as genealogias sistematizadas de diversas gerações, hoje fazem parte de não poucos lares e bibliotecas. É o interesse saudável de famílias tentando resgatar e preservar sua história, desde os primórdios da sofrida imigração para o Brasil até os dias de relativo conforto em que vivemos.

Grande contribuição para essa preservação histórica tiveram alguns cléricos, quando dos registros eclesiásticos de nossos antepassados, citando nos assentos de casamento ou falecimento o local e país de origem, profissão e até mesmo alguma particularidade da pessoa. Também é de grande utilidade a citação dos avós nos registros, outrora para prevenir os perigos de consangüinidade, detalhe este que permanece até os dias de hoje nos registros de nascimento. Com a informação dos nomes dos avós, torna-se mais fácil retroceder algumas gerações na pesquisa.

De outra parte, grande contribuição tiveram alguns estudiosos que deixaram registradas anotações genealógicas sobre as primeiras famílias de algumas colônias em Santa Catarina. Nesse sentido é válido o trabalho do Cônego Raulino Reitz, que ao escrever a história e genealogia de sua família, preocupou-se, ao final de sua obra, em fazer um compêndio dos troncos familiares que fundaram São Pedro d'Alcântara e depois Alto Biguaçu, atual município de Antônio Carlos. Mais tarde, em 1995, Aderbal João Philippi, descendente de pioneiros dessa primeira colônia alemã em Santa Catarina e genealogista, aprofundou os estudos e sistematizou as genealogias das primeiras famílias. Antes ainda, um certo militar aposentado havia registrado de próprio punho em gigantescos livros depositados no setor de obras raras da biblioteca da UFSC, as principais genealogias daquela Colônia.

Hoje, com as facilidades de impressão e reprodução que a informática nos trouxe, são muitas as famílias que estão restaurando a história de suas famílias. Assim é que, em 1991, sob a coordenação de Frei J. Crisóstomo Arns, foram publicados os livros "Tempo do Pai", versando sobre a figura do patriarca Gabriel Arns e em 1995 sobre sua esposa, "Mãe Helena", esta da família Steiner. Mais recentemente foi publicada uma obra sobre "Adolfo Back", aparentado dos Arns, com grande conteúdo genealógico e histórico. Já neste ano, foi publicada a obra do Professor Osvaldo Furlan, que resgata a história das famílias Furlan e Slongo, estas originárias do Rio Grande do Sul e que se estabeleceram na região de Concórdia. No mês de julho tivemos o lançamento do livro de Roberto João Tenfen, contando a história do município de Rio Fortuna e culminando com a história e genealogia da família Tenfen. E neste mês de agosto, Toni Vidal Jochem lança seu segundo livro, desta feita resgatando a história da primeira comunidade luterana de Santa Catarina e marcando os 150 anos da Colônia Santa Isabel, colônia esta situada no município de Águas Mornas e fundada por imigrantes alemães vindos em sua maioria do Hunsrück nos anos de 1846 e 1847. Nesta obra é descrita uma parte da história desses pioneiros com bom acervo de fotos dos patriarcas.

Para aqueles que se interessam por genealogia e "História da Família", vemos que estamos vivendo momentos privilegiados. São inúmeras obras sobre o assunto ou afins que estão sendo publicadas ou estão em andamento. Citamos apenas algumas.

Outrossim, o interesse e a busca por encontrar nossas raízes, nossa genealogia, nossa identidade através da heráldica (brasões) devem também ter critérios. Devemos estar atentos para a mercantilização, algumas vezes sem a devida confirmação, das informações que recebemos. A tradição oral tem seu valor e seu lugar na história, contudo a informação deve procurar ter sempre a prova documental para dar maior autenticidade e credibilidade ao trabalho. E genealogia não se faz somente arrolando que este é filho deste e neto daquele. Há que se arrolar as principais datas e se possível as fotos e algum comentário sobre a pessoa em estudo.

Hoje talvez não consigamos vislumbrar a importância das anotações genealógicas e da história de nossa família, mas quem sabe no futuro nossos filhos e netos serão muito gratos a nós por poderem estar lendo e vendo as memórias de seus antepassados. Vale a pena começar uma conversa com a vovó.

José Raulino Jungklaus(1)

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(1) José Raulino Jungklaus, dedica-se ao estudo das genealogias e Histórias das famílias oriundas das colônias São Pedro de Alcântara, Theresópolis e Santa Isabel.