PSICOSE EM MASSA: Como uma sociedade inteira se torna MENTALMENTE DOENTE
O Emburrecimento Coletivo e a Superficialidade Moderna
Jessé Souza reveladas as raízes do pobre de direita no Brasil
Não importa o que eu acho, importa o que eu sei!
Para saber depende da tríade: TEMPO, ESFORÇO e aparato COGNITIVO funcionndo adequadamente.
Tríade
Tempo:Deixar de fazer coisas que todos fazem e estudar.
Esforço:Ler e reler ate entender, não no intuito de aquisição de status ou ganhar algo QUE NAO SEJA O ENTENDIMENTO DO OBJETO DE ESTUDO.
Cognição: Atua no processo psicológico da aquisição do conhecimento e se dá através da percepção, associação, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento.
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A lei de Brandolini, também conhecida como o princípio de assimetria da estupidez, é um aforismo segundo o qual "a quantidade de energia necessária para refutar a idiotice é uma ordem de grandeza maior do que a necessária para produzi-la"
https://jornalggn.com.br/artigos/lei-de-brandolini-quando-um-ti-produz-filosofia-pura/
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Gatilho Mental da Curiosidade
Click Bait
As 6 Necessidades Humanas
1. Necessidade de Segurança/Certeza
2. Necessidade de Diversidade/Aventura
3. Necessidade de Amor/Conexão
4. Necessidade de Significância
5. Necessidade de Fazer Progresso
6. Necessidade de Colaboração
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Pós-verdade. Que, segundo oDicionário Oxford (2016), é “um adjetivo relacionado ou evidenciado por circunstâncias em que fatos objetivos têm menos poder de influência na formação da opinião pública do que apelos por emoções ou crenças pessoais”. Ou seja, as pessoas acreditam naquilo que gostariam que fosse verdade, mesmo que não seja, tanto quanto se furtam a qualquer debate que as contradiga.
A força deste tipo de criação humana, voltada à manipulação do pensamento, tem sidocada vez mais percebida, principalmente em transformações práticas ocorridas no mundo, e que são, segundo comunicadores e estudiosos, reflexos do uso das redes de comunicação. Exemplos fartamente citados são: as eleições presidenciais nos EUA, em 2016, que elegeu Donald Trump; o Movimento do Brexit (Movimento de saída do Reino Unido da União Europeia), também em 2016; e as eleições presidenciais no Brasil, em 2018, que elegeu Jair Messias Bolsonaro. Em todos esses casos, o uso de Fake News e de campanhas difamatórias contra pessoas e instituições provocou verdadeiras guerras de opinião, acirramentos ideológicos, polarização política e, sobretudo, desinformação. Com tudo isto, o populismo, os discursos de ódio, a violência física e psicológica, a intolerância, ganharam cores destacadas, pintaram um quadro de retrocesso civilizatório.
https://www.paulofreire.org/download/eadfreiriana/E-book_Paulo_Freire_tempos_fake_news-2019.pdf
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Apelo à ignorância, à hipocrisia. Ridicularização, distorção de ideias, criação de falsos dilemas...detectar essas falácias e a usar aquela técnica que parece tão fora de moda: a lógica >> https://bookofbadarguments.com/pt-br/
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Diante de uma decisão importante, sendo seres racionais, buscamos sempre ponderar e chegar na melhor opção.
E quando nos deparamos com essa melhor opção, acreditamos que todas as nossas ações até chegar neste momento foram calculados por nós mesmos.
Afinal, se houve um momento de reflexão é porque atuamos ativamente na decisão. Certo? Bom, nem sempre.
Existe algo que acontece no nosso cérebro que chamamos de heurística.
A heurística é um processo no qual utilizamos nosso repertório cultural e social para enxergar o mundo e tomar decisões.
É através dessa ação natural da mente que formamos nossas crenças sobre o mundo.
Podemos classificar a heurística em dois tipos: uma mais curta, de pensamento rápido e intuitivo, e uma mais lenta, com maior carga de análise e ponderação.
Quando recebemos uma informação nova, ela passa pela heurística, essa maneira própria de ver o mundo, e isso pode resultar em um viés cognitivo.
Ou seja, acabamos nos deixando levar por sentimentos, experiências passadas, expectativas e até mesmo nossos preconceitos.
Em resumo, o viés cognitivo é uma espécie de deslize racional, se preferir enxergar dessa forma, uma espécie de “erro” de julgamento dos processos mentais inconscientes.
O resultado disso é a distorção da interpretação de informações, o que pode nos levar a tomar decisões baseadas em opiniões incompletas ou incorretas.
Quando formamos nossas ideias sobre algo ou alguém, baseados em informações parciais ou até mesmo incorretas, isso pode gerar um grande impacto sobre as tomadas de decisão.
O que, consequentemente, acaba afetando os resultados obtidos com essas deliberações, desde as mais simples até as mais complexas.
Por isso, é muito importante entender como somos impactados e influenciados pelos vieses cognitivos, e ainda, aprender a reconhecer o seu poder de distorcer julgamentos.
Só então, conseguiremos tomar decisões de forma mais consciente.
A todo momento somos bombardeados de informações, sugestões, ideias e comportamentos variados.
É comum que nossas percepções e reações sejam influenciadas pelos diversos estímulos a que estamos sujeitos ao longo do dia.
Viés de confirmação: é aquela tendência de buscar e interpretar informações que confirmem aquilo que acreditamos. Por exemplo, quando temos uma opinião pré-formada sobre determinado assunto, tendemos a procurar e dar maior atenção às informações que reforçam o que acreditamos.
Viés de atribuição: consiste em atribuir as causas de determinados eventos às características e ações dos indivíduos. Por exemplo, se alguém passa no vestibular, podemos atribuir o resultado à sua inteligência ou à sua capacidade de se dedicar aos estudos.
Viés de seleção de informação: é a tendência de buscar e processar aquelas informações que são mais favoráveis ao nosso ponto de vista. Por exemplo, quando estamos analisando um assunto, tendemos a ignorar aqueles fatos que não se encaixam no nosso raciocínio.
Viés de memória: é aquela tendência de lembrar com maior frequência das informações que mais nos interessam. Por exemplo, quando estamos estudando para uma prova, tendemos a lembrar mais das informações que julgamos serem importantes.
Viés de autoconceito: é a tendência de ver o próprio comportamento ou ação de forma mais positiva do que a de outras pessoas. Por exemplo, quando cometemos um erro, tendemos a minimizar a nossa responsabilidade e culpar outras pessoas.
Viés de expectativas: consiste em ter expectativas irrealistas sobre determinadas situações. Por exemplo, quando queremos alcançar um objetivo, tendemos a acreditar que o caminho para o sucesso é mais curto e fácil do que na realidade.
Viés de julgamento: é aquela tendência de formar opiniões e julgamentos sobre determinado assunto com base em informações parciais ou incompletas. Por exemplo, quando estamos discutindo sobre alguma questão, tendemos a formar opiniões baseadas em informações que não são totalmente verdadeiras.
A melhor forma de lidar com os vieses cognitivos é desenvolver uma atitude crítica em relação à informação que nos é oferecida, buscando sempre compreender o assunto de forma aprofundada.
É importante estar atento para não deixar que questões subjetivas, sentimentos ou crenças particulares influenciem a nossa capacidade de tomar decisões racionais.
Além disso, é importante buscar informações e opiniões diversas antes de tomar uma decisão. Ouvir diferentes pontos de vista e considerar todos os fatores envolvidos ajuda a evitar que vieses cognitivos prejudiquem a nossa capacidade de julgamento.
Por fim, é importante desenvolver o hábito de questionar os nossos próprios pensamentos e julgamentos, a fim de verificar se estamos realmente avaliando uma situação de forma imparcial.
Ao fazer isso, conseguimos evitar a influência de vieses cognitivos e tomar decisões mais assertivas, baseadas em uma inteligência emocional mais madura.
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Viés egocêntrico (ou Egocentric Bias, conforme o termo original em Inglês) é o nome dado a um tipo específico de viés cognitivo, que narra a nossa tendência, como seres humanos, de exagerarmos a maneira como nos vemos, acreditando que somos melhores do que realmente somos.
Habilidades metacognitivas
Mas se as habilidades cognitivas são o conjunto de informações assimiladas durante a vida, o que são as habilidades metacognitivas?
A habilidade metacognitiva está relacionada a um controle maior sobre aquilo que aprendemos cognitivamente.
Ou seja, a metacognição também passa por um processo de aprendizagem.
Podemos dizer que ela seria o processo de adquirir uma consciência sobre aquilo que se aprende inconscientemente.
Para exemplificar essa ideia, sabemos que é muito frustrante quando você estuda por horas para uma prova mas percebe que não está conseguindo entender nada daquele conteúdo.
O simples fato de notar essa dificuldade de assimilação é uma habilidade metacognitiva. Você estará guiando seu cérebro para focar ainda mais em uma determinada tarefa.
O mesmo acontece em atividades mais banais e para fins de entretenimento, como quando optamos por assistir a um filme.
Esse poderia ser um passatempo sem muito raciocínio, digamos, mas a partir do momento em que se observa as cenas com um olhar mais crítico, fazendo assimilações com outros aprendizados da vida, passa a ser uma ação metacognitiva.
De forma geral, essas habilidades estão focadas na forma como organizamos as coisas. É a capacidade de se auto regular e planejar.
Ao longo da vida acabamos identificando nossas próprias dificuldades e elaboramos estratégias para tentar superá-las.
Arrogância e incompetência parecem andar juntas.
Por que os incompetentes são tão arrogantes? Por que os idiotas se acham tão incríveis?
REFERÊNCIAS E RECOMENDAÇÕES DE LEITURA:
- Artigo original que introduziu o Efeito Dunning-Kruger:
Kruger, J., & Dunning, D. (1999). Unskilled and unaware of it: how difficulties in recognizing one's own incompetence lead to inflated self-assessments. Journal of personality and social psychology, 77(6), 1121.
- O papel de processos metacognitivos no efeito:
McIntosh, RD, Fowler, EA, Lyu, T & Della Sala, S 2019, 'Wise up: Clarifying the role of metacognition in the Dunning-Kruger effect', Journal of Experimental Psychology: General, vol. 148, no. 11, pp. 1882-1897.
- Efeito Dunning-Kruger e personalidade: quem é imune ao efeito?
Sanchez, D. J., & Speed, A. (2020). The Impact of Individual Traits on Domain Task Performance: Exploring the Dunning-Kruger Effect (No. SAND2020-12152). Sandia National Lab.(SNL-NM), Albuquerque, NM (United States).
- Ilusão de superioridade como característica humana:
Zell, E., Strickhouser, J. E., Sedikides, C., & Alicke, M. D. (2020). The better-than-average effect in comparative self-evaluation: A comprehensive review and meta-analysis. Psychological Bulletin, 146(2), 118.
- Ilusão em motoristas:
McCormick, I. A., Walkey, F. H., & Green, D. E. (1986). Comparative perceptions of driver ability—a confirmation and expansion. Accident Analysis & Prevention, 18(3), 205-208.
- Ilusão em estudantes universitários:
Vide artigo original dos Professores Dunning e Kruger, citado acima.
- Ilusão em relação ao humor:
Vide artigo original dos Professores Dunning e Kruger, citado acima.
- Ilusão em professores universitários:
Cross, K. P. (1977). Not can, but will college teaching be improved?. New Directions for Higher Education, 1977(17), 1-15.
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“Quem são os homens mais do que a aparência de teatro? A vaidade e a fortuna governam a farsa desta vida. Ninguém escolhe o seu papel, cada um recebe o que lhe dão. Aquele que sai sem fausto, nem cortejo, e que logo no rosto indica que é sujeito à dor, à aflição, à miséria, esse é o que representa o papel de homem. A morte, que está de sentinela, em uma das mãos segura o relógio do tempo. Na outra, a foice fatal. E, com esta, em um só golpe, certeiro e inevitável, dá fim à tragédia, fecha a cortina e desaparece”, disse, então, Ariano Suassuna recitando Matias Aires
Matias Aires
Aqueles que crêem saber mais que os outros ou se enganam ou se persuadem bem. Toda a ciência se corrompe no homem, pois tudo o que passa por ele fica infectado. A ciência não melhora o homem, mas o deixa como o encontra. Não é a ciência que nos ensina, e sim o tempo. A ciência é como um cristal claro que se coloca sobre uma pintura mal feita: pode dar-lhe lustro, mas não lhe dá maior valor. Nesta perspectiva, a ignorância tem produzido menos erros que a ciência. O que esta última nos faculta é sabermos errar com método. Em virtude disso, a discordância entre os sábios é total. Eles não compartilham doutrina alguma, princípio fundamental algum. Seu único ponto comum é a vaidade. As ciências não costumam pacificar o mundo, mas sim desordená-lo.
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-512X2003000200008&lng=pt&tlng=pt
https://estadodaarte.estadao.com.br/celina-brod-seguidores-hume-autoridade/
https://www.vox.com/the-big-idea/2016/11/7/13549154/dog-whistles-campaign-racism
https://www.scielo.br/j/rbla/a/pMzCz9VFNNbwspPdBrFvWnN/?lang=pt
https://seer.ufrgs.br/renote/article/viewFile/14145/8082
Os circuitos de consagração social serão tanto mais eficazes quanto maior a distância social do objeto consagrado.
Pierre Bourdie
Imagine-se publicando um livro. Três comentários idênticos e elogiosos: um da sua mãe, outro de um colega da universidade e, um terceiro, de um professor que, em outro país, deu-se ao trabalho de traduzi-lo. Qual dos três comentários será mais valorizante para você?
http://www.eca.usp.br/associa/alaic/boletim3/materiaBourdieu.htm
O Condicionamento Clássico, também conhecido por condicionamento de Pavlov, foi proposto por este investigador (Pavlov 1849 – 1936) entre 1903 e 1908 numa experiência com cães. A ideia é que depois de um certo numero de ensaios o cão fizesse algo que não fazia antes, ele teria aprendido alguma coisa. É curioso que esta investigação deixou Pavlov mais conhecido que seu prémio Nobel recebido em 1904.
Ele percebeu uma coisa que muitos dos que lerem isso também já terão percebido, um cão (ou outro animal) que tenhamos em casa, quando ouve o som de panelas, ou vê a pessoa que costuma trazer o alimento já se prepara para recebe-lo mesmo antes de ver o alimento. Como isso poderia ser medido? Através da saliva do cão. Para que o procedimento fosse rigoroso ele fez uma pequena cirurgia no cão introduzindo um tipo nas glândulas salivares para que a medição fosse precisa (Figura abaixo). Assim inicialmente era apresentando um alimento ao cão, ele salivava. Depois era apresentado um som, o som de um metrónomo, a resposta ao som era aleatória. Em seguida era apresentado o som seguido do alimento, depois de muitos ensaios ao ser apresentado o som o animal já salivava, o que não fazia antes.
Basicamente este procedimento pode ser usado para aquisição ou remoção de medos. Um bom exemplo no conceito de condicionamento clássico no dia a dia é o dentista. Grande parte das pessoas sente verdadeira ojeriza a uma ida ao dentista, de certo esse medo foi gerado nas primeiras experiências com este profissional, particularmente o som da broca bota medo em muita gente (só de lembrar aqui já me dá calafrios). Colocando nos termos de Pavlov: O som da broca sozinho é um Estímulo Neutro (EN), não deve gerar nenhum comportamento específico. Nas primeiras idas ao dentista ouvimos o som da broca (EN) e em seguida (possivelmente) a broca toca um nervo e sentimos uma forte dor, Estímulo Incondicionado, ao cabo de alguns ensaios (algumas idas ao dentista), nos contraímos só de ouvir o som da broca, Resposta Condicionada, mesmo passado muito tempo sentimos repulsa quando ouvimos aquele som.
Este processo se deu naturalmente em muitos de nós, mas isso poderia ser forjado. Um bom exemplo disso foi na experiência de Watson e Rayner (1920) com o pequeno Albert, uma criança de 9 meses, que antes da experiência não apresentava qualquer medo de ratos ou objectos peludos, ao fim desta, a criança chorava e evitava qualquer animal deste tipo ou objectos semelhantes. Veja o filme:
video:http://www.youtube.com/watch?v=g4gmwQ0vw0A
https://www.simplypsychology.org/operant-conditioning.html
https://www.library.hbs.edu/hc/hawthorne/big/wehe_092.html
https://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/RosangelaCaldas/aula-4.pdf
Idiossincrasia, que provém de um vocábulo grego que significa “temperamento particular”, é um termo relacionado com o carácter e os traços próprios de uma pessoa ou de uma colectividade.
A idiossincrasia costuma contemplar questões que, embora sejam distintivas de um sujeito, são consideradas sob um ponto de vista subjectivo. No caso da idiossincrasia de um grupo social, corre-se o risco de criar estereótipos uma vez que nem todos os sujeitos apresentam as mesmas características. Trata-se de ter em conta algumas características comuns e partilhadas por um grande número de membros de uma comunidade.
Os efeitos dos meios de comunicação em massa e foram elaborados pela socióloga e cientista política alemã Elizabeth Noelle-Neuman. Segundo Noelle-Neuman “O resultado é um processo em espiral que incita os indivíduos a perceber as mudanças de opinião e a segui-las até que uma opinião se estabelece como atitude prevalecente, enquanto as outras opiniões são rejeitadas ou evitadas por todos, à exceção dos duros de espírito”
Nessa teoria o importante são as opiniões dominantes, e estas tendem a se refletir nos meios, a opinião individual passa por um processo de crivo do coletivo para ganhar a força. Sobre essa teoria é importante lembrar que existe um enclausuramento dos indivíduos no silêncio quando estes tem opiniões diferentes dos vinculados pela mídia.No momento em que uma opinião individual difere da maioria ou do pensamento coletivo, pode ocorrer uma reação de isolamento social do indivíduo, em que as pessoas alteram a sua forma de pensar ou são silenciadas.Por exemplo o preconceito racial, ele existe mas está “camuflado” na sociedade.
A mesma mídia que diz publicar o que é de opinião pública é aquela que é indiferente à população quando esta precisa. A Teoria do Espiral do Silêncio ajuda a entender como a mídia funciona em relação à opinião pública e silencia suas idéias. Elizabeth Noelle-Neuman dizia que para entender melhor como funciona a Espiral do Silêncio, é preciso conhecer os três mecanismos pelos quais a teoria influencia a mídia sobre o público:
1) Acumulação: excesso de exposição de determinados temas na mídia
2) Consonância: forma semelhante como as notícias são produzidas e veiculadas
3) Ubiqüidade: presença da mídia em todos os lugares.
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-0972-1.pdf
"Os piores senhores eram os que se mostravam mais bondosos para com seus escravos, pois assim impediam que o horror do sistema fosse percebido pelos que o sofriam, e compreendido pelos que o contemplavam."
Página 1860, Oscar Wilde - ISBN 9788525422415, ISBN-10 852542241X
https://www.ft.com/content/eef2e2f8-0383-11e7-ace0-1ce02ef0def9
O termo foi difundido pelo historiador americano Robert Proctor, da Universidade de Stanford, em diversas palestras que ministrou em 2005. As palestras depois se transformaram no livro “Agnotologia: a construção e a desconstrução da ignorância”.
O estudo precursor de Robert Proctor sobre Agnotologia partiu justamente de um memorando secreto da indústria do tabaco que caiu em domínio público em 1979 sob o nome do “O Tabagismo e a proposta de saúde”. O artigo foi escrito uma década antes pela empresa Brown & Williamson e revelou muitas das táticas empregadas pelas grandes companhias para neutralizar os esforços dos pesquisadores e do combate ao cigarro.
Por Noam chowsky
1 – DISTRAÇÃO
Um dos principais componentes do controle da opinião pública é a estratégia da distração fundamentada em duas frentes:
Primeiro, desviar a atenção do público daquilo que é realmente importante oferecendo uma avalanche de informações secundárias e inócuas, que como uma cortina de fumaça esconde os reais focos de incêndio.
Em segundo, distrair o público dos temas significativos e impactantes tanto na área da economia quanto da ciência e tecnologia (tais como psicologia, neurobiologia, cibernética, entre outras).
Quando mais distraído estiver o público menos tempo ele terá para aprender sobre a vida e/ou para pensar.
2 – MÉTODO PROBLEMA-REAÇÃO-SOLUÇÃO.
Cria-se um problema ou uma situação de emergência (ou aproveita-se de uma situação já criada) cuja abordagem dada pela mídia visa despertar uma determinada reação da opinião pública.
Tal reação demanda a adoção de medidas imediatas para a solução da crise.
Usualmente tais medidas já estão praticamente prontas e são aplicadas antes que a população se dê conta de que essa sempre fora a meta primordial.
Por exemplo:
Valer-se de atentados terroristas para sequestrar da população seus direitos civis. (Depois de 11 de setembro qualquer cidadão em solo norte-americano pode ser “detido para averiguações” fora ou dentro de sua residência, sem direito a advogado, ou defesa, exatamente como o que ocorria no Brasil durante a ditadura militar – basta que se acione a tal lei da Segurança Nacional).
Valer-se do crescimento da violência urbana para aprovar leis de desarmamento completo da população civil.
Valer-se de crises econômicas para fazer retroceder os avanços conquistados nas leis trabalhistas e promover o desmantelamento dos serviços públicos de assistência aos mais pobres.
3 – GRADAÇÃO
É uma estratégia de aplicação de medidas impopulares de forma gradativa e quase imperceptível.
Por exemplo, entre 1980 e 1990 foram aplicadas medidas governamentais que desembocaram no perfil de estado mínimo, privatizações dos serviços públicos, precariedade da ação do estado (principalmente na segurança, saúde e educação), flexibilidade das leis trabalhistas, desemprego em massa, achatamento salarial, etc.
4 – SACRIFÍCIO FUTURO
Apresentar com muita antecedência uma medida impopular que será adotada no futuro sempre de forma condicional, porém com contornos nefastos.
Primeiro para dar tempo para que o público se acostume com a ideia e depois aceitá-la com resignação quando o momento de sua aplicação chegar.
É mais fácil aceitar um sacrifício no futuro do que um sacrifício imediato tendo-se em conta que existe sempre uma esperança, mesmo que tênue, de que o sacrifício exigido poderá ser evitado ou que os danos poderão ser minimizados.
Por exemplo:
Antes da aplicação de um aumento de 10% na tarifa de energia elétrica:
Se o clima não mudar teremos aumento de 25% no preço da tarifa de energia.
Na aplicação do aumento da tarifa:
Devido a um esforço coletivo do governo federal e estadual o aumento acabou se concretizando em apenas 10%.
5 – DISCURSO PARA CRIANÇAS
Emprego de um discurso infantilizado, valendo-se de argumentos, personagens, linguagens, estratégias, etc. como que dirigido a um público formado exclusivamente por crianças ou por pessoas muito ingênuas.
Quando um adulto é tratado de forma afetuosa como se ele ainda fosse criança observa-se uma tendência de uma resposta igualmente infantil.
6 – SENTIMENTALISMO E TEMOR
Apelar para o emocional de forma ou sentimentalista ou atemorizante com intuito de promover um atraso tanto na resposta racional quanto do uso do senso crítico. Geralmente tal estratégia é aplicada de forma combinada com a número 4 e/ou número 5.
A utilização do registro emocional permite o acesso ao inconsciente e promove um aumento da suscetibilidade ao enxerto de ideias, desejos, medos e temores, compulsões, etc. e à indução de novos comportamentos.
Exemplo:
Para prevenirmos a ação de terroristas todos os passageiros serão submetidos a uma rigorosa revista antes de embarcar. Colaborem!
7 – VALORIZAR A IGNORÂNCIA E A MEDIOCRIDADE
Manter em alta a popularidade de pessoas medíocres e ignorantes aumentando sua visibilidade na mídia, para que o estúpido, o vulgar e o inculto seja o exemplo a ser seguido principalmente pelos mais jovens.
8- DESPRESTIGIAR A INTELIGÊNCIA
Apresentar o cientista como vilão e o intelectual como pedante ao mesmo tempo em que populariza a caricatura do “nerd” ou “CDF” como pessoas ineptas do ponto de vista social e um exemplo a não ser seguido pelos mais jovens — estimulando, por um lado, a negação da ciência e, por outro, o desprestígio do uso da racionalidade e do senso crítico.
Geralmente tal realidade se coaduna com a oferta de uma educação de menor qualidade para a população mais pobre – que não se queixa disso por que é moda ser ignorante.
9- INCENTIVAR E INCUTIR A CULPA
Incutir, incentivar e reforçar a culpa do indivíduo quando do seu fracasso, dividindo assim a sociedade em duas categorias: a de vencedores e a de perdedores.
O “perdedor” (ou loser em inglês) é o indivíduo que não possui habilidades ou competências para alcançar o sucesso que o outro tem.
Daí a grande visibilidade que a mídia oferece a modelos minoritários de beleza e sucesso.
Recordando que apenas alguns poucos seres humanos podem ser enquadrados nesse modelo tão rigoroso que categoriza, discrimina e impõe o que é belo, jovem, célebre e bem sucedido.
O restante da humanidade deve se conformar com sua condição de perdedor e carregar com resignação esse seu status.
Ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo resigna-se e conforma-se com sua situação pessoal, social e econômica, atribuindo seu “fracasso” à sua completa incompetência. Culpar-se constantemente por isso, atua na formação de um desejado estado depressivo, do qual, origina-se a apatia.
10- MONITORAÇÃO
Por meio do uso de técnicas de pesquisa de opinião, mineração de dados em redes sociais e também dos avanços nas áreas de psicologia e neurobiologia, os donos do poder tem conseguido conhecer melhor o comportamento do indivíduo comum muito mais do que ele mesmo.
A monitoração deste comportamento além de alimentar os dados que aperfeiçoam seu modelo psicossocial, oferecem informações que facilitam o controle e a manipulação da opinião pública.
“A consciente e inteligente manipulação dos hábitos organizados e opiniões das massas é um importante elemento na sociedade democrática. Aqueles que manipulam este despercebido mecanismo da sociedade constituem um governo invisível que é o verdadeiro poder regulador de nosso país… Nós somos governados, nossas mentes são moldadas, nossos gostos formados, nossas idéias sugestionadas, largamente por homens de quem nunca ouvimos falar. Isto é um resultado lógico do caminho em que nossa sociedade democrática é organizada. Vasto número de seres humanos devem cooperar desta maneira se eles tem que viver juntos como uma sociedade que funciona sem dificuldades… Em quase todo ato de nossas vidas diárias, tanto na esfera da política ou dos negócios, em nossa conduta social ou em nosso pensamento ético, nós somos dominados por um número relativamente pequeno de pessoas…que entendem o padrão de processo mental e social das massas. São eles que puxam os fios que controlam a mente do público.”
A influência de Edward Bernays, desde 1913 ,quando começou a atuar na política americana e inglesa e junto as grandes corporações americanas , é tão grande, que seria necessário escrever um livro apenas sobre este assunto. Ele escreveu diversos livros sendo um deles – Propaganda (1928) – disponível livremente na internet.
Bernays acreditava poder convencer as massas a abandonarem sua agressividade primaria e perseguirem um fim socialmente desejável, em um governo sintonizado com suas necessidades de consumo e de felicidade. Livrando as pessoas das frustrações diárias e controlando o desejo irracional por meio da “engenharia do consentimento”, os políticos e empresários eliminariam ao maximo as perturbações sociais, soterrando-as sob um constante bem-estar e prazer. Ele definiu esse modelo da sociedade como Democracity, a cidade verdadeiramente democrática, uma utopia da liberdade e do capitalismo.
A Democracity foi apresentada ao publico na Feira Mundial de Nova York em 1939, na forma de um imenso edifício de forma esférica, na qual era exibida uma maquete futurista da sociedade norte-americana, elaborada pela General Motors. O evento foi um sucesso de publico, atraindo mais de 44 milhões de pessoas.
Muitas atuações de Bernays foram alvo de severas criticas. Suas obras, ademais, foram empregadas em diversos fins que o próprio Bernays não esperava. Ele teria ficado chocado, por exemplo, ao descobrir que Goebbels[ ministro da Propaganda de Hitler] lera Crystallizing Public Opinion – publicado em 1923- para planejar o extermínio dos judeus da Alemanha nazista e aumentar o apoio da população alemã a tal atrocidade.
Em 1917, quando os Estados Unidos declararam guerra à Áustria e aos outros países da Tríplice Aliança, Bernays foi convidado a participar do Comitê de Informação Pública, órgão criado pelo governo norte-americano com o objetivo de divulgar à população o esforço de guerra em promover a democracia em todo o mundo. Com apenas 27 anos, ele integrou a comitiva que acompanhou o presidente Woodrow Wilson na conferência de paz em Paris, atestando seu desempenho excepcional no contato com o público.
No retorno aos Estados Unidos, Bernays se perguntou se a propaganda, tão efetiva nos tempos de guerra, poderia ser usada também durante a paz. Assim, chegando a Nova York passou a oferecer às empresas norte-americana seus serviços de Relações Públicas, profissão que ele recém inventara. Para tal função havia sido decisiva a leitura de A general introduction to psycho-analysis3, com que Freud presenteou seu sobrinho em troca de uma caixa de charutos que este lhe havia mandado de Paris. Bernays propunha que as Relações Públicas poderiam empregar as ideias da psicanálise na solução de problemas de consumo que surgiam na florescente sociedade industrial que brotava no pósguerra. É exemplar, portanto, o caso de uma empresa de preparados para bolos que recorreu aos seus serviços devido ao consumo insatisfatório de seus produtos. Lendo as instruções da caixa, ele simplesmente teria dito: "acrescente um ovo à receita". As vendas cresceram de forma surpreendente, mas segredo foi revelado somente muitos anos depois. Bernays havia intuído que as mulheres donas-de-casa – potencial público alvo do produto – seriam inconscientemente tomadas de culpa por oferecer a seus maridos um bolo do qual elas haviam participado tão pouco, por mais prático que fosse o produto. Acrescentando um ovo, representação da fertilidade, tal problema seria eliminado, e o preparado passou a ser consumido em larga escala.
A partir de sua experiência profissional, Bernays passou a publicar seus próprios escritos, entre os quais os fundamentais Crystallizing Public Opinion, de 1923 e Propaganda, de 1928. O artigo aqui traduzido foi publicado em 1947 nos Anals of the American Academy of Political and Social Science, organização fundada na Filadélfia em 1889 por docentes da University of Pennsylvania com o objetivo de difundir as ciências sociais. Tais escritos ajudaram a difundir amplamente as Relações Públicas e, em 1923, a University of New York abriu o primeiro curso, organizado pelo próprio Bernays, a respeito do tema.
Do outro lado do Atlântico, em contraste com o sucesso do sobrinho, Freud enfrentava uma situação financeiramente precária em uma Viena que ainda arcava com as conseqüências da perda da guerra. A crise econômica e uma inflação exorbitante levaram Freud a gastar todas suas economias e, próximo da falência, ele pediu auxílio a Bernays. A resposta veio na forma de um contrato para que as obras completas de Freud fossem publicadas pela primeira vez na América. Como Pat Jackson, conselheiro de Relações Públicas e colega de Bernays, admite no documentário, ele não apenas fez os livros serem publicados como também se tornou um "agente" de Freud, promovendo e divulgando-os, "fazendo-os polêmicos", e tornando a psicanálise conhecida e aceita junto à sociedade norte-americana. Bernays também acreditava que Freud deveria se esforçar em autopromover-se nos Estados Unidos, e propôs que o tio escrevesse um artigo à revista feminina Cosmopolitan - que ele representava - com o título O lugar mental da mulher no lar. Segundo Curtis, a proposta teria enfurecido Freud, que a considerou impensável e vulgar. Não houve resposta, e eles nunca mais se falaram.
Muitas atuações posteriores de Bernays foram alvo de severas críticas, como uma campanha para estimular as mulheres a fumar ou seu papel no golpe de Estado da Guatemala em 1953, que culminou com a derrubada do presidente Jacobo Arbenz, eleito com a promessa de promover a reforma agrária em terras da United Fruit Company. Por meio dos jornais, Bernays foi capaz de aumentar o apoio da população ao golpe e à invasão do exército norte-americano , porém não pôde evitar a guerra civil que durou 36 anos e resultou em mais de um milhão de guatemaltecos mortos. Suas obras, ademais, foram empregadas em diversos fins que o próprio Bernays não esperava. Ele teria ficado chocado, por exemplo, ao descobrir que Goebbels lera Crystallizing Public Opinion para planejar o extermínio dos judeus da Alemanha nazista e aumentar o apoio da população alemã a tal atrocidade.
Os livros de Bernays, bem como os textos ditos sociológicos de Freud, passaram a ser lidos não apenas pelos grandes empresários e publicitários norte-americanos. Eles prontamente influenciaram jornalistas e intelectuais, e fomentaram discussões a respeito da capacidade das massas em participar dos processos políticos sem se comportar como uma turba incontrolável, capaz de instituir o caos e destruir governos, como se pensava que havia ocorrido na Rússia. Se os seres humanos eram verdadeiramente conduzidos por forças irracionais, agressivas e inconscientes, como esperar que as massas pudessem ser "conscientizadas" e decidir o futuro de uma nação? Isso ia de encontro com uma série de dúvidas que Bernays compartilhava a respeito das possibilidades da democracia em produzir efeitos socialmente positivos, e sua proposta de uma "engenharia do consentimento" se apresentava como a solução necessária ao problema. A perda da comunicação com os líderes, que proliferavam na disputa ideológica contemporânea pelo bem público, bem como a impossibilidade de uma educação capaz de incutir na multidão um verdadeiro juízo político esclarecido, haviam alterado a concepção democrática clássica. Tal mutação justificava o uso da engenharia do consentimento por políticos que, por meio de técnicas psicológicas e de comunicação para a manipulação da opinião pública, deveriam produzir entre as massas um genuíno sentimento de sociedade. Assim como havia feito com questões relativas ao consumo de produtos, Bernays acreditava poder convencer as massas a abandonarem sua agressividade primária e perseguirem um fim socialmente desejável, em um governo sintonizado com suas necessidades de consumo e de felicidade. Livrando as pessoas das frustrações diárias e controlando desejo irracional por meio da engenharia do consentimento, os políticos e empresários eliminariam ao máximo as perturbações sociais, soterrando-as sob um constante bem-estar e prazer. Ele definiu esse modelo da sociedade como Democracity, a cidade verdadeiramente democrática, uma utopia da liberdade e do capitalismo.
A Democracity foi apresentada ao público na Feira Mundial de Nova York em 1939 - evento do qual Bernays fazia parte da organização -, na forma de um imenso edifício de forma esférica, na qual era exibida uma maquete futurista da sociedade norte-americana, elaborada pela General Motors. Ao contrário das edições anteriores da Feira Mundial, e contrariando as opiniões de cientistas como Albert Einstein, essa era dedicada especialmente à apresentação e lançamento dos produtos que fariam parte dos lares do futuro, em lugar das tradicionais exibições dos últimos avanços científicos. O evento foi um sucesso de público, atraindo mais de 44 milhões de pessoas. Além de representar o ápice da carreira de Bernays, ele também retratou um futuro brilhante para uma sociedade que vislumbrava a iminência de uma segunda guerra mundial. Ele morreu em Cambridge, no dia 9 de março de 1995, oito meses antes de completar 104 anos.
Bernays é um personagem tão sombrio quanto fundamental para compreender o mundo contemporâneo. Como ele mesmo assume, sem falsa modéstia, "é impossível superestimar a importância da engenharia do consentimento; ela afeta quase todo aspecto de nossas vidas diárias". Suas ideias acompanharam intersticialmente o desenvolvimento da política e da economia do século XX. Elas oferecem uma nova perspectiva ao pensamento político clássico: platéia, audiência e público são adotadas por ele como categorias de sujeito político, em lugar de povo, massa etc; em lugar da discussão filosófica tradicional a respeito de quem seriam as mãos e as pernas do soberano - que fornecem a sua força - Bernays propõe uma nova anatomia do poder, baseada nos olhos e ouvidos, na força da palavra. Sua verdadeira contribuição, contudo, permanece todavia demasiado obscura entre as correntes subterrâneas do pensamento político, o que nos impede de avaliarmos qual foi seu verdadeiro papel naquilo que se convencionou chamar de "o fator subjetivo da história". O objetivo desta tradução é, portanto, introduzir e apresentar uma parte de seu pensamento, de modo que outras investigações possam ser empreendidas a partir de suas linhas.
A liberdade de expressão e seu corolário democrático, uma imprensa livre, expandiu tacitamente nossa Carta de Direitos4 para incluir o direito à persuasão. Esse desenvolvimento foi um resultado inevitável da expansão da mídia de livre expressão e persuasão, definidas em outros artigos nesse volume. Todas essas mídias oferecem portas abertas à opinião pública. Qualquer um de nós pode, por meio dessas mídias, influenciar as atitudes e ações de nossos companheiros cidadãos.
A tremenda expansão das comunicações nos Estados Unidos deu a essa nação o aparato mais efetivo e penetrante para a transmissão de ideias. Todo residente está constantemente exposto ao impacto de nossa vasta rede de comunicações, que alcança cada canto do país, não importa quão remoto ou isolado esteja. As palavras martelam continuamente os olhos e ouvidos da América. Os Estados Unidos tornou-se uma pequena sala, onde um simples murmúrio é ampliado milhares de vezes.
O conhecimento de como usar esse enorme sistema de amplificação torna-se uma preocupação primária para aqueles interessados em uma ação socialmente construtiva.
Existem duas divisões principais desse sistema de comunicações que mantém a coesão social. No primeiro nível estão as mídias comerciais. Quase 1.800 jornais diários nos Estados Unidos têm uma circulação combinada de mais ou menos 44.000.000 exemplares. Existem aproximadamente 10.000 jornais semanais e quase 6.000 revistas. Aproximadamente 2.000 estações de rádio de diversos tipos transmitem para os 60.000.000 de receptores da nação. Aproximadamente 16.500 cinemas possuem a capacidade de quase 10.500.000 lugares. Uma avalanche de livros e panfletos é publicada anualmente. O país está coberto de publicidades, santinhos, flyers e propaganda por correspondência. Mesas redondas, painéis e fóruns, salas de aula, assembléias legislativas e plataformas públicas – toda e qualquer mídia, dia após dia, espalha a palavra, a palavra de alguém.
No segundo nível estão as mídias especializadas, operadas e de propriedade dos muitos grupos organizados deste país. Quase todos eles (e muitas de suas subdivisões) possuem seus próprios sistemas de comunicações. Eles disseminam ideias não apenas por meio da escrita formal em relatórios, memorandos, boletins especiais e similares, mas também por meio de palestras, encontros, discussões e conversas.
Essa rede de comunicações, por vezes duplicadora, esquadrinhadora e solapadora, é uma condição de fato, não teoria. Devemos reconhecer a significação das comunicações modernas não somente como uma rede mecânica e altamente organizada, mas como uma potente força para o bem social ou um possível mal. Podemos determinar se essa rede será empregada, em sua maior extensão, para fins sociais benéficos.
Somente aprimorando as técnicas de comunicação, a liderança pode ser frutífera no vasto complexo que é a moderna democracia nos Estados Unidos. Em uma época anterior, em uma sociedade que era pequena geograficamente e com uma população mais homogênea, um líder era geralmente conhecido pessoalmente por seus seguidores; havia uma relação visual entre eles. A comunicação era realizada principalmente pelo anúncio pessoal a uma platéia ou por meio de uma imprensa relativamente primitiva. Livros, panfletos e jornais atingiam um segmento alfabetizado muito pequeno do público.
Estamos cansados de ouvir repetidas vezes o desgastado clichê "O mundo ficou menor"; mas esse assim chamado truísmo não é realmente verdadeiro, de qualquer modo. O mundo ficou igualmente menor e muito maior. Suas fronteiras físicas foram expandidas. Os líderes de hoje se tornaram fisicamente mais remotos do público; porém, ao mesmo tempo o público possui uma familiaridade muito maior com esses líderes por meio do sistema de comunicações modernas. Os líderes de hoje são tão potentes quanto sempre foram.
Por outro lado, pelo uso desse sistema, que se expandiu constantemente como resultado do desenvolvimento tecnológico, os líderes se tornaram capazes de superar os problemas da distância geográfica e da estratificação social para atingir seus públicos. Por debaixo de muito dessa expansão, e sobretudo por causa da sua existência na presente forma, está uma ampla e enormemente rápida difusão da alfabetização.
Líderes podem ser os porta-vozes de muitos pontos de vista diferentes. Eles podem dirigir as atividades de grupos organizados principais tais como indústria, trabalho ou unidades de governo. Eles podem disputar uns com os outros em batalhas pela boa vontade do público; ou eles podem, representando divisões no interior das unidades maiores, competir entre si. Tais líderes, com a ajuda de técnicos no campo, que se especializaram em utilizar os canais da comunicação, têm sido capazes de realizar decidida e cientificamente o que denominamos "a engenharia do consentimento".
Essa frase, de uma forma simplificada, resume o uso de uma abordagem de engenharia – isto é, a ação baseada somente no conhecimento aprofundado de uma situação e na aplicação de princípios científicos e práticas comprovadas para lograr que pessoas apóiem ideias e programas. Qualquer pessoa ou organização depende, em última instância, da aprovação pública e encara, portanto, o problema de engendrar o consentimento do público a um programa ou objetivo. Esperamos que nossos representantes eleitos tentem engendrar nosso consentimento – pela rede de comunicações aberta a eles – às medidas que propõem. Rejeitamos o autoritarismo ou a arregimentação do governo, mas estamos ansiosos por praticar a ação sugerida a nós pela palavra escrita ou falada. A engenharia do consentimento é justamente a essência do processo democrático, a liberdade de persuadir e sugestionar. As liberdades de expressão, imprensa, petição e reunião, as liberdades que fazem a engenharia do consentimento possível, estão entre as mais celebradas garantias da Constituição dos Estados Unidos.
A engenharia do consentimento deveria ser baseada teórica e praticamente no entendimento daqueles sobre os quais deseja se impor. Mas às vezes é impossível alcançar decisões em conjunto baseadas na compreensão dos fatos por todas as pessoas. O adulto norte-americano médio possui apenas seis anos de escolaridade atrás de si. Com a pressão de crises e decisões a serem tomadas, um líder freqüentemente não pode esperar que o povo atinja até mesmo um nível geral de entendimento. Em certos casos, líderes democráticos devem fazer a sua parte em guiar o público, por meio da engenharia do consentimento, em direção a objetivos e valores socialmente construtivos. Esse papel naturalmente impõe sobre eles a obrigação de usar os processos educacionais, bem como outras técnicas disponíveis, para produzir um entendimento tão completo quanto possível.
A engenharia do consentimento não deve, sob nenhuma circunstância, suplantar ou substituir as funções do sistema educacional, seja ele formal ou informal, em determinar o entendimento do povo como uma base para sua ação. Muitas vezes, a engenharia do consentimento efetivamente complementa o processo educacional. Se os padrões educacionais mais altos prevalecessem neste país, e o entendimento fosse alcançado, essa abordagem ainda assim conservaria seu valor.
Mesmo em uma sociedade de um padrão educacional perfeccionista, o progresso igualitário não seria obtido em todos os campos. Haveria sempre defasagens, pontos-cegos, e debilidades; e a engenharia do consentimento seria ainda essencial. A engenharia do consentimento será sempre necessária como um adjunto, ou um parceiro, do processo educacional.
Hoje é impossível superestimar a importância da engenharia do consentimento; ela afeta quase todo aspecto de nossas vidas diárias. Quando usada para propósitos sociais, ela está entre nossas contribuições mais valorosas para o funcionamento eficiente da sociedade moderna. As técnicas podem ser subvertidas; demagogos podem utilizá-las para propósitos antidemocráticos com tanto sucesso quanto aqueles que as empregam para fins socialmente desejáveis. O líder responsável, de modo a realizar objetivos sociais, deve portanto estar constantemente alerta às possibilidades de subversão. Ele deve aplicar suas energias para dominar o conhecimento operacional da engenharia do consentimento, e sobrepujar seus oponentes no interesse público.
Está claro que um líder em uma democracia não necessita sempre possuir as qualidades de um Daniel Webster ou um Henry Clay5. Ele não precisa estar visível ou mesmo audível às suas platéias. Ele pode conduzi-las indiretamente, simplesmente utilizando efetivamente os meios atuais de estabelecer contato com os olhos e ouvidos daquelas platéias. Mesmo método direto, ou que poderia ser chamado de antiquado, de falar a uma platéia está, na maioria das vezes, removido; em geral o discurso público é transmitido mecanicamente, através da mídia de massa do rádio, filme e televisão.
Durante a I Guerra Mundial, o famoso Comitê de Informação Pública6, comandado por George Creel, dramatizou na consciência do público a efetividade da guerra de palavras. O Comitê ajudou a construir a moral de seu próprio povo, para vencer os indiferentes, e calar o inimigo. Ele ajudou a vencer aquela guerra. Mas em comparação com a enorme extensão da palavra na II Guerra Mundial, o Comitê de Informação Pública empregou ferramentas primitivas para uma importante tarefa. O Escritório de Informação de Guerra7, sozinho, provavelmente transmitiu mais palavras de suas instalações em ondas curtas durante a guerra do que aquelas que foram escritas por toda a equipe de George Creel.
Enquanto esta abordagem se tornava reconhecida como um fator chave em influenciar o pensamento público, milhares de peritos em muitos campos relacionados vieram à frente – especialistas como redatores, editores, propagandistas, lobbystas e partidos políticos, educadores e publicitários. Durante a I Guerra Mundial e os imediatos anos pós-guerra, uma nova profissão se desenvolveu em resposta à demanda de especialistas treinados e habilidosos no aconselhamento sobre a técnica da engenharia do consentimento público, uma profissão que oferecesse conselhos em relações públicas.
Em 1923, defini essa profissão em meu livro, Cristallizing Public Opinion, e no mesmo ano, na Universidade de Nova York, dei o primeiro curso sobre o tema. Nos quase um quarto de século que se passaram desde então, a profissão se tornou reconhecida no país e se espalhou por outros países democráticos onde a livre comunicação e a competição de ideias no mercado são permitidas. A profissão possui a sua literatura, seus treinamentos, um número cada vez maior de praticantes, e um crescente reconhecimento de sua responsabilidade social.
Nos Estados Unidos, a profissão lida especificamente com os problemas de relacionamento entre um grupo e seu público. Sua função principal é analisar objetiva e realisticamente a posição de seu cliente vis-a-vis8 com um público e aconselhar as correções necessárias nas atitudes e abordagens do cliente com relação àqueles público. É, assim, um instrumento na busca de ajustes se existe qualquer desajuste nas relações. Deve-se lembrar, claro, que a boa vontade, a base do ajuste duradouro, pode ser preservada a longo prazo somente por aqueles cujas ações a garantem. Mas isso não evita que aqueles que não merecem boa vontade a conquistem e a mantenham o suficiente para produzir uma série de danos.
O conselheiro de relações públicas tem uma responsabilidade profissional para levar adiante somente aqueles cujas ideias ele pode respeitar, e não promover causas ou aceitar tarefas de clientes que ele considere antisociais.
Assim como um engenheiro civil deve analisar cada elemento de uma situação antes de construir uma ponte, o engenheiro do consentimento, de modo a atingir um objetivo socialmente valoroso, deve operar de uma fundação de ações profundamente planejadas. Vamos assumir que ele está engajado em uma tarefa específica. Seus planos devem ser baseados em quatro pré-requisitos:
1. Cálculo de recursos, tanto humanos quanto físicos; isto é, a força humana, o dinheiro, e o tempo disponível para o propósito;
2. Um conhecimento do tema tão aprofundado quanto possível;
3. A determinação de objetivos, sujeitos a possível mudança após a pesquisa; especificamente, o que deve ser alcançado, com quem e através de quem.
4. Pesquisa sobre o público para determinar porque e como ele reage, tanto individualmente quanto em grupo.
Somente após esse trabalho de base ter sido firmemente consolidado, é possível saber se os objetivos são realisticamente alcançáveis. Só então o engenheiro do consentimento utiliza seus recursos humanos, dinheiro e tempo, além da mídia disponível. Estratégia, organização e atividades serão guiadas pela realidade da situação.
A tarefa deve primeiro ser relacionada com o orçamento disponível para a força humana e mecânica. Em termos de habilidades, o engenheiro do consentimento possui certos talentos – criativos, administrativos, executivos – e deve saber quais são esses. Ele também deveria possuir um conhecimento claro de suas limitações. As qualidades humanas precisam ser implementadas pela área de trabalho e o equipamento de escritório. Todas necessidades materiais devem ser cobertas pelo orçamento.
Acima de tudo, uma vez que o orçamento tenha sido estabelecido, e antes que um primeiro passo seja dado, o campo do conhecimento que lida com o tema deveria ser extensamente explorado. Isso significa primeiramente coletar e codificar um estoque de informação que estará disponível para uso prático, eficiente. Esse trabalho preliminar pode ser tedioso e exigente, mas não pode ser deixado de lado; pois o engenheiro do consentimento deveria ser, em larga medida, equipado com fatos, com verdades, com evidências, antes de começar a se expor a um público.
O engenheiro do consentimento deveria munir-se com os livros de referência em relações públicas, publicidade e opinião pública: N. W. Ayer & Son's Directory of Newspapers and Periodicals, o Editor and Publisher Year Book, o Radio Daily Annual, o Congressional Directory, o Chicago Daily News Almanac, o World Almanac – e, evidentemente, a lista telefônica. (O World Almanac, por exemplo, contém listas das milhares de associações nos Estados Unidos – uma seção transversal do país.) Estes e outros volumes oferecem uma biblioteca básica necessária para um planejamento efetivo.
Nesse ponto do trabalho preparatório, o engenheiro do consentimento deveria considerar os objetivos da sua atividade. Ele deveria ter, de forma clara na mente, a todo momento, aonde ele precisamente está indo e o que ele deseja realizar. Ele pode intensificar atitudes favoráveis já existentes; ele pode induzir essas atitudes favoráveis a tomar ações construtivas; ele pode converter descrentes; ele pode deter certos pontos de vista antagônicos.
Os objetivos deveriam ser definidos exatamente. Em uma campanha da Cruz Vermelha, por exemplo, um tempo limite e a quantia de dinheiro a ser levantado são definidas de início. Resultados muito melhores são obtidos em uma campanha de fôlego, quando o apelo é feito pela ajuda às pessoas de um país específico ou localidade, em lugar de uma área geral como a Europa ou a Ásia.
O objetivo deve ser, a todo momento, relacionado com o público cujo consentimento se deseja obter. Esse público são pessoas, mas o que eles sabem? Quais são as suas atitudes presentes com relação à situação que é alvo do engenheiro do consentimento? Quais são os impulsos que governam tais atitudes? Que ideias as pessoas estão prontas para absorver? O que elas estão prontas para fazer, dado um estímulo efetivo? Elas obtém suas ideias de bartenders, carteiros, garçonetes, da Little Orphan Annie 9 , ou do editorial do New York Times? Quais líderes de grupo ou formadores de opinião efetivamente influenciam os processos cognitivos de quais seguidores? Qual é o fluxo de ideias – de quem para quem? Em que extensão autoridade, evidência factual, precisão, razão, tradição e emoção desempenham um papel na aceitação de tais ideias?
As atitudes do público, assunções, ideias ou preconceitos derivam de influencias definidas. Deve-se tentar encontrar quais são elas em qualquer situação na qual se esteja trabalhando.
Para que o engenheiro do consentimento se planeje efetivamente ele deve também saber as formações de grupo com as quais ele vai se deparar, pois uma sociedade democrática é apenas um frouxo agregado de grupos constituintes. Certos indivíduos com interesses sociais e/ou profissionais comuns formam grupos voluntariamente. Esses incluem grandes organizações profissionais de médicos, advogados, enfermeiras e similares; as associações de camponeses e os sindicatos; os clubes femininos; os grupos religiosos; e os milhares de clubes e fraternidades. Grupos formais, como as unidades políticas, podem variar desde minorias organizadas às grandes corporações políticas amorfas que são nossos dois principais partidos. Hoje existe até mesmo outra categoria de público que devem ser mantidos em mente pelo engenheiro do consentimento. Os leitores do New Republic 10 ou os ouvintes dos programas de Raymond Swing 11 são também grupos voluntários, embora desorganizados, assim como os membros de um sindicato ou do Rotary Club.
Para funcionar bem, quase todos os grupos elegem e selecionam líderes que geralmente permanecem em uma posição de controle por intervalos de tempo conhecidos. Esses líderes refletem as ambições de seus seguidores e trabalham para promover seus interesses. Em uma sociedade democrática, eles podem apenas liderá-los tão longe quanto, e na direção na qual eles desejam ir. Para influenciar o público, o engenheiro do consentimento trabalha com e por meio dos líderes de grupo e formadores de opinião em todos os níveis.
Para atingir um conhecimento preciso e operante da receptividade da mente pública para uma ideia ou ideias, é necessário engajar-se em uma pesquisa meticulosa. Tal pesquisa deve se dirigir ao estabelecimento de um denominador comum entre o pesquisador e o público. Ela deve desvelar as realidades das situações objetivas nas quais o engenheiro do consentimento tem que trabalhar. Completada, ela fornece um projeto de ação e esclarece a questão de quem faz o quê, onde, quando e porque. Ela irá indicar a estratégia geral a ser empregada, os temas a serem ressaltados, a organização necessária, o uso da mídia, e a tática dia a dia. Ela deve, ademais, indicar quanto tempo levará para ganhar o público e quais são as suas tendências de pensamento, a curto e longo prazo. Ela desvendará motivações conscientes e subconscientes no pensamento do público, e as ações, palavras e imagens que têm como efeito essas motivações. Ela relevará a atenção pública, a alta ou baixa visibilidade de ideias na mente pública.
A pesquisa pode indicar a necessidade de modificar os objetivos originais, para dilatar ou contrair o fim planejado, ou para mudar ações e métodos. Em suma, ela fornece o equivalente à carta de navegação do marinheiro, o projeto do arquiteto ou o mapa de estradas do motorista.
A pesquisa de opinião pública pode ser conduzida por meio de questionários, entrevistas pessoais ou enquetes. Contatos devem ser feitos com líderes comerciais, chefes de sindicatos e líderes educacionais, todos os quais podem querer ajudar o engenheiro do consentimento. Os chefes dos grupos profissionais nas comunidades – a associação médica, os arquitetos, os engenheiros – devem ser todos questionados. Assim também executivos de serviços sociais, oficiais de clubes femininos e líderes religiosos. Redatores, editores e artistas de rádio e cinema podem ser persuadidos a discutir com o engenheiro do consentimento seus objetivos e o apelo e ângulos que afetam esses líderes e suas audiências. Os sindicatos locais ou associações de barbeiros, ferroviários, trabalhadores têxteis e taxistas podem estar ansiosos por cooperar. Líderes de base são importantes.
Tal investigação possui um efeito de cano duplo. O engenheiro do consentimento aprende quais líderes de grupo sabem ou não sabem, o quanto eles irão cooperar com ele, a mídia que os atinge, apelos que podem ser válidos e os preconceitos, as lendas, ou fatos pelos quais eles vivem. Ele é capaz de determinar simultaneamente se eles conduzirão ou não campanhas de informação em direito próprio, e assim complementar suas atividades.
Agora que o trabalho preliminar foi feito, será possível seguir ao planejamento de verdade. Da pesquisa de opinião emergirão os temas principais da estratégia. Esses temas contém as ideias a serem veiculadas; elas guiam as linhas de abordagem do público; e elas devem ser expressas por meio da mídia que será usada. Os temas estão sempre presentes, mas são intangíveis – comparáveis àquilo que na ficção é chamado de "story line".
Para ser bem sucedido, os temas devem apelar aos motivos do público. Motivos são a ativação das pressões conscientes e subconcientes criadas pela força dos desejos. Psicólogos isolaram um número de poderosos apelos, cuja validade vêm sido repetidamente provada na aplicação prática.
Uma vez que os temas estejam estabelecidos, em que tipo de campanha eles devem ser usados? A situação pode pedir uma guerra-relâmpago12 ou uma batalha contínua, a combinação de ambas ou outra estratégia. Pode ser necessário desenvolver um plano de ação para uma eleição que terminará em poucas semanas ou meses, ou para uma campanha que pode levar anos, como o esforço em diminuir a taxa de mortalidade por tuberculose. O planejamento da persuasão de massa é governado por muitos fatores que exigem todas as aptidões em treinamento, experiência, habilidade e julgamento. O planejamento deve ser flexível e adaptável a diversas condições.
Quando os planos tiverem sido aperfeiçoados, passa-se à organização de recursos, que devem ser obtidos de forma adiantada para prover a força humana, o dinheiro e o equipamento físico necessários. A organização também se refere às atividades de quaisquer especialistas que podem ser convocados de tempos em tempos como pesquisadores de opinião, captadores de recursos, publicitários, peritos em radio e cinema, especialistas em grupos de mulheres, grupos estrangeiros e similares.
Não pense em táticas em termos de abordagens segmentadas. O problema não é conseguir artigos em jornais, obter tempo de rádio ou arranjar um cine-jornal em um filme; é preferível colocar em marcha uma ampla atividade, cujo sucesso depende em interligar todas as fases e elementos da estratégia proposta, implementada pelas táticas que são calculadas para o momento de máxima efetividade. Uma ação atrasada em um dia pode cair de cara no chão. Um sentido de tempo habilidoso e imaginativo determinou o sucesso de muitos movimentos de massa e campanhas, o fenômeno familiar tão típico do padrão de comportamento do povo norte-americano.
Neste ponto será possível planejar as táticas do programa, isto é, decidir como os temas serão disseminados sobre os transportadores de ideias, as redes de comunicação.
A ênfase das atividades do engenheiro do consentimento deve ser na palavra escrita e falada, guiadas pela mídia e desenhadas para a platéia à qual ele se dirige. Ele deve estar seguro que seu material é adequado ao seu público. Ele deve preparar cópias escritas em linguagem simples e frases de dezesseis palavras para o público de escolaridade média. Algumas cópias serão destinadas à compreensão de pessoas que tiveram dezessete anos de escolaridade. Ele deve se familiarizar com toda a mídia e saber como supri-la de material adequado em quantidade e qualidade.
Primeiramente, contudo, o engenheiro do consentimento deve criar notícias. Notícias não são algo inanimado. É a evidência que produz notícias e as notícias, por sua vez, modelam as atitudes e as ações das pessoas. Um bom critério para definir se algo é ou não é notícia é se o evento se sobressai dos padrões de rotina. O desenvolvimento de eventos e circunstâncias que não são rotina é uma das funções básicas do engenheiro do consentimento. Eventos assim planejados podem ser projetados sobre os sistemas de comunicação para infinitamente mais pessoas do que aquelas que realmente participam dele, e tais eventos dramatizam vividamente ideias para aqueles que não testemunharam os eventos.
O evento manejado imaginariamente pode competir pela atenção de forma bem sucedida com outros eventos. Eventos dignos de notícia envolvendo pessoas geralmente não acontecem por acidente. Eles são planejados deliberadamente para cumprir um propósito, para influenciar nossas ideias e ações.
Os eventos podem também ser arranjados em uma reação em cadeia. Atando as energias dos líderes de grupo, o engenheiro do consentimento pode estimulá-los a pôr em movimento suas atividades. Eles organizarão eventos adicionais, especializados e auxiliares, todos os quais dramatizarão ainda mais o tema básico.
A comunicação é a chave da engenharia social para a ação social. Mas não é suficiente lançar folhetos e boletins em mimeógrafos, anunciar nos jornais ou encher as ondas de rádio com conversas. Palavras, sons e imagens fazem pouco a não ser que sejam as ferramentas de um plano profundamente pensado e de métodos cuidadosamente organizados. Se os planos forem bem formulados e um uso adequado é feito deles, as ideias veiculadas pelas palavras se tornarão realmente parte e componente das pessoas.
Quando o público está convencido da veracidade de uma ideia, ele seguirá para a ação. As pessoas traduzem uma ideia em ação sugerida pela ideia mesma, seja ela ideológica, política ou social. Eles podem adotar uma filosofia que sublinha tolerância racial e religiosa; elas podem votar em um New Deal; ou elas podem organizar um boicote de consumidores. Mas tais resultados não acontecem simplesmente. Em uma democracia eles podem ser alcançados principalmente pela engenharia do consentimento.
Edward L. Bernays, Nova York, em parceria com Doris E. Fleischman, é conselheiro em relações públicas, uma profissão que foi fundamental em criar. Nessa capacidade ele serviu governos, associações comerciais e organizações com e sem fins lucrativos. É autor de Propaganda, Crystallizing Public Opinion, Speak Up for Democracy e Take Your Place at the Peace Table, e editor da Outline of Careers.
1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - daniel.avila@mail.com.
2 Bernays, E. L. (1947). The engineering of consent. The ANNALS of the American Academy of Political and Social Science, 250(1): 113-120. Copyright © (2010) by American Academy of Political & Social Science. Reprinted by permission of SAGE Publications, Inc.
3 N.T.: Publicado em português com o título de "Conferências Introdutórias sobre Psicanálise".
4 N.T.: Bill of Rights, no original. Refere-se à Declaração dos Direitos dos Cidadãos dos Estados Unidos, documento escrito por ocasião do primeiro Congresso daquele país, em 1789, e posteriormente anexado como as dez primeiras emendas da sua Constituição.
5 N.T.: Estadistas norte-americanos de princípios do século XIX, conhecidos por suas habilidades como oradores.
6 N.T.: Committee on Public Information, agência independente do governo dos Estados Unidos, criada entre 1917 e 1919 para influenciar a opinião pública no sentido do apoio à participação na I Guerra Mundial, empregando todas as mídias disponíveis para isso.
7 N.T.: Office of War Information, agência criada pelo governo dos Estados Unidos entre 1942 e 1945, responsável por divulgar notícias da II Guerra Mundial e, por meio de pôsteres e transmissões de rádio, promover o patriotismo, alertar contra espiões estrangeiros e incentivar o trabalho feminino no esforço de guerra.
8 N.T.: em francês no original
N.T.: Personagem de uma tirinha do Chicago Tribune, publicada desde 1924 e conhecida por apresentar um ponto de vista nacionalista, satirizando sindicatos e comunistas.
10 N.T.: Revista mensal sobre política e artes, representante das ideias de centro-esquerda.
11 N.T.: Jornalista e radialista norte-americano, correspondente durante a I e II Guerras Mundiais.
12 N.T.: Blitzkrieg, técnica militar que consiste no emprego de forças móveis em ataques rápidos e de surpresa, com o intuito de evitar que as forças inimigas tenham tempo de organizar a defesa.
BERNAYS, Edward. A engenharia do consentimento (1947): disponível em: http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1927%3Av3n1a09-a-engenharia-do-consentimento&catid=340%3Arevista-transformacoes&Itemid=91&lang=pt
https://www.quantumgeneration.com.br/livro_qg/edward-bernays-e-a-engenharia-do-consentimento/
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-106X2010000100008
http://www.ip.usp.br/site/v3n1a09-a-engenharia-do-consentimento/
“É difícil libertar os tolos de correntes que eles veneram.”
— Voltaire
"Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem.... "
— Rosa Luxemburgo
“Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!”
― Nicolau Maquiavel
“O mais livre de todos os homens é aquele que consegue ser livre na própria escravidão.”
― François Fénelon
“A genialidade de qualquer sistema escravista se encontra nas dinâmicas que isolam os escravos uns dos outros, que ocultam a realidade de uma condição comum, e tornam inconcebível a rebelião unida contra o opressor.”
[Discurso pronunciado para a Organização Nacional para as Mulheres, Washington, DC, em 23 de agosto de 1975. Our Blood: The Slavery of Women in Amerika, cap. 8, Our Blood (1976)]
― Andrea Dworkin