Biografia de Wendelino Meurer
Um exemplo de vida
Dizem que para o homem ser completo, deve ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Wendelino Meurer, agricultor de Antônio Carlos, 92 anos, cumpriu o ditado à risca: plantou milhares de sementes, teve 20 filhos e escreveu um livro.
Os números que marcam a vida de Wendelino representam muito bem a história de luta e suor com que construiu sua vida e a numerosa família. As dificuldades vieram na mesma proporção, e começaram cedo para Wendelino.
Desde criança, ajudou os pais, descendentes de imigrantes alemães em Santa Catarina, no trabalho na roça. Estudou por três anos em escola que ensinava português e alemão. Os problemas com a leitura eram punidos com castigos físicos.
– Os alunos mais velhos ensinavam mais os pequenos do que o professor. A ida ao quadro era um sacrifício – lembra.
Jovem, foi para o Exército em Florianópolis. Andava a pé quase 50 quilômetros de Antônio Carlos até a Capital. Aos 23 anos, deu início ao batalhão de 17 filhos no primeiro casamento.
Wendelino comprou um terreno no alto da Vila Doze de Outubro, comunidade agrícola de Antônio Carlos, e construiu um casebre, de madeira, de seis metros quadrados. Para chegar em casa, subia uma picada íngreme de 1,5 mil metros pela mata. Cultivava milho, feijão, cana-de-açúcar, mandioca, bananas e laranja.
– A gente comia o que colhia – conta.
Depois construiu uma casa maior e os engenhos para a produção de açúcar e farinha. A luz elétrica (gerada por dínamo) só chegou 21 anos depois de muitas noites assustadoras.
– Ninguém saía de casa à noite. Minha mulher tinha medo das cobras. Tinha muito bicho.
Com a primeira mulher, Úrsula Pauli Meurer, viveu 28 anos. Um aneurisma cerebral tirou a vida de Úrsula, aos 48 anos de idade, e deixou o marido sozinho, com os filhos para criar.
Wendelino apaixonou-se por Catarina Meurer, com quem casou dois anos depois.
– Com a primeira mulher, ele teve mais filhos. Mas é comigo que está há mais tempo – gaba-se Catarina, 77 anos, que vai completar 39 anos de casamento com Wendelino.
Em 1966, ele começou a escrever os relatos de dezenas de entrevistas com os mais idosos. O motivo inicial foram as comemorações do centenário de colonização alemã da Vila Doze de Outubro. Motivou-se pela história local e aprofundou as pesquisas, traçando a genealogia das famílias que colonizaram Antônio Carlos.
Todas as lembranças de vida e da colonização germânica do município, depois de 40 anos de pesquisas, foram reunidas por Wendelino no livro Antônio Carlos: sua Terra e sua Gente. O livro foi lançado no fim do ano passado. A organização dos escritos ficou com o historiador Toni Jochen. Foi mais um sonho de Wendelino, que crava seu nome na história de Antônio Carlos.
Quem vê o semblante sereno desse senhor cheio de energia não consegue imaginar as façanhas de sua magnífica história de vida, que também ganhou as páginas da obra.
RONY RAMOS | Antônio Carlos
20 de janeiro de 2009.
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Obs: Esta biografia não é oficial. Retirei do caderno Gente do Jornal Diário Catarinense de 20/01/2009 como minha homenagem a uma pessoa que muito ajudou nas pesquisas da família.