No seu primeiro dia de aula, provavelmente na segunda fase do ensino fundamental, um professor de História entrou em sala para discutir a importância do estudo dessa matéria. Tal discussão, sem dúvida, é importante. Afinal, as questões e modos de se investigar o passado nessa nova fase do ensino passam a ser mais complexas e você, enquanto indivíduo em formação, já se mostra tentado a levantar algumas questões mais profundas sobre o que aconteceu no passado.
Sabemos que muitos por aí aprenderam que a História é importante para que não cometamos os mesmos erros do passado, para que tenhamos a oportunidade de organizar o agora e o porvir de modo mais seguro. Sob tal perspectiva, o estudo dos fatos consumados teria um valor estratégico. Em outras palavras, essa ideia sugere que a análise e a crítica do passado determinam o alcance de um futuro livre das mazelas que um dia nos afligiu.
De fato, ao observar esse tipo de uso para o passado, somos tentados a romantizar a História como ferramenta indispensável ao progresso. Contudo, seria mesmo correto dizer que a compreensão do passado garante verdadeiramente uma sociedade ou uma civilização mais aprimorada? Se assim fosse, toda a mazela que a Primeira Guerra Mundial trouxe para a Europa incutiria a “lição” de que uma Segunda Guerra Mundial não deveria acontecer. Mas não foi bem assim que as coisas se deram, não é?
Percebendo esse tipo de incoerência é que temos a chance de intuir que a História não tem essa missão salvadora de alertar ao homem sobre os erros que ele não pode cometer novamente. Na verdade, antes de acreditar que as sociedades e civilizações já cometeram um mesmo equívoco duas vezes, devemos entender que esses homens que são objetos de estudo do passado não pensam, sentem, acreditam ou sonham da mesma forma através dos dias, anos, décadas, séculos e milênios.
Sendo assim, a noção de progresso atribuída à História deve ser abandonada em favor de uma investigação dos valores, das relações sociais, conflitos e outros vestígios que nos mostram a transitoriedade e a mutação dos contextos em que os fatos históricos são consumados. É desse justo modo que passamos a entender que o homem e as sociedades que lutaram e sofreram na Primeira Guerra Mundial não são exatamente os mesmos que surgiram no cenário da Segunda Guerra Mundial.
Feita essa reflexão, não devemos chegar ao ponto de pensar que os contextos e períodos em que a História decorre são radicalmente distintos entre si. De uma época para outra, podemos notar que as sociedades não abandonam seu antigo modo de agir para incorporar uma postura completamente inovadora. Em cada período é necessário reconhecer as continuidades e descontinuidades que mostram a força que o passado possuiu enquanto referencial importante na formação dos indivíduos e das coletividades.
Ao realizar esses apontamentos, não devemos acreditar que o passado não passa de um jogo caótico controlado por jogadores (no caso, os homens) que não sabem definir suas próprias regras. Antes disso, é muito mais interessante notar que esse jogo tem feições múltiplas e que as formas de reconhecer a natureza de suas regras podem se transformar de acordo com a forma que olhamos para o passado.
Sendo assim, a investigação do passado se transforma em um grande debate em que cada interessado tem a oportunidade de mostrar uma riqueza inédita sobre um mesmo tema. Na medida em que isso acontece, não só temos a chance de pensar sobre aquilo que o homem já fez, mas também temos uma maneira curiosa, mesmo que seja pela completa diferença, de debater os nossos valores e questionar o agora com os “olhos” de nossos antepassados.
Por Rainer Sousa
Mestre em História
SOUSA, Rainer Gonçalves. "Afinal, para que serve a História?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia/afinal-para-que-serve-historia.htm. Acesso em 07 de fevereiro de 2021.
A história tem uma relação direta com o homem em seu tempo.
A história é uma ciência que estuda a vida do homem através do tempo. Ela investiga o que os homens fizeram, pensaram e sentiram enquanto seres sociais. Nesse sentido, o conhecimento histórico ajuda na compreensão do homem enquanto ser que constrói seu tempo.
A história é feita por homens, mulheres, crianças, ricos e pobres; por governantes e governados, por dominantes e dominados, pela guerra e pela paz, por intelectuais e principalmente pelas pessoas comuns, desde os tempos mais remotos. A história está presente no cotidiano e serve de alerta à condição humana de agente transformador do mundo.
Ao estudar a história nos deparamos com o que os homens foram e fizeram, e isso nos ajuda a compreender o que podemos ser e fazer. Assim, a história é a ciência do passado e do presente, mas o estudo do passado e a compreensão do presente não acontecem de uma forma perfeita, pois não temos o poder de voltar ao passado e ele não se repete. Por isso, o passado tem que ser “recriado”, levando em consideração as mudanças ocorridas no tempo. As informações recolhidas no passado não servirão ao presente se não forem recriadas, questionadas, compreendidas e interpretadas.
A história não se resume à simples repetição dos conhecimentos acumulados. Ela deve servir como instrumento de conscientização dos homens para a tarefa de construir um mundo melhor e uma sociedade mais justa.
Por Lilian Aguiar
Graduada em História
Equipe Escola Kids
Renascimento Comercial e Urbano e Formação da Monarquias Nacionais
Renascimento Comercial e Urbano
O auge do feudalismo aconteceu durante a Alta Idade Média. A partir do século XI, tudo mudou. O comércio ganhou novo impulso e as cidades cresceram. Do século XI ao XIII, a Europa Ocidental viveu um período de relativa paz. Entre os fatores que contribuíram para isso, destacam-se:
•O desenvolvimento agrícola: com a ocupação de novas áreas, surgimento de novas culturas e o aperfeiçoamento das técnicas agrícolas que aumentaram a produtividade;
•O crescimento populacional: devido a uma época de relativa paz, já que os ataques de um reino a outro haviam diminuído bastante. Essa queda no número de conflitos foi responsável por um considerável aumento populacional. Em 300 anos a população da Europa cresceu de 8 milhões para 26 milhões de habitantes. Isso gerou um excedente populacional, que começou a necessitar de mais espaço e a expandir-se para fora dos feudos;
•Surgimento de uma nova classe social: comerciantes, negociantes e artesãos que viviam constantemente de um lugar a outro, fixaram residências em volta dos feudos onde surgiram vilas cercadas por muralhas chamadas de burgos. Os habitantes dos burgos passaram a ser conhecidos como burgueses e ao longo dos séculos, essa denominação passou a denominar os comerciantes e os homens ricos (burguesia);
•Renascimento das cidades: com o aumento demográfico na Europa, a população dos burgos foi crescendo também. Isso se dava porque muitos servos acabavam por fugir dos feudos para escapar das imposições da relação servil. Ou ainda, porque aqueles servos que mais causavam problemas aos seus senhores eram expulsos de suas terras, indo engrossar a população das vilas. Assim, essas pequenas localidades começaram a crescer e se tornar importantes concentrações de trabalhadores livres e comerciantes, onde passaram a ser organizadas feiras permanentes, como as feiras de Champagne (França), Flandres (Bélgica), Gênova e Veneza (Itália) e Colônia e Frankfurt (Alemanha);
•As Corporações de Ofício: o aumento da liberdade política e econômica foi propiciando o aprimoramento do trabalho urbano. Os artesãos, que faziam os produtos consumidos pelos europeus, passaram a ser organizar em entidades para além de suas cidades. Para isso, formaram as guildas e as corporações de ofício. As corporações tinham como objetivo defender os interesses dos artesãos, regulamentar o exercício da profissão e controlar o fornecimento do produto. Elas também dirigiam o ensino artesanal, que se dividia em três estágios: aprendiz, oficial e mestre;
•Cruzadas: com a justificativa de expulsar os muçulmanos da Terra Santa onde havia perseguição aos cristãos que visitavam o lugar onde Jesus Cristo viveu, a Igreja Católica convocou os cristãos europeus a formar expedições militares para combater os “infiéis”. Entre os séculos XI e XIII, graças ao apoio de nobres, desejosos de formar reinos aumentando seus lucros e uma grande massa de desocupados urbanos que se formavam, foram realizadas 8 cruzadas quase todas elas se constituindo em um enorme fracasso e perda de milhares de vidas. No entanto essas expedições que atravessaram o continente europeu cruzaram os mares e chagaram a outros continentes, possibilitando também a abertura de novas rotas comerciais e contato com outros povos e culturas.
O término das Cruzadas contra os muçulmanos coincidiu com o início de uma série de crises, que indicavam o esgotamento do feudalismo. Essas crises dos séculos da depressão (XIV e XV) foram a crise econômica com a queda da produção agrícola gerando fome, a peste negra que matou um terço da população europeia, a crise religiosa dentro da igreja Católica que chegou a ter dois papas e a crise política com conflitos internos entre os senhores feudais, causando grande insegurança que prejudicava as atividades comerciais e também guerras entre nações como a guerra dos cem anos entre a Inglaterra e a França.
Formação das Monarquias Nacionais
As crises do fim da era Medieval (econômica, política e religiosa) provocaram a dissolução do sistema feudal. A terra deixou de ser a única fonte de riqueza.
O comércio se expandia a burguesia, que era a classe social ligada ao comércio, tornou-se cada vez mais rica e poderosa, com isso ela precisava de uma nova organização política que fosse capaz de acabar com as intermináveis guerras da nobreza feudal, que diminuísse a quantidade de impostos sobre as mercadorias cobrados pelos senhores feudais e que reduzisse o grande número de moedas que atrapalhavam seus negócios.
Por isso, a burguesia passou a contribuir para o fortalecimento da autoridade dos reis, contribuindo financeiramente na construção de monarquias nacionais capazes de formar governos estáveis e ordeiros.
O elemento cultural que mais influenciou o sentimento nacionalista foi o idioma. Falado pelo mesmo povo, o idioma servia para identificar as origens, tradições e costumes comuns de uma nação.
Cada estado foi definido suas fronteiras políticas, estabelecendo os limites territoriais de cada governo nacional, surgindo a noção de soberania, pela qual o soberano (governante) tinha o direito de fazer valer as decisões do Estado perante os súditos.
Para garantir as decisões do governo soberano, foi preciso a formação de exércitos permanentes, controlados pelos reis (soberano).
Com a formação moderna, diversos reis passaram a exercer autoridade nos mais variados setores: organizavam os exércitos, que ficava sobre o seu comando, distribuíam a justiça entre seus súditos, decretavam leis e arrecadavam tributos. Toda essa concentração de poder passou a ser denominado Absolutismo Monárquico.
Estados Absolutistas europeus foram: Os principais
•Portugal: surgiu como um reino independente em 1139. Seu primeiro rei foi D. Afonso Henrique, da dinastia de Borgonha. Por muito tempo, os portugueses viveram envolvidos na luta pela expulsão dos mouros, que só aconteceu em 1249 com a conquista de Algarves (sul de Portugal);
•Inglaterra: o absolutismo inglês teve início após a Guerra das Duas Rosas entre as famílias York e Lancaster onde o Lancaster Henrique Tudor com o apoio da burguesia venceu e tomou o poder. Fundador da dinastia Tudor, Henrique VII (1485-1509) inaugurou a era dos reis absolutistas ingleses. Seu filho Henrique VIII foi o que exerceu o poder mais absoluto entre todos os monarcas ingleses. Já sua neta Elisabete I, foi a última rainha soberana incontestável;
•Espanha: em 1469 aconteceu o casamento da rainha Isabel de Castela com o rei Fernando de Aragão. Unificado, o reino espanhol reuniu forças para completar a expulsão dos mouros e, com a ajuda da burguesia, lançar-se às grandes navegações marítimas. O absolutismo espanhol atingiu seu apogeu com a dinastia Habsburgo e o rei Felipe II;
•França: o processo de centralização política francesa iniciou-se com o rei Felipe II no século XII. Usando os conflitos contra os ingleses pelo controle do norte da França, este monarca conseguiu formar um grande exército sustentado pelos impostos cobrados ao longo do território nacional. Durante o governo do rei Luís IX, o poderio real foi ampliado com a criação de instituições jurídicas subordinadas às leis nacionais e a economia comercial se fortaleceu com a instituição de uma única moeda nacional. No governo de Felipe IV o belo, foi criada a Assembleia dos Estados Gerais para reafirmar o poder político real. Mas a guerra dos Cem Anos com a Inglaterra enfraqueceu o poder real e somente a partir de 1453, o rei Carlos VII concluiu o processo de expulsão dos britânicos do território francês e passou a comandar com amplos poderes. Com o apoio dos grandes burgueses, centralizou o governo nacional, criou novos impostos e financiou a instituição de um exército permanente. A partir de então, a França tornou-se o exemplo máximo do absolutismo real europeu.
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A Formação das Monarquias Nacionais ocorreu durante o período da Baixa Idade Média, entre os séculos XII e XV, nos países da Europa Ocidental, com destaque para as monarquias portuguesa, espanhola, francesa e inglesa.
Note que esse processo ocorreu de maneira similar nos países europeus, entretanto, em tempos distintos. Em Portugal teve início no século XII, com a Dinastia de Borgonha (Dinastia Afonsina), sendo mais tarde consolidada pela Dinastia de Avis.
Na Espanha ocorreu a partir da União dos reinos de Aragão e Castela, apresentando seu apogeu com a Dinastia de Habsburgo. Ambos países (Portugal e Espanha) começaram o processo de formação dos estados nacionais após a expulsão dos Mouros (muçulmanos) que habitavam a península ibérica desde o século VIII.
Na França, considerada exemplo máximo do absolutismo europeu, esse processo foi consolidado com a Dinastia Capetíngia e a Dinastia Valois; e, por fim, na Inglaterra, com a Dinastia Plantageneta e a Dinastia Tudor. Observe que tanto na Espanha, quanto na França e na Inglaterra, a formação dos estados nacionais tiveram início no século XV.
Contexto Histórico: Resumo
Com a crise do sistema feudal na Baixa Idade Média (XI e XV), o crescimento demográfico, o surgimento da burguesia e o desenvolvimento do comércio, a partir da expansão das rotas marítimas, os países europeus foram criando seus próprios modelos de centralização política, donde o rei tornou-se uma das figuras mais importantes ao lado da Igreja e da nova classe que surgia: a burguesia.
Junto a isso, os ideais mercantilistas dos quais estavam imbuídos os novos mercadores, comerciantes e profissionais burgueses, aceleraram o nascimento de um novo sistema econômico: o capitalismo. Antes de mais nada, devemos ter em conta que esse sistema que surgiu, tratava-se de um capitalismo primitivo (um pouco diferente do conceito que temos hoje dele), pautados nos ideais do lucro, monopólio comercial, protecionismo alfandegário (proteção da economia pela entrada de produtos estrangeiros), metalismo (acúmulo de metais preciosos), os quais levaram à introdução da moeda como valor de troca.
Enfim, o sistema feudal e rural (administrado pelos senhores feudais), foi substituído pelo sistema capitalista, onde o crescimento das cidades (burgos) e a intensificação do comércio e das feiras livres pela classe burguesa marcou o período que ficou conhecido como Renascimento Comercial e Urbano.
Diante disso, os senhores feudais que possuíam grande poder na Idade Média, começam a perder sua posição, donde o Rei torna-se a figura responsável por administrar a política e a economia. Esse grande poder atribuído ao Monarca foi efetivado pelo apoio recebido da nobreza e sobretudo dos burgueses, a nova classe social que enriquecia cada vez mais, com o desenvolvimento do comércio.
Desde o surgimento e organização da classe burguesa, eles lutavam pela autonomia das cidades (dominadas ainda pelos senhores feudais), movimento que ficou conhecido como Movimento Comunal, referente às Comunas, ou cidades livres, libertadas das mãos dos senhores feudais.
Foi assim que a crise do sistema feudal e medieval teria sido solucionada, ou seja, por meio da centralização política nas mãos do Monarca (Rei), donde ele, como o poder soberano, decretava as leis, arrecadava impostos bem como organizava os exércitos nacionais. Todas essas características mediante o poder centrado numa única figura soberana, o Rei, ficou conhecida como Absolutismo Monárquico.
A partir disso, foi criado os Estados Nacionais, os quais apresentavam suas fronteiras, limites dos territórios e o exército nacional (para segurança da nação). No âmbito econômico, as monarquias nacionais visavam a unificação dos padrões monetários e também um sistema de cobrança dos impostos.
Em suma, a união dos interesses políticos dos Reis e os interesses econômicos da burguesia, foram essenciais para formação das Monarquias ou Estados Nacionais, extinguindo o domínio dos senhores feudais do período medieval, dando início a Era Moderna.
Estado Absolutista
Estado absolutista é um regime político surgido no fim da Idade Média.
Também chamado de Absolutismo se caracteriza por concentrar o poder e autoridade no rei e de poucos colaboradores.
Nesse tipo de governo, o rei está totalmente identificado com o Estado ou seja, não há diferença entre a pessoa real e o Estado que governa.
Não há nenhuma Constituição ou lei escrita que limite o poder real e tampouco existe um parlamento regular que contrabalance o poder do monarca.
Origem do Estado Absolutista
Monarquia absoluta
O Estado Absolutista surgiu no processo de formação do Estado Moderno ao mesmo tempo que a burguesia se fortalecia.
Durante a Idade Média, os nobres detinham mais poder que o rei. O soberano era apenas mais um entre os nobres e deveria buscar o equilíbrio entre a nobreza e seu próprio espaço.
Durante a transição do feudalismo para o capitalismo houve a ascensão econômica da burguesia e do Mercantilismo. Era preciso outro regime político na Europa centro-ocidental que garantisse a paz e o cumprimento das leis.
Por isso, surge a necessidade de um governo que centralizasse a administração estatal.
Desta maneira, o rei era a figura ideal para concentrar o poder político e das armas, e garantir o funcionamento dos negócios.
Nesta época, começam a surgir os grandes exércitos nacionais e a proibição de forças armadas particulares.
Exemplos de Estados Absolutistas
Ao longo da história, com a centralização do Estado Moderno, várias nações passaram a formar Estados Absolutistas. Eis alguns exemplos:
França
Considera-se a formação do Estado francês sob reinado dos reis Luís XIII (1610-1643) e do rei Luís XIV (1643-1715) durando até a Revolução Francesa, em 1789.
Luís XIV limitou o poder da nobreza, concentrou as decisões econômicas e de guerra em si e seus colaboradores mais próximos.
Realizou uma política de alianças através de casamentos que garantiu sua influência em boa parte da Europa, fazendo a França ser o reino mais relevante no continente europeu.
Este rei acreditava que somente "um rei, uma lei e uma religião" fariam prosperar a nação. Deste modo, inicia uma perseguição aos protestantes.
Inglaterra
A Inglaterra passou um longo período de disputas internas devido às guerras religiosas, primeiro entre católicos e protestantes e, mais tarde, entre as várias correntes protestantes.
Este fato foi decisivo para que o monarca concentrasse mais poder, em detrimento da nobreza.
O grande exemplo de monarquia absolutista inglesa é o reinado de Henrique VIII (1509-1547) e o de sua filha, a rainha Elizabeth I (1558-1603) quando uma nova religião foi estabelecida e o Parlamento foi enfraquecido.
A fim de limitar o poder do soberano, o país entra em guerra e somente com a Revolução Gloriosa estabelece as bases da monarquia constitucional.
Espanha
Considera-se que a Espanha teve dois períodos de monarquia absoluta.
Primeiro, durante o reinado dos reis católicos, Isabel e Fernando, no final do século XIV, até o reinado de Carlos IV, que durou de 1788 a 1808. Isabel de Castela e Fernando de Aragão governaram sem nenhuma constituição.
De todas as formas, Isabel e Fernando, deviam estar sempre atentos aos pedidos da nobreza tanto de Castela como de Aragão, de onde procediam respectivamente.
O segundo período é o reinado de Fernando VII, de 1815 -1833, que aboliu a Constituição de 1812, restabeleceu a Inquisição e retirou alguns direitos da nobreza.
Portugal
O absolutismo em Portugal começou ao mesmo tempo que se iniciavam as Grandes Navegações. A prosperidade trazida com os novos produtos e os metais preciosos do Brasil foram fundamentais para enriquecer o rei.
O reinado de Dom João V (1706-1750) é considerado o auge do estado absolutista português, pois este monarca centralizou na coroa todas as decisões importantes como a justiça, o exército e a economia.
O absolutismo em Portugal duraria até a Revolução Liberal do Porto, em 1820, quando o rei Dom João VI (1816-1826) foi obrigado aceitar uma Constituição.
O Direito Divino e o Estado Absolutista
O absolutismo previa um soberano, governando para súditos da mesma religião, como fez Henrique VIII, na Inglaterra
A teoria que embasava o absolutismo era o "Direito Divino". Idealizada pelo francês Jacques Bossuet (1627-1704), sua origem estava na Bíblia.
Bossuet considera que o soberano é o próprio representante de Deus na Terra e por isso deve ser obedecido. Os súditos devem acatar suas ordens e não questioná-las.
Por sua vez, o monarca deveria ser o melhor dos homens, cultivar a justiça e o bom governo. Bossuet argumentava que se o rei fosse criado dentro dos princípios religiosos necessariamente ele seria um bom governante, porque suas ações seriam sempre em beneficio dos súditos.
Teóricos do Estados Absolutista
Além de Bossuet, outros pensadores desenvolveram suas teses a respeito do Absolutismo. Destacamos Jean Boudin, Thomas Hobbes e Nicolau Maquiavel.
Jean Boudin
A doutrina da soberania do Estado foi descrita pelo francês Jean Bodin (1530 - 1596). Essa teoria defende que o poder supremo era concedido por Deus ao soberano e os súditos devem somente obedecê-lo.
Por esse pensamento, o rei é considerado o representante de Deus e só deve obediência à Ele. A única restrição para o poder do rei seria sua própria consciência e a religião que deveria pautar suas ações.
Neste modelo de estado absolutista, segundo Bodin, não havia nada de mais sagrado que o rei.
Thomas Hobbes
Um dos principais defensores do absolutismo foi o inglês Thomas Hobbes (1588-1679). Hobbes defendeu, em sua obra "Leviatã", inicialmente, os seres humanos viviam no estado de natureza, onde havia a "guerra de todos contra todos".
A fim de viver em paz, os homens firmaram uma espécie de contrato social, renunciariam à sua liberdade e se submeteriam à uma autoridade.
Em troca, receberiam a segurança oferecida pelo Estado e a garantia que a propriedade privada seria respeitada.
Nicolau Maquiavel
O florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) resumiu na sua obra "O Príncipe" a separação da moral e da política.
Segundo Maquiavel, o líder de uma nação deveria usar de todos os meios para se manter no poder e governar. Por isso, descreve que monarca pode lançar meios como a violência a fim de assegurar sua permanência no trono.
https://www.todamateria.com.br/formacao-das-monarquias-nacionais/
https://www.todamateria.com.br/estado-absolutista/
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.
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Renascimento: Características e Contexto Histórico
O Renascimento foi um movimento cultural, econômico e político, surgido na Itália no século XIV e se estendeu até o século XVII por toda a Europa.
Inspirado nos valores da Antiguidade Clássica e gerado pelas modificações econômicas, o Renascimento reformulou a vida medieval, e deu início à Idade Moderna.
Origem do Renascimento
O termo Renascimento foi criado no séc. XVI para descrever o movimento artístico que surgiu um século antes. Posteriormente acabou designando as mudanças econômicas e políticas do período também e é muito contestado hoje em dia.
Afinal, as cidades nunca desapareceram totalmente e os povos não deixaram de comercializar entre si, nem de usar moeda. Houve, sim, uma diminuição dessas atividades durante a Idade Média.
Observamos, porém, que na Península Itálica várias cidades como Veneza, Gênova, Florença, Roma, dentre outras, se beneficiaram do comércio com o Oriente.
Estas regiões se enriqueceram com o desenvolvimento do comércio no Mar Mediterrâneo dando origem a uma rica burguesia mercantil. A fim de se afirmarem socialmente, estes comerciantes patrocinavam artistas e escritores, que inauguraram uma nova forma de fazer arte.
A Igreja e nobreza também foram mecenas de artistas como Michelangelo, Domenico Ghirlandaio, Pietro della Francesa, entre muitos outros.
Cultura renascentista
Destacamos cinco características marcantes da cultura renascentista:
Racionalismo - a razão era o único caminho para se chegar ao conhecimento, e que tudo podia ser explicado pela razão e pela ciência.
Cientificismo - para eles, todo conhecimento deveria ser demonstrado através da experiência científica.
Individualismo – o ser humano buscava afirmar a sua própria personalidade, mostrar seus talentos, atingir a fama e satisfazer suas ambições, através da concepção de que o direito individual estava acima do direito coletivo.
Antropocentrismo - colocando o homem como a suprema criação de Deus e como centro do universo.
Classicismo – os artistas buscam sua inspiração na Antiguidade Clássica greco-romana para fazer suas obras.
O Humanismo renascentista
O humanismo foi um movimento de glorificação do homem e da natureza humana, que surgiu na nas cidades da Península Itálica em meados do século XIV.
O homem, a obra mais perfeita do Criador, era capaz de compreender, modificar e até dominar a natureza. Por isso, os humanistas buscavam interpretar o cristianismo, utilizando escritos de autores da Antiguidade, como Platão.
A religião não perdeu importância, mas foi questionada e daí surgiram novas correntes cristãs como o protestantismo.
O estudo dos textos antigos, igualmente, despertou o gosto pela pesquisa histórica e pelo conhecimento das línguas clássicas como o latim e o grego.
Desta forma, o humanismo se tornou referência para muitos pensadores nos séculos seguintes, como os filósofos iluministas do século XVII.
Renascimento literário
O Renascimento deu origem a grandes gênios da literatura, entre eles:
Dante Alighieri: escritor italiano autor do grande poema "Divina Comédia".
Maquiavel: autor de "O Príncipe", obra precursora da ciência política onde o autor dá conselhos aos governadores da época.
Shakespeare: considerado um dos maiores dramaturgos de todos os tempos. Abordou em sua obra os conflitos humanos nas mais diversas dimensões: pessoais, sociais, políticas. Escreveu comédias e tragédias, como "Romeu e Julieta", "Macbeth", "A Megera Domada", "Otelo" e várias outras.
Miguel de Cervantes: autor espanhol da obra "Dom Quixote", uma crítica contundente da cavalaria medieval.
Luís de Camões: teve destaque na literatura renascentista em Portugal, sendo autor do grande poema épico "Os Lusíadas".
Renascimento artístico
Os principais artistas do renascimento foram:
Leonardo da Vinci: Matemático, físico, anatomista, inventor, arquiteto, escultor e pintor, ele foi o esteriótipo do homem renascentista que domina várias ciências. Por isso, é considerado um gênio absoluto. A Mona Lisa e A Última Ceia são suas obras primas.
Rafael Sanzio: foi um mestre da pintura e famoso por saber transmitir sentimentos delicados através de suas imagens de Nossa Senhora. Uma de suas obras mais perfeitas é a Madona do Prado.
Michelangelo: artista italiano cuja obra foi marcada pelo humanismo. Além de pintor foi um dos maiores escultores do Renascimento. Entre suas obras destacam-se a Pietá, David, A Criação de Adão e O Juízo Final. Também foi o responsável por pintar o teto da Capela Sistina.
Renascimento científico
O Renascimento foi marcado por importantes descobertas científicas, notadamente nos campos da astronomia, da física, da medicina, da matemática e da geografia.
O polonês Nicolau Copérnico, que negou a teoria geocêntrica defendida pela Igreja, ao afirmar que "a Terra não é o centro do universo, mas simplesmente um planeta que gira em torno do Sol".
Galileu Galilei descobriu os anéis de Saturno, as manchas solares, os satélites de Júpiter. Perseguido e ameaçado pela Igreja, Galileu foi obrigado a negar publicamente suas ideias e descobertas.
Na medicina os conhecimentos avançaram com trabalhos e experiências sobre circulação sanguínea, métodos de cauterização e princípios gerais de anatomia.
Renascimento comercial
Todas essas inovações só foram possíveis graças ao crescimento comercial que houve na Idade Média.
Quando as colheitas eram boas e sobravam alimentos estes eram vendidos em feiras itinerantes. Com o incremento comercial, os vendedores passaram a se fixar em determinados locais que ficou conhecido como burgo. Assim, quem morava no burgo foi chamado de burguês.
Nas feiras era mais fácil usar moedas do que o sistema de trocas. No entanto, como cada feudo tinha sua própria moeda ficava difícil saber qual seria o valor correto. Dessa forma, surgiram pessoas especializadas na troca de moeda (câmbio), outras em fazer empréstimos e garantir pagamentos e que é a origem dos bancos.
O dinheiro, então, passou a ser mais valorizado do que a terra e isso inaugurou uma nova forma de pensar e se relacionar em sociedade onde tudo seria medido pela quantidade de dinheiro que custava.
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Reforma Religiosa e Contrarreforma
Você sabia que a Igreja Católica já foi muito maior e mais poderosa do que é hoje? Pois é, ainda seria não fossem os processos de Reforma e Contrarreforma, ocorridos durante e após o Renascimento.
Vamos com calma porque neste texto vamos explicar tudo direitinho, para que você possa arrebentar no Enem, passando pelos seguintes tópicos:
O que foi a Reforma e Contrarreforma;
Saiba o que foi a Reforma Protestante;
O que foi a Contrarreforma;
Contrarreforma: inquisição.
Pronto para mais esta jornada? Então, vamos lá que temos muito que aprender.
O que foi a Reforma e Contrarreforma?
A Reforma foi um movimento europeu de criação de novas igrejas e credos religiosos, em oposição aos dogmas católicos.
Já a Contrarreforma foi a resposta da Igreja Católica contra estes movimentos, que ameaçavam diminuir seu número de fiéis, sua influência política e, principalmente, sua riqueza.
Em cada país, a disputa entre Reforma e Contrarreforma aconteceu de forma diferente e em algumas regiões, como em Roma, sede da Igreja Católica Apostólica, sequer houve um movimento importante de Reforma.
Enquanto em lugares como Inglaterra, Suíça, e, principalmente, no Sacro Império Romano-Germânico (a Alemanha como conhecemos hoje, não existia ainda), tivemos os principais movimentos reformistas.
Sendo assim, precisamos separar os acontecimentos nestas três regiões, para que tudo fique claro sobre as principais reformas religiosas.
Saiba o que foi a Reforma Protestante
Os primeiros pontos que precisamos destacar são os motivos para que tantos religiosos europeus quisessem reformar a Igreja, porque é isso que explica o que foi a Reforma Protestante.
Por volta do século XV (anos 1400), com o desenvolvimento das grandes navegações e o renascimento comercial, começou a se estabelecer uma nova classe social, que enriquecia nestas novas atividades.
Esta classe, chamada de burguesia, incluía banqueiros e grandes comerciantes. Ao enriquecer, se colocavam contra a Igreja Católica por alguns motivos principais:
Pecado da usura: para o catolicismo, o enriquecimento era pecado, mas a própria Igreja possuía terras e, principalmente, enriquecia cobrando indulgências (doações como forma de se redimir dos pecados).
O crescimento do pensamento científico: conforme o conhecimento científico se desenvolvia, as sociedades europeias passavam a discutir os fundamentos da própria fé, procurando novas formas de se relacionar com a ideia de Deus.
A influência política da Igreja Católica: o catolicismo dominou a Europa durante toda a Idade Média, tendo muita influência sobre a organização política e social das nações. As reformas religiosas pretendiam alterar este quadro.
Por outro lado, cada um dos Estados principais teve particularidades em seu movimento de reforma. Vejamos quais foram.
Luteranismo
No início do século XVI (anos 1500), no antigo Sacro Império Romano-Germânico, Martinho Lutero desenvolveu suas famosas 95 teses contra a Igreja Católica. Entre elas, duas são mais importantes para o nosso conhecimento:
Condenação da prática das indulgências;
Condenação da veneração de imagens e figuras sagradas que não fossem o próprio Deus.
As indulgências eram uma das principais fontes de renda da Igreja e, pior, se a humanidade deveria venerar apenas a Deus, o próprio Papa perdia seu caráter sagrado.
Por isso, Lutero foi convocado, em 1521, a se retratar perante a Igreja, desmentindo suas teses. No entanto, ele se manteve firme e, pouco depois, ajudou a disseminar o protestantismo pela Europa, ao demonstrar que era possível se opor ao poder do papado.
Calvinismo
Com o luteranismo crescendo no norte da Europa, vários teólogos europeus começaram a propagar ideias reformistas mais ou menos baseadas nas teses de Lutero.
Um destes teólogos foi o francês João Calvino, que pregando na Suíça, propôs a chamada tese da predestinação.
Para ele, os homens já nasciam destinados a serem salvos ou não, ou seja, eram escolhidos por Deus. O enriquecimento, através do trabalho honesto e justo, servia como prova desta predestinação.
Em outras palavras, não havia porque pagar indulgências para a Igreja Católica e, assim, as ideias de Calvino em conjunto com outros teólogos deram origem ao calvinismo, que se espalhou por vários países europeus, incluindo França, Escócia, Países Baixos, Portugal e Espanha, além da própria Inglaterra.
Anglicanismo
O anglicanismo foi um movimento um pouco diferente das demais reformas religiosas, porque se tratava de um movimento do Estado inglês.
No século XVI, o rei Henrique VIII solicitou a permissão do Papa para anular seu casamento. Como o pedido foi negado, o rei iniciou a reforma inglesa, contando com características singulares:
Aliança da nobreza contra a Igreja Católica;
Desapropriação das terras da Igreja Católica, com a posse passando para o Estado e a nobreza;
A nova Igreja Anglicana fundada pelo próprio Estado inglês.
A base teológica do anglicanismo é similar ao luteranismo e ao calvinismo, mas o fato de ser uma reforma patrocinada pelo Estado, conferiu a esta corrente religiosa um grande poder.
Porém, como estamos falando de Reforma e Contrarreforma, precisamos ver qual foi a resposta da Igreja Católica contra estes movimentos que ameaçavam sua existência.
O que foi a Contrarreforma
Com tantas reformas ocorrendo, era natural que houvesse uma Contrarreforma Católica, mas como seria esta nova reforma?
Como a história já mostrou, toda vez que ocorre uma disputa pelo poder, mesmo no campo religioso, raramente o desenvolvimento é pacífico.
Quem está sendo ameaçado, tende a lutar com unhas e dentes para manter sua posição, assim como quem tenta mudar as coisas, também não desiste.
Por isso, o movimento de Reforma e Contrarreforma gerou uma série de conflitos armados e massacres por toda a Europa, agravados a partir do momento em que a Igreja Católica resolveu perseguir os reformistas.
Para resumir as medidas da Contrarreforma Católica ao longo do século XVI, podemos destacar:
Criação dos jesuítas, considerados os “soldados da Igreja”: tinham a função de arrebanhar novos fiéis ao redor do mundo, como forma de compensar a perda de influência na Europa;
Concílio de Trento (1545 a 1563): reafirmação dos dogmas católicos, contra todos os movimentos reformistas;
Restauração da Inquisição: um tribunal permanente para julgamento dos reformistas. Um ponto importante que precisamos tratar separadamente.
Contrarreforma: Inquisição
A Inquisição teve seu grande momento no século XIII (anos 1200), mas durante a Contrarreforma Católica, os tribunais eclesiásticos voltaram a perseguir hereges e infiéis, conforme as disputas ocorriam por toda a Europa.
No entanto, é preciso lembrar que a Igreja já não tinha mais o mesmo poder de antes e, assim, as possibilidades da Inquisição estavam restritas, principalmente:
A proposta de excomunhão daqueles considerados hereges;
A criação de listas de livros proibidos.
Para encerrar, basta dizer que até hoje, passados séculos destes eventos, ainda vemos efeitos distantes, diluídos na sociedade moderna, em países como a Irlanda, por exemplo, onde católicos e protestantes mantém a disputa pela hegemonia social e política até hoje.
https://www.stoodi.com.br/blog/historia/reforma-e-contrarreforma/
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Expansão Marítima Europeia
Juliana Bezerra
Professora de História
A expansão marítima europeia foi o período compreendido entre os séculos XV e XVIII quando alguns povos europeus partiram para explorar o oceano que os rodeava.
Estas viagens deram início ao processo da Revolução Comercial, ao encontro de culturas diferentes e da exploração do novo mundo, possibilitando a interligação dos continentes.
Expansão Ultramarina
As primeiras grandes navegações permitiram a superação das barreiras comerciais da Idade Média, o desenvolvimento da economia mercantil e o fortalecimento da burguesia.
A necessidade do europeu lançar-se ao mar resultou de uma série de fatores sociais, políticos, econômicos e tecnológicos.
A Europa saía da crise do século XIV e as monarquias nacionais eram levadas a novos desafios que resultariam na expansão para outros territórios.
Expansão Marítima Europeia
Rota das viagens
A Europa atravessava um momento de crise, pois comprava mais que vendia. No continente europeu, a oferta era de madeira, pedras, cobre, ferro, estanho, chumbo, lã, linho, frutas, trigo, peixe, carne.
Os países do Oriente, por sua vez, dispunham de açúcar, ouro, cânfora, sândalo, porcelanas, pedras preciosas, cravo, canela, pimenta, noz-moscada, gengibre, unguentos, óleos aromáticos, drogas medicinais e perfumes.
Cabia aos árabes o transporte dos produtos até a Europa em caravanas realizadas por rotas terrestres. O destino eram as cidades italianas de Gênova e Veneza que serviam como intermediárias para a venda das mercadorias ao restante do continente.
Outra rota disponível era pelo Mar Mediterrâneo monopolizada por Veneza. Por isso, era necessário encontrar um caminho alternativo, mais rápido, seguro e, principalmente, econômico.
Paralela à necessidade de uma nova passagem, era preciso solucionar a crise dos metais na Europa, onde as minas já davam sinais de esgotamento.
Uma reorganização social e política também impulsionava à busca de mais rotas. Eram as alianças entre reis e burguesia que formaram as monarquias nacionais.
O capital burguês financiaria a infraestrutura cara e necessária para o feito ao mar. Afinal, era preciso navios, armas, navegadores e mantimentos.
Os burgueses pagavam e recebiam em troca a participação nos lucros das viagens. Este foi um modo de fortalecer os Estados nacionais e submeter à sociedade a um governo centralizado.
No campo da tecnologia foi necessário o aperfeiçoamento da cartografia, da astronomia e da engenharia náutica.
Os portugueses tomaram a dianteira deste processo através da chamada da Escola de Sagres. Ainda que não fosse uma instituição do modo que conhecemos hoje, serviu para reunir navegadores e estudiosos sob patrocínio do Infante Dom Henrique (1394-1460).
Portugal
A expansão marítima portuguesa começou através das conquistas na costa da África e se expandiram para os arquipélagos próximos. Experientes pescadores, eles utilizaram pequenos barcos, o barinel, para explorar o entorno.
Mais tarde, desenvolveriam e construiriam as caravelas e naus a fim de poderem ir mais longe com mais segurança
A precisão náutica foi favorecida pela bússola e o astrolábio, vindos da China. A bússola já era utilizada pelos muçulmanos no século XII e tem como finalidade apontar para o norte (ou para o sul). Por sua vez, o astrolábio é utilizado para calcular as distâncias tomando como medida a posição dos corpos celestes.
Com tecnologia desenvolvida e a necessidade econômica de explorar o Oceano, os portugueses ainda somaram a vontade de levar a fé católica para outros povos.
As condições políticas eram bastante favoráveis. Portugal foi a primeira nação a criar um Estado-nacional associado aos interesses mercantis através da Revolução de Avis.
Em paz, enquanto outras nações guerreavam, houve uma coordenação central para as estimular e organizar as incursões marítimas. Estas seriam essenciais para suprir a falta de mão de obra, de produtos agrícolas e metais preciosos.
O primeiro sucesso português nos mares foi a Conquista de Ceuta, em 1415. Sob o pretexto de conquista religiosa contra os muçulmanos, os portugueses dominaram o porto que era o destino de várias expedições comerciais árabes.
Assim, Portugal estabeleceu-se na África, mas não foi possível interceptar as caravanas carregadas de escravos, ouro, pimenta, marfim, que paravam em Ceuta. Os árabes procuraram outras rotas e os portugueses foram obrigados a procurar novos caminhos para obter as mercadorias que tanto aspiravam.
Na tentativa de chegar à Índia, os navegadores portugueses foram contornando a África e se estabelecendo na costa deste continente. Criaram feitorias, fortes, portos e pontos para negociação com os nativos.
A essas incursões deu-se o nome de périplo africano e tinham o objetivo de obter lucro através do comércio. Não havia o interesse em colonizar ou organizar a produção de algum produto nos locais explorados.
Em 1431, os navegadores portugueses chegavam às ilhas dos Açores, e mais tarde, ocupariam a Madeira e Cabo Verde. O Cabo do Bojador foi atingido em 1434, numa expedição comandada por Gil Eanes. O comércio de escravos africanos já era uma realidade em 1460, com retirada de pessoas do Senegal até Serra Leoa.
Foi em 1488 que os portugueses chegaram ao Cabo da Boa Esperança sob o comando de Bartolomeu Dias (1450-1500). Esse feito constitui entre as importantes marcas das conquistas marítimas de Portugal, pois desta maneira se encontrou uma rota para o Oceano Índico em alternativa ao Mar Mediterrâneo.
Entre 1498, o navegador Vasco da Gama (1469-1524) conseguiu chegar a Calicute, nas Índias, e aí estabelecer negociações com os chefes locais.
Dentro deste contexto, a esquadra de Pedro Álvares Cabral (1467-1520), se afasta da costa da África a fim de confirmar se havia terras por ali. Desta maneira, chega nas terras onde seria o Brasil, em 1500.
Espanha
A Espanha unificou grande parte do seu território com a queda de Granada, em 1492, com a derrota do último reino árabe. A primeira incursão espanhola ao mar resultou na descoberta da América, pelo navegador italiano Cristóvão Colombo (1452-1516).
Apoiado pelos reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela, Colombo partiu em agosto de 1492 com as caravelas Nina e Pinta e com a nau Santa Maria rumo a oeste, chegando à América em outubro do mesmo ano.
Dois anos depois, o Papa Alexandre VI aprovou o Tratado de Tordesilhas, que dividia as terras descobertas e por descobrir entre espanhóis e portugueses.
França
Através de uma crítica ao Tratado de Tordesilhas feita pelo rei Francisco I, os franceses se lançaram em busca de territórios ultramarinos. A França saía da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), das lutas do rei Luís XI (1461-1483) contra os senhores feudais.
A partir de 1520, os franceses passaram a fazer expedições, chegando ao Rio de Janeiro e Maranhão, de onde foram expulsos. Na América do Norte, chegaram à região hoje ocupada pelo Canadá e o estado da Louisiana, nos Estados Unidos.
No Caribe, se estabeleceram no Haiti e na América do Sul, na Guiana.
Inglaterra
Os ingleses, que também estavam envolvidos na Guerra dos Cem Anos, Guerra das Duas Rosas (1455-1485) e conflitos com senhores feudais, também queriam buscar uma nova rota para as Índias passando pela América do Norte.
Assim, ocuparam o que hoje seria os Estados Unidos e o Canadá. Igualmente, ocuparam ilhas no Caribe como a Jamaica e Bahamas. Na América do Sul, se estabeleceram na atual Guiana.
Os métodos empregados pelo país eram bastante agressivos e incluía o estímulo à pirataria contra a Espanha, com a anuência rainha Elizabeth I (1558-1603).
Os ingleses dominaram o tráfico de escravos para a América Espanhola e também ocuparam várias ilhas no Pacífico, colonizando as atuais Austrália e Nova Zelândia.
Holanda
A Holanda se lançou na conquista por novos territórios a fim de melhorar o próspero comércio que dominavam. Conseguiram ocupar vários territórios na América estabelecendo-se no atual Suriname e em ilhas no Caribe, como Curaçao.
Na América do Norte, chegaram a fundar a cidade de Nova Amsterdã, mas foram expulsos pelos ingleses que a rebatizaram de Nova Iorque.
Igualmente, tentaram arrebatar o nordeste do Brasil durante a União Ibérica, mas foram repelidos pelos espanhóis e portugueses. No Pacífico, ocuparam o arquipélago da Indonésia e ali permaneceriam por três séculos e meio.
Consequências
As Grandes navegações contribuíram para uma radical transformação da visão da história da humanidade. Houve uma ampliação do conhecimento humano sobre a geografia da Terra e uma verdadeira Revolução Comercial, a partir da unificação dos mercados europeus, asiáticos, africanos e americanos.
A seguir, algumas das principais mudanças:
Decadência das cidades italianas.
Mudança do eixo econômico Âdo mar Mediterrâneo para o oceano Atlântico.
Formação do Sistema Colonial.
Enorme afluxo de metais para a Europa proveniente da América.
Retorno do escravismo em moldes capitalistas
Eurocentrismo, ou a hegemonia europeia sobre o mundo.
Processo de acumulação primitiva de capitais resultado na organização da formação social do capitalismo.
https://www.todamateria.com.br/expansao-maritima-europeia/
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.
Fonte: https://www.mundovestibular.com.br/estudos/historia/a-expansao-maritima-europeia/
Pioneirismo de Portugal nas Grandes Navegações
Veja abaixo as causas principais do pioneirismo de Portugal nas Grandes Navegações.
Introdução - período histórico
Portugal foi o pioneiro nas grandes navegações e descobrimentos marítimos dos séculos XV e XVI. Existem vários fatores políticos, econômicos, geográficos e tecnológicos capazes de explicar este fato. Este pioneirismo possibilitou a Portugal conquistar novas terras além-mar (exemplo: Brasil) e fazer uma nova rota marítima rumo às Índias, transformando este país numa grande potência econômica e marítima no século XVI.
Causas e fatores principais do pioneirismo português:
- A monarquia portuguesa, caracterizada pela centralização do poder, garantiu uma estabilidade política favorável ao desenvolvimento dos negócios da burguesia comercial. Este fator foi muito favorável ao desenvolvimento dos empreendimentos marítimo-comerciais em Portugal.
- Apoio da nobreza portuguesa às atividades náuticas a partir, principalmente, do início do século XV.
- Criação em Portugal da Escola de Sagres. Esta foi um centro de estudos náuticos de grande importância para o desenvolvimento das navegações portuguesas.
- Domínio português de técnicas de construção de caravelas e instrumentos de orientação náutica.
- Localização geográfica privilegiada de Portugal, com presença de litoral atlântico que favoreceu a navegação.
- Investimentos da burguesia portuguesa na navegação marítima, pois esta tinha interesses comerciais, principalmente voltados para o negócio lucrativo das especiarias.
- Ausência de conflitos internos e externos.
Por Jefferson Evandro Machado Ramos
Graduado em História pela Universidade de São Paulo - USP (1994).
Encontro dos europeus com povos da América, Ásia e África.
Nos séculos XV, XVI E XVII ocorreu a grande expansão marítima comercial dos países europeus. Através das Grandes Navegações, pela primeira vez na história, o mundo seria totalmente interligado. Muitos povos da América, África e Ásia foram conquistados e colonizados. Esse contato entre os europeus e os povos nativos teve profundas transformações para sempre na vida de ambos.
ÁSIA
A descoberta de um caminho marítimo para a Ásia intensificou os contatos entre os europeus e alguns povos asiáticos. Ao conhecer essas sociedades, muitas vezes os europeus se surpreendiam. Em 1510, os portugueses conquistaram a cidade de Goa, na costa oeste da Índia, e aí instalaram uma feitoria (fortificação primitiva onde eram armazenadas e comercializadas mercadorias). “Estamos convencidos de que somos os homens mais astutos que se pode encontrar, e o povo aqui nos ultrapassa em tudo […] Fazem melhores contas de memória do que nós, e parece que nos são superiores em inúmeras coisas, exceto com a espada na mão, a que eles não conseguem resistir.”
Essa declaração demonstra o sentimento de superioridade dos europeus sendo desfeito pela realidade que encontraram na Ásia do século XVI. Naquela época, as sociedades asiáticas dominavam muito mais conhecimentos e se organizavam de forma muito mais complexa do que os europeus imaginavam.
Segundo o relato, os Polo ali chegaram por volta de 1274 e permaneceram na China por dezessete anos, onde descobriram, entre outras coisas o espaguete e a pólvora. De volta a Veneza em 1295, Marco foi capturado por genoveses e preso junto com um escritor que o ajudou a escrever o livro, que fez sucesso, mas que muitos consideraram uma história fictícia e não um relato verdadeiro.
ÁFRICA
A expansão portuguesa começou em 1415, com a tomada de Ceuta, importante centro comercial dominado pelos muçulmanos no norte da África.
Em seguida, Portugal ocupou as ilhas de Madeira, Açores e Cabo Verde, no oceano Atlântico, onde foi realizado com sucesso, uma experiência de colonização, implantando o cultivo de cana-de-açúcar.
Essa experiência serviria mais tarde de modelo para a ocupação das terras americanas. A expansão estendeu-se ao longo do litoral africano, onde os portugueses obtinham produtos como pimenta, ouro e marfim.
Mesmo antes das Grandes Navegações europeias, o continente africano já era conhecido pelos europeus, principalmente a parte que hoje chamamos de "África Branca". Os primeiros contatos entre cristãos e negros ocorreram por intermédio dos muçulmanos, que realizavam trocas de mercancia entre os dois "povos".
Com as navegações, que têm Portugal como o seu pioneiro, a África Negra que até então mantinha contato com o resto do mundo por meio dos muçulmanos, tem seu isolamento rompido e passa a constituir uma importante praça de trocas, onde o principal produto exportado eram os escravos africanos. É importante lembrar que essas trocas que consistiam principalmente em ferro, pano, aguardente, cavalos e armas acabaram se tornando de extrema importância para o continente africano.
Desde 1440, o comércio de escravos já era visto como bem lucrativo para os portugueses, sendo que em 1448 se estabelece em Arguin um "comércio regular" que consistia na troca de bens contra humanos. Em 1474, Portugal tem o monopólio sobre o tráfico de escravos.
Como podemos observar antes mesmo da descoberta do Novo Mundo a escravidão africana já era muito conhecida e utilizada na Europa, bem como já se encontrava vinculada à expectativa de se obter uma produção em larga escala de certas colheitas úteis.
AMÉRICA
Segundo algumas pesquisas de demografia histórica, viviam no continente americano uma população de aproximadamente 88 milhões de habitantes, divididas em mais de três mil nações indígenas por volta do final do século XV. Entre elas destacam-se na América do Norte (apaches, sioux e astecas), na América Central (maias e chibchas) e na América do Sul (incas, tupis e nuaruaques).
Durante muito tempo, vários historiadores destacavam uma visão heroica dos feitos do conquistador, o que tornou corrente o uso da expressão descobrimento da América e do Brasil. Mas recentemente, os historiadores tem analisado a questão sob outros pontos de vista, ressaltando o impacto da presença dos europeus na destruição dos modos de vida e na dizimação (mortes) dos povos que viviam na América. Desta forma o termo mais correto a se utilizar é a invasão e conquista.
Foram variadas as formas de violência usadas contra os povos nativos americanos. Teve a violência física já que as armas dos conquistadores europeus eram superiores às dos índios (nome dado aos nativos do continente). Essa superioridade deve-se ao uso de armas feitas de aço (espadas, lanças, punhais, escudos), ao uso de armas de fogo (mosquete, canhão) e ao cavalo, animal desconhecido pelos nativos.
Outro elemento foram as doenças contagiosas trazidas pelos europeus como o sarampo, tifo, varíola, malária e gripe que não existiam no continente. Não havendo anticorpos para combatê-las, elas se espalharam rapidamente, provocando epidemias matando milhares deles.
Houve ainda a violência cultural quando os europeus impuseram aos povos americanos costumes que afetaram profundamente a sobrevivência das suas comunidades. A obrigatoriedade do ensino religioso e da língua dos povos europeus aliada à remoção de populações inteiras para trabalhar como escravas nos aldeamentos completam esse canário terrível.
Para os europeus esse contato foi muito positivo. Os grandes comerciantes e banqueiros europeus obtiveram lucros expressivos coma conquista e colonização do continente americano. Houve um aumento na oferta de ouro, prata e pedras preciosas, o deslocamento do eixo econômico da região do Mar Mediterrâneo para os portos do Oceano Atlântico e a descoberta de grande variedade de espécies vegetais como o milho, o tomate, o cacau e a batata e ainda animais até então desconhecidos.
Além disso, a exploração da América impulsionou vários setores da cultura europeia. Novos conhecimentos e técnicas precisaram ser desenvolvidos e aperfeiçoados para se viajar grandes distâncias marítimas. Houve ainda, um processo de difusão de conhecimentos adquiridos em contatos com povos indígenas que se mostraram benéficos para os europeus.
Ocupação e exploração de terras coloniais
O colonialismo é uma prática na qual um território exerce domínio político, cultural ou religioso sobre um determinado povo. O controle é exercido por meio de uma potência ou força política militar externa que deseja explorar, manter ou expandir seu território.
Na maioria das vezes, essa prática acontece sem o consentimento de seus habitantes, que com a exploração, perdem parte de seus bens (solos, recursos naturais, moradia) ou possíveis direitos políticos que pudessem ter.
Dessa forma, a potência exploradora consegue se desenvolver às custas das riquezas encontradas nas colônias exploradas, que se tornam cada vez mais parte do Império explorador e reféns das suas ordens.
Origem do colonialismo
Inicialmente, esse termo era usado pelos romanos quando eles queriam se referir as comunidades rurais fora do seu território, porém, a expressão logo se tornou mais abrangente.
Atualmente, o colonialismo é usado para explicar a doutrina política, econômica e cultural que embasa o controle exercido por uma metrópole, através da imposição administrativa e militar, sobre uma colônia.
O termo colônia é de origem latina “colônia”, que significa “um lugar para a agricultura”. O seu objetivo pode ser comparado ao expansionismo, que é a prática de uma nação acrescentar mais territórios ao que ela já possui.
Características
Como principal característica, o colonialismo estabeleceu a complementariedade a partir do momento que a produção colonial passou a ser organizada com o intuito de satisfazer os interesses territoriais de países da Europa.
À burguesia era permitido comprar, com exclusividade, os produtos coloniais por um valor baixo e vendê-los por preços mais altos nos mercados europeus. Outra característica que marcou o processo de colonização foram a divisões coloniais, conforme as necessidades metropolitanas.
Divisão de colônias
As metrópoles usaram duas classificações para distinguir os tipos de colônias. Elas poderiam ser colônias de povoamento, na qual os colonos migravam em grande número para as colônias com a intenção de povoar e desenvolver o lugar, ou seja o interesse não era a exploração de recursos, uma vez que as riquezas produzidas permaneciam no país, mas sim dominar política e economicamente o territórios.
Essa característica foi de grande importância para que países como Estados Unidos e Canadá se tornassem grandes nações, sendo o primeiro a maior potência mundial. A segunda classificação é a colônia de exploração. Nesse tipo, a colônia fornecia para as metrópoles riquezas provenientes da natureza e ainda cultivavam produtos tropicais.
Por conta disso, muitos países latinos herdaram um grande atraso socioeconômico que reflete nos dias atuais, enquanto que as metrópoles tornaram-se grandes potências mundiais. Este tipo de colônia aconteceu com mais frequência em regiões tropicais, pois o controle metropolitano era mais rígido e a exploração mais efetiva.
Imperialismo X Colonialismo
O colonialismo refere-se a ocupação de territórios (colônias) na América e na Costa Africana por países europeus (Portugal, Espanha e França) e pela Inglaterra, durante os séculos XIV e XVII.
O imperialismo, por outro lado, está relacionado a expansão territorial, que ocorreu entre os séculos XIX e XX, de alguns países do Continente Europeu, Japão e Estados Unidos sobre os territórios da América, África e Ásia. Embora os acontecimentos apresentem características em comum, não são sinônimos. Pois, eles aconteceram em contextos, motivações e territórios diferentes.
O imperialismo ocorreu em um momento da Segunda Revolução Industrial, quando os respectivos países buscavam em outros territórios não apenas recursos para serem explorados, mas também mão de obra barata e pessoas que pudessem consumir as mercadorias excedentes. Vale ressaltar, que neste caso, o foco principal era a África e Ásia.
O colonialismo é caracterizado por uma dominação direta tanto econômica quanto política, principalmente sobre territórios da América por parte dos países europeus. Contudo, está inserido em um contexto de mercantilismo e absolutismo, com a intensão de encontrar locais para a exploração.
Impérios coloniais
Os Impérios Coloniais formaram-se a partir dos descobrimentos que ocorreram com as “corridas exploratórias “, realizadas pelas duas maiores potências do século XV: Portugal e Espanha. A partir da exploração e expansão de territórios, consequentes do processo de colonização e imperialismo, as terras ocupadas foram divididas em Império Português e Império Espanhol.
Contudo, a formação de Impérios trouxe consequências positivas e negativas. As potências imperialistas foram beneficiadas, uma vez que conseguiram atingir seus objetivos, conquistando matéria e mão-de-obra barata. Já as potências coloniais, que buscavam ocupar territórios, fez surgir uma série de conflitos que mais tarde resultaram em guerras.
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Independência na América Espanhola - Lutas europeias disseminaram ideal de liberdade
A sociedade da América Espanhola estava dividida basicamente em:
· Chapetones: eram a elite colonial, controlavam a colônia e ocupavam os altos cargos administrativos.
· Criollos: vinham logo abaixo. Eram os filhos dos espanhóis nascidos na colônia e integravam a nobreza, sendo, ainda, grandes latifundiários.
· Negros e índios: estavam na base da pirâmide social.
Os indígenas se tornariam marginalizados, mas muitos manteriam seus costumes ancestrais.
Administração Colonial
A metrópole controlava as colônias através da Casa de Contratação, que tinha sua sede em Sevilha e, mais tarde, em Cádiz. Também havia o Conselho das Índias, a quem cabia a administração colonial e que era representado nas colônias pelos chapetones.
Da mesma forma, haviam os cabildos, também chamados de conselhos municipais. Esses conselhos representavam a metrópole e controlavam o policiamento, o recolhimento de impostos e a Justiça.
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.
O PROCESSO
Quando Napoleão Bonaparte resolveu atacar a Espanha em 1808, a maioria do povo da distante América espanhola não sabia que esse ato iria interferir diretamente em seu destino. E não se trata de defender a teoria popular do chamado efeito borboleta, segundo a qual o bater de asas de uma borboleta aqui pode causar um tufão do outro lado do mundo. Mas a verdade é que alguns acontecimentos do final do século 18 que repercutiam na Europa influenciaram diretamente as lutas pela independência das colônias espanholas da América, em que pese o tempo que as informações gastavam para se deslocar de um continente a outro. Entre esses acontecimentos, devem ser lembrados especialmente a Revolução Industrial na Inglaterra, a Independência das 13 Colônias Inglesas, a Revolução Francesa, as Guerras Napoleônicas e, na América Central, a Independência do Haiti: todos eles, a seu modo, movimentos deflagradores de uma nova consciência social.
O contexto da luta
Os criollos eram a elite americana descendente de espanhóis, excluída dos altos cargos dirigentes, embora constituíssem a classe dos grandes proprietários de terras, dos arrendatários de minas, dos comerciantes e dos pecuaristas. Manifestavam suas insatisfações desde meados do século 18 e, influenciados pelo Iluminismo, iam forjando aos poucos um nacionalismo contrário ao domínio espanhol. A Guerra de Independência dos Estados Unidos serviu de exemplo para os colonos latino-americanos, pois, pela primeira vez, colônias da América lutaram por sua independência e foram bem-sucedidas. Traduções de textos e transcrições de discursos dos "pais da independência" dos EUA circulavam por toda a América colonial, fomentando ainda mais a revolta dos criollos contra a coroa espanhola.
A posição da Espanha nesse conflito, a favor da independência dos colonos ingleses, foi uma contradição inusitada, pois o apoio às ideias liberais dos colonos da América do Norte chocava-se com a administração monopolista sustentada nas colônias americanas.
O "imbróglio diplomático”
A Espanha, nessa época, vivia uma situação diplomática difícil. Desde que a família Bourbon, de origem francesa, assumiu o trono espanhol em 1700, as coroas dos dois países fizeram alianças, chamadas de Pactos de Famílias, para garantir a concorrência de ambas diante do crescente poderio econômico britânico. Tais alianças eram uma resposta à Inglaterra, que nessa época dava início à Revolução Industrial, e buscava ampliar o mercado consumidor para seus produtos.
Diante dessa situação, quando se iniciou a Guerra de Independência dos Estados Unidos, França e Espanha viram-se obrigadas a apoiar os colonos rebeldes, o que só fez aumentar a insatisfação dos colonos latino-americanos, que não entendiam como a Espanha podia, ao mesmo tempo, ser a favor e contra a liberdade colonial.
A Revolução Francesa também se tornou um marco no processo de independência da América espanhola por vários fatores. Primeiro, por divulgar a liberdade, a igualdade, o constitucionalismo, o republicanismo, ideais fundamentais nos discursos dos líderes criollos. Mesmo que muitos deles vissem no radicalismo dos jacobinos um exemplo perigoso, que poderia levar as massas de trabalhadores - indígenas, mestiços, negros e mulatos - a lutarem também por seus direitos. Confirmando esse receio, quando ocorreram as guerras pela Independência do Haiti, as elites coloniais conheceram quão poderosas eram as ideias de liberdade e igualdade anunciadas pela Revolução Francesa, mas também o grau de agressividade liberado numa rebelião de grupos explorados. Os criollos, que temiam mais do que tudo as rebeliões populares, tiveram então de organizar sua luta pela independência colonial, ao mesmo tempo em que submetiam as massas populares, garantindo, assim, a manutenção dos seus privilégios.
Quando, em 1791, o rei Luís 16 foi deposto pela Revolução Francesa, a Espanha se uniu à Grã-Bretanha numa coalizão contra a França, mas foi derrotada e obrigada a assinar, em 1795, o Tratado da Basileia, abrindo caminho para uma nova aproximação entre espanhóis e franceses, consolidada um ano depois pelo Tratado de Santo Ildefonso.
A aliança com a França foi uma catástrofe para os espanhóis. A derrota dos franceses e seus aliados em Trafalgar, em 1805, aniquilou a marinha espanhola, dificultando a comunicação entre a Espanha e suas colônias da América. Ao mesmo tempo, a maciça presença de militares franceses em solo espanhol fragilizou a coroa, a ponto de Napoleão Bonaparte forçar a abdicação do rei Carlos 4º e de seu filho Fernando 7º, e impor seu irmão, José Bonaparte, como rei da Espanha.
Em reação às exigências de Bonaparte e ao domínio francês, formaram-se Juntas Governativas a favor de Fernando 7º, que imediatamente passaram a instigar os colonos hispano-americanos a fazerem o mesmo. Essa estratégia foi eficaz, pois quando Napoleão enviou representantes para a América, com o intuito de convencer os colonos a apoiarem o novo governo, estes se mantiveram fiéis ao rei espanhol deposto.
Em guerra com a Inglaterra, a França não conseguia estabelecer controle sobre a América. Percebendo isso, Napoleão mudou de estratégia, passando a incentivar a independência hispano-americana.
1808 a 1814: as Juntas Governativas
As Juntas Governativas, formadas a partir dos cabildos (assembleias) americanos, apesar de jurarem fidelidade a Fernando 7º, na prática constituíam governos autônomos. Em muitas colônias americanas a rivalidade entre criollos e chapetones se ampliou, ocasionando inúmeras rebeliões. Os criollos, então, foram se organizando aos poucos, para poderem governar os cabildos e expulsar os espanhóis de seus territórios, ao mesmo tempo em que submetiam as rebeliões populares.
Sem a fiscalização metropolitana, o contrabando aumentou e os navios ingleses e estadunidenses passaram a suprir os mercados coloniais. Os criollos, conscientes de sua autonomia política e econômica, além de fortemente inspirados pela Declaração de Independência dos Estados Unidos e pela Declaração dos Direitos do Homem, iniciaram suas lutas pela liberdade, até que, em 1810, a Venezuela, a Argentina, a Colômbia, o México e o Chile se declararam independentes.
A restauração dos Bourbons e a reação americana
Em 1813, ao recuperar o trono espanhol, Fernando 7º buscou restabelecer a ordem absolutista espanhola e revogou toda e qualquer lei promulgada pelas Juntas Governativas. Essa orientação passou a valer tanto na Espanha, com a revogação da Constituinte Cortes de Cádis, quanto na América, e deu início a um processo de perseguição aos liberais que restabeleceu, inclusive, a Inquisição.
Na América, a política de perseguição de Fernando 7º só fez inflamar ainda mais as revoltas, que a essa altura já aconteciam em diferentes pontos do continente.
Os colonos, entretanto, não agiam de forma conjunta, inclusive porque as elites criollas tinham interesse em se manter senhoras de suas próprias regiões. A imensidão do território americano, o isolamento dos povoados e suas características geográficas distintas contribuíram para que cada colônia adotasse estratégia diferente na guerra contra os espanhóis.
Não perdurou muito essa situação, e a partir de 1825, com o apoio da Inglaterra e dos Estados Unidos, interessados que estavam na abertura de novos mercados, grande parte da América já era composta por países independentes.
O ILUMINISMO NO PROCESSO NA AMÉRICA ESPANHOLA
O processo de independência da América Espanhola ocorreu em um conjunto de situações experimentadas ao longo do século XVIII. Nesse período, observamos a ascensão de um novo conjunto de valores que questionava diretamente o pacto colonial e o autoritarismo das monarquias. O iluminismo defendia a liberdade dos povos e a queda dos regimes políticos que promovessem o privilégio de determinadas classes sociais.
Sem dúvida, a elite letrada da América Espanhola inspirou-se no conjunto de ideias iluministas. A grande maioria desses intelectuais era de origem criolla, ou seja, filhos de espanhóis nascidos na América desprovidos de amplos direitos políticos nas grandes instituições do mundo colonial espanhol. Por estarem politicamente excluídos, enxergavam no iluminismo uma resposta aos entraves legitimados pelo domínio espanhol, ali representado pelos chapetones.
Ao mesmo tempo em que houve toda essa efervescência ideológica em torno do iluminismo e do fim da colonização, a pesada rotina de trabalho dos índios, escravos e mestiços também contribuiu para o processo de independência. As péssimas condições de trabalho e a situação de miséria já tinham, antes do processo definitivo de independência, mobilizado setores populares das colônias hispânicas. Dois claros exemplos dessa insatisfação puderam ser observados durante a Rebelião Tupac Amaru (1780/Peru) e o Movimento Comunero (1781/Nova Granada).
No final do século XVIII, a ascensão de Napoleão frente ao Estado francês e a demanda britânica e norte-americana pela expansão de seus mercados consumidores serão dois pontos cruciais para a independência. A França, pelo descumprimento do Bloqueio Continental, invadiu a Espanha, desestabilizando a autoridade do governo sob as colônias. Além disso, Estados Unidos e Inglaterra tinham grandes interesses econômicos a serem alcançados com o fim do monopólio comercial espanhol na região.
É nesse momento, no início do século XIX, que a mobilização ganha seus primeiros contornos. A restauração da autoridade colonial espanhola seria o estopim do levante capitaneado pelos criollos. Contando com o apoio financeiro anglo-americano, os criollos convocaram as populações coloniais a se rebelarem contra a Espanha. Os dois dos maiores líderes criollos da independência foram Simon Bolívar e José de San Martin. Organizando exércitos pelas porções norte e sul da América, ambos sequenciaram a proclamação de independência de vários países latino-americanos.
No ano de 1826, com toda América Latina independente, as novas nações reuniram-se no Congresso do Panamá. Nele, Simon Bolívar defendia um amplo projeto de solidariedade e integração político-econômica entre as nações latino-americanas. No entanto, Estados Unidos e Inglaterra se opuseram a esse projeto, que ameaçava seus interesses econômicos no continente. Com isso, a América Latina acabou mantendo-se fragmentada.
O desfecho do processo de independência, no entanto, não significou a radical transformação da situação socioeconômica vivida pelas populações latino-americanas. A dependência econômica em relação às potências capitalistas e a manutenção dos privilégios das elites locais fizeram com que muitos dos problemas da antiga América Hispânica permanecessem presentes ao longo da História latino-americana.
Érica Turci é historiadora e professora de história formada pela USP.
https://www.todamateria.com.br/america-espanhola/
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Brasil Colônia
Brasil Colônia é o período que se estende de 1530, com a missão “exploradora” de Martim Afonso de Souza, a 1815, quando o então Estado do Brasil tornou-se Reino de Portugal, Brasil e Algarves. Foi durante esses anos que grande parte da extensão territorial que o Brasil tem hoje foi conquistada por meio de diversos conflitos com tamoios, tupinambás, espanhóis, holandeses, franceses, entre outros povos.
Período Pré-Colonial
O Período Pré-Colonial diz respeito aos anos que antecederam a missão “colonizadora” chefiada por Martim Afonso de Souza (administrador colonial português) em 1530. Após a chegada da expedição marítima portuguesa, liderada por Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500, nas terras que, posteriormente, viriam a ser chamadas de Brasil, Portugal passou a ocupar pequenos pontos isolados na costa marítima brasileira.
Um grupo de cristãos-novos (judeus convertidos ao cristianismo e seus descendentes) recebeu o monopólio de extração do pau-brasil, mas se limitou ao envio de apenas quatro expedições exploradoras com o objetivo de fazer o reconhecimento e mapeamento do território “descoberto”.
Ainda sem nome, a terra passou a ser chamada, nas cartas de Pero Vaz de Caminha e Mestre João, escritas em 1º de maio de 1500, de Vera Cruz. Outros nomes surgiram depois, como Terra dos Papagaios e Santa Cruz. O nome Brasil começou a aparecer em fontes a partir de 1512 e, posteriormente, acabou oficializando-se, sobretudo após 1530, com a nomenclatura “Estado do Brasil”.
No começo daquele século, o Império Português estava voltado para as Índias, que era a forma como os portugueses referiam-se à região que hoje consiste na Índia. Desde as Cruzadas, o comércio com o Oriente desenvolvera-se muito com os reinos cristãos situados na Europa Ocidental e Meridional. Contudo, desde a tomada de Constantinopla pelos otomanos em 1453, esse comércio começou a entrar em declínio. Quando as barreiras de comércio tornaram-se intransponíveis, Portugal voltou-se para o território americano. Nesse momento, começou, portanto, o que a historiografia chamou de Período Colonial.
Ciclo do pau-brasil
Durante o Período Pré-Colonial, quando as terras descobertas na América pelos portugueses ainda não eram objeto de grande interesse pela Coroa, desenvolveu-se o comércio do pau-brasil. Nativa da Mata Atlântica, em abundância sobretudo nas regiões costeiras, essa árvore leguminosa, além de resistente, também possui um pigmento vermelho, o qual os índios usavam para tingimento.
Portugal enviou expedições para a extração dessa madeira, iniciando o Ciclo do Pau-Brasil, que se estendeu até aproximadamente 1530, quando os objetivos da Coroa com suas terras recém-descobertas ganhou novos ares, dando início ao Período Colonial
Início do Período Colonial
Com a tomada de Constantinopla e também com as ameaças das pretensões de colonização francesa nos territórios do sul da América, Portugal iniciou, a partir de 1530, missões específicas com o objetivo de demarcar seu território e instalar uma administração colonial. Martim Afonso de Souza foi o responsável pela primeira expedição nesse sentido.
Em 1534, houve a tentativa da transplantar o sistema de capitanias hereditárias, que, na época, era adotado na pequena Ilha de Madeira, a sudeste da costa portuguesa. Assim, o território brasileiro foi dividido em 14 capitanias, que, por sua vez, dividiam-se entre membros da nobreza de confiança do rei português D. João III. Porém, o modelo não obteve muito sucesso, durando apenas 16 anos. Apenas duas capitanias destacaram-se: a de Pernambuco e a de São Vicente (hoje São Paulo), onde de fato se iniciou um processo de colonização.
Em junho de 1494, o Reino de Portugal e a Coroa de Castela assinaram um acordo que dividia territorialmente as terras descobertas na América, o qual ficou conhecido como Tratado de Tordesilhas. O Reino da França, não concordando com esse tratado, promoveu suas próprias expedições, fundando, em 1555, uma colônia francesa na região da Baía do Rio de Janeiro (como era então conhecida a Baía de Guanabara), a França Antártica.
Para isso, os franceses aliaram-se aos índios tamoios, da nação indígena tupinambá, que na época liderava uma ofensiva contra os portugueses. No entanto, em 1560, sob o comando do governador-geral da colônia brasileira, Mem de Sá, a França Antártica foi destruída. Mais para frente, em 1594, houve outra ocupação dos franceses, dessa vez no Maranhão, que ficou conhecida como França Equinocial, mas foi derrotada novamente pelos portugueses em 1615.
O início da colonização do Brasil foi marcado por intensas disputas e tentativas de demarcação de território. Esse processo estendeu-se em proporções distintas ao longo do Período Colonial e também durante o Império.
Governo-Geral
Havia uma grande dificuldade de administrar a colônia e os ocupantes que nela se estabeleciam. A Coroa portuguesa entendia a necessidade de instalar um corpo administrativo que pudesse organizar de perto toda a imensa extensão territorial que se formava como posse do Império Português, sobretudo após o fracasso do sistema de capitanias.
Foi nesse contexto que, em março de 1549, Tomé de Sousa aportou no litoral brasileiro com a missão de desempenhar uma série de funções administrativas, como defesa, estímulos à produção agrícola, relacionamento com os indígenas e a fundação de uma capital colonial – designada, na época, como São Salvador da Bahia de Todos os Santos, atual Salvador. Tomé de Sousa assumiu o cargo de governador-geral.
Junto com o governador-geral., veio também a Companhia de Jesus, com o objetivo de catequizar e “pacificar” os povos indígenas. Os jesuítas (como eram conhecidos os membros da Companhia de Jesus) fundaram, em 1553, o Colégio dos Jesuítas da Bahia.
Apesar do relativo êxito da centralização da administração com o governador-geral, que era um português nomeado pela Coroa para o cargo, as condições de comunicação e transporte no século XVI eram extremamente precárias. Isso dificultava bastante o controle administrativo. Esse modelo de administração durou até a chegada da Família Real no Brasil em 1808, inaugurando aquilo que ficou conhecido como Período Joanino.
Ciclo do açúcar
O açúcar foi a primeira grande riqueza produzida em terras brasileiras. Durante meados do século XVI e XVII, tornou-se a principal fonte de riqueza da colônia. O sistema que implementou a produção em massa da cana-de-açúcar ficou conhecido como plantation, conciliando a monocultura, os solos férteis e a mão de obra escrava.
As primeiras mudas teriam vindo com Martim Afonso de Souza e foram plantadas em seu engenho em São Vicente. Contudo, as regiões que mais concentraram a produção de açúcar estavam no Nordeste brasileiro, sobretudo Bahia e Pernambuco.
Foi nesse período que surgiram os senhores de engenho, donos de grandes propriedades de terra, os latifúndios, que também são característicos desse tipo de produção. Outro fator de destaque foi a larga utilização de mão de obra escrava para produção de açúcar.
Nesse período, mais especificamente durante o século XVII, os holandeses investiram na tentativa de colonização no Brasil, o que resultou nos maiores conflitos do Brasil Colônia. Após a expulsão definitiva dos holandeses, em 1654, eles se instalaram na região das Antilhas, onde passaram a produzir um açúcar extremamente competitivo, atingindo diretamente o comércio exterior português. Isso produziu uma crise no ciclo do açúcar, que se somou à descoberta, no final do século XVII, de ouro.
Entradas e Bandeiras
Ainda no século XVI, Portugal promovia e estimulava pessoas interessadas na exploração do território colonial. As operações com o objetivo de expansão territorial, financiadas e organizadas pelo próprio governo, recebiam o nome de entradas. Já os indivíduos, também incentivados pela Coroa, interessados em expedições próprias, com recursos próprios, seja para busca de pedras preciosas, seja para captura de índios para vendê-los como escravos, entre outras motivações, ficaram conhecidos como bandeirantes.
Essas expedições foram fomentadas em momentos distintos por motivos diferentes, sobretudo após o fim do ciclo do açúcar, quando Portugal necessitava buscar novos recursos. Todo metal encontrado durante as expedições deveria ser levado às Casas de Fundição, onde um quinto era retirado como imposto pago à Coroa portuguesa. Esses métodos de exploração foram cruciais para a expansão territorial do Império Português na América.
Ciclo do Ouro
As finanças da Coroa Portuguesa estavam extremamente comprometidas pelos custos da administração colonial de seu imenso território, sobretudo após as dificuldades competitivas com a monocultura canavieira desenvolvida pelos holandeses nas Antilhas. Nesse contexto, em meados do século XVIII, as bandeiras começaram a achar ouro em quantidades significativas no interior da colônia, especificamente nas regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Mais uma vez, os escravos africanos foram fundamentais nesse processo, até mesmo porque dominavam técnicas superiores às dos portugueses na extração do ouro. Essa interiorização em busca de metais preciosos foi importante também para a formação de diversas vilas que hoje constituem importantes cidades, como São João del Rei (MG), Mariana (MG), Ouro Preto (MG), Jaraguá (GO), entre outras.
É importante ressaltar também que, nesse período (século XVIII), as manufaturas começaram a se tornar cada vez mais importantes na balança comercial das nações – um desdobramento da Revolução Industrial, processo do qual a Inglaterra foi pioneira. Nesse contexto, Portugal assinou com a Coroa britânica o Tratado de Methuen, que vigorou entre 1703 e 1836. Esse acordo consistiu no comprometimento de compra dos tecidos ingleses em troca da venda dos vinhos portugueses aos ingleses.
Enquanto Inglaterra possuía métodos de produção sofisticados, que aumentavam a rentabilidade de seus produtos, Portugal não estava se industrializando. Isso provocou um endividamento gigantesco da Coroa Portuguesa com a Inglaterra, por isso, grande parte do ouro acumulado serviu como abatimento dessa dívida.
No final do século XVIII, o ouro passou a ser mais escasso pelo esgotamento das minas. Começou-se, então, o surgimento de uma nova atividade econômica, ligada, novamente, ao sistema de plantation, que foi a plantação de café.
Formação da sociedade colonial
Após os portugueses e espanhóis descobrirem o continente americano, uma série de relatos e crônicas dava o tom de encantamento que as novas terras despertavam nos habitantes do velho continente. Um misto de inocência e descrições bíblicas do paraíso indicava que tanto a terra quanto os seus habitantes precisavam ser “conquistados”, “catequizados” e “civilizados” pelos reinos cristãos europeus.
Um pouco disso explica, mesmo que de forma subjetiva, aspectos importantes da formação da sociedade colonial. Afinal, tratava-se de uma terra de possibilidades, de riquezas escondidas, de descobertas possíveis, um “novo mundo”.
Com a descoberta cada vez mais frequente de ouro por parte das bandeiras, a estrutura administrativa que pudesse garantir as posses da Coroa começou a se estruturar de forma mais efetiva.
Assim, a sociedade colonial constituiu-se, basicamente, de uma elite vinda de Portugal, que acumulava riquezas; de escravos, que consistiam na força de trabalho principal do período colonial; e de indígenas, que, apesar de todas as resistências contra os portugueses, tiveram nações inteiras dizimadas, territórios tomados, quando não escravizados. Havia também os representantes da administração colonial, os representantes da Igreja Católica e, no decorrer do tempo, começou a surgir a figura dos “brasileiros”, ou seja, pessoas nascidas no território colonial.
É importante dizer que as mulheres, assim como os indígenas e negros, tiveram grande parte de suas histórias negligenciada e esquecida durante esse período. Mesmo assim, a historiografia contemporânea já trabalha narrativas que contam a história de personalidades importantes durante o período colonial.
Um nome que ficou conhecido é o de Chica da Silva (1732-1796), natural da região de Minas Gerais e ex-escrava alforriada que ganhou destaque no Arraial do Tijuco, atual Diamantina. Há também a interessantíssima história de Rosa Maria Egipciáca da Vera Cruz, que, sendo escrava e tendo se alfabetizado sozinha, escreveu a obra mais antiga de uma autora negra brasileira, a Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas.
Revoltas coloniais
Durante o Período Colonial no Brasil, uma série de interesses divergentes deu origem a diversas revoltas. Há, inclusive, uma forma de se referir, na historiografia, a esses conflitos: movimentos nativistas. Dentre essas revoltas, podemos citar: a Insurreição Pernambucana (1645-1654), Revolta de Beckman (1684) Guerra dos Emboabas (1708-1709), Guerra dos Mascates (1710), Conjuração Mineira (1789), Conjuração Baiana (1798), entre outras.
Um dos motivos que também puxavam o tom de insatisfação dos rebeldes nativistas com a Coroa era o Pacto Colonial, ou Exclusivo Comercial Metropolitano, que determinava que a metrópole, Portugal, seria beneficiada com as atividades econômicas de suas colônias sem a possibilidade de livre comercialização. Tudo isso foi fundamental para o processo de Independência do Brasil, que aconteceu em 1822.
Crise do sistema colonial
A crise do sistema colonial explica-se por uma série de fatores inter-relacionados. Naquele momento, a Inglaterra despontava-se como a principal potência econômica do mundo, sobretudo pela ‘revolução silenciosa’ que o novo sistema industrial estabelecia e que Portugal tardou a se adaptar.
Surgiu uma nova força de trabalho baseada no trabalhador assalariado, e a escravidão passou a ser cada vez mais uma instituição condenada pelos países europeus. Ao mesmo tempo, ainda na segunda metade do século XVIII, colônias inglesas e francesas começaram a iniciar seus processos de independência, o que se alastrou por toda a América Latina durante o século XIX.
Apesar da letargia em que essas transformações ocorreram no Brasil Colônia, suas consequências foram cruciais para o fim do seu ciclo. Após Napoleão ameaçar invadir Portugal e, consequentemente, ocorrer a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, uma série de interesses locais, somada às transformações de ordem econômica, social e cultural que estavam em processo, entre outros fatores, acabou promovendo o fim do ciclo mais duradouro, até agora, da História do Brasil.
Publicado por: Túlio Queiroz
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Resumo - O Iluminismo - Pensadores e características
O Iluminismo foi um movimento intelectual que surgiu durante o século XVIII na Europa, que defendia o uso da razão (luz) contra o antigo regime (trevas) e pregava maior liberdade econômica e política.
Este movimento promoveu mudanças políticas, econômicas e sociais, baseadas nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.
O Iluminismo tinha o apoio da burguesia, pois os pensadores e os burgueses tinham interesses comuns.
Iluminismo: características.
As críticas do movimento ao Antigo Regime eram em vários aspectos como:
- Mercantilismo.
- Absolutismo monárquico.
- Poder da igreja e as verdades reveladas pela fé.
Com base nos três pontos acima, podemos afirmar que o Iluminismo defendia:
- A liberdade econômica, ou seja, sem a intervenção do estado na economia.
- O Antropocentrismo, ou seja, o avanço da ciência e da razão.
- O predomínio da burguesia e seus ideais.
As ideias liberais do Iluminismo se disseminaram rapidamente pela população. Alguns reis absolutistas, com medo de perder o governo - ou mesmo a cabeça -, passaram a aceitar algumas ideias iluministas.
Estes reis eram denominados Déspotas Esclarecidos, pois tentavam conciliar o jeito de governar absolutista com as ideias de progresso iluministas.
Alguns representantes do despotismo esclarecido foram: Frederico II, da Prússia; Catarina II, da Rússia; e Marquês de Pombal, de Portugal.
Alguns pensadores ficaram famosos e tiveram destaque por suas obras e ideias neste período. São eles:
John Locke : Considerado o “pai do Iluminismo”. Sua principal obra foi “Ensaio sobre o entendimento humano”, aonde Locke defende a razão afirmando que a nossa mente é como uma tábula rasa sem nenhuma ideia.
Defendeu a liberdade dos cidadãos e Condenou o absolutismo.
Voltaire : François Marie Arouet Voltaire destacou-se pelas críticas feitas ao clero católico, à inflexibilidade religiosa e à prepotência dos poderosos.
Montesquieu: Charles de Secondat Montesquieu em sua obra “O espírito das leis” defendeu a tripartição de poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário.
No entanto, Montesquieu não era a favor de um governo burguês. Sua simpatia política inclinava-se para uma monarquia moderada.
Rousseau : Jean-Jacques Rousseau é autor da obra “O contrato social”, na qual afirma que o soberano deveria dirigir o Estado conforme a vontade do povo. Apenas um Estado com bases democráticas teria condições de oferecer igualdade jurídica a todos os cidadãos. Rousseau destacou-se também como defensor da pequena burguesia.
Quesnay : François Quesnay foi o representante oficial da fisiocracia. Os fisiocratas pregavam um capitalismo agrário sem a interferência do Estado.
Adam Smith : Adam Smith foi o principal representante de um conjunto de ideias denominado liberalismo econômico, o qual é composto pelo seguinte:
- o Estado é legitimamente poderoso se for rico;
- para enriquecer, o Estado necessita expandir as atividades econômicas capitalistas;
- para expandir as atividades capitalistas, o Estado deve dar liberdade econômica e política para os grupos particulares.
A principal obra de Smith foi “A riqueza das nações”, na qual ele defende que a economia deveria ser conduzida pelo livre jogo da oferta e da procura.
Como referenciar: "Resumo - O Iluminismo - Pensadores e características" em Só História. Virtuous Tecnologia da Informação, 2009-2020. Consultado em 25/06/2020 às 23:42. D https://www.sohistoria.com.br/resumos/iluminismo.phpisponível na Internet em
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REVOLUÇÃO FRANCESA: ETAPAS, CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS.
Em 1789, acontecia na França a revolução que marcaria o fim da Idade Moderna e início da Idade Contemporânea. A Revolução Francesa causou a queda de uma monarquia, o enfraquecimento da Igreja e o fim da aristocracia. Entretanto, essa foi apenas uma das revoluções que ocorreram no mundo entre os séculos XVIII e XIX, mas por que ela é considerada um marco da história francesa e mundial?
Vamos entender, mas para isso, primeiro precisamos compreender o que não ia bem no reino da França em 1789 para que a revolução acontecesse. Veremos que durante as décadas anteriores à Revolução, alguns fatores sociais, políticos e econômicos serviram de fagulhas para o “espírito da Revolução” e foram essenciais para culminar nos acontecimentos que conhecemos como a “Revolução Francesa”.
As causas da Revolução Francesa
A Revolução Francesa não aconteceu sem aviso na história da França, tampouco a forma de pensar que norteou os ideais dos revolucionários surgiu do dia para a noite. Entretanto, nem Luis XVI nem a Igreja estavam preparados para o que se iniciou em 1789 e se estendeu até o último ano do século XVIII. Podemos mencionar 4 como sendo as causas principais da revolução:
O pensamento iluminista;
A influência da Revolução Americana na economia e no imaginário da França;
A desigualdade entre diferentes grupos sociais;
Uma grande crise econômica que gerou fome e mortes.
Todas essas razões estão ligadas entre si, mas vamos entender o que foi cada uma.
O Iluminismo e o Século das Luzes
O Século das Luzes, como ficou conhecido o século XVIII, foi um período com grandes mudanças na forma como as pessoas por toda a Europa lidavam com o conhecimento, e foi o momento do despertar de uma das correntes de pensamento mais importantes da história: O Iluminismo.
O Iluminismo surgiu no começo do século, e teve grande influência sobre os intelectuais e a burguesia daquele período em toda a Europa. Esse movimento defendia valores do humanismo e da razão, colocando o ser humano e a busca pelo conhecimento científico como as fontes das quais deveriam emanar todo o poder e as decisões da sociedade. No pensamento iluminista, não havia mais espaço para monarcas com poderes absolutos nem para a crença religiosa como a fonte para justificar estruturas de poder.
Os ideais iluministas eram disseminados facilmente por todo o país, com textos circulando por gazetas e folhetins. Essa corrente de pensamento prosperou entre os intelectuais da Europa desde a França, com pensadores como Voltaire, Jean-Jacques Rousseau, e Mostesquieu, até a Itália, Alemanha e Inglaterra, onde viveu John Locke, o “pai do Liberalismo”. Esses nomes são conhecidos até hoje como baluartes da liberdade e dos direitos individuais dos cidadãos.
A influência da Revolução Americana
A segunda metade do século XVIII não foi marcada apenas pela Revolução Francesa, mas por uma série de revoltas e revoluções ao redor do continente europeu e na América. Antes de a revolução na França começar em 1789, a mais notável havia sido a Revolução de Independência das colônias americanas.
Essa revolução foi apoiada por Luis XVI, que enviou tropas francesas para ajudar George Washington e companhia na empreitada americana de se tornar independente da Grã-Bretanha, o principal rival político e econômico da França naquele período. A empreitada francesa, apesar de bem vista pela população, trouxe um prejuízo financeiro e dívida tão grandes para a coroa que obrigou Luís XVI a fazer sucessivos aumentos de impostos ao longo das décadas de 1770 e 1780, período em que a França já passava por uma grande crise econômica, que veremos em breve.
A Revolução Americana foi importante também por um motivo simbólico: fortalecer no imaginário dos franceses os ideais de liberdade e de igualdade entre cidadãos, em sintonia com o pensamento iluminista da época. Porém, esses desejos cada vez mais claros do povo francês se chocavam com uma barreira poderosa: a divisão brutal da sociedade em grupos, alguns com muitos privilégios, e outro com nenhum. Esses grupos eram chamados de Estados.
Os três Estados na França
A França era uma superpotência europeia no fim do século XVIII, com uma população de aproximadamente 25 milhões de habitantes e uma das monarquias mais vitoriosas do continente. Entretanto, existia uma desigualdade latente entre nobres, membros da Igreja, burgueses e camponeses, e essa desigualdade existia por meio da existência de três ordens hierárquicas distintas, conhecidas como Primeiro, Segunda e Terceiro Estados.
O Primeiro Estado
O Primeiro Estado francês era composto pelo clero da Igreja Católica, que ao longo da Idade Média exerceu uma hegemonia religiosa e política na França com poderes comparáveis aos do rei. Uma figura de destaque que representa bem o quão forte eram os membros da Igreja é o Cardeal de Richelieu, que no início do século XVII, como ministro do rei Luis XIII, liderou os exércitos da França em guerras por todo do continente, como a Guerra dos Trinta Anos.
Mas o clero não contava apenas com o poder de influenciar o rei em suas decisões, a Igreja também era proprietário de mais de 20% das terras da França e detinha uma fortuna significativa em ouro e outros bens.
O Segundo Estado
A nobreza compunha o Segundo Estado francês, e era formada pelos aristocratas. Esse grupo estava em decadência antes de a revolução começar, pois vinham de uma tradição feudal de vassalagem que estava se dissolvendo conforme os camponeses se tornavam livres e deixavam as terras dos senhores. Essa aristocracia, que baseava seu poder em títulos e influência por meio de cargos públicos, representava algo que a revolução queria derrubar: os privilégios.
O Terceiro Estado
“O que é o Terceiro Estado? – Tudo.
O que ele tem sido até agora na política da França? – Nada.
O que ele quer? – Quer ser algo.”
É com essas três frases que o escritor francês Emmanuel Joseph Sievès (03/05/1748 – 20/06/1836) iniciou seu tratado pré-revolucionário sobre o que era o Terceiro Estado. Mas você já consegue imaginar quais cidadãos faziam parte desse grupo?
O Terceiro Estado era composto pela burguesia que estava nascendo na França naquele período, pelos trabalhadores das cidades e pelos camponeses, sendo que esses últimos correspondiam a quase 80% do total da população francesa.
Sugestão: Se você tiver alguma dúvida sobre o termo burguesia, pode acessar esse conteúdo sobre quem é e qual a origem da burguesia.
Os burgueses estavam em um momento de ascensão na França durante o século XVIII, com o fim do regime feudal e o início da urbanização. Essas pessoas eram, em sua maioria, comerciantes e empresários, e viviam nos centros urbanos franceses como Lyon, Bourdeaux, Marselha e Paris. Uma outra parcela desse grupo social, também muito importante para a Revolução, eram os intelectuais, acadêmicos, advogados e médicos, conhecidos como a ‘baixa burguesia’.
A burguesia estava se tornando economicamente relevante na França nos anos pré-revolução, mas não via esse mesmo crescimento acontecer com o poder político. Antoine Barnave, um dos nomes mais importantes da Revolução, disse em certo momento que “Uma nova distribuição da riqueza pressupõe uma nova distribuição do poder“. Os burgueses ainda eram sub representados na corte, e viam a aristocracia como uma inimiga, uma vez que esta continuava tendo privilégios fiscais e políticos garantidos pelo regime, mesmo tendo cada vez menos relevância na economia.
Os camponeses, por sua vez, eram as pessoas sobre as quais recaiam a maior parte dos impostos, as vezes tendo de entregar até um décimo de suas colheitas. Com o enfraquecimento do feudalismo e do regime de servidão, os camponeses passaram a trabalhar no campo para produzir para si próprios, e no século XVIII, o trigo era o produto mais importante para a economia francesa, e em especial, a principal fonte de alimentos para quem vivia no interior e nos campos.
Dá pra imaginar que uma crise na produção de trigo seria catastrófica, e foi exatamente isso que aconteceu.
A crise econômica da França
‘Se não têm pão, que comam brioches”. Essa frase é atribuída à rainha Maria Antonieta, e embora provavelmente nunca tenha sido dita de fato, representa bem a situação em que a população francesa se encontrava em 1789 e a visão que a nobreza tinha sobre ela.
Durante as décadas de 1770 e 1780, a França passou por uma grande estiagem, o que gerou uma diminuição significativa das colheitas de trigo e outros cereais, que eram a principal fonte de alimento dos camponeses. Essa crise, em conjunto com os sucessivos aumentos de impostos sofridos apenas pelos mais pobres, causou um estado de miséria entre camponeses e trabalhadores das cidades no país. Houve muitas mortes por inanição e saqueamentos, além de conflitos nas ruas por comida.
Essa situação obrigou o rei Luís XVI a tomar uma atitude para tentar resolver a crise dos Franceses. A decisão do rei foi convocar a Assembleia dos Estados Gerais. Essa Assembleia é considerada o ponto sem volta para as mudanças que estavam por vir, e se ela não tivesse sido convocada, talvez a Revolução não ocorresse. Ficou curioso para saber o que foi esse grande evento?
A Revolução
Assembleia dos Estados Gerais
Durante mais de duzentos anos (desde 1614) os monarcas franceses não se utilizaram do seu poder de convocar uma assembleia que reunisse os três estados para deliberar sobre a política e economia da França. Foi Luís XVI quem decidiu fazer essa convocação em 1789 para reunir e consultar representantes dos três estados para solucionar a crise.
A Assembleia foi marcada para ter início em 1 de Maio, e contava com 1200 delegados, sendo metade deles representantes do Terceiro Estado, que era composto por mais de 90% da população. Uma das votações mais importantes que a Assembleia realizaria seria sobre um novo aumento de imposto. O Clero e a nobreza queriam realizar a votação de forma que cada Estado tivesse um voto, para que pudessem votar juntos e se manter isentos. Já os representantes do Terceiro Estado entendiam que suas chances de conseguir se opor à elite aristocrática só seria possível se a assembleia seguisse a lógica de cada deputado ter um voto.
A aristocracia venceu, e por dois votos a um, foi decidido que o terceiro Estado sofreria um aumento de impostos, enquanto os demais permaneceriam isentos.
Na manhã do dia 20 de Junho, com mais de um mês e meio de Assembleia disputas contínuas entre os grupos votantes, os deputados do Terceiro Estado tiveram uma surpresa ao chegar para a assembleia no palácio de Versalhes e encontrar as portas trancadas para sua entrada. Os deputados então invadiram uma sala secundária do palácio, que servia de espaço para jogo de pela, e declaram que só sairiam dali quando tivessem em mãos uma Constituição do Estado Francês. Esse evento ficou conhecido como o Juramento do jogo de pela, e naquele dia, os deputados do Terceiro Estado se autodeclararam a Assembleia Nacional Constituinte da França.
Luís XVI, aparentemente rendido pelas exigências dos representantes do terceiro estado, aos quais haviam se juntado também alguns membros do clero e da nobreza, decidiu por acatar a exigência dos deputados. Entretanto, ao mesmo tempo em que a assembleia acontecia no palácio próximo a Paris, o exército da coroa se preparava na capital para suprimir a assembleia e os representantes.
A população parisiense, alerta para a tentativa de Luís XVI, se rebelou contra as forças do rei. Liderados pela Milícia de Paris, um grupo composto por guardas e membros da burguesia, os parisienses invadiram o Hospital dos Inválidos de Paris, onde saquearam armas e equipamentos de combate e partiram para a fortaleza da Bastilha, onde se armazenava a pólvora da cidade.
Nesse momento, ocorreu o que se pode chamar de o início definitivo da Revolução: a queda da Bastilha.
A queda da Bastilha
No dia 14 de Julho de 1789, a população de Paris tomou a prisão da Bastilha. Ainda hoje, o dia 14 de Julho é o principal feriado nacional e motivo de comemorações na França. Mas o que era a Bastilha?
A Bastilha de Saint-Antoine, ou simplesmente Bastilha, foi uma fortificação que durante quatro séculos esteve localizada no centro de Paris. A partir do século XV, a Bastilha passou a funcionar como uma prisão para onde eram enviados tanto prisioneiros de guerra quanto pessoas acusadas de crimes contra a monarquia, como panfletagem e publicação de sátiras.
A fortificação representou, durante todo o período em que funcionou como uma prisão, o poder absoluto da monarquia de prender e torturar prisioneiros sem julgamento ou direito a defesa. Muitos prisioneiros morriam de fome e frio nos calabouços da fortificação após serem presos por ordens do rei. Apesar de representar um símbolo do absolutismo francês, em 1789 a Bastilha servia mais como uma depósito de pólvora e armamentos do que como uma prisão, e foi por conta dessas armas que ela foi tomada e saqueada pelos revolucionários.
A queda da Bastilha foi rápida e a fortificação foi incendiada. Houve mortos no confronto entre população e guardas, entre eles o diretor da prisão, que foi decapitado e teve sua cabeça exposta em toda a cidade pelos revolucionários.
Nos dias seguintes à tomada da bastilha, o rei cede à pressão da população francesa e aceita a criação de uma Assembleia Constituinte Nacional, formada pelas deputados presentes na Assembleia dos Estados Gerais, que serão responsável por criar a constituição da França. O país passa então a ser uma monarquia constitucional. Esse documento ficou conhecido como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
A declaração contava com 17 artigos que definiam os ‘direitos naturais’ dos cidadãos, como a liberdade de expressão e de crença religiosa, e delimitavam os poderes dos governantes e agentes do Estado. O primeiro e mais conhecido artigo da declaração dizia:
“Os homens nascem iguais e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundar-se na utilidade comum”.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, diferente das que já haviam surgido na Inglaterra e Estados Unidos pós-independência, descrevia os direitos universais dos cidadãos. Não apenas os franceses, e não apenas os franceses que viviam naquela época, mas todos os cidadãos de todos os lugares em todas as épocas.
Nesse momento, alguns grupos de representantes do povo começaram a se destacar dentro da assembleia, sendo dois deles fundamentais para o desenrolar da Revolução. Você já deve ter ouvido os nomes, mas sabe o que cada um deles defendia?
Jacobinos e Girondinos
Os Girondinos eram da alta burguesia, composta por empresários e comerciantes. Esse grupo queria uma reforma com foco no liberalismo econômico e no fim das isenções de impostos e privilégios dos nobres. Eram conhecidos pela moderação nas pautas que defendiam, contrários ao uso da violência e defensores da monarquia constitucional.
Os Jacobinos, por sua vez, eram a baixa burguesia. Esse grupo era formado principalmente por intelectuais, advogados, trabalhadores da justiça e médicos. Os Jacobinos eram considerados mais radicais e queriam uma revolução mais profunda, com reformas econômicas e fiscais, mas também políticas, sendo que alguns deles defendiam a erradicação total da monarquia constitucional que se instaurou, para criar um regime republicano.
Girondinos se sentavam à direita na Assembleia, e jacobinos à esquerda. Essa divisão foi o origem do que definimos hoje como esquerda e direita.
A Revolução Francesa contra a Igreja
Uma das primeiras ações dos deputados da assembleia constituinte contra a Igreja Católica foi confiscar e nacionalizar as terras do clero, que equivaliam a 20% do território francês, e a transformar os padres em funcionários do Estado Francês, submissos às decisões da assembleia e com o dever de prestar juramento de fidelidade ao rei, à França e à lei.
Mas os revolucionário não queriam apenas combater o poder político e econômico da Igreja, e sim erradicar qualquer resquício de tradição católica do país. Foram realizadas mudanças profundas, entre elas a substituição do calendário gregoriano por um calendário revolucionário em que os meses eram definidos com base nas estações do ano, e no qual o ano I era 1793, ano de nascimento da república francesa. Os domingos também foram abolidos, por serem dias destinados à adoração cristã.
O fim da monarquia na França
Entre 1789 e 1791 existiu na França um regime de monarquia constitucional, no qual o rei permanecia como o monarca, mas na prática não tinha mais o poder de legislar. Durante esse período, a ordem política francesa se manteve relativamente estável, até que na noite de 20 de Junho de 1791, a família real francesa realizou uma tentativa de fuga da França com a ajuda de outros monarcas europeus, entre eles o Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Leopoldo II, irmão de Maria Antonieta. A intenção de Luís XVI e seus aliados era reunir forças estrangeiras para retomar a França dos revolucionários.
O plano não funcionou e os fugitivos foram descobertos durante a viagem e enviados novamente para Paris. Com o fracasso da tentativa, monarcas de toda a Europa, da Prússia (atual Alemanha) à Rússia, iniciaram ataques às fronteiras francesas, pois passaram perceber a revolução como uma ameaça para seus próprios países, se ela se mostrasse vitoriosa na França. Os franceses, por sua vez, estavam divididos e seus exércitos desgastados. A guerra devastou as cidades de fronteira da França, e foi o motivo derradeiro para a população de Paris decidir por derrubar a monarquia, que estava atuando contra os interesses franceses na guerra.
No dia 10 de Agosto de 1792, os parisienses, liderados por um grupo de revolucionários conhecidos como sans-culottes, tomaram o palácio das Tulherias, onde vivia a família real, e nesse momento, a monarquia francesa acabava de vez, dando lugar à república, proclamada no dia 21 de Setembro. Luís XVI e Maria Antonieta foram presos por alta traição.
A execução de Luís XVI e o regime do terror
A Assembleia Nacional, que era eleita por meio de sufrágio censitário, deu lugar à Convenção, uma assembleia eleita por sufrágio semi-universal, onde qualquer homem poderia votar, independente de sua renda; mulheres, entretanto, não poderiam. As reuniões da Convenção foram marcadas pelos embates cada vez mais acirrados entre girondinos e jacobinos. O primeiro desses embates se referia a qual deveria ser o destino de Luís XVI e sua família. Girondinos defendiam que a família real fosse exilada, ao passo que os jacobinos entendiam que apenas a execução da monarquia livraria a França da ameaça de um retorno do absolutismo. Estes últimos venceram, e no dia 21 de Janeiro de 1793, Luís XVI foi executado na guilhotina.
Os conflitos entre jacobinos e girondinos não cessaram nesse ponto, na verdade eles se intensificaram. Os girondinos estavam com medo das proporções que a Revolução e que os movimentos populares como os sans-culottes estavam tomando, e pediam o fim da Revolução, uma vez que haviam alcançado suas reivindicações pela liberdade econômica e fim da aristocracia; mas os jacobinos acreditavam que o fortalecimento dos movimentos populares era essencial para que uma revolução profunda ocorresse. O auge desse conflito foi a prisão de boa parte dos deputados girondinos, em Junho de 1793.
Esse golpe de Estado deu início ao regime do terror na França, e desencadeou uma guerra civil por todo o país. Foi instaurado pelos deputados jacobinos, nesse momento, um comitê de salvação nacional, que se utilizava do terrorismo de Estado para conter manifestações e insurreições e praticar execuções em massa por todo o país. Entre trinta e cinquenta mil pessoas foram mortas nesse período.
O Regime do terror, liderado pelo jacobino Maximilien de Robespierre, não poupou adversários políticos assim como não poupou aliados. Robespierre, o ‘Incorruptível’, deu continuidade a uma agenda de reformas econômicas e culturais na França, ora se aliando a deputados revolucionários, ora a deputados de centro. Seu poder dentro da Convenção se deteriorou rapidamente e resultou em sua queda.
10 de Termindor e a chegada de Napoleão
Termidor foi o nome dado pelos revolucionários aos meses de Julho e Agosto, e em 10 de Termidor do ano II da Revolução (que corresponde a 28 de Julho de 1794, segundo ano do calendário revolucionário) foi executado na guilhotina Maximilien de Robespierre, o principal líder jacobino e um dos grandes nomes da Revolução e comandante do regime do terror.
No período posterior à queda de Robespierre e dos Jacobinos, o diretório passou a ser dominado pelos girondinos, e durante os cinco anos seguintes, os deputados conseguiram avançar com pautas de incentivo à liberdade econômica e com uma série de vitórias militares na Europa, em especial na Itália e na Áustria.
Em 1799 a população francesa volta a eleger maioria de jacobinos para a Convenção. Essa volta da esquerda francesa ao poder causa temor em girondinos e burgueses, e em conjunto, estes dois grupos apelam para um novo golpe de Estado. Mas desta vez não para tomar o poder, e sim para sede-lo a um novo monarca. E não havia ninguém melhor do que o astuto comandante militar responsável pelas vitórias francesas no exterior: Napoleão Bonaparte.
Em 18 de Brumário do ano VIII (9 de Novembro de 1799), Napoleão toma o poder por meio de um golpe militar e se declara cônsul da França. Esse golpe tem o apoio da burguesia, que enxerga em Napoleão um aliado de seus interesses econômicos. Nesse momento termina a Revolução Francesa.
REFERÊNCIAS
https://www.politize.com.br/revolucao-francesa/
1. Alexis de Tocqueville – O Antigo Regime e a Revolução (1856);
2. Emmanuel J. Sieyès – O que é o Terceiro Estado;
3. Info Escola – Revolução Francesa
4. FURET, François – Ensaios sobre a Revolução Francesa
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Primeiro Reinado
O Primeiro Reinado é um período que se estendeu de 1822 e 1831, sendo a fase em que d. Pedro I foi imperador do Brasil. Esse momento de nossa história iniciou-se com a declaração de independência, em 7 de setembro de 1822. A fase de consolidação do Brasil como nação independente durou até 1825, quando Portugal reconheceu a autonomia do nosso território.
A primeira Constituição do Brasil foi outorgada em 1824, em um processo que gerou muito atrito entre imperador e parlamentares. O Primeiro Reinado ainda sofreu com os impactos da Guerra da Cisplatina, conflito que resultou na independência do Uruguai, e da Conferência do Equador. Desgastado, d. Pedro I abdicou do trono em 1831.
Independência do Brasil
Dom Pedro I encabeçou a independência do Brasil e foi imperador de nosso país de 1822 a 1831.
O Primeiro Reinado é, antes de tudo, o resultado da independência do Brasil, em 1822. É bastante conhecido que emancipação brasileira deu-se quando d. Pedro I deu o grito de independência às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo. A consolidação da independência ainda se arrastou por alguns anos, conforme veremos.
De toda forma, esse processo é resultado das transformações que aconteciam na Europa, do enfraquecimento de Portugal e das tentativas de recolonização do Brasil realizadas pela elite portuguesa durante a Revolução Liberal do Porto. Para entendermos esse processo, mesmo que brevemente, temos de retornar a 1808.
Esse ano ficou marcado pela chegada da Coroa portuguesa ao Brasil para fugir das tropas francesas que invadiram Portugal no final de 1807. A transferência da Corte para o Rio de Janeiro trouxe mudanças significativas para o Brasil, tanto do ponto de vista econômico quanto do político.
O Brasil passou a gozar de uma maior liberdade econômica por causa da abertura dos portos anunciada em 1808, a ter um cenário científico e cultural mais próspero, e, desde 1815, por ordem de d. João (tornou-se d. João VI só em 1816), tornou-se parte integrante do reino. Isso significou que o Brasil deixava a posição de colônia.
As relações entre Brasil e Portugal mudaram drasticamente com o início da Revolução Liberal do Porto. Essa revolução da burguesia portuguesa tinha como grande objetivo reorganizar Portugal em uma monarquia constitucional. As duas grandes demandas dos portugueses eram o retorno de d. João VI para Portugal e a reversão de medidas em benefício do Brasil durante o Período Joanino.
Isso foi interpretado como uma tentativa dos portugueses de recolonizar o Brasil. As relações entre os representantes portugueses e as elites brasileiras tornaram-se ruins ao ponto de d. Pedro, filho de d. João VI, ter sido alçado à condição de líder do processo de independência.
D. Pedro sofreu pressão para que também retornasse a Portugal, assim como seu pai, mas, apoiado pelas elites brasileiras, decidiu ficar em janeiro de 1822. A partir daí, o desgaste foi acelerado e as decisões tomadas por d. Pedro ou pelas Cortes em Portugal só ampliaram o fosso entre brasileiros e portugueses.
Em setembro, a situação ficou insustentável, e d. Pedro declarou a independência, sendo coroado imperador em dezembro daquele ano. Para saber mais sobre esse processo tão importante para a história brasileira, leia: Independência do Brasil.
Guerras de independência
A independência do Brasil foi declarada em 1822, mas a situação só se estabilizou internamente durante o fim do ano de 1823. Isso porque, apesar de a maioria das províncias ter apoiado o movimento, houve, em algumas regiões, uma resistência. Os estados que resistiram permaneceram leais a Portugal, o que levou a conflitos armados.
As províncias que permaneceram leais a Portugal foram: Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Bahia e Cisplatina. As tropas que lutavam pela independência contaram com a ação de dois importantes estrangeiros: o oficial francês Pedro Labatut, responsável por mobilizar tropas terrestres, e o lorde Cochrane, inglês que liderou embarcações brasileiras contra as portuguesas.
As duas maiores resistências foram organizadas na Bahia e na Cisplatina, e as tropas leais a Portugal só foram derrotadas nesses locais em julho e novembro de 1823, respectivamente. Depois de resolvidas as questões internas, o caminho era o de garantir o reconhecimento internacional.
Reconhecimento internacional da independência
Um passo importante na consolidação da independência do Brasil era o de garantir seu reconhecimento internacional. Portugal, naturalmente, impôs muita resistência em aceitar a nova situação e só o fez via mediação da Inglaterra, grande interessada em garantir que o Brasil permanecesse como nação independente.
Os portugueses só aceitaram a emancipação brasileira em 1825, além de terem recebido uma indenização de dois milhões de libras (dinheiro que o Brasil pegou emprestado da Inglaterra) e uma garantia de que a ex-colônia não incentivaria a independência das colônias portuguesas na África.
Os ingleses, por sua vez, exigiram que, pelos serviços prestados e pelo reconhecimento da independência, o Brasil deveria manter os acordos comerciais estabelecidos no Período Joanino (muitos favoráveis aos comerciantes ingleses) e deveria assumir um compromisso de acabar com o tráfico negreiro.
Os Estados Unidos foram, oficialmente, o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil. O reconhecimento norte-americano aconteceu em maio de 1824 e foi a forma encontrada pelos EUA para colocarem em prática a sua política de combate à influência europeia no continente americano.
A historiografia tradicional brasileira afirma que a reação inicial das nações sul-americanas foi a de não referendar a independência por conta do regime instalado aqui ter sido uma monarquia. No entanto, um estudo conduzido por Rodrigo Wiese Randig aponta evidências de que o reconhecimento argentino aconteceu em 25 de junho de 1823|1|. Isso, supostamente, colocaria os argentinos como os primeiros a reconhecerem nossa emancipação e não os norte-americanos, como é tradicionalmente conhecido. Caso queira aprofundar-se nesse momento histórico de pacificação e aceitação territorial, leia: Reconhecimento da independência do Brasil.
Por que o Brasil tornou-se uma monarquia?
Logo após a independência, o Brasil organizou-se com uma monarquia. Essa transformação foi praticamente imediata, tanto que, em outubro, d. Pedro foi aclamado imperador e, em dezembro, foi coroado como d. Pedro I. O caso brasileiro foi o único na América do Sul, pois todas as nações sul-americanas que conquistaram a sua independência converteram-se em repúblicas.
No caso da América Latina, houve experiências monárquicas no México e no Haiti, mas em ambos elas foram curtas. O Brasil foi, portanto, o único país na América Latina que teve de maneira consistente e duradoura uma monarquia. Os fatores para isso são variados e o entendimento dos historiadores a respeito é diverso.
As historiadoras Lília Schwarcz e Heloísa Starling definem que a opção da monarquia em vez da república no Brasil aconteceu pela junção de três fatores|2|:
Temia-se que a escolha pela república pudesse ter o mesmo efeito que teve na América Espanhola e gerasse fragmentação territorial;
A elite brasileira tinha sido criada na tradição monárquica portuguesa e, portanto, as ideias de república não tinham muita força;
Temia-se que a escolha pela república pudesse causar grandes transformações no status quo.
Outros estudos apontam também que a proximidade geográfica entre as grandes cidades brasileiras (todas litorâneas), a homogeneidade cultural das suas elites e presença da Corte portuguesa no Brasil, entre 1808 e 1822, tenham contribuído para a coesão territorial do Brasil e pelo forte apoio ao modelo monárquico.
Além disso, há que se levar em consideração que a formação cultural e as diferenças nas colônias da América Espanhola eram muito diferentes. As grandes distâncias territoriais entre as maiores cidades, a existência de universidades que possibilitavam a circulação de ideias, as diferenças das elites hispânicas e o enfraquecimento da Coroa espanhola no século XIX foram fatores que contribuíram para que a república ganhasse força nas antigas colônias espanholas|3|.
Principais acontecimentos do Primeiro Reinado
Cisplatina, província brasileira que foi palco da Guerra da Cisplatina (1825-1828). Conquistou sua independência, tornando-se o Uruguai.
Ao longo de quase nove anos de Primeiro Reinado, importantes acontecimentos passaram-se no Brasil. No aspecto político, a montagem do país passava obrigatoriamente pela elaboração de uma Constituição. Para isso era necessário a convocação de eleição para a escolha de deputados e a formação de uma Assembleia Constituinte.
Constituição de 1824
A Constituinte iniciou seus trabalhos em maio de 1823, e a relação entre deputados e o imperador desgastou-se ao longo desse processo. Isso porque d. Pedro queria a montagem de uma Constituição que centralizasse o poder nele, e os parlamentares defendiam uma monarquia constitucional em que eles realizassem o papel de moderadores do poder imperial.
Os constituintes apresentaram um projeto de Constituição que ficou conhecido como Constituição da Mandioca, mas ele não agradou d. Pedro I. O imperador então mandou tropas cercarem a Assembleia Constituinte em 12 de novembro de 1823. A assembleia foi dissolvida e d. Pedro I autorizou que uma nova Constituição fosse elaborada.
Em 25 de março de 1824, a primeira Constituição brasileira foi outorgada. Ela nasceu do autoritarismo de d. Pedro I e seu desejo pela centralização do poder. O documento ficou caracterizado por reforçar o poder do imperador, que era inimputável e tinha poderes acima de todas as outras instâncias por meio do Poder Moderador.
A dissolução da Assembleia Constituinte foi o primeiro ato que fez com que d. Pedro I perdesse influência entre os grandes nomes da política brasileira. A impopularidade do imperador foi aumentando-se conforme ele mantinha o seu caso extraconjugal com a Marquesa de Santos, além disso, dois outros eventos tiveram influência em minar seu poder, os quais serão pontuados a seguir. Para saber mais sobre nossa primeira Carta Magna, leia: Constituição de 1824.
Confederação do Equador
O Nordeste era uma das regiões mais insatisfeitas com o autoritarismo de d. Pedro I, e a dissolução da Assembleia Constituinte gerou um grande ressentimento na região a ponto da Câmara de Olinda anunciar que não reconheceria a Constituição de 1824. Além disso, houve desentendimentos entre a elite pernambucana e o imperador a respeito da nomeação de um governador para a província.
Pernambuco era uma província historicamente marcada por rebeliões e agitação popular. O ressentimento com a forma que d. João VI tinha lidado com a Revolução Pernambucana de 1817 ainda estava vivo, e os desentendimentos com d. Pedro I reacenderam a insatisfação dessa província.
O resultado foi que, em 2 de julho de 1824, teve início a Confederação do Equador, uma rebelião de caráter republicano que ganhou todo o Nordeste. Liderada por Manoel de Carvalho Paes de Andrade e Frei Caneca, o levante espalhou-se pelo Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba, Piauí e Maranhão. A violenta reação de d. Pedro I fez com que os rebeldes fossem contidos e muito dos envolvidos fossem executados.
Guerra da Cisplatina
Um dos grandes erros estratégicos de d. Pedro I foi o seu envolvimento em um conflito com as Províncias Unidas do Prata (atual Argentina) pelo controle da Cisplatina — província mais ao sul do território brasileiro naquela época. O governo portenho incentivou uma rebelião, liderada por Juan Antonio Lavalleja, contra o governo brasileiro.
Brasil e Províncias Unidas entraram em guerra formalmente em dezembro de 1825 (embora a rebelião tenha sido iniciada em abril). A situação econômica brasileira não suportava o envolvimento do país em uma guerra, e o resultado acabou não sendo o esperado pelo imperador. A Guerra da Cisplatina foi desastrosa para o Brasil e para a reputação de d. Pedro I.
O Brasil acumulou derrotas no campo de batalha e sua situação econômica ficou ainda pior. O país precisou aceitar negociações com as Províncias Unidas pelo fim da guerra. Desse acordo, ambos territórios concordaram, em 1828, em reconhecer a independência da Cisplatina sob o nome de República Oriental do Uruguai.
Abdicação de d. Pedro I
A derrota na Guerra da Cisplatina teve um impacto muito negativo na reputação de d. Pedro. Seu estilo centralizador também criou muitos problemas, e, quanto mais acuado ficava, mais ele se aproximava do partido português, seu defensor. Os ânimos já estavam exaltados quando um crítico do imperador foi assassinado.
Em 1830, o jornalista italiano Líbero Badaró foi assassinado nas ruas de São Paulo. Ele era um forte crítico de d. Pedro I e usava o seu jornal O Observador Constitucional para explicitar o autoritarismo do imperador. Em 20 de novembro de 1830, Líbero Badaró foi morto na porta de sua casa, e boatos começaram a acusar o imperador de proteger o mandante do crime.
A situação política era tão tensa que defensores e apoiadores do imperador entraram em confronto físico nas ruas do Rio de Janeiro. Esses embates começaram em 11 de março de 1831 e duraram até o dia 16, ficando conhecidos como Noite das Garrafadas. A situação política ficou muito ruim a partir daí, e d. Pedro I, acuado, abdicou do trono em nome de seu filho, no dia 7 de abril de 1831. Se tiver maior curiosidade sobre esse movimento político, confira: Abdicação de d. Pedro I.
Notas
|1| RANDIG, Rodrigo Wiese. Argentina, primeiro país a reconhecer a independência do Brasil. Para acessar, clique aqui.
|2| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 223.
|3| Por que o Brasil continuou um só enquanto a América espanhola se dividiu em vários países? Para acessar, clique aqui.
Publicado por: Daniel Neves Silva
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/primeiro-reinado.htm
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