Consulta para os filhos ou para os pais ? (Muitas crianças nos psicólogos e nos pedopsiquiatras)

Data de publicação: Dec 06, 2013 11:14:2 AM

É um facto que hoje, os pais e as mães são tão sobrecarregados, presos nas contrariedades do trabalho, com as preocupações com o futuro, que acabam por não encontrarem tempo para ouvir os seus filhos. Perante os seus comportamentos utilizam, por vezes, frases feitas e os conselhos “pronto a usar” de que falamos e caímos no “Talvez seja isto ou talvez não”. É aqui que o terapeuta pode desempenhar o seu papel como “tradutor”, descobrindo o que se expressa através de sintomas da criança.

A questão que os pais devem colocar não é tanto “O que tenho a dizer ao meu filho” mas antes “O que me quer dizer o meu filho”. Ao tomarem tempo para o ouvir acabam por se ouvirem a si próprios – como somos com ele? Que esperamos dele? Sentimo-nos capazes de dar o que ele precisa? – e permitem encontrar com ele aquilo de que ele precisa para ultrapassar as dificuldades passageiras.

No entanto, se os pais se encontram demasiado inquietos, demasiado angustiados, já não se trata apenas de lhes dizer que devem ouvir e conversar com os filhos antes de decidirem pela consulta a um terapeuta. Num contexto difícil nem sempre se está em condições de ouvir o que o outro tem para nos dizer, pois a angústia domina as acções. Nesses casos é necessário lidar com estas inquietudes e angústias que congelam as competências familiares.

É por isso que pode ser bom, antes de decidir fazer uma marcação para a criança, os pais fazerem primeiro uma consulta para eles próprios, para melhor compreender as suas preocupações e os efeitos que elas têm sobre si mesmos e sobre a família. E, como sabem, existem coisas que apenas podemos exprimir a alguém de fora e num contexto de relação de ajuda. propício a um processo de formação de um ser humano independente.

Uma coisa é certa, os pais têm os recursos para ajudar a criança, praticando naturalmente o que o pediatra e psicanalista Donald W. Winnicott chamou “holding” (o somatório de aconchego, percepção, proteção e alegria fornecidos pela mãe", tão vital como o oxigénio e a alimentação, e se dilui conforme o bebé cresce). Este colo físico e mental mantém-se muito para além de quando os pais seguram a criança em seus braços, quando a apoiam nas suas habilidades, emoções, projectos, mesmo quando sofrem de perturbações graves. Mas isto não pode ser feito quando os pais se sentem em falta, quando se sentem culpados. Daí a importância de primeiro conhecer e lidar com as suas próprias dificuldades para melhor desempenhar o seu papel de pai e mãe. Muitos homens e mulheres têm medo de, ao procurar ajuda para o seu filho, serem designados como "aqueles que precisam de ajuda " ou de serem devolvidos às suas próprias carências educacionais. Mas nem o todo o sofrimento de uma criança está relacionado com dificuldades educativas, longe disso. A abordagem sistémica considera que a maioria dos sintomas na criança, adolescente ou adulto, são devido ao mau posicionamento no sistema familiar: um pai que ainda vive como um filho, um terceiro que toma o lugar do mais velho, uma criança que tem uma missão implícita herdada de gerações anteriores. Não se resolve algum desses problemas fazendo demonstração de autoridade, mas explorando os lugares de cada um em relação à história familiar. Uma competência que pertence aos "psis" e não aos pais.

Este texto faz parte do dossier "Muitas crianças nos psicólogos e nos pedopsiquiatras?"

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