Vida Extraterrestre

No dia 30 de novembro de 2010, a NASA causou um alvoroço entre os fascinados com a possibilidade de vida em outros planetas, avisando que em 2 dias ia anunciar “uma descoberta em Astrobiologia de impacto na busca por evidências de vida extraterrestre.” Os rumores e exageros se espalharam na Internet como fogo em capim seco, mas para decepção de todos, o anúncio se revelou muito mais banal: cientistas da NASA, chefiados pela bióloga Dra. Felisa Wolfe-Simon, descobriram que uma bactéria encontrada no Lago Mono, nos EUA, é capaz que substituir o elemento fósforo em suas moléculas por arsênio. Além disso, os resultados do experimento foram imediatamente contestados por outros biólogos, que vêm problemas no método utilizado.

Se a descoberta for confirmada, ela significa que um dos requisitos, que se pensava necessário para a vida, pode ser flexibilizado. Todas as formas vivas que conhecemos na terra são formadas por apenas seis elementos químicos: carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre. Se um ser vivo pode sobreviver e até se desenvolver utilizando arsênio, que é do mesmo grupo que o fósforo na tabela periódica, mas normalmente é tóxico, então a vida pode existir em outros planetas, ou luas, em condições que antes todos achavam impossíveis (com exceção de certos autores de ficção científica). Essa conclusão se adiciona a inúmeras descobertas recentes de seres, chamados extremófilos, que vivem em condições extremas, antes consideradas incapazes de suportar vida, como por exemplo a altíssima salinidade e alcalinidade do Lago Mono, ou temperaturas de mais de 100°C e ausência de oxigênio em fontes termais abissais.

Essa cadeia de descobertas, sem dúvida, nos faz admirar cada vez mais a criação de Deus, por sua riqueza e complexidade. Mas o assunto que quero brevemente tratar aqui é a razão e a importância da busca de vida extraterrestre, que é parte da Astrobiologia. Essas não devem ser confundidas com a motivação dos cientistas. Perguntar a cientistas o que os motiva a passar noites em claro, repetir incansavelmente um experimento ou cálculo no computador, ser absolutamente minuciosos (alguns diriam “chatos”) em cada detalhe de sua pesquisa, é o mesmo que perguntar ao montanhista, porque ele escala a montanha. A resposta certa é: porque ela está lá.

A razão porque buscamos vida fora da terra é exatamente porque a vida na terra é tão uniforme. Características, como os seis elementos acima e o fato que todos os aminoácidos encontrados em seres vivos serem exclusivamente de uma categoria, dão a impressão de que toda a vida que encontramos até agora é do mesmo tipo. Por tudo o que sabemos hoje, não vamos encontrar uma forma de vida diferente aqui na terra. Por essa razão, os cientistas estão procurando uma forma vivente de outro tipo fora do nosso planeta. Descobertas, como a da Dra. Wolfe-Simon, ajudam a alargar essa busca, aumentando o número de lugares que podemos explorar com potencial para vida.

“Isso é tudo muito interessante”, você pode dizer, “mas qual a importância dessa busca? Porque investir talento, esforço e recursos, na sua maioria públicos, nessa pesquisa, quando existem outras prioridades maiores?” Essa é a clássica pergunta, com a qual todo cientista se defronta, a menos que sua pesquisa busque a cura de uma doença. Às vezes é difícil explicar, mas toda a pesquisa, desde que respeite princípios éticos, acaba beneficiando a humanidade, ainda que muito tempo depois. Um exemplo de pesquisa fundamental que parecia exótica e sem uso prático, há cem anos, é a física quântica (ainda parece exótica para mim hoje...). Quando os primeiros lasers foram montados em laboratório, nos anos sessenta, baseados nessa teoria física, eles foram chamados de “uma solução em busca de um problema”. Hoje, não resta nenhuma dúvida quanto aos benefícios do laser, tanto na medicina, como na comunicação e no dia-a-dia. Mas não os teríamos, se não tivéssemos investido em física pura 100 anos atrás. Assim também, a eventual descoberta de outras formas de vida pode nos ajudar a entender nosso próprio sistema biológico e possivelmente ajudar a curar certas doenças, por exemplo.

E, finalmente, como deve um(a) cientista ou aspirante de cientista cristã(o) encarar a possibilidade de vida extraterrestre. Pode-se argumentar que a uniformidade de vida na terra aponta para uma origem comum. Mas esse mesmo argumento pode ser usado, tanto em favor da criação divina (Hb 11.3), como pelos que não acreditam em Deus e advogam uma origem puramente física e material da vida. No entanto, nada impede que Deus tenha criado vida de um tipo diferente no mundo físico (afinal, Ele também criou anjos) e que tenha colocado esta outra forma vivente em outro planeta. Tudo o que sabemos é que Ele completou toda a criação, na terra e nos céus, em seis dias (Ex 20.11). Daí concluímos, que não há nenhuma contradição em princípio entre a Palavra de Deus e a existência de vida extraterrestre.

(Carlos Lange é cientista e professor de engenharia no Canadá e contribuiu para a sonda marciana Phoenix.)

(Publicado no Mensageiro Luterano, Março, 2011)