Olhar a realidade social de frente: tarefa difícil

Data de publicação: Nov 09, 2012 11:26:50 AM

No final do mês passado assistimos numa escola a uma conferência pelo Dr. Joaquim Coimbra, docente da UP, cujo tema era: Aprendizagem para o século XXI.

Achamos muito interessante o facto do orador assumir uma perspectiva que temos, de alguma forma, defendido aqui: fruto do progresso técnico, da evolução das novas tecnologias a sociedade, está em acelerada mudança e isso vai alterar o mundo como o conhecemos, a começar pela relação com o trabalho.

O orador lançou algumas ideias que procuram ajudar a compreender o momento actual: organização diferente dos grupos e sociedades; o trabalho não foi sempre como o conhecemos, assumia roupagens diferentes numa altura em que a sociedade não estava condicionada à lógica mercantilista; numa lógica do progresso técnico o homem é afastado da produção e acabando por se tornar um apêndice de carne da máquina; numa sociedade de consumo apenas tem valor quem produz ou quem consome.

E como estávamos numa escola, para o futuro, perspectivou que apenas 10% da população será necessária para suportar toda a máquina produtiva que será necessária à sociedade do futuro. Obviamente que isto, 90% de inactivos, coloca problemas gravíssimos e tornar-se-á um beco sem saída. E, ao contrário que outros julgam, as novas tecnologias de informação são muito úteis mas não são a solução. Pelo contrário, a serem usadas como outros meios o foram, apenas irá agravar as desigualdades, entre quem pode e quem não pode.

Todos os dias são anunciados reestruturações nas empresas que mais não são do que despedimentos de dezenas, centenas ou milhares de trabalhadores (ainda hoje a Ibéria anunciou que irá despedir 4.500 trabalhadores). E tudo em nome da produtividade pois acreditem, em pouco tempo estas mesmas empresas irão apresentar maiores lucros.

Mas é muito difícil ouvir certas realidades. Tapamos os ouvidos e fechamos os olhos acreditando que com isso essa realidade má desaparece. As crianças fazem o mesmo: acreditam nos passes de mágica. Foi o que aconteceu. Perante as questões levantadas pelo orador e que deveriam, apenas, suscitar uma reflexão mais cuidada e partilha de algumas preocupações, qual foi a conclusão da assembleia: se a realidade que nos espera é assim, então os nossos alunos, e os nossos filhos, têm de estar entre os 10% que irão ter trabalho. Logo vamos continuar a dar mais do mesmo só que em maiores quantidades. Resposta de negação da realidade.

Também é certo que o orador não apontou muitas soluções. Mas nós podemos avançar uma: trata-se da escolha entre o mercantil e o sacerdotal.

Resumindo: boas sementes atiradas à terra ainda não favorável à sua germinação.